terça-feira, 28 de agosto de 2007

Satisfação pelos dias em que sobrevivi

Turbilhões despedaçaram meu falso ser
Atirando aqui e acolá resquícios de sementes pecaminosas
A mente acossada por agitações intensas
Trouxeram imagens deveras assombrosas
Imagens estas que para o mortal comum
Seriam ternas e amorosas
A meu redor aves de rapina cruéis
Aparentavam semideuses no céu jogando flores ao léu
Com sorrisos plásticos, danças viçosas e sensuais
Induzindo neófitos aderentes prometendo pedaços do céu
Outrora a espera de um salvador na esperança de mitigar minha dor
Veio a um mim gozador, rindo e extravasando o que pareceria amor
Nada profundo, absorto em seu estupor
Querendo oferecer migalhas enquanto tudo que eu queria era seu amor
Lobos vestidos de cordeiros, cordeiros travestidos e caídos
Porteiras sem portal, trancafiadas com atitudes brutais
E a tudo isto eu transpus e estou agradecido
E assim sinto a satisfação onde pela Sua graça tudo isto eu sobrevivi

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Sri Balarama



Sri Balarama, embranquecido como a brancura do leite. Com Seus cabelos ondulados e enegrecidos, e uma bola na mão, Ele dá prazer a minha visão.
Tudo em seu esplendor produz satisfação para nosso mais profundo ser. Ele é o manancial da felicidade e bem aventurança. Ele sempre dá prazer a Govinda, aquele que dá prazer a todas entidades vivas. Ele se embebe com amor a Sri Krishna, e este amor é insondável. Companheiro constante do Senhor, Ele Se manifesta como Nityananda, Laksmana e Ananta Sesa. Para realçar os passatempos de Sri Krishna Ele manifesta tudo que é desejável para o desfrute da Suprema Personalidade de Deus. Sua beleza esta além de descrição. Compará-lo com ilimitadas luas cheias com brilho radiante e balsâmico só me colocará em ridículo. Meu coração chora pela distância deste ser amado, e ora para que possa obter Seus pés de lótus.
Ele é conhecido como Rohininandana, o amado filho de Rohini.
Ele é conhecido como Bala, a fonte de todo poder espiritual.
Ele é conhecido como Rama, do qual será possível alcançar a mais alta felicidade da vida.
nayam atma bala-hitena labhya
Não se pode alcançar a suprema plataforma da auto-realização sem ser favorecido suficientemente por Balarama.Ele é o mestre espiritual supremo e todos mestres espirituais sentam-se a Seus pés de lótus. Eu caio a Seus pés de lótus e oro pela minha proteção.

Krishna e Balarama



Krishna, enegrecido como a nuvem carregada. Balarama do matiz do lençol imaculado. Eles preenchem meus olhos com Seu darshana e assim meu coração desejoso de amor se sacia com a visão nectárea. Eles trocam olhares amorosos. Com tantas possibilidades de trocas amorosas com aqueles que Os rodeiam, Eles fixam Seus olhares um no outro, e naqueles olhares existe uma atração insondável compreendida somente por Suas mentes que estão muito além de nossa compreensão. Ao Seu redor estão Seus pais afetuosos, gopis enternecidas, e cantores embebidos na beleza de Syamasundara. Assim eu oro para que esta visão nectárea sempre permaneça em meu coração.

Sri Nama Bhajana


O cantar do Santo Nome é o Yuga Dharma para Kali Yuga.
No entanto, os outros processos não são inferiores e não devem ser negligenciados.

Sri Nama Bhajana

"O nome de Krsna nos lábios do Supremo Senhor (Sri Caitanya) teve o poder de fazer todas as pessoas, que ouviram isto, realizar a verdade que haviam ouvido das escrituras. Esta foi uma experiência maravilhosa.Nesta era de ferro somente o santo nome de Krsna que aparece nos lábios de um Sadhu autêntico pode levar a alma condicionada ao plano do absoluto.É um facto que mesmo as escrituras descrevem algo da Personalidade de Deus. O mero estudo das escrituras não proporciona uma experiência plena do Absoluto como uma entidade.O nome de Krsna tem o poder de por a pessoa no plano Absoluto e preencher as palavras das escrituras reveladas com o seu significado vivo. (Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakur)Aqui o Acarya recomenda o estudo das Escrituras conjuntamente com o cantar do Santo Nome.Tanto o Santo Nome como as Sagradas Escrituras(Srimad Bhagavatam), são Bhagavata Marga. Na alma condicionada, o Santo Nome dá vida as Sagradas Escrituras e as Sagradas Escrituras auxiliam a realizar o Santo Nome.krsna mantra haite habe samsara mocanakrsna nama haite pabe krsnera carana"Simplesmente por cantar o santo nome de Krsna uma pessoa pode alcançar a liberação da existência material. Na verdade, simplesmente por cantar o Maha Mantra Hare Krsna uma pessoa poderá ver os pés de lótus do Senhor."Cc Adi 7.73O Maha Mantra Hare Krsna é perfeito, independente e completamente puro.Não requer nenhum Samskara ou iniciação para ser efetivo.Qualquer pessoa pode cantar este Mantra sendo qualificada ou não.Existe um poder ilimitado no Maha Mantra Hare Krsna.Mesmo sem um Guru, iniciação, Sadhu Sanga ou qualquer outra coisa pode-se alcançar Krsna Prema por cantar Hare Krsna.Por ter fé em Deus, Sadhu Sanga e pureza no coração que foram adquiridos em vidas prévias, uma pessoa pode alcançar Krsna Prema simplesmente por sentar-se e cantar Hare Krsna.No entanto, tal pessoa pode ser uma em milhões.Geralmente, devido a ignorância, Aparadhas, Anarthas, impureza mental e uma severa falta de fé é preciso receber treinamento, encorajamento e a associação com devotos avançados para alcançar a perfeição no cantar de Hare Krsna.Das sessenta e quatro formas de serviço devocional, Srila Rupa Goswami diz que nove (sravanam, kirtanam, samaranam,etc) são as mais importantes.Então ele diz que cinco destas são mais importantes,"O poder destes cinco princípios é maravilhoso e difícil de reconciliar.Mesmo sem fé nestes princípios, uma pessoa que não é ofensiva pode experimentar o amor adormecido por Krsna simplesmente por conectar-se um pouco com eles."Cc Madhya 22.133 citando o Bhakti Rasamrta Sindhu)Então, Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakur diz que estes cinco apontam para um; nomeadamente o cantar dos Santos Nomes de Krsna.Após cuidadosa consideração, conclui-se que Sri Nama Bhajana é a raiz de todos os outros.1 - Sadhu Sanga - Associar-se com devotos é recomendado para criar um gosto por Sri Nama Bhajana.2 - Bhagavata Sravana - Ouvir o Srimad Bhagavatam o qual declara que Sri Nama Bhajana é a maior de todas as virtudes.No começo, meio e fim, o Srimad Bhagavatam repetidamente enfatiza a efiácia de Sri Nama Bhajana.3 - Mathura Vasa - Sri Nama Bhajana esta enraizado tanto em Vrndavana como Sri Dhama Mayapur.4 - Sri Murti Seva - O Hari Bhakti Vilas e Srila Jiva Goswami declaram que o serviço à Deidade deve ser acompanhado do Maha Mantra Hare Krsna para ser efetivo.5 - Nama Sankirtana - Cantar os Santos Nomes.O Bhakti Sandharba diz que nenhuma forma de Bhakti é completa sem Sri Krsna Nama Sankirtana.O Santo Nome dá vida a estas práticas e estas formas de Bhakti auxiliam o devoto a mais facilmente experimentar o néctar do Santo Nome e auxiliam a saborear um gosto particular pela doçura do Santo Nome."Se por cantar o Maha Mantra Hare Krsna pode-se alcançar amor à Deus, então alguém pode perguntar qual a necessidade de Diksa." Srimad Bhagavatam 7.5.23-24"Pode-se perguntar qual a necessidade de iniciação ou outras actividades espirituais em serviço devocional para alguém que ocupa-se em cantar o Santo Nome do Senhor."Cc Adi 7.77Srila Prabhupada responde:"A resposta é que embora seja correto que uma pessoa plenamente ocupada em cantar o Santo Nome não dependa de iniciação, geralmente o devoto é apegado a muitos hábitos materiais abomináveis devido a contaminação material de vidas passadas."Cc Adi 7.77"As vezes devotos neófitos pensam que podem continuar com o processo de Sravana Kirtana sem adorar a Deidade, mas a execução de Sravana Kirtana está destinada para devotos muito desenvolvidos como Haridas Thakur, o qual ocupava-se em Sravana Kirtana sem adorar a Deidade.No entanto, não devemos falsamente imitar Haridas Thakur e abandonar a adoração a Deidade para simplesmente ocupar-se em Sravana Kirtana." Cc Madhya 19.152O Maha Mantra Hare Krsna, os Diksa Mantras, Mathura Vasa, Sadhu Sanga, Sri Murti Seva e Bhagavat Sravana (Srimad Bhagavatam) trabalham todos juntos para ajudar o devoto a rapidamente alcançar a perfeição.Srila Bhaktivinoda Thakur conclui no Mahaprabhura Siksa:pancange sad-dhiyam anvaya-sukrti- matam sat-krpaika- prabhavatraga-praptesta- dasye vraja-jana-vihite jayate laulyam addhavedatita hi bhaktir bhavati tad-anuga krsna- sevaika-rupaksipram pritir visuddha samudayati taya gaura-siksaiva gudha"Os cinco Angas são servir a Deidade, saborear o significado do Srimad Bhagavatam com os devotos exaltados, associar-se com devotos elevados em Raga Marga, cantar o Santo Nome e viver em Mathura.Por praticar estes cinco ítens com um coração sem ofensas, alcança-se misericórdia.Através desta misericórdia surge o desejo de servir o habitantes de Vraja que são impelidos por Raga.Deste desejo, aparece Raganuga Sadhana Bhakti, o qual transcende as injunções escriturais e serve Krsna exclusivamente no humor de afeição dos Vrajavasis.Por praticar esta Bhakti (Sadhana), muito em breve, o puro, e exclusivo Priti (Kevala Prema) por Krsna se manifesta.Este é o caminho esotérico ensinado por Sri Krsna Caitanya Mahaprabhu."É interessante observar que depois que este Kevala Prema (Bhakti exclusiva) se manifesta, Bhagavad Jnana "concretiza- se" e o cantar do Santo Nome fica em "segundo plano".SS Mahanidhi Swami explica este ponto:"Cantar o Santo Nome é a função eterna da alma.No mundo material, cantar Hare Krsna é o serviço principal para purificação e avanço espiritual.Tudo o mais auxilia e suporta o serviço principal de cantar Hare Krsna.Porém, quando um devoto volta ao mundo espiritual o cantar do Santo Nome fica como um plano de fundo (background) , e a função de executar outros serviços para satisfazer Radha e Krsna ficam em primeiro plano (foreground) .Ao entrar na morada de Krsna, o devoto recebe um serviço particular que irá executar para Radha-Govinda, e isto será distinto e mais importante.Nesta altura, o Santo Nome fica como plano de fundo (background) ajudando e energizando.Por exemplo, quando as Gopis estáo batendo a coalhada fresca para fazer manteiga para Krsna, elas simultaneamente cantam Suas glórias enquanto marcam o compasso com seus braceletes e sinos de cintura."

Enviado por Prahladesh Dasa

Bibliografia:Gayatri Mahima Madhuri, SS Mahanidhi Swami,1998. Páginas 42-50.Mahaprabhura Siksa: Os Ensinamentos de Caitanya Mahaprabhu, Srila Bhaktivinoda Thakur (on-line)Pancaratra Pradipa, 1994. ISKCON GBC Press. Páginas 11-14.Apreciando Sri Navadvipa Dhama, SS Mahanidhi Swami, 1996. Páginas 169-170.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Maha Mantra Hare Krishna


Sri Gaudiya Kanthahara publicado por Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakur

Hare Krsna Hare Krsna Krsna Krsna Hare Hare
Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare

Nama-tattva


The Supreme Lord is the Root of all Religion
O Senhor Supremo é a raiz de toda a Religião

17.1
dharma-mulam hi bhagavan sarva-vedamayo harih
smrtam ca tad-vidam rajan yena catma prasidati

The Supreme Person is the root of all dharma, the essence of all the Vedas,
and the meditation of all those great authorities who know the truth about the
Supreme Lord, and whose opinions becomes scripture. This is evidence, O King,
and by accepting this religious principle, everyone will attain the highest satis-
faction of the soul, mind, and body. (Bhag. 7.11.7)

"A Pessoa Suprema é a raiz de todo o Dharma, a essência de todos os Vedas, e a meditação de todas as grandes autoridades que conhecem a verdade acerca do Senhor Supremo, e cujas opiniões tornam-se escrituras. Isto é evidência, Ó Rei, e por aceitar este princípio religioso, todos obterão a maior satisfação para a alma, mente e corpo."

Krsna is the Only Way
Krsna é o único Caminho

17.2
tapastu tapaih prapatastu parvata-datantu tirthani pathastu cagaman
yajastu yagairvivadantu vadair harim vina naiva mrtim taranti

You may perform mountains of austerities, visit many holy places, study
all the Vedas, and perform all kinds of Vedic sacrifices, but without devotion to
Krsna, none of these things can save you from death.
(Bhavartha Dipika 10.87.27)

"Você pode executar uma enorme quantidade de austeridades, visitar muitos lugares santos, estudar todos os Vedas, e executar todos os tipos de sacrifícios, mas sem devoção à Krsna, nenhuma destas coisas pode salvá-lo da morte"

Maha Mantra Hare Krsna Ki Jaya !!!
Grantha Raja Srimad Bhagavatam Ki Jaya !!!

Estudar os Vedas com um propósito acadêmico não é aconselhável.

Mas porque é bom estudar o Srimad Bhagavatam e todas as escrituras devocionais? ??

Porque eles somente glorificam Sri Krsna e Seus Santos Nomes.

Gaura Premanande !!!
Golokera Premadana Harinama Sankirtana !!!

Chanting the Holy Name is the Eternal and Highest Dharma for all Souls
Cantar o Santo Nome é o Dharma mais Elevado e Eterno para todas as Almas

17.3
etavan eva loke 'smin pumsam dharmah parah smrtah
bhakti-yogo bhagavati tan-nama-grahanadib hih

It is recognized that the highest religious principle in human society is de-
votional service to the Supreme Personality of Godhead, beginning with the
chanting of the holy name of the Lord, nama-sankirtana. ( Bhag. 6.3.22)

"Reconhece-se que o princípio religioso mais elevado na sociedade humana é o serviço devocional à Suprema Personalidade de Deus, começando com o cantar do Santo Nome do Senhor, Nama Sankirtana."

The Holy Name is the Essence of the Srutis
O Santo Nome é a Essência dos Srutis

17.4
nikhila-sruti- mauli rama-mala-dyuti nirajita-padapankaj anta
ayi mukta-kulair upasyamanam paritas tvam harinama samsrayami

O holy name, the tips of the toes of your lotus feet are eternally worshiped
by the glowing effulgence of the Upanisads, the crest jewels of the Vedas. You
are eternally adored and chanted by great liberated souls like Narada and
Sukadeva Gosvami. O Harinama, clearing myself of all offenses, I take com-
plete shelter of You. (Srila Rupa Gosvami, Krsna-namastakam 1)

"Ó Santo Nome, as pontas dos dedos de seus pés de lótus são adorados eternamente pela refulgência deslumbrante dos Upanisads, as jóias mais valiosas dos Vedas. Você é adorado e recitado eternamente por grandes almas liberadas como Narada e Sukadeva Goswami. Ó Harinama, limpe-me de todas as ofensas, eu refugio-me completamente em você."

The Constitutional Nature of the Holy Name
A Natureza Constitucional do Santo Nome

17.5
nama cintamanih krsnas caitanya-rasa- vigrahah
purnah-suddho nitya-mukto' bhinnatvan nama naminoh

The holy name of Krsna is a transcendental wish fulfilling gem it be-
stows all spiritual benedictions, for it is Krsna Himself. It is the personification
of divine mellow, the fountainhead of all pleasure. The holy name of Krsna is
eternally liberated and spiritual. This is because the name of Krsna and Krsna
Himself are nondifferent. (Sri Bhakti-rasamrta- sindhu, Purva-Vibhagaga 2.233)

"O santo nome de Krsna é a pedra de toque transcendental que proporciona todas as bençãos espirituais, porque é Krsna Ele mesmo.
O santo nome é a corporificação da doçura divina, a fonte de todo o prazer. O santo nome de Krsna é eternamente liberado e espiritual. Isto porque o nome de Krsna e Krsna Ele mesmo não são diferentes."

Enviado ao BF por Prahladesh Dasa

www.bhakti-tattva. blogspot. com

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Srimad-Bhagavatam 1.5.36 por Srila Prabhupada

Ninguém discordará em participar em uma função onde um bom cantar, dançar e quitutes são administrados. Todos irão participar desta função, e certamente todos individualmente sentirão a presença transcendental do Senhor. Isto por si só ajudará o participante se associar com o Senhor e assim purificar-se em realização espiritual. A única condição para executar com sucesso tal atividade espiritual é que ela deve ser conduzida sob a guia de um devoto puro que é completamente livre de todos desejos mundanos, atividades fruitivas e especulações secas sobre a natureza do Senhor. Ninguém tem que descobrir a natureza do Senhor. Ela já foi falada pelo próprio Senhor especialmente no Bhagavad-gita e geralmente em todas as outras escrituras. Nós temos apenas que aceitá-las como elas são e nos submetermos as ordens do Senhor. Isto irá nos guiar para o caminho da perfeição. A pessoa pode permanecer em sua própria posição. Ninguém tem que mudar sua posição, especialmente neste era de várias dificuldades. A única condição é que uma pessoa deve abandonar o hábito de especulação seca voltada a se tornar uma com o Senhor. E, após abandonar tais vaidades orgulhosas, uma pessoa pode muito submissivamente receber as ordens do Senhor no Bhagavad-gita ou Bhagavatam dos lábios de um devoto genuíno cuja qualificação é mencionada acima. Isto tornará tudo um sucesso, sem nenhuma dúvida.

O Espírito da Natureza


Uma análise sobre a ecologia e o plano espiritual, sobre a ação correta do homem e sua reintegração na liberdade da transcendência. O enigma da relação entre Deus, o homem e a Natureza é resolvido através da metafísica de Sri Chaitanya, a inconcebível unidade e dualidade simultâneas.Basta assistir ao noticiário da TV e dar uma olhada nos jornais e revistas para entender que os desastres ambientais constituem um grave problema e uma série ameaça. Um olhar mais atento nos faz entender que esse é um velho problema que vem assolando a Humanidade. Desde que o homem passou a acreditar que podia ser o senhor da Terra e da Natureza, quis, conseqüentemente, dominar e destruir o que fosse desprovido de vida e alma. Quem pensa que é Deus e uno com Deus tem direito a destruir o que não é igual a ele. O dualismo cartesiano do ocidente separa Deus, Humanidade e Natureza.
Esse tema foi objeto de estudo do artigo “Espírito do Meio Ambiente”, publicado no livro “Conhecimento Antigo para Ignorância Moderna”, de Thomas Beaudry. O artigo serviu como referência para reflexão do assunto em questão.
Enquanto o Brasil estava sendo descoberto e a Europa vivia o Renascimento, a cultura védica era revista na Índia através da filosofia Bhagavata, na pessoa de Chaitanya, que encontra perfeita harmonia entre o homem, a Natureza e um Deus pessoal. Essa filosofia apresenta o princípio de que somos simultaneamente iguais e diferentes Deus. Assim quando a alma individual se ajusta com a Divindade, a natureza material vem em sua ajuda, pois ambas foram feitas para o serviço de sua fonte, a Divindade. Na ânsia de subordinar a Terra inteira a propósitos humanos triviais e exagerados, o consumismo com o qual convivemos constitui-se de patologias culturais que há muito foram aceitas como nosso padrão normal de comportamento. As patologias consumistas que levam à destruição dos sistemas de vida da Terra são modelos aceitáveis de comportamento humano. Pior que isso, se tornaram necessidades básicas e imprescindíveis para o perfeito funcionamento de nossas instituições sociais e econômicas.
É um fato que a desintegração do planeta está diretamente relacionada à desintegração da personalidade humana, que já levou também a uma desintegração da ordem social. Criou-se praticamente uma dependência que não conhece limites. A destruição da Terra por propósitos humanos também não conhece limites. Devemos, portanto, buscar compreender o que levou a Humanidade a este estado.
Apesar de suas preocupações voltadas à paz e à justiça dos seres humanos, as instituições religiosas do mundo ocidental não têm dado a devida importância ao destino da Terra. Conseqüentemente essa postura impossibilitaria qualquer tipo de preocupação quanto à paz e à justiça nas relações entre os seres humanos e a Terra. De acordo com essa teoria, tudo no céu e na Terra existe para puro proveito humano.
Isso remonta à nossa origem judaico-cristã, quando a teologia exorcista do cristianismo possibilitou ao homem explorar a Natureza numa atitude de indiferença aos sentimentos dos objetos naturais. Ela deu ao homem o monopólio da alma. Tudo no mundo era aceitável, mas apenas como a moldura no quadro da redenção humana. Essa forma de pensar chegou a tal extremo que num certo período da história até mesmo a mulher, a melhor metade do homem, foi considerada sem-alma.
Todas as restrições à exploração da Natureza desapareceram completamente quando a Igreja removeu os “espíritos” das árvores, das montanhas e dos mares. Com a aliança da ciência e tecnologia e as bênçãos da Igreja não havia mais limites para onde o homem podia ir. Assim os constantes aperfeiçoamentos tecno-científicos sobre a Natureza, conseguidos nos dias de hoje, não são diferentes da sistemática caça às bruxas promovida pela Igreja na Idade Média. A destruição das florestas e dos rios, podemos então dizer, teve suas raízes na erradicação da idolatria.
Isso explica porquê a tentativa do cristianismo de estabelecer uma ecologia franciscana não foi levada muito a sério, enquanto que a filosofia oriental encontrou seu lugar no seio da sociedade contemporânea.
Apesar de a filosofia oriental ter muito a oferecer àqueles que desejam uma espiritualidade sensível às questões ambientais, em muitos casos sua influência no ocidente importou numa mudança antagônica no pensamento espiritual – indo de um extremo ao outro. Um bom exemplo disso é o movimento de ecologia profunda, que surgiu nos anos setenta e, utilizando a filosofia holística, bem popular no movimento da contracultura dos anos sessenta, tentou criar uma metafísica ambientalista.
Esse movimento influiu na formação dos partidos políticos hoje conhecidos como os “verdes”. Esse movimento foi considerado como espiritual por alguns de seus membros, que chegaram a considerá-lo sua própria religião. O filósofo Arne Naess se inspirou na filosofia oriental para criar a idéia básica do movimento e descartou o conceito de espiritualidade utilizado pela tradição religiosa ocidental. Com as adaptações que vêm sendo feitas de acordo com as necessidades de cada povo, a ecologia profunda tornou-se então uma espiritualidade sem alma e sem Deus.
Mas, visto que nossa crise ambiental é essencialmente uma crise espiritual, uma espiritualidade questionável não poderá oferecer a solução desejada. Portanto, a ecologia profunda pode não ser a solução espiritual para a crise ambiental. Apesar de coincidir com um ponto pacífico que é o propósito de todos – o restabelecimento de um meio ambiente mais natural – a definição vaga de espiritualidade dos ecologistas profundos corre o risco de incorrer nos mesmos erros que nortearam a religião do Ocidente.
Sua justificativa em redefinir o espiritual é compreensível: a religião do Ocidente nos conduziu perigosamente para bem perto da destruição dos nossos ecossistemas. Os ecologistas profundos ajustam o espiritual para ter o direito de adotar um estilo de vida que não leve a Humanidade para o conflito com a Natureza. Indo além, seria uma espiritualidade na qual cada pessoa se identificaria com a Natureza e a Natureza com cada pessoa.Os ecologistas profundos assimilaram o budismo por ser uma religião não-teísta e não-espiritual, que se recusa discutir sobre Deus e a alma. Citando Fritjof Capra: “Nosso budismo seria ecologicamente consciente”. Juntamente com o budismo, os verdes radicais adotaram também a visão da religião nativa americana e do xâmanismo de outras partes do mundo, que para a religião do Ocidente seria algo primitivo e pagão.
Mas aí não encontramos uma análise espiritual mais profunda. Seria a nossa espiritualidade algo redutível a um ecossistema saudável? Capra apresenta bem essa idéia: “Consciência ecológica é uma consciência religiosa ou espiritual... a própria essência da consciência espiritual”.
Espiritualidade vai além de uma perspectiva de que os animais, plantas e até os objetos inanimados têm direito à vida e a um significado e valor além do que a sociedade humana lhes confere. Senão, a espiritualidade estaria circunscrita à Terra. Seria uma espiritualidade parecida com a adoração pagã da Natureza que o cristianismo no passado procurou abolir. Essa tese encontra apoio em outra conhecida tese, “Hipótese de Gaia”, de James Lovelock. Isso é significativo porque a evolução darwiniana, que confronta com a idéia espiritual do caráter primário da consciência primário da consciência, é uma parte essencial da teoria de Gaia.
A origem dos movimentos radicais ecológicos é uma espiritualidade que de muitas formas é a antítese da religião ocidental tradicional, na qual o homem não é superior a Natureza, mas esta que lhe é superior. Ecologia profunda estaria num extremo do espectro espiritual e o cristianismo moderno no outro, Nenhum deles parece responder à necessidade do momento. Mas, sem dúvida alguma, a solução da crie ambiental é uma perspectiva espiritual correta.A solução ideal é uma síntese, uma terceira idéia, que possa conciliar e evitar os extremos da religião tradicional ocidental, responsável pela devastação ambiental da Natureza, e da ecologia profunda, que procurando salvar a Natureza, aniquila a essência da alma.
“Olhemos para o Oriente”, sugere Thomas Beaudry. “Deixemos de lado as filosofias niilistas (sunyavada) e impersonalista (nir-visesa) do budismo e do hinduismo vedanta monista respectivamente, e olhemos o vedanta vaisnava da Sri Chaitanya. Os ensinamentos de Sri Chaitanya nos oferecem alguns elementos da espiritualidade tradicional ocidental não existentes na ecologia profunda, e vice-versa. Seus ensinamentos também contêm conclusões diferentes dessas visões de mundo. Por exemplo, os ensinamentos de Sri Chaitanya (assim como os do cristianismo) admitem a existência de um Deus pessoal, com o qual podemos nos unir em serviço e receber a Sua graça, sem nunca nos fundirmos nele (característica única do vaishnavismo dentro da espiritualidade oriental). Ao mesmo tempo, admite as doutrinas do karma, reencarnação, transcendência à dualidade (pontos em comum na espiritualidade oriental)”.
Diferentemente do cristianismo, a doutrina de Sri Chaitanya não dá ao homem o monopólio da alma e respeita a Natureza com veneração, assim como o fazem os ecologistas profundos. Mas diferentemente tanto do cristianismo como dos ecologistas profundos, Sri Chaitanya encontra perfeita harmonia entre o homem, a Natureza e um Deus pessoal.
Assim, portanto, mão devemos ficar tão ansiosos em nos livrar da velha definição de espiritualidade que postula transcendência à natureza material, distingue a matéria do espírito e afirma a realidade de um Deus pessoal. Nem deveriam, os que se identificam com o cristianismo, temer tanto a espiritualidade oriental, que, como no caso do vaishnavismo, pode também abarcar o conceito da graça e do Deus pessoal. O mais provável é que o cristianismo moderno tenha utilizado erradamente essas idéias sublimes, enquanto que os outros identificaram-nas com o problema.
Responder ao chamado de transcendência à natureza material não é o mesmo que dominá-la, como afirmam os ecologistas profundos! Seria isso meramente uma expressão do ego machista? Seria um brado de dualidade Natureza versus Humanidade – os dois, um contra o outro? Isso necessariamente conduziria ao colapso de nossos ecossistemas? Sim, se for erroneamente aplicado; como o foi pelo dualismo religioso do Ocidente. Não, se estivermos falando do dharma da alma, como nos mostra a escola Bhagavata da Sri Chaitanya.Podemos traçar um paralelo entre o renascimento de bhakti (devoção) na Índia medieval e a Renascença ocorrida na Europa como o precursor da Revolução Industrial, da fusão formal de Deus com a razão e do divórcio entre o homem e a Natureza. Enquanto no Renascimento europeu e desenvolvimentos tecno-científicos subseqüentes foi selado o destino da humanidade declarando-se a guerra à Natureza, a tradição de bhakti trouxe-nos transcendência e harmonia com a Natureza. Que, felizmente, não foi obtido a custo da perda de nossa alma eterna e ego espiritual individual, fato que é o orgulho dos ecologistas profundos e de seus equivalentes religiosos, o budismo e o neopaganismo.
Os sábios da cultura védica viam a natureza material à luz de sua origem espiritual original – a consciência. Assim, eles tratavam as árvores, montanhas, pedras e tudo mais com grande respeito. E sua teologia não era primitiva nem supersticiosa. Eles percebiam que todas as manifestações materiais eram sombras do espiritual. Eles compreenderam que a base fundamental da realidade material é a consciência e que a consciência no fim é sempre pessoal. Enquanto só podemos ver a sombra e aceitá-la erroneamente como a substância, eles podiam ver essa substância material como a sombra da verdadeira substância – a consciência.
Porque o pensamento cartesiano dualista do cristianismo é inaceitável para os ecologistas profundos, muitos fogem da individualidade e buscam abrigo no todo ou na unidade, refugiando-se na natureza material. Mas essa ênfase exclusiva na unidade cria um grane problema: elimina oportunidade de serviço, que Sri Chaitanya definiu como o próprio dharma da alma.
A única forma de sustentar com lógica a noção equivocada da que somos Deus, que Deus é nós, e que somos a Natureza é descartar a trindade e estabelecer a unidade. Mas, nessa visão, o relacionamento (amor e serviço) será erroneamente relegado ao mundo da ilusão, da falsa-percepção. Nesse caso o serviço seria parte da ilusão, não da realidade última. O potencial para o abuso da Natureza desaparece com a perda do eu, mas com isso também desaparece o potencial para o amor. Sem serviço, não haverá Deus para servir, não haverá servo e nem haverá amor.
Os grupos dos ecologistas profundos podem argumentar que a unidade almejada é a de um todo integrado onde a identidade das partes individuais é mantida em um sistema onde elas estão sistematicamente integradas (a natureza material). Ainda assim não sobraria lugar para o amor. Isso se torna apenas uma descrição de um processo da natureza material, que a ecologia profunda pensa que nós somos.
O dualismo cartesiano, por sua vez, separa Deus, a Humanidade e a Natureza, isolando a natureza material de sua origem espiritual. O preço dessa tentativa de conectar Deus e a Humanidade é a destruição do ambiente natural. Assim, a ênfase exclusiva é insatisfatória em qualquer um desses extremos polarizados, unidade ou diferença.
Enquanto o holismo (unidade) é uma demanda necessária para a nossa razão, o individualismo (diferença) é um fato inegável da nossa experiência. O enigma da relação entre Deus, o homem e a Natureza não poderá jamais ser resolvido sem a aceitação tanto da unidade como da diferença. Na verdade, tal síntese é a meta almejada pela filosofia. Ainda assim, apesar da combinação dos dois ser necessária, parece algo impossível ou inconcebível.
Inevitavelmente o teste final da lógica humana falha. O que é logicamente necessário, torna-se logicamente impossível. A metafísica de Sri Chaitanya do achintya-bheda-abheda, “a inconcebível unidade e dualidade simultâneas”, resolve esse dilema. Na Divindade não há conflito entre o que é necessário e o que é possível. Seu reino e compreensão completa da natureza da realidade encontram-se muito além dos limites da razão humana. A realidade, o que é necessário, na verdade é, pela potência inconcebível (achintya) da Divindade. A Humanidade é uma com Deus e a Natureza, e diferente deles simultaneamente.
A escola Bhagavata (Vaisnava) distingue a alma da matéria, mas ainda assim considera ambas femininas – para-prakriti e apara-prakriti respectivamente. Ambas são energias do energético. Como o calor e a luz não são nada mais do que o próprio fogo, mais ainda assim simultaneamente diferentes do fogo, da mesma forma, as almas individuais e a matéria são iguais a Deus e diferentes Dele ao mesmo tempo. Nós somos diferentes em quantidade, porém, iguais em qualidade com Deus.
Podemos, pela graça Dele, obter um estado perpétuo de unidade de propósito com Ele e nos elevarmos além da dualidade de bem e do mal criada pela percepção imperfeita dos sentidos. Quando a alma individual se ajusta com a Divindade, a natureza material atua em se favor, pois ambas foram feitas para o serviço de sua fonte, a Divindade, ou o Purusha. Assim, em vez de uma fusão da Humanidade e da Natureza, elas se unem como empregadas do Purusha, a Divindade.
Thomas Beaudry conclui sua tese fazendo um apelo para irmos além do conceito que o homem é o senhor da Natureza, e ao mesmo tempo diferenciar a Humanidade – e toda a vida – da matéria e de Deus. No processo, a Natureza e os ecossistemas serão compreendidos e respeitados, pois a Natureza não é apenas um fato, ela tem seu valor próprio. A Natureza surge do plano espiritual da liberdade, do brahman, e a ação correta dentro da Natureza reintegra a alma individual na liberdade da transcendência.“Sri Chaitanya nos mostrou que, na dimensão causal mais fundamental, somente vigora a doce vontade de Krishna. Lá, todos os movimentos surgem do Seu divertimento. Deus, a cada movimento da Natureza, nos convida para brincar com Ele. Sri Chaitanya via a vontade transcendental de Krishna manifesta em todos os lugares. Tudo mais, ou qualquer outra visão, era para ele um quadro incompleto. Observar o mundo assim é descobrir uma harmonia superior na Natureza e em nossa alma”.
Apesar de a ecologia profunda naturalmente nos levar a uma mudança de consciência, se formos sérios em reparar os estragos causados na Natureza, ficaremos no máximo com isso – um ambiente natural. Mas, por nos afastarmos da compreensão ocidental tradicional de espiritualidade, acaba-nos custando mais do que eventualmente poderíamos ganhar. O preço dessa desejável unidade com a Natureza são certos elementos essenciais da herança espiritual do Ocidente, que Beaudry classifica como verdade espirituais universais: a dignidade do ser humano como o tutor da Natureza e de outras espécies, uma percepção amorosa de Deus e a nossa alma eterna.
Sri Chaitanya por sua vez invoca uma visão mais ampla, na qual todas as coisas, a Natureza, a Humanidade e Deus existem harmoniosamente. Enquanto os seguidores do movimento de ecologia profunda tentam ajustar e igualar espiritualidade com ecologia, a tradição religiosa ocidental não atribui espiritualidade alguma à Natureza. A filosofia proposta por Sri Chaitanya adequadamente ajusta o bom senso de tomar conta de nosso meio ambiente com o cultivo de nossa vida espiritual e devemos aprender a respeitar a Natureza se quisermos obter o nosso destino espiritual.
Se estivermos interessados numa espiritualidade que seja ecologicamente sensível, a doutrina de amor divino de Sri Chaitanya é digna de ser considerada. Ela oferece a todos a esperança de uma vida não somente livre de sofrimento mas plena de amor divino. Precisamos apenas mudar nosso ponto de vista para viver essa realidade, que a natureza material também deseja para nós.

P/ Loka Sakshi Das,
(Extraído da Revista VEDA/BBT).

domingo, 12 de agosto de 2007

O porque da natureza material


O Senhor lança Seu olhar sobre a natureza material para lembrar-lhe que as almas condicionadas não esgotaram sua cadeia de atividades fruitiva e especulação mental e que portanto a criação outra vez se faz necessária. O Senhor deseja que as almas condicionadas tenham a oportunidade de se tornarem conscientes de Krishna em amor a Deus mediante a compreensão da futilidade da vida sem o Senhor. Os modos da natureza surgem após o olhar do Senhor e tornam-se hostis uns para com os outros, cada modo tentando dominar os demais. Há constante competição entre nascimento, manutenção e aniquilação. Embora uma criança deseje nascer, a mãe cruel talvez deseje matar a criança através do aborto. Embora possamos desejar matar as ervas daninhas num campo, elas com muita persistência nascem repetidas vezes. De igual forma, muitas vezes desejamos manter nossos status quo físico, mas ainda assim a deteriorização se apresenta. Dessa maneira, existe constante competição entre os modos da natureza, e através de suas combinações e permutações as entidades vivas tentam desfrutar inumeráveis situações sem a consciência de Krishna. A expressão purusanumatena indica que o Senhor arma o palco para tal futilidade material de modo que as almas condicionadas acabem voltando ao lar, voltando ao Supremo.

Srimad Bhagavatam 11.24.5 Sig

sábado, 11 de agosto de 2007

A culpa é do falso ego!



O corpo material é matéria bruta e não experimenta felicidade, sofrimento nem nenhuma outra coisa. Porque é completamente transcendental, a alma espiritual deve fixar sua consciência no Senhor transcendental, que está além de felicidade e sofrimento materiais. É só quando a consciência transcendental se identifica falsamente com a matéria bruta que a entidade viva imagina estar desfrutando e sofrendo no mundo material. Esta ilusória identificação da consciência com a matéria chama-se falso ego e é a causa da existência material.

Logo, as reações miseráveis ou agradáveis do karma em última análise agem sobre o falso ego e não sobre o corpo, que se compõe de matéria bruta, e tampouco sobre a alma, que não tem nada a ver com a matéria. O falso ego faz parte da fabricação ilusória da mente; é especificamente este falso ego que sofre felicidade e aflição. A alma não pode se zangar com os outros, já que ela mesma não está desfrutando nem sofrendo. Ao contrário, é o falso ego que está fazendo isso.

Srimad Bhagavatam 11.23 (54 e 55 - Sig)

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Felicidade e Sofrimento, de quem é a culpa?


Embora presente, junto com a laboriosa mente, dentro do corpo material, a Superalma não se ocupa em empreendimento algum, porque Ele já é dotado de iluminação transcendental. Agindo como amigo, Ele, de Sua posição transcendental, permanece apenas como testemunha. Eu, a alma espiritual infinitesimal, por outro lado, abracei esta mente, que é o espelho que reflete a imagem do mundo material. Dessa maneira, fiquei ocupado em desfrutar os objetos do desejo e estou enredado devido ao contato com os modos da natureza.

Caridade, deveres prescritos, observância de princípio reguladores maiores e menores, ouvir as escrituras, obras piedosas e votos purificadores têm todos como objetivo final a sujeição da mente. De fato, a concentração da mente no Supremo é a yoga mais elevada.

Se a mente está perfeitamente fixa e pacífica, dize-me então qual é a necessidade de se praticar caridade ritualística e outros rituais piedosos? E se a mente permanece descontrolada, perdida em ignorância, então de que lhe servem essas ocupações?

Todos os sentidos têm estado sob o controle da mente desde tempos imemoriais, e a própria mente nunca fica sob o domínio de nada mais. Ela é mais forte que o mais forte, e seu poder quase divino é assombroso. Logo, qualquer um que puder pôr a mente sob controle tornar-se o senhor de todos os sentidos.

Sem conseguir dominar este inimido irreprimível, a mente, cujos impulosos são intoleráveis e que atormenta o coração, muitas pessoas estão completamente confusas e criam desavença inútil com os demais. Dessa forma, eles concluem que os outros são seus amigos, ou seus inimigos, ou pessoas indiferentes a eles.

Pessoas que se identificam com este corpo, que é apenas o produto da mente material, estão cegas em sua inteligência, pensando em termos de "eu" e "meu". Devido a sua consideração ilusória de que "este sou eu, mas aqueles são os outros", eles vagueiam na escuridão perpétua.

Caso digas que essas pessoas são a causa de minha felicidade e sofrimento, então onde se encaixa a alma nesta concepção? Esta felicidade e sofrimento não pertencem à alma, mas às interações dos corpos materiais. Se alguém morde a língua com os próprios dentes, com quem ele pode se irar em seu sofrimento?

Se dizes que os semideuses que controlam os sentidos físicos causam sofrimento, ainda assim, como se pode aplicar tal sofrimento à alma espiritual? Este ato de agir e sofrer ação são meras interações dos sentidos mutáveis e de suas deidades governantes. Quando um membro do corpo ataca outro, com quem pode o indivíduo que está neste corpo ficar zangado?

Se a própria alma fosse causa de felicidade e sofrimento, então não poderíamos culpar os outros, já que felicidade e sofrimento seriam simplesmente a natureza da alma. De acordo com essa teoria, nada exceto a alma existe de fato, e se percebêssemos algo além da alma, isso seria ilusão. Portanto, visto que felicidade e sofrimento não existem de fato nessa concepção, porque se zangar consigo ou com outros?

E se examinarmos a hipótese de que os planetas são a causa imediata do sofrimento e felicidade, então também onde está arelação com a alma, que é eterna? Afinal, o efeito dos planetas aplica-se apenas a coisas que nasceram. Além disso, astrólogos peritos explicaram que os planetas só causam dor uns aos outros. Portanto, visto que a entidade viva é distinta desses planetas e do corpo material, contra quem deve ela dasabafar sua ira?

Se aceitamos como hipótese que o trabalho fruitivo é a causa de felicidade e sofrimento, ainda assim não estamos lidando com a alma. A idéia de trabalho material surge quando há um agente espiritual que é consciente e um corpo material que sofre a transformação de felicidade e sofrimento como reação a tal trabalho. Visto que não tem vida, o corpo não pode ser o verdadeiro receptor de felicidade e sofrimento, nem pode a alma, que em última análise é completamente espiritual e à parte do corpo material. Porque o karma não tem, então, nenhum fundamento último nem no corpo nem na alma, com quem a pessoa pode se zangar?

Se aceitamos o tempo como causa de felicidade e sofrimento, esta experiência ainda não pode se aplicar à alma espiritual, pois o tempo é uma manifestação da potência espiritual do Senhor e as entidades vivas também são expansões da potência espiritual do Senhor manifestas através do tempo. Decerto fogo não queima suas próprias chamas ou centelhas, nem o frio danifica seus próprios flocos de neve ou granizo. De fato, a alma espiritual é transcendental e está além da experiência da felicidade e sofrimento materiais. Com quem pois a pessoa deve se zangar?

O falso ego dá forma à existência material ilusória e assim experimenta felicidade e sofrimento materiais. A alma espiritual, todavia, é transcendental à natureza material; ela jamais pode ser de fato afetada pela felicidade e sofrimento materiais em qualquer lugar, sob quaisquer circunstâncias ou por intermédio de qualquer pessoa. Quem compreende isso não tem absolutamente nada a temer da criação material.

Cruzarei o intransponível oceano de ignorância, fixando-me firmemente no serviço aos pés de lótus de Krishna. Isto foi aprovado pelos acaryas anteriores, que estavam fixos em firme devoção pelo Senhor, Paramatma, a Suprema Personalidade de Deus.

Srimad Bhagavatam 11. 23 (44 a 57)

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

O real objetivo da vida


O primeiro passo na civilização humana consiste nos compromissos ocupacionais realizados segundo os preceitos das escrituras. O ser humano deve treinar sua inteligência superior para poder compreender o dharma básico. Na sociedade humana, há vários conceitos religiosos, caracterizados como hindu, cristão, hebreu, maometano, budista e assim por diante, pois, sem religião, a sociadade humana não passa de sociedade animal.

O objetivo da religião é alcançar a emancipação, e não conseguir pão. Às vezes, a sociedade humana cria um sistema de pseudo-religião voltado para o avanço material, mas isso está distante do objetivo do dharma verdadeiro. Religião importa em compreender as leis de Deus porque, em última análise, é a execução correta destas leis que nos tira do enredamento material. É este o verdadeiro objetivo da religião. Infelizmente as pessoas aceitam a religião em troca de properidade material devido ao atyahara, ou desejo excessivo de obter tal prosperidade. No entanto, a religião verdadeira instrui que, ao cultivarem a cosnciência de krishna, as pessoas se satisfaçam com as necessidades mínimas da vida. Embora necessitemos de de desenvolvimento econômico, a religião verdadeira permite tal desenvolvimento apenas para o suprimento das necessidades mínimas da existência material. Jivasya tattva jijnasa: o real objetivo da vida é indagar a respeito da Verdade Absoluta. Se não empregarmos nosso esforço em indagar a respeito da Verdade Absoluta, simplesmente aumentaremos nosso esforço por satisfazer nossas necessidades artificiais. Um aspirante ao caminho espiritual deve evitar esforço mundano.
Retirado do livro O Néctar da Instrução

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Quem é Krishna?


Consciência de Krishna é agir segundo a ordem de Krishna. A alma condicionada, iludida pela energia material externa, não sabe que o Senhor Supremo é o Senhor pleno em conhecimento e proprietário de tudo. Tudo o que Ele deseja, Ele pode conceder a Seus devotos; Ele é amigo de todos e está especialmente inclinado a satisfazer Seu devoto. Ele é o controlador desta natureza material e de todas as entidades vivas. Ele é também o controlador do tempo inesgotável e é pleno em todas as opulências e todas as potências. A Suprema Personalidade de Deus pode até mesmo Se entregar ao devoto. Aquele que não o conhece está sob o encanto da ilusão e nãos e torna um devoto, tornando-se assim um servo de maya.

Bhagavad-gita 18.73 Sig

domingo, 5 de agosto de 2007

Srila Prabhupada e o Vedanta



Existem muitos comentários sobre o Vedanta-sutra. Na Índia especialmente o sistema é que qualquer pessoa que seja líder de uma instituição religiosa seja bem versada nos Vedanta-sutras, e espera-se que escreva comentários sobre o Vedanta-sutra, sem o quê não se é aceito como um acharya. Acharya significa alguém que conhece o propósito do conhecimento védico. Pratica-o pessoalmente além de ensinar a seus discípulos o sistema de conhecimento védico.
Há muitos acharyas, especialmente da vaisnava-sampradaya, subdividida em quatro sampradayas: ramanuja-sampradaya, madhvacarya sampradaya, vishnuswami-sampradaya, e nimbarka-sampradaya. Nossa sampradaya se chama gaudiya-sampradaya, ou os Vaisnavas que estão na sucessão discipular do Senhor Chaitanya Mahaprabhu. A gaudiya-sampradaya na verdade pertence à madhva-sampradaya e a madhva-sampradaya por sua vez pertence à brahma-sampradaya.
Além destas quatro vaisnava-acharya-sampradayas, também há sampradayas não-Vaisnavas, especialmente a escola impersonalista liderada por Shankaracharya. Shankaracharya escreveu um comentário sobre o Vedanta-sutra, conhecido como Sariraka-bhasya, e em geral este Sariraka-bhasya feito por Shankaracharya é muito popular devido aos indianos atualmente estarem influenciados pelas atividades materialistas. Ainda assim os outros bhasyas diferentes, ou comentários, feitos pelos acharyas Vaisnavas, também estão disponíveis na gaudiya-sampradaya, especificamente liderada por Rupa Goswami.
No princípio não havia comentário sobre o Vedanta-sutra porque conforme o Srimad-Bhagavatam, diz-se que o comentário real sobre o Vedanta-sutra é o próprio Srimad-Bhagavatam, apresentado pelo autor, o próprio Sri Vyasadeva. Em nosso comentário inglês sobre o Srimad-Bhagavatam, Primeiro Canto, Capítulo Um, explicamos este fato de que o Srimad-Bhagavatam é o tipo certo de comentário ao Vedanta-sutra. Sendo assim, a gaudiya-sampradaya não se preocupou muito em apresentar seu comentário ao Vedanta-sutra.
Há uns 200 anos atrás havia uma conclusão no distrito de Golpa em Jaipur, na qual os acharyas ou seguidores das outras sampradayas desafiavam a gaudiya-vaisnava-sampradaya por não ter um comentário sobre o Vedanta-sutra. Naquela época Sri Visvanatha Chakravarti Thakura estava morando em Vrndavana, porém era velho demais, e quando os Gaudiya Vaisnavas se aproximaram dele para apresentar um comentário sobre o Vedanta-sutra, ele pediu a seu discípulo Sri Baladeva Vidyabhushana para escrever um comentário ao Vedanta-sutra. Como Vaisnavas em geral são muito humildes e submissos, Sri Baladeva Vidyabhushana se achou desqualificado para escrever um comentário autorizado sobre o Vedanta-sutra, portanto aproximou-se do Senhor Govinda no templo de Jaipur. Colocou-se diante do Senhor Govinda para receber sua permissão e autoridade para começar a escrever um comentário sobre o Vedanta-sutra, e Govinda assegurou-lhe que poderia fazê-lo. Com esta inspiração ele escreveu o comentário ao Vedanta-sutra conhecido como Govinda-bhasya. Este Govinda-bhasya é muito autorizado e aceito por todas vaisnava-sampradayas. Este comentário, que pode ser conhecido como Bhaktivedanta-basya, segue os passos do Govinda-basya.
A necessidade de apresentar o comentário Bhaktivedanta-bhasya sobre o Vedanta-sutra também deve ser explicada aqui. Meu mestre espiritual, Om Vishnupada Paramahamsa Sri Srimad Bhaktisiddhanta Saraswati Goswami Maharaja, ordenou-me que apresentasse a filosofia Gaudiya Vaisnava em inglês o máximo possível, e nesta tentativa para as pessoas que falam inglês, desde 1965 tenho estado nos países ocidentais com meus três livros do Primeiro Canto do Srimad-Bhagavatam. Depois apresentei meu comentário sobre o Srimad-Bhagavad-gita conhecido como O Bhagavad-gita Como Ele É, e similarmente apresentei Os Ensinamentos do Senhor Chaitanya. Também, a pedido de muitos de meus discípulos ocidentais, especialmente de meus dignos discípulos Sriman Hamsadutta Das Adhikari e Janardana Das Adhikari, que estão encarregados do Centro de Montreal, estou tentando apresentar um comentário em inglês sobre o Vedanta-sutra conforme a seguir.
No presente momento pelo mundo inteiro existem inúmeras pessoas sem Deus. Em geral as pessoas são muito apegadas à filosofia vazia apresentada pelo Senhor Buddha ou à filosofia impersonalista apresentada por Shankaracharya. Em outras palavras, para ser mais direto e simples, as pessoas estão se tornando muito ateístas. Dizer que não há Deus, como declaram os ateístas, é um tanto audacioso e simples, porém dizer que existe uma causa suprema que é vazia, ou que há um Deus mas Ele não tem forma, é mais perigoso que a simples declaração de que não há Deus.
Nossa sociedade, conhecida como a Sociedade Internacional para Consciência de Krishna - ISKCON, agora começou o movimento para Consciência de Krishna, e é muito gratificante que a geração mais nova da parte ocidental do mundo, na América, Canadá, e Europa, estejam se interessando por esse grande movimento. Já temos filiais em quase todas cidades importantes dos Estados Unidos e Canadá, e começamos centros também em Londres e Hamburgo. Esperamos que nosso movimento para Consciência de Krishna gradualmente cresça, conforme previsto pelo Senhor Chaitanya, que disse que Suas atividades missionárias, bem como o movimento para Consciência de Krishna, seriam pregados pelo mundo todo, em cada vilarejo, em cada país. Levando em consideração as atuais atividades deste movimento, espera-se que a previsão do Senhor Chaitanya brevemente seja realizada e as pessoas do mundo todo sejam muito felizes, tendo Consciência de Krishna.
Conforme acima referido, em geral o comentário conhecido como Sariraka-bhasya é tido pelas pessoas como o significado do Vedanta, ou em outras palavras, o que o Vedanta significa segundo a opinião dos seguidores do significado por Shankaracharya, explicado por ele no Sariraka-bhasya. Além do Sariraka-bhasya de Shankaracharya existem muitas outras escolas ateístas pregando Vedanta com base na bondade.
Um dos eminentes seguidores de Shankaracharya, Sadananda Yogindra, compilou seu livro conhecido como Vedanta-sara, no qual escreve para provar que para compreender tanto os Upanishads quanto o Vedanta-sutra, o único meio é o Sariraka-bhasya de Shankaracharya. Esta é a reivindicação de monopólio pela escola mayavada. Na verdade o Vedanta-sutra tem muitos comentários e todos esses comentários não são com base no princípio do monismo ou impersonalismo.
Todos acharyas proeminentes das diferentes vaisnavas-sampradayas compilaram comentários sobre o Vedanta-sutra, porém não seguem os princípios da escola Shankarista. Por outro lado, os monistas impersonalistas frisam mais a não-dualidade. Em geral eles se declaram Deus e não há existência de Deus separadamente.
A escola monista não reconhece os comentários do Vedanta apresentados pelos acharyas Vaisnavas, conhecido como suddhadvaita, vishisthtadvaita e dvaitadvaita, bem como a filosofia do inconcebivelmente-uno-e-diferente do Senhor Chaitanya, conhecida como acinthyabhedabheda-tattva. Segundo eles o comentário monista do Vedanta-sutra é final, o Senhor Krishna tem um corpo material, e os seguidores da filosofia de Consciência de Krishna não são transcendentalistas.
Vedanta significa a última palavra em matéria de buscar conhecimento. Todo mundo está buscando algum tipo de conhecimento. Existem universidades, instituições, e muitos estabelecimentos educacionais buscando conhecimento, porém Vedanta significa a última palavra na busca do conhecimento. Esta última palavra na busca do conhecimento é explicada no Bhagavad-gita pelo Senhor Krishna. O propósito do conhecimento védico é compreender Krishna. As palavras exatas do Capítulo XV do Bhagavad-gita são: are sarvasya caham hrdi sannivishtah. “O Senhor está situado no coração de todos. Ele dá inteligência e ilusão. Ele é a fonte original do conhecimento. Ele é a meta do conhecimento. Ele é o compilador do Vedanta-sutra, e Ele conhece o que é Vedanta.
Estas palavras são uma explicação mui significativa do Vedanta-sutra pelo próprio Krishna. Em outra parte Ele também Se referiu ao Vedanta-sutra dizendo: “Ao longo do Brahma-sutra pode-se de fato compreender o que é a filosofia do Bhagavad-gita. Bhagavad-gita e Vedanta-sutra estão mui intimamente inter-relacionados. Compreender o Vedanta-sutra corretamente é compreender o Bhagavad-gita corretamente.”
A palavra sutra significa “código resumido”. No Skanda e Vayu Puranas a palavra sutra é explicada como “quando uma tese é apresentada em poucas palavras, porém com grandes volumes de significado e, quando compreendido, é muito belo.” Mencionam-se os nomes de diferentes comentários sobre Vedanta-sutra por diferentes acharyas.
Este Sariraka-bhasya de Shankaracharya também é conhecido como Vedanta-siddhanta. O resumo da filosofia não-dualista exposta por Shankaracharya é o seguinte.
Segundo esta filosofia só existe a Verdade Absoluta. Para esta filosofia a entidade viva é Brahman e a manifestação cósmica é falsa. O exemplo da realidade e falsidade é dado por eles na comparação de confundir uma serpente com uma corda. Na escuridão, na ilusão, uma corda pode ser aceita como serpente. Quando se recobra os sentidos, entende-se que a corda não era uma serpente. Então a “serpente” se torna falsa. Similarmente, segundo a filosofia de Shankaracharya esta manifestação cósmica na verdade não existe. Maya significa “Aquilo que não é”. Ma significa “não” e ya significa “isto”. Em outras palavras, a representação fenomenal do mundo material não tem realidade. Por trás deste fenômeno o NOUMENON é realidade.
De acordo com a filosofia de Shankaracharya a Verdade Absoluta é impessoal. Sendo assim, não há diversidade. No mundo material existem diferentes tipos de diversidade, assim como diversidades da espécies de vida. A espécie dos cachorros não é como a humana. Esta especialidade, espécie canina ou humana, está presente no mundo material, porém espiritualmente não há tal diferenciação. Mesmo nas considerações pessoais há diversidades. Numa forma pessoal temos pernas, mãos e cabeça. Mas esta diferenciação, segundo a filosofia mayavada de Shankaracharya, também é falsa. Shankaracharya não reconhece qualificar o Brahman, assim como a filosofia Vaisnava qualifica o Supremo Brahman. Tomemos o exemplo: Deus é misericordioso. Isto é uma qualificação de Deus ou da Verdade Absoluta. Mas, sendo impersonalista a filosofia de Shankara, eles não aceitam a Verdade Absoluta qualificada com misericórdia, ou beleza, ou opulência. Eles não aceitam. Segundo eles, se a Verdade Absoluta for qualificada então se torna limitada pela qualificação. A conclusão deles é que se Brahman, ou a Verdade Absoluta, é ilimitado, não deve haver qualquer limitação pela qualificação.
A encarnação da Verdade Absoluta, ou Deus, é aceita por eles como uma manifestação da designação material. Em outras palavras, segundo a filosofia de Shankara quando Deus ou a Verdade Absoluta encarna, Ele assume um corpo material. Portanto Ele é designado. Nessa forma designada só a Verdade Absoluta se torna o criador, sustentador, e aniquilador da manifestação cósmica, embora em seu comentário ao Bhagavad-gita, no início, Shankaracharya tenha aceito que Narayana está além desta manifestação cósmica. Tudo que está manifesto no mundo material é produzido do imanifesto mahat-tattva, porém Narayana ainda assim é transcendental ao mahat-tattva. Em outras palavras, ele aceitou que o mahat-tattva também é criado pela Suprema Personalidade de Deus, Narayana. Há tantas contradições na filosofia dele. Isso é pano para outro assunto. Não desejamos entrar nas contradições da filosofia dele, mas na medida do possível estamos apresentando o resumo da filosofia mayavada, não-dualismo.
Segundo Shankaracharya, na concepção espiritual mais elevada, a Verdade Absoluta é sem qualquer contaminação da existência material, e portanto Ele não tem conecção com a criação, sustento ou aniquilação (do mundo material). Está sempre destituída de todas qualidades, sem qualquer diversidade, sem qualquer condição material, e sem qualquer responsabilidade por atividades. Como tal, a manifestação cósmica é falsa. Similarmente, a Personalidade de Deus, que aceita Sua designação a partir desta manifestação material falsa, a concepção da Personalidade de Deus, também é falsa. A Verdade Absoluta só é concebida como eterna, plena de conhecimento e cheia de bem-aventurança. O aparecimento como Narayana, ou como uma encarnação, não é eterno, porém é temporário. Para algum propósito Ele aparece assim. A meta final é impessoal.
Segundo a filosofia de Shankara, a diferenciação entre Deus e as entidades vivas é uma ilusão. De fato, isso não é assim. As entidades vivas não são energia subordinada do Supremo. Simplesmente estando cobertas pela concepção de maya, as entidades vivas parecem ser diferentes da Verdade Absoluta. Esta diferenciação entre entidades vivas e o Supremo se manifesta no mundo material nos procedimentos comuns. Espiritualmente não há tal diferença. As atividades da entidade viva no espírito de desfrutar no mundo material, sua qualidade infinitesimal, ou sua minusculosidade, ou como é inumerável, são apenas designações da falsa maya.
Um exemplo neste sentido dado pelos filósofos mayavadis é que, o copo de cristal parece vermelho quando nele se reflete uma flor vermelha, embora isso não tenha nada a ver com o rubor do vidro. É completamente diferente da cor. Similarmente, a entidade viva na contaminação da maya se torna ativa, ou se transforma em desfrutador, ou se torna infinitesimal, ou em outras palavras, se torna individual. Todas estas coisas são apenas reflexo colorido artificial. De fato, uma entidade viva é puro Brahman. Esta teoria do reflexo se chama pratibimbavada. Segundo esta filosofia, transcendentalmente não existe diferença entre a Verdade Absoluta, as entidades vivas, e a natureza material.
Esta não-diferenciação entre a Verdade Absoluta, as entidades vivas, e a manifestação cósmica, é exemplificada pelo filósofo mayavadi por seguir-se o exemplo do firmamento todo e do pote. O céu no pote e o firmamento todo são o mesmo. Porém o céu dentro do pote parece ser limitado devido a ter sido designado pela tampa do pote. Quando o pote se quebra, ou a ilusão de maya se dissipa, não existe tal diferença que este pote seja diferente daquele pote, ou este céu diferente daquele céu. Segundo Shankaracharya esta manifestação cósmica também é maya. Quando estes elementos materiais desaparecerem, então apenas o Brahman existencial permanecerá. Portanto, Brahman é verdade e esta manifestação cósmica é falsa.
Shankaracharya não aceita a teoria da transformação, como o fazem os acharyas Vaisnavas. A teoria da transformação é explicada desta maneira. Assim como o leite se transforma em iogurte sob certas condições, mas iogurte não pode ser transformado novamente em leite, nem tampouco pode ser usado como leite, da mesma maneira as entidades vivas não podem se tornar a Suprema Verdade Absoluta. Esta teoria da transformação não é aceita pelo filósofo mayavadi.
Na verdade, este tipo de propaganda por Shankaracharya foi executada sob ordem Suprema a fim de dissipar a obscura filosofia budista e estabelecer a filosofia védica, a Verdade Absoluta. Segundo Sri Chaitanya Mahaprabhu, a filosofia mayavada de Shankara é outra versão da filosofia de Buddha. A filosofia do vazio de Buddha é quase igual à filosofia impersonalista de Shankara. Portanto, segundo a filosofia de Shankara, a não-variedade impersonalista é o estágio final de conhecimento perfeito.
A maior oposição à filosofia de Shankara foi feita por Sri Ramanujacharya. A filosofia de Ramanuja é conhecida como vishishtadvaita. Esta doutrina de vishishtadvaita não foi novidade apresentada por Ramanujacharya, mas sim, antes dele havia outros expoentes desta doutrina e foram conhecidos como Nathamuni e Yamunacharya.
O princípio básico da doutrina vishishtadvaita é que na criação de Deus existe a divisão entre o que é sensível e não-sensível, assim como ao estudarmos a nós mesmos, descobrimos que nosso corpo é material, ou insensível, e nossa inteligência da mente e falso-ego são o caminho entre nosso eu e nosso corpo. Nosso eu é sensível. Similarmente, o Senhor Supremo é sensível, e esta manifestação cósmica é Seu corpo. Combinados juntos, a Verdade Absoluta forma uma combinação das características sensíveis e insensíveis. Isto se chama vishishtadvaita.
Segundo Sri Ramanujacharya existem três verdades: ou seja, o sensível, o insensível, e o Senhor Supremo. Em geral se chamam de tattva-traya. As inúmeras entidades vivas como um grupo se chamam de energia sensível do Senhor Supremo, ao passo que a manifestação cósmica se chama a energia material do Senhor. O próprio Senhor está acima delas. Ele tem qualidades transcendentais totalmente auspiciosas. Ele é onisciente e onipotente. Ele é conhecido como a Suprema Personalidade de Deus, Vasudeva. O mundo material e as entidades vivas são partes corpóreas sensíveis e insensíveis do Senhor.
Sri Ramanujacharya delineou elaboradamente sua filosofia em 12 divisões conforme a seguir:
1. A Suprema Verdade Absoluta é una na combinação dos grupos grosseiros, sutis, sensíveis e insensíveis.
2. Ele protestou contra a doutrina de dualismo bem como a doutrina do monismo.
3. Ele aceitou que a Verdade Absoluta, Brahman, tem qualidades e potências transcendentais, e portanto Ele não é impessoal.
4. Ele protestou veementemente a doutrina de uma Verdade Absoluta impessoal, não-qualificada.
5. Ele estabeleceu deliberadamente a doutrina das entidades vivas serem infinitesimais e do Senhor Supremo ser infinito, e portanto as entidades vivas infinitesimais destinam-se constitucionalmente a servir a infinita Suprema Personalidade de Deus.
6. Ele estabeleceu que as entidades vivas, que são infinitesimais, estão sujeitas a caírem vítimas da ignorância, mas quando estão fora dessa posição de ignorância elas se tornam novamente liberadas.
7. Ele provou que só o transcendental serviço amoroso ao Senhor Supremo é o meio de liberação do enredamento material.
8. Segundo sua opinião, serviço devocional é o processo mais supremo de auto-realização.
9. Ele declarou enfaticamente que mesmo no estado de liberação não se pode ser igual ao Senhor Supremo.
10. Ele colocou fortes argumentos contra a doutrina impersonalista do monismo.
11. Ele provou que este mundo material é abominável, e o mundo espiritual é vida real de bem-aventurança eterna.
12. Ele estabeleceu que as entidades vivas e a manifestação cósmica são diferentes partes corpóreas do Senhor Supremo.

E ainda, Ramanujacharya explicou que a Suprema Personalidade de Deus descende em cinco diferentes aspectos, ou seja: arca, a Deidade no templo, as encarnações, tais como a encarnação do peixe, tartaruga, javali, e Nrshimha, as quais se chamam vaibhava. Depois Ele tem expansões chamadas vyuha, tais como as expansões de Vasudeva, Sankarshana, Pradyumna, e Aniruddha. Sua expansão impessoal é a refulgência de Seu corpo. Ele também está presente no coração de todo mundo como Antaryami, ou a Superalma. Todas estas diferentes porções plenárias do Senhor Supremo são além da contaminação material, eternas, sem qualquer lamentação, sempre superiores às entidades vivas, e cheias das seis opulências.
Segundo Ramanujacharya, existem cinco tipos de métodos de adoração, que se chamam abhigamana, upadana, ijya, sadhyaya e yoga. Quando devotos vão ao templo, limpam o templo ou o acesso ao templo, e decoram o templo de várias maneiras, tais atividades se chamam abhigamana. Coletar ingredientes como flores e outras parafernálias para adoração se chama upadana. Adoração do Senhor no templo se chama ijya. Cantar diferentes mantras e oferecer diferentes tipos de orações se chama sadhyaya. Meditação, ou lembrar das atividades do Senhor em plena absorção, se chama yoga. Praticando todos diferentes tipos de adoração se pode alcançar os planetas no mundo espiritual conhecidos como Vaikunthaloka. Segundo Sri Ramanujacharya, alcançar Vaikuntha é o estágio perfeccional mais elevado.
A grandeza de Ramanujacharya é que ele próprio, e mais tarde sua sucessão discipular, protestava crescentemente o impersonalismo de Shankaracharya. Ainda no sul da Índia estes dois partidos entram em conflito e em geral o grupo pertencente à ramanujacharya-sampradaya é vitorioso.
Princípios regulativos Pancaratra prevalesciam antes do advento de Shankaracharya, mas devido à influência da filosofia de Buddha tais princípios regulativos pancaratra foram interrompidos. Shankaracharya, em vez de estabelecer diretamente o método pancaratra, refugiou-se na filosofia mayavada para derrotar a filosofia de Buddha. Sri Ramanujacharya restabeleceu o pancaratra, ou adoração.
Após Sri Ramanujacharya, temos o aparecimento de Madhvacharya, cuja doutrina é suddha-advaitavada. Estabeleceu com muita firmeza a doutrina da dualidade, que Deus, ou a Verdade Absoluta, e as entidades vivas são entidades completamente diferentes, com evidência do Brahma-sutra ou Vedanta-sutra, bem como do Bhagavad-gita, dos Puranas, e do Narada-pancaratra.
Ele provou a dualidade em cada estágio, ou seja, que o Senhor Supremo e a entidade viva são duas entidades diferentes. Similarmente, a manifestação cósmica e o Senhor Supremo também são duas entidades vivas diferentes. Uma entidade viva é diferente de outra entidade viva. Em outras palavras, cada uma das entidades vivas é individual. Há uma diferença entre entidades sensíveis e insensíveis, e também há uma diferença entre um tipo de matéria insensível e outro tipo de matéria insensível. Madhvacharya estabeleceu que dois não é um, mas dois.
Uma verdade é completamente independente e a outra verdade é dependente. O Senhor VIshnu é a Personalidade de Deus supremamente independente, qualificada com qualidades transcendentais sem qualquer contaminação material. Portanto Ele é plenamente independente. Exceto o Senhor Vishnu, qualquer outra coisa, seja a manifestação cósmica ou entidades vivas, não é independente mas dependente do Senhor Supremo.
As entidades vivas são qualitativamente representações do Senhor Supremo. A doutrina de que o homem é feito à imagem de Deus é aceita por Madhvacharya. As características do homem são um reflexo exato da característica do Senhor Supremo. Ele também aceita que o Senhor Supremo Se expande em porções multi-plenárias, bem como porções separadas chamadas jiva-tattva. Todas jiva-tattvas, ou entidades vivas, são eternamente associados do Senhor Supremo para prestar serviço amoroso transcendental a Ele. O conhecimento das entidades vivas sempre é inferior ou incompleto.
O Senhor Supremo e as entidades vivas estão sempre na posição do Supremo e dos subordinados. As entidades vivas são sempre subordinadas. Elas não tem poder independente. Conforme é confirmado no Bhagavad-gita, Cap. 5, Verso 15, o Senhor diz que conhecimento e lembrança são sempre dados pelo Senhor Supremo, como antaryami ou Superalma, para as entidades vivas. Senão, as entidades vivas não tem poder independente para memorizar, pensar, ou agir.
Em contraste à entidade viva, a Suprema Personalidade de Deus, Vishnu, é completa em conhecimento e completa em bem-aventurança. Ele é sempre adorável pelas entidades vivas e Ele é o dominador supremo original, ao passo que as entidades vivas são as predominadas originais. Portanto, Ele é o criador original desta manifestação cósmica, que também é eterna, embora temporariamente manifestada. Portanto tanto as entidades vivas e a manifestação cósmica estão em subordinação ao Senhor Supremo.
O Senhor Supremo está sempre situado diferentemente, como também é confirmado pelo Bhagavad-gita, onde se diz que tudo descansa no Senhor Supremo, mas ainda assim Ele sempre é diferente de tudo. Segundo Madhvacharya, mesmo na hora da dissolução cósmica as entidades vivas e a energia material permanecem separadas do Senhor Supremo. Elas nunca se misturam conforme é advogado pelos impersonalistas.
Madhvacharya estava em mui grande oposição à doutrina de Shankaracharya. Praticamente os seguidores da madhvacharya-sampradaya estão simplesmente lutando contra a doutrina da filosofia mayavada propalada por Shankaracharya. Ele derrotou a doutrina de Shankaracharya e estabeleceu a doutrina da dualidade.
Além destas duas doutrinas acima-mencionadas de vishishtadvaitavada e suddha-dvaitavada, existem outras doutrinas advogadas pela vishnuswami-sampradaya e nimbarka-sampradaya. A vishnuswami-sampradaya mais tarde desenvolveu-se na baladeva-sampradaya. A doutrina deles se chama suddhavaitavada e a doutrina da nimbarka-sampradaya se chama dvaitadvaitavada.
De modo mui adequado, foi feito o ajuste de todas doutrinas: vishishtadvaitavada, suddha-dvaitavada, suddhadvaitavada, e dvaitadvaitavada pelo Senhor Chaitanya Mahaprabhu em Sua doutrina acinthya-bhedabheda-tattva. Nesta doutrina, o Senhor Chaitanya discutiu mui elaboradamente todo tipo de doutrinas antigas e novas sobre o assunto de compreender assuntos transcendentais, e a fim de minimizar as diferentes visões de diferentes filósofos, Ele adicionou uma concepção muito boa que se chama acintya.
Esta palavra é muito aplicável às doutrinas filosóficas da alma condicionada. Uma alma condicionada na verdade não consegue apurar a natureza da Verdade Absoluta simplesmente através da especulação, mas apenas através da autoridade do conhecimento védico. A palavra acintya se aplica em todas as doutrinas.
Sri Chaitanya Mahaprabhu não estava muito interessado que essas doutrinas compreendessem a Verdade Absoluta. Sua principal ocupação era distribuir para a massa geral do povo os princípios do Srimad-Bhagavatam, que é o comentário natural ao Vedanta-sutra.
Segundo o Srimad-Bhagavatam, toda especulação filosófica e princípios religiosos combinados juntos culminam na compreensão do amor por Deus. O homem não pode ficar satisfeito simplesmente através de sentimentos religiosos ou especulação filosófica mas, conforme o Srimad-Bhagavatam, quando nos elevamos à plataforma de prestar serviço amoroso à Suprema Personalidade de Deus sem qualquer motivo e sem ser impedidos por qualquer condição material, esse estágio de realização transcendental é o princípio mais elevado de compreensão espiritual, e só nesse estágio é que podemos ser plenamente satisfeitos.
Chaitanya Mahaprabhu Se interessava mais por transmitir para as pessoas este estado de vida sem muita preocupação com especulações filosóficas. O Senhor Sri Chaitanya Mahaprabhu nunca Se esforçou muito por apresentar uma tese desta doutrina num livro separado, porém mais tarde Sua sucessão discipular, especialmente dentre os seis Goswamis, Srila Jiva Goswami, apresentou seis teses, que combinadas se chamam Sat-sandarbha. Dos seis sandarbhas, aquele conhecido como Tattva-sandarbha é uma apresentação prática desta doutrina e explica o Vedanta-sutra estritamente de acordo com os princípios de acyntya-bhedabheda-tattva. Mais tarde, Sri Baladeva Vidyabhushana pegou esta doutrina e explicou o Vedanta-sutra rigorosamente de acordo com este princípio de acintya-bhedabheda-tattva.
Texto de A. C. Bhaktivedanta Swami PrabhupadaTraduzido por Indumukhi Dasi

sábado, 4 de agosto de 2007

O que é necessário para o avanço espiritual?



utsahat – munir se de entusiasmo, é um critério de fundamental importância nesta empreitada de poucos. Isto significa chegar a alegre constatação de que tudo pode ser utilizado a serviço do Senhor Krishna, o que resulta num esforço realizado com a inteligência firmemente situada em consciência de Krishna ;

niscayad – esforçar-se com confiança, é pensar que: “Com toda certeza, Krishna vai me proteger e ajudar para que eu tenha perfeito êxito no cumprimento do serviço devocional”;

dhairyat – ser paciente, na prestação de serviço ao Senhor, fica fora de cogitação sermos impacientes, senão que devemos aceitar as instruções do mestre espiritual e pô-las em pratica com paciência, dependendo da misericórdia do guru e de Krishna;

tat-tat-karma-pravartanat – agir segundo os princípios reguladores da disciplina de Bhakti-yoga, como ouvir e cantar os santos nomes do Senhor e Seus passatempos transcendentais, lembrar-se sempre do Senhor Krishna e nunca esquecê-lO;

sanga-tyagat – descartar companhias não condizentes com o nosso anseio de avançar em consciência de Krishna e buscar a associação com aqueles que compartilham o mesmo ideal;

sato-vrtteh – seguir os passos dos acharyas (mestres) anteriores que com perícia, preencheram todos os momentos do dia com atividades conscientes de Krishna;

atyaharah – arrecadar e comer em demasia, todos necessitam de posses, tais como: suprimentos alimentícios, roupas, dinheiro e outras coisas necessárias para o sustento do corpo, porém, não se deve arrecadar mais do que o necessário para as reais necessidades básicas. Se seguirmos este principio natural, não teremos dificuldades em manter o corpo para o avanço em consciência de Krishna ;

prayasa – esforço desnecessário, arrecadar e comer em demasia, por exemplo, provocam prayasa. Segundo os desígnios divinos, qualquer pessoa em qualquer parte do mundo pode viver mui pacificamente caso tenha uma terra e uma vaca leiteira, isso significa reduzir as necessidades da vida ao essencial, isto é o ideal de vida simples e pensamento elevado;

prajalpah – manter conversas não edificantes, se temos de estabelecer trocas amigáveis, como ser social que somos, é bom sermos muito seletivos e procurar ambientes onde ocorram conversas que possam emancipar a alma;

niyamagrahah – observar orientações das escrituras, não pelo avanço espiritual, mas somente por segui-las ou rejeitá-las para agir caprichosamente, muito pelo contrario devem-se aceitá-las com muita fé com sendo a personificação do próprio Senhor Supremo Krishna e, portanto, possuem todas as potencias transcendentais do Senhor, sendo assim, capazes de nos elevar em consciência de Krishna ;

jana-sangas – associar-se com pessoas de mentalidade materialista, compromete e muito nosso avanço em consciência de Krishna , pois, tal associação é como um imã a nos puxar constantemente de volta a consciência mundana;

laulyam – ambicionar realizações egoísticas, isso arruína e muito, um tempo precioso que poderíamos empregar na sublime empreitada de volta ao lar, de volta ao Supremo.
P/ Bir Krishna Prabhu

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Carta de Srila Prabhupada


Ao Senhor Padampat Singhania
Kamla Tower
Kanpur

Caro Shri Padampat Ji,

Em continuação à minha carta passada, que eu espero você tenha recebido no devido tempo, e em referência a seu pedido de submeter-se ao método do poderoso Mantra, para propagá-lo pelo mundo inteiro, eu tomo a liberdade de informá-lo que em todo Mantra o prefixo de Namah está geralmente adicionado.

Por exemplo, outro dia você disse Namah Sivaya. Agora este Mantra está praticamente indicando os santos nomes do Senhor Shiva. O Na significa a negação e o Ma significa o falso ego ou o Ahamkara. Conseqüentemente, Namah significa render-se ao nome Shiva. Ou seja, aceitar a supremacia do Senhor Shiva, através de Namah Shivaya. Portanto, a conclusão é que o nome da deidade está inevitavelmente ligado ao Mantra.

E, no Mantra, o poder espiritual, semelhante ao dos Rishis, Narada, etc., é sobrecarregado, como no cobre eletrificado pela força magnética. Os alfabetos etimológicos são assim como que sobrecarregados com a potência espiritual e todos os Mantras que propagam o transcendental santo nome de Deus devem ser compreendidos dessa forma. Quando cantamos os Mantras como nos foram apresentados pelas autoridades, o processo ajuda na ligação com a Personalidade de Deus, pela propagação de vibrações sonoras, como temos experimentado neste mundo material de ondas de vibrações físicas. Os Mantras poderosos só tem tal potência se forem vibrados da maneira correta. E somente cantando Mantras alguém pode espiritualizar- se completamente nesta existência, assim como o calor pode propagar-se nos objetos esféricos. Mantra Siddhi significa liberação completa. Conseqüentemente, não há nenhuma diferença entre o santo nome e o Mantra. Man significa mente e tra, libertação. Isso que nos liberta da especulação mental é chamado “Mantra”. “Mantra Siddhi” é para transcender os planos mental, grosseiro e sutil.

Nesta era todos os Mantras que podem nos ajudar na perfeição de alcançar o plano do Deus, foram concentrados mais ainda no Harinama. Encontramos no Bhrihannaradiya Puranam (38/126) uma ênfase particular sobre Harinama, que é vibrado da seguinte forma:

Harinama Harinama Harinama eva kevalam Kalau nastyeva nastyeva nastyeva gatir anyatha

A afirmação acima é muito significativa, da seguinte forma: Há dois processos diferentes para adquirir o conhecimento. Um é o Processo Dedutivo e o outro é o Processo Indutivo. No Processo Dedutivo nós deduzimos a conclusão da indicação de umas autoridades mais elevadas, visto que pelo Processo Indutivo nós fazemos uma pesquisa da verdade através do nosso próprio conhecimento imperfeito e induzimos uma conclusão. Digamos, por exemplo, que se nós queremos saber se o homem é mortal então nós temos que fazer uma pesquisa nas estatísticas de ocorrências diárias da morte. Rama morre, Shyama morre, o pai morre, a mãe morre, ele morre, ela morre, etc.

Todas estas experiências podem nos ajudar na conclusão de que todo o homem morre e, conseqüentemente, o homem é mortal. Mas a falha deste processo do conhecimento é que pode ser que nós não venhamos a ver uma pessoa que esteja vivendo, ainda mesmo após alguns milhares de anos. Assim que obtermos esta informação que a conclusão final é que um homem é mortal está na mudança, nós temos que dizer que alguns homens são mortais. Desta forma o trabalho de pesquisa do pensamento científico está mudando constantemente, porque o verdadeiro trabalho de pesquisa é feito por uma pessoa que está condicionada pelos quatro princípios, do erro, de iludir-se, de iludir e da imperfeição dos sentidos. Conseqüentemente, o processo dedutivo é mais eficaz.

Que o homem é mortal nós ouvimos das fontes genuinamente autorizadas como os Vedas, e nós o aceitamos. Nos Vedas a palavra fezes é impura, mas as fezes da vaca são puras. Nos Vedas a palavra osso é intocável, mas a concha de um molusco (búzio), que também é um osso, é perfeitamente pura. Para o homem comum as indicações dos Vedas parecem ser contraditórias. Mas, apesar de tal contradição, nós Hindus aceitamos os Vedas, enquanto as nossas autoridades aceitam o esterco de vaca como puro e permite que seja usado mesmo na cozinha. Assim, também, nós aceitamos a concha de um molusco. Concha de molusco é, no final das contas, um osso de um animal, mas porque é aceito pelo Vedas permite-nos que a concha seja usada no santificado templo das deidades.

Se os examinarmos num laboratório físico ou os analisarmos pelo teste químico nós não encontraremos nenhuma diferença entre as fezes de um homem e a de uma vaca ou o osso de um boi e o de uma concha. No entanto os Muçulmanos e Hindus opõem-se totalmente. Todo o esforço de Gandhi e Jinnah e toda a questão do problema de Kasmir na UNSCO levantaram-se somente por causa desta diferença insignificante dos ossos. No templo Hindu, o búzio de osso já estava lá, mas assim que um Mohamudan jogou um pedaço de osso de boi no templo, o problema todo começou, tendo como resultado a divisão da India e do Paquistão. Assim, um estudante mundano imparcial, que participe do trabalho de pesquisa de tais casos de ossos, nos anais da história indiana, certamente chegará à conclusão de obediência irrestrita às palavras dos Vedas, ou do Al Corão, ou da Bíblia, que conduzem a todas as sortes de Jehad e de guerras religiosas. De fato, as pessoas assim chamadas de inteligentes da era moderna, defenderam-se do secularismo na resistência de feudos religiosos desafortunados do passado. Este é um outro tipo de absurdo. Conseqüentemente, nesta era atual, o respeito para com o Processo Dedutivo vem degradando-se, visto que o respeito para o Processo Indutivo está aumentando, embora saibamos que a pesquisa Indutiva é parte de um processo que não foi bem sucedido. A conclusão é que nós perdemos nossa fé no conhecimento tradicional Védico, repassado na descendência do Guru ao Chela ou do pai ao filho, embora tal sistema do conhecimento dedutivo autorizado seja a forma mais perfeita de conhecimento. A verdade final está distante, além do alcance de nossos sentidos imperfeitos, a qual pode nunca vir a ser conhecida através de tal trabalho de pesquisa indutiva. Os sentidos imperfeitos não poderiam nem mesmo medir a distância do produto físico “O Sol” ou contar as inumeráveis estrelas diante de nós, e tampouco tais sentidos imperfeitos podem fazer uma pesquisa nos Mantras, que são assuntos puramente espirituais. Nós temos que aceitar o Mantra e sua potência das fontes Védicas, e seguir a prática e os princípios, com intuito de alcançar a realidade da verdade. O trabalho de pesquisa realizado por sentidos imperfeitos praticamente vai de encontro à verdade estabelecida. Permita-nos, portanto, aceitar a injunção Védica de Brihannaradiya Puranam.

Eu já falei sobre este Mantra em minha carta anterior, e imploro para confirmares a propagação do Nome “Krishna”, da mesma forma como se propagam as denominações estrangeiras Deus e Allah. Se todos contemplarem a Suprema Personalidade de Deus - cujo Nome é absolutamente santo e potente, tanto quanto perfeito é o Senhor Supremo – é porque, tanto no Reino Absoluto ou na Natureza Espiritual tudo é idêntico, porque tudo é qualitativamente espiritual e, portanto, puro, eterno, liberado e perfeito.

Para todas as finalidades práticas, se propagarmos sistematicamente o cantar dos santos nomes do Senhor, eu penso que ninguém, mesmo o fanático religioso, não fará objeção. Cada ser humano tem uma concepção da verdade suprema. Essa concepção é apresentada de alguma forma concreta. Se, portanto, o Muçulmano ou o Cristão se negarem a cantar o nome de Rama ou Krishna nós poderemos pedir que cante o nome de Allah ou de Deus, respectivamente, e eu penso, portanto, que não haverá nenhuma objeção, mesmo dos Budistas, se nós pedirmos simplesmente que cantem o nome do Senhor Buddha da forma tradicional.

A forma tradicional significa evitar as dez ofensas distintas no processo de cantar, as quais são todas verdades filosóficas.

Se, por tal propagação de cantar os santos nomes de Deus, a atmosfera contaminada de aflição, brigas, egoísmo, falsidade e outros tantos incidentes desta era moderna puderem ser evitados, e se tal processo completo de auto-realizaçã o ao cantar puder ser conseguido, é nosso dever não medir esforços para este trabalho. Nesta era de desentendimentos e desavenças tudo tem que ser feito pelo esforço, para se conseguir sucesso imediato. Como a personalidade mais alta de uma grande indústria, sua boa personalidade sabe melhor do que eu como os esforços e as energias diversas fazem da indústria particular um estabelecimento bem sucedido.

Da mesma forma temos que combinar as diversas forças da Sociologia humana, do dinheiro, da inteligência e de fazer do movimento espiritual um grande sucesso. Se não fizermos o que é nosso dever não estaremos servindo ao Todo Completo. Nenhum serviço parcial ou benefício provisório podem conduzir-nos à perfeição. O mundo é louco mas, depois, tal benefício provisório e o serviço parcial são nosso dever, para mudar completamente este modelo atual para um movimento espiritual autorizado. Outro dia eu estava muito contente de ouvir suas idéias sobre isto e em nossa reunião seguinte eu desejo dizer-lhe alguma coisa sobre como eu a tenho realizado.

Esperando que você esteja bem. Com minhas reverências.

Atenciosamente,
Goswami Abhay Charan Bhaktivedanta
Editor de “DE VOLTA AO SUPREMO.“
Cante os nomes de Rama, de Krishna, de Allah, de Deus ou de Buddha.


Tradução: Pariksit Das