Embora presente, junto com a laboriosa mente, dentro do corpo material, a Superalma não se ocupa em empreendimento algum, porque Ele já é dotado de iluminação transcendental. Agindo como amigo, Ele, de Sua posição transcendental, permanece apenas como testemunha. Eu, a alma espiritual infinitesimal, por outro lado, abracei esta mente, que é o espelho que reflete a imagem do mundo material. Dessa maneira, fiquei ocupado em desfrutar os objetos do desejo e estou enredado devido ao contato com os modos da natureza.
Caridade, deveres prescritos, observância de princípio reguladores maiores e menores, ouvir as escrituras, obras piedosas e votos purificadores têm todos como objetivo final a sujeição da mente. De fato, a concentração da mente no Supremo é a yoga mais elevada.
Se a mente está perfeitamente fixa e pacífica, dize-me então qual é a necessidade de se praticar caridade ritualística e outros rituais piedosos? E se a mente permanece descontrolada, perdida em ignorância, então de que lhe servem essas ocupações?
Todos os sentidos têm estado sob o controle da mente desde tempos imemoriais, e a própria mente nunca fica sob o domínio de nada mais. Ela é mais forte que o mais forte, e seu poder quase divino é assombroso. Logo, qualquer um que puder pôr a mente sob controle tornar-se o senhor de todos os sentidos.
Sem conseguir dominar este inimido irreprimível, a mente, cujos impulosos são intoleráveis e que atormenta o coração, muitas pessoas estão completamente confusas e criam desavença inútil com os demais. Dessa forma, eles concluem que os outros são seus amigos, ou seus inimigos, ou pessoas indiferentes a eles.
Pessoas que se identificam com este corpo, que é apenas o produto da mente material, estão cegas em sua inteligência, pensando em termos de "eu" e "meu". Devido a sua consideração ilusória de que "este sou eu, mas aqueles são os outros", eles vagueiam na escuridão perpétua.
Caso digas que essas pessoas são a causa de minha felicidade e sofrimento, então onde se encaixa a alma nesta concepção? Esta felicidade e sofrimento não pertencem à alma, mas às interações dos corpos materiais. Se alguém morde a língua com os próprios dentes, com quem ele pode se irar em seu sofrimento?
Se dizes que os semideuses que controlam os sentidos físicos causam sofrimento, ainda assim, como se pode aplicar tal sofrimento à alma espiritual? Este ato de agir e sofrer ação são meras interações dos sentidos mutáveis e de suas deidades governantes. Quando um membro do corpo ataca outro, com quem pode o indivíduo que está neste corpo ficar zangado?
Se a própria alma fosse causa de felicidade e sofrimento, então não poderíamos culpar os outros, já que felicidade e sofrimento seriam simplesmente a natureza da alma. De acordo com essa teoria, nada exceto a alma existe de fato, e se percebêssemos algo além da alma, isso seria ilusão. Portanto, visto que felicidade e sofrimento não existem de fato nessa concepção, porque se zangar consigo ou com outros?
E se examinarmos a hipótese de que os planetas são a causa imediata do sofrimento e felicidade, então também onde está arelação com a alma, que é eterna? Afinal, o efeito dos planetas aplica-se apenas a coisas que nasceram. Além disso, astrólogos peritos explicaram que os planetas só causam dor uns aos outros. Portanto, visto que a entidade viva é distinta desses planetas e do corpo material, contra quem deve ela dasabafar sua ira?
Se aceitamos como hipótese que o trabalho fruitivo é a causa de felicidade e sofrimento, ainda assim não estamos lidando com a alma. A idéia de trabalho material surge quando há um agente espiritual que é consciente e um corpo material que sofre a transformação de felicidade e sofrimento como reação a tal trabalho. Visto que não tem vida, o corpo não pode ser o verdadeiro receptor de felicidade e sofrimento, nem pode a alma, que em última análise é completamente espiritual e à parte do corpo material. Porque o karma não tem, então, nenhum fundamento último nem no corpo nem na alma, com quem a pessoa pode se zangar?
Se aceitamos o tempo como causa de felicidade e sofrimento, esta experiência ainda não pode se aplicar à alma espiritual, pois o tempo é uma manifestação da potência espiritual do Senhor e as entidades vivas também são expansões da potência espiritual do Senhor manifestas através do tempo. Decerto fogo não queima suas próprias chamas ou centelhas, nem o frio danifica seus próprios flocos de neve ou granizo. De fato, a alma espiritual é transcendental e está além da experiência da felicidade e sofrimento materiais. Com quem pois a pessoa deve se zangar?
O falso ego dá forma à existência material ilusória e assim experimenta felicidade e sofrimento materiais. A alma espiritual, todavia, é transcendental à natureza material; ela jamais pode ser de fato afetada pela felicidade e sofrimento materiais em qualquer lugar, sob quaisquer circunstâncias ou por intermédio de qualquer pessoa. Quem compreende isso não tem absolutamente nada a temer da criação material.
Cruzarei o intransponível oceano de ignorância, fixando-me firmemente no serviço aos pés de lótus de Krishna. Isto foi aprovado pelos acaryas anteriores, que estavam fixos em firme devoção pelo Senhor, Paramatma, a Suprema Personalidade de Deus.
Srimad Bhagavatam 11. 23 (44 a 57)
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