domingo, 5 de agosto de 2007

Srila Prabhupada e o Vedanta



Existem muitos comentários sobre o Vedanta-sutra. Na Índia especialmente o sistema é que qualquer pessoa que seja líder de uma instituição religiosa seja bem versada nos Vedanta-sutras, e espera-se que escreva comentários sobre o Vedanta-sutra, sem o quê não se é aceito como um acharya. Acharya significa alguém que conhece o propósito do conhecimento védico. Pratica-o pessoalmente além de ensinar a seus discípulos o sistema de conhecimento védico.
Há muitos acharyas, especialmente da vaisnava-sampradaya, subdividida em quatro sampradayas: ramanuja-sampradaya, madhvacarya sampradaya, vishnuswami-sampradaya, e nimbarka-sampradaya. Nossa sampradaya se chama gaudiya-sampradaya, ou os Vaisnavas que estão na sucessão discipular do Senhor Chaitanya Mahaprabhu. A gaudiya-sampradaya na verdade pertence à madhva-sampradaya e a madhva-sampradaya por sua vez pertence à brahma-sampradaya.
Além destas quatro vaisnava-acharya-sampradayas, também há sampradayas não-Vaisnavas, especialmente a escola impersonalista liderada por Shankaracharya. Shankaracharya escreveu um comentário sobre o Vedanta-sutra, conhecido como Sariraka-bhasya, e em geral este Sariraka-bhasya feito por Shankaracharya é muito popular devido aos indianos atualmente estarem influenciados pelas atividades materialistas. Ainda assim os outros bhasyas diferentes, ou comentários, feitos pelos acharyas Vaisnavas, também estão disponíveis na gaudiya-sampradaya, especificamente liderada por Rupa Goswami.
No princípio não havia comentário sobre o Vedanta-sutra porque conforme o Srimad-Bhagavatam, diz-se que o comentário real sobre o Vedanta-sutra é o próprio Srimad-Bhagavatam, apresentado pelo autor, o próprio Sri Vyasadeva. Em nosso comentário inglês sobre o Srimad-Bhagavatam, Primeiro Canto, Capítulo Um, explicamos este fato de que o Srimad-Bhagavatam é o tipo certo de comentário ao Vedanta-sutra. Sendo assim, a gaudiya-sampradaya não se preocupou muito em apresentar seu comentário ao Vedanta-sutra.
Há uns 200 anos atrás havia uma conclusão no distrito de Golpa em Jaipur, na qual os acharyas ou seguidores das outras sampradayas desafiavam a gaudiya-vaisnava-sampradaya por não ter um comentário sobre o Vedanta-sutra. Naquela época Sri Visvanatha Chakravarti Thakura estava morando em Vrndavana, porém era velho demais, e quando os Gaudiya Vaisnavas se aproximaram dele para apresentar um comentário sobre o Vedanta-sutra, ele pediu a seu discípulo Sri Baladeva Vidyabhushana para escrever um comentário ao Vedanta-sutra. Como Vaisnavas em geral são muito humildes e submissos, Sri Baladeva Vidyabhushana se achou desqualificado para escrever um comentário autorizado sobre o Vedanta-sutra, portanto aproximou-se do Senhor Govinda no templo de Jaipur. Colocou-se diante do Senhor Govinda para receber sua permissão e autoridade para começar a escrever um comentário sobre o Vedanta-sutra, e Govinda assegurou-lhe que poderia fazê-lo. Com esta inspiração ele escreveu o comentário ao Vedanta-sutra conhecido como Govinda-bhasya. Este Govinda-bhasya é muito autorizado e aceito por todas vaisnava-sampradayas. Este comentário, que pode ser conhecido como Bhaktivedanta-basya, segue os passos do Govinda-basya.
A necessidade de apresentar o comentário Bhaktivedanta-bhasya sobre o Vedanta-sutra também deve ser explicada aqui. Meu mestre espiritual, Om Vishnupada Paramahamsa Sri Srimad Bhaktisiddhanta Saraswati Goswami Maharaja, ordenou-me que apresentasse a filosofia Gaudiya Vaisnava em inglês o máximo possível, e nesta tentativa para as pessoas que falam inglês, desde 1965 tenho estado nos países ocidentais com meus três livros do Primeiro Canto do Srimad-Bhagavatam. Depois apresentei meu comentário sobre o Srimad-Bhagavad-gita conhecido como O Bhagavad-gita Como Ele É, e similarmente apresentei Os Ensinamentos do Senhor Chaitanya. Também, a pedido de muitos de meus discípulos ocidentais, especialmente de meus dignos discípulos Sriman Hamsadutta Das Adhikari e Janardana Das Adhikari, que estão encarregados do Centro de Montreal, estou tentando apresentar um comentário em inglês sobre o Vedanta-sutra conforme a seguir.
No presente momento pelo mundo inteiro existem inúmeras pessoas sem Deus. Em geral as pessoas são muito apegadas à filosofia vazia apresentada pelo Senhor Buddha ou à filosofia impersonalista apresentada por Shankaracharya. Em outras palavras, para ser mais direto e simples, as pessoas estão se tornando muito ateístas. Dizer que não há Deus, como declaram os ateístas, é um tanto audacioso e simples, porém dizer que existe uma causa suprema que é vazia, ou que há um Deus mas Ele não tem forma, é mais perigoso que a simples declaração de que não há Deus.
Nossa sociedade, conhecida como a Sociedade Internacional para Consciência de Krishna - ISKCON, agora começou o movimento para Consciência de Krishna, e é muito gratificante que a geração mais nova da parte ocidental do mundo, na América, Canadá, e Europa, estejam se interessando por esse grande movimento. Já temos filiais em quase todas cidades importantes dos Estados Unidos e Canadá, e começamos centros também em Londres e Hamburgo. Esperamos que nosso movimento para Consciência de Krishna gradualmente cresça, conforme previsto pelo Senhor Chaitanya, que disse que Suas atividades missionárias, bem como o movimento para Consciência de Krishna, seriam pregados pelo mundo todo, em cada vilarejo, em cada país. Levando em consideração as atuais atividades deste movimento, espera-se que a previsão do Senhor Chaitanya brevemente seja realizada e as pessoas do mundo todo sejam muito felizes, tendo Consciência de Krishna.
Conforme acima referido, em geral o comentário conhecido como Sariraka-bhasya é tido pelas pessoas como o significado do Vedanta, ou em outras palavras, o que o Vedanta significa segundo a opinião dos seguidores do significado por Shankaracharya, explicado por ele no Sariraka-bhasya. Além do Sariraka-bhasya de Shankaracharya existem muitas outras escolas ateístas pregando Vedanta com base na bondade.
Um dos eminentes seguidores de Shankaracharya, Sadananda Yogindra, compilou seu livro conhecido como Vedanta-sara, no qual escreve para provar que para compreender tanto os Upanishads quanto o Vedanta-sutra, o único meio é o Sariraka-bhasya de Shankaracharya. Esta é a reivindicação de monopólio pela escola mayavada. Na verdade o Vedanta-sutra tem muitos comentários e todos esses comentários não são com base no princípio do monismo ou impersonalismo.
Todos acharyas proeminentes das diferentes vaisnavas-sampradayas compilaram comentários sobre o Vedanta-sutra, porém não seguem os princípios da escola Shankarista. Por outro lado, os monistas impersonalistas frisam mais a não-dualidade. Em geral eles se declaram Deus e não há existência de Deus separadamente.
A escola monista não reconhece os comentários do Vedanta apresentados pelos acharyas Vaisnavas, conhecido como suddhadvaita, vishisthtadvaita e dvaitadvaita, bem como a filosofia do inconcebivelmente-uno-e-diferente do Senhor Chaitanya, conhecida como acinthyabhedabheda-tattva. Segundo eles o comentário monista do Vedanta-sutra é final, o Senhor Krishna tem um corpo material, e os seguidores da filosofia de Consciência de Krishna não são transcendentalistas.
Vedanta significa a última palavra em matéria de buscar conhecimento. Todo mundo está buscando algum tipo de conhecimento. Existem universidades, instituições, e muitos estabelecimentos educacionais buscando conhecimento, porém Vedanta significa a última palavra na busca do conhecimento. Esta última palavra na busca do conhecimento é explicada no Bhagavad-gita pelo Senhor Krishna. O propósito do conhecimento védico é compreender Krishna. As palavras exatas do Capítulo XV do Bhagavad-gita são: are sarvasya caham hrdi sannivishtah. “O Senhor está situado no coração de todos. Ele dá inteligência e ilusão. Ele é a fonte original do conhecimento. Ele é a meta do conhecimento. Ele é o compilador do Vedanta-sutra, e Ele conhece o que é Vedanta.
Estas palavras são uma explicação mui significativa do Vedanta-sutra pelo próprio Krishna. Em outra parte Ele também Se referiu ao Vedanta-sutra dizendo: “Ao longo do Brahma-sutra pode-se de fato compreender o que é a filosofia do Bhagavad-gita. Bhagavad-gita e Vedanta-sutra estão mui intimamente inter-relacionados. Compreender o Vedanta-sutra corretamente é compreender o Bhagavad-gita corretamente.”
A palavra sutra significa “código resumido”. No Skanda e Vayu Puranas a palavra sutra é explicada como “quando uma tese é apresentada em poucas palavras, porém com grandes volumes de significado e, quando compreendido, é muito belo.” Mencionam-se os nomes de diferentes comentários sobre Vedanta-sutra por diferentes acharyas.
Este Sariraka-bhasya de Shankaracharya também é conhecido como Vedanta-siddhanta. O resumo da filosofia não-dualista exposta por Shankaracharya é o seguinte.
Segundo esta filosofia só existe a Verdade Absoluta. Para esta filosofia a entidade viva é Brahman e a manifestação cósmica é falsa. O exemplo da realidade e falsidade é dado por eles na comparação de confundir uma serpente com uma corda. Na escuridão, na ilusão, uma corda pode ser aceita como serpente. Quando se recobra os sentidos, entende-se que a corda não era uma serpente. Então a “serpente” se torna falsa. Similarmente, segundo a filosofia de Shankaracharya esta manifestação cósmica na verdade não existe. Maya significa “Aquilo que não é”. Ma significa “não” e ya significa “isto”. Em outras palavras, a representação fenomenal do mundo material não tem realidade. Por trás deste fenômeno o NOUMENON é realidade.
De acordo com a filosofia de Shankaracharya a Verdade Absoluta é impessoal. Sendo assim, não há diversidade. No mundo material existem diferentes tipos de diversidade, assim como diversidades da espécies de vida. A espécie dos cachorros não é como a humana. Esta especialidade, espécie canina ou humana, está presente no mundo material, porém espiritualmente não há tal diferenciação. Mesmo nas considerações pessoais há diversidades. Numa forma pessoal temos pernas, mãos e cabeça. Mas esta diferenciação, segundo a filosofia mayavada de Shankaracharya, também é falsa. Shankaracharya não reconhece qualificar o Brahman, assim como a filosofia Vaisnava qualifica o Supremo Brahman. Tomemos o exemplo: Deus é misericordioso. Isto é uma qualificação de Deus ou da Verdade Absoluta. Mas, sendo impersonalista a filosofia de Shankara, eles não aceitam a Verdade Absoluta qualificada com misericórdia, ou beleza, ou opulência. Eles não aceitam. Segundo eles, se a Verdade Absoluta for qualificada então se torna limitada pela qualificação. A conclusão deles é que se Brahman, ou a Verdade Absoluta, é ilimitado, não deve haver qualquer limitação pela qualificação.
A encarnação da Verdade Absoluta, ou Deus, é aceita por eles como uma manifestação da designação material. Em outras palavras, segundo a filosofia de Shankara quando Deus ou a Verdade Absoluta encarna, Ele assume um corpo material. Portanto Ele é designado. Nessa forma designada só a Verdade Absoluta se torna o criador, sustentador, e aniquilador da manifestação cósmica, embora em seu comentário ao Bhagavad-gita, no início, Shankaracharya tenha aceito que Narayana está além desta manifestação cósmica. Tudo que está manifesto no mundo material é produzido do imanifesto mahat-tattva, porém Narayana ainda assim é transcendental ao mahat-tattva. Em outras palavras, ele aceitou que o mahat-tattva também é criado pela Suprema Personalidade de Deus, Narayana. Há tantas contradições na filosofia dele. Isso é pano para outro assunto. Não desejamos entrar nas contradições da filosofia dele, mas na medida do possível estamos apresentando o resumo da filosofia mayavada, não-dualismo.
Segundo Shankaracharya, na concepção espiritual mais elevada, a Verdade Absoluta é sem qualquer contaminação da existência material, e portanto Ele não tem conecção com a criação, sustento ou aniquilação (do mundo material). Está sempre destituída de todas qualidades, sem qualquer diversidade, sem qualquer condição material, e sem qualquer responsabilidade por atividades. Como tal, a manifestação cósmica é falsa. Similarmente, a Personalidade de Deus, que aceita Sua designação a partir desta manifestação material falsa, a concepção da Personalidade de Deus, também é falsa. A Verdade Absoluta só é concebida como eterna, plena de conhecimento e cheia de bem-aventurança. O aparecimento como Narayana, ou como uma encarnação, não é eterno, porém é temporário. Para algum propósito Ele aparece assim. A meta final é impessoal.
Segundo a filosofia de Shankara, a diferenciação entre Deus e as entidades vivas é uma ilusão. De fato, isso não é assim. As entidades vivas não são energia subordinada do Supremo. Simplesmente estando cobertas pela concepção de maya, as entidades vivas parecem ser diferentes da Verdade Absoluta. Esta diferenciação entre entidades vivas e o Supremo se manifesta no mundo material nos procedimentos comuns. Espiritualmente não há tal diferença. As atividades da entidade viva no espírito de desfrutar no mundo material, sua qualidade infinitesimal, ou sua minusculosidade, ou como é inumerável, são apenas designações da falsa maya.
Um exemplo neste sentido dado pelos filósofos mayavadis é que, o copo de cristal parece vermelho quando nele se reflete uma flor vermelha, embora isso não tenha nada a ver com o rubor do vidro. É completamente diferente da cor. Similarmente, a entidade viva na contaminação da maya se torna ativa, ou se transforma em desfrutador, ou se torna infinitesimal, ou em outras palavras, se torna individual. Todas estas coisas são apenas reflexo colorido artificial. De fato, uma entidade viva é puro Brahman. Esta teoria do reflexo se chama pratibimbavada. Segundo esta filosofia, transcendentalmente não existe diferença entre a Verdade Absoluta, as entidades vivas, e a natureza material.
Esta não-diferenciação entre a Verdade Absoluta, as entidades vivas, e a manifestação cósmica, é exemplificada pelo filósofo mayavadi por seguir-se o exemplo do firmamento todo e do pote. O céu no pote e o firmamento todo são o mesmo. Porém o céu dentro do pote parece ser limitado devido a ter sido designado pela tampa do pote. Quando o pote se quebra, ou a ilusão de maya se dissipa, não existe tal diferença que este pote seja diferente daquele pote, ou este céu diferente daquele céu. Segundo Shankaracharya esta manifestação cósmica também é maya. Quando estes elementos materiais desaparecerem, então apenas o Brahman existencial permanecerá. Portanto, Brahman é verdade e esta manifestação cósmica é falsa.
Shankaracharya não aceita a teoria da transformação, como o fazem os acharyas Vaisnavas. A teoria da transformação é explicada desta maneira. Assim como o leite se transforma em iogurte sob certas condições, mas iogurte não pode ser transformado novamente em leite, nem tampouco pode ser usado como leite, da mesma maneira as entidades vivas não podem se tornar a Suprema Verdade Absoluta. Esta teoria da transformação não é aceita pelo filósofo mayavadi.
Na verdade, este tipo de propaganda por Shankaracharya foi executada sob ordem Suprema a fim de dissipar a obscura filosofia budista e estabelecer a filosofia védica, a Verdade Absoluta. Segundo Sri Chaitanya Mahaprabhu, a filosofia mayavada de Shankara é outra versão da filosofia de Buddha. A filosofia do vazio de Buddha é quase igual à filosofia impersonalista de Shankara. Portanto, segundo a filosofia de Shankara, a não-variedade impersonalista é o estágio final de conhecimento perfeito.
A maior oposição à filosofia de Shankara foi feita por Sri Ramanujacharya. A filosofia de Ramanuja é conhecida como vishishtadvaita. Esta doutrina de vishishtadvaita não foi novidade apresentada por Ramanujacharya, mas sim, antes dele havia outros expoentes desta doutrina e foram conhecidos como Nathamuni e Yamunacharya.
O princípio básico da doutrina vishishtadvaita é que na criação de Deus existe a divisão entre o que é sensível e não-sensível, assim como ao estudarmos a nós mesmos, descobrimos que nosso corpo é material, ou insensível, e nossa inteligência da mente e falso-ego são o caminho entre nosso eu e nosso corpo. Nosso eu é sensível. Similarmente, o Senhor Supremo é sensível, e esta manifestação cósmica é Seu corpo. Combinados juntos, a Verdade Absoluta forma uma combinação das características sensíveis e insensíveis. Isto se chama vishishtadvaita.
Segundo Sri Ramanujacharya existem três verdades: ou seja, o sensível, o insensível, e o Senhor Supremo. Em geral se chamam de tattva-traya. As inúmeras entidades vivas como um grupo se chamam de energia sensível do Senhor Supremo, ao passo que a manifestação cósmica se chama a energia material do Senhor. O próprio Senhor está acima delas. Ele tem qualidades transcendentais totalmente auspiciosas. Ele é onisciente e onipotente. Ele é conhecido como a Suprema Personalidade de Deus, Vasudeva. O mundo material e as entidades vivas são partes corpóreas sensíveis e insensíveis do Senhor.
Sri Ramanujacharya delineou elaboradamente sua filosofia em 12 divisões conforme a seguir:
1. A Suprema Verdade Absoluta é una na combinação dos grupos grosseiros, sutis, sensíveis e insensíveis.
2. Ele protestou contra a doutrina de dualismo bem como a doutrina do monismo.
3. Ele aceitou que a Verdade Absoluta, Brahman, tem qualidades e potências transcendentais, e portanto Ele não é impessoal.
4. Ele protestou veementemente a doutrina de uma Verdade Absoluta impessoal, não-qualificada.
5. Ele estabeleceu deliberadamente a doutrina das entidades vivas serem infinitesimais e do Senhor Supremo ser infinito, e portanto as entidades vivas infinitesimais destinam-se constitucionalmente a servir a infinita Suprema Personalidade de Deus.
6. Ele estabeleceu que as entidades vivas, que são infinitesimais, estão sujeitas a caírem vítimas da ignorância, mas quando estão fora dessa posição de ignorância elas se tornam novamente liberadas.
7. Ele provou que só o transcendental serviço amoroso ao Senhor Supremo é o meio de liberação do enredamento material.
8. Segundo sua opinião, serviço devocional é o processo mais supremo de auto-realização.
9. Ele declarou enfaticamente que mesmo no estado de liberação não se pode ser igual ao Senhor Supremo.
10. Ele colocou fortes argumentos contra a doutrina impersonalista do monismo.
11. Ele provou que este mundo material é abominável, e o mundo espiritual é vida real de bem-aventurança eterna.
12. Ele estabeleceu que as entidades vivas e a manifestação cósmica são diferentes partes corpóreas do Senhor Supremo.

E ainda, Ramanujacharya explicou que a Suprema Personalidade de Deus descende em cinco diferentes aspectos, ou seja: arca, a Deidade no templo, as encarnações, tais como a encarnação do peixe, tartaruga, javali, e Nrshimha, as quais se chamam vaibhava. Depois Ele tem expansões chamadas vyuha, tais como as expansões de Vasudeva, Sankarshana, Pradyumna, e Aniruddha. Sua expansão impessoal é a refulgência de Seu corpo. Ele também está presente no coração de todo mundo como Antaryami, ou a Superalma. Todas estas diferentes porções plenárias do Senhor Supremo são além da contaminação material, eternas, sem qualquer lamentação, sempre superiores às entidades vivas, e cheias das seis opulências.
Segundo Ramanujacharya, existem cinco tipos de métodos de adoração, que se chamam abhigamana, upadana, ijya, sadhyaya e yoga. Quando devotos vão ao templo, limpam o templo ou o acesso ao templo, e decoram o templo de várias maneiras, tais atividades se chamam abhigamana. Coletar ingredientes como flores e outras parafernálias para adoração se chama upadana. Adoração do Senhor no templo se chama ijya. Cantar diferentes mantras e oferecer diferentes tipos de orações se chama sadhyaya. Meditação, ou lembrar das atividades do Senhor em plena absorção, se chama yoga. Praticando todos diferentes tipos de adoração se pode alcançar os planetas no mundo espiritual conhecidos como Vaikunthaloka. Segundo Sri Ramanujacharya, alcançar Vaikuntha é o estágio perfeccional mais elevado.
A grandeza de Ramanujacharya é que ele próprio, e mais tarde sua sucessão discipular, protestava crescentemente o impersonalismo de Shankaracharya. Ainda no sul da Índia estes dois partidos entram em conflito e em geral o grupo pertencente à ramanujacharya-sampradaya é vitorioso.
Princípios regulativos Pancaratra prevalesciam antes do advento de Shankaracharya, mas devido à influência da filosofia de Buddha tais princípios regulativos pancaratra foram interrompidos. Shankaracharya, em vez de estabelecer diretamente o método pancaratra, refugiou-se na filosofia mayavada para derrotar a filosofia de Buddha. Sri Ramanujacharya restabeleceu o pancaratra, ou adoração.
Após Sri Ramanujacharya, temos o aparecimento de Madhvacharya, cuja doutrina é suddha-advaitavada. Estabeleceu com muita firmeza a doutrina da dualidade, que Deus, ou a Verdade Absoluta, e as entidades vivas são entidades completamente diferentes, com evidência do Brahma-sutra ou Vedanta-sutra, bem como do Bhagavad-gita, dos Puranas, e do Narada-pancaratra.
Ele provou a dualidade em cada estágio, ou seja, que o Senhor Supremo e a entidade viva são duas entidades diferentes. Similarmente, a manifestação cósmica e o Senhor Supremo também são duas entidades vivas diferentes. Uma entidade viva é diferente de outra entidade viva. Em outras palavras, cada uma das entidades vivas é individual. Há uma diferença entre entidades sensíveis e insensíveis, e também há uma diferença entre um tipo de matéria insensível e outro tipo de matéria insensível. Madhvacharya estabeleceu que dois não é um, mas dois.
Uma verdade é completamente independente e a outra verdade é dependente. O Senhor VIshnu é a Personalidade de Deus supremamente independente, qualificada com qualidades transcendentais sem qualquer contaminação material. Portanto Ele é plenamente independente. Exceto o Senhor Vishnu, qualquer outra coisa, seja a manifestação cósmica ou entidades vivas, não é independente mas dependente do Senhor Supremo.
As entidades vivas são qualitativamente representações do Senhor Supremo. A doutrina de que o homem é feito à imagem de Deus é aceita por Madhvacharya. As características do homem são um reflexo exato da característica do Senhor Supremo. Ele também aceita que o Senhor Supremo Se expande em porções multi-plenárias, bem como porções separadas chamadas jiva-tattva. Todas jiva-tattvas, ou entidades vivas, são eternamente associados do Senhor Supremo para prestar serviço amoroso transcendental a Ele. O conhecimento das entidades vivas sempre é inferior ou incompleto.
O Senhor Supremo e as entidades vivas estão sempre na posição do Supremo e dos subordinados. As entidades vivas são sempre subordinadas. Elas não tem poder independente. Conforme é confirmado no Bhagavad-gita, Cap. 5, Verso 15, o Senhor diz que conhecimento e lembrança são sempre dados pelo Senhor Supremo, como antaryami ou Superalma, para as entidades vivas. Senão, as entidades vivas não tem poder independente para memorizar, pensar, ou agir.
Em contraste à entidade viva, a Suprema Personalidade de Deus, Vishnu, é completa em conhecimento e completa em bem-aventurança. Ele é sempre adorável pelas entidades vivas e Ele é o dominador supremo original, ao passo que as entidades vivas são as predominadas originais. Portanto, Ele é o criador original desta manifestação cósmica, que também é eterna, embora temporariamente manifestada. Portanto tanto as entidades vivas e a manifestação cósmica estão em subordinação ao Senhor Supremo.
O Senhor Supremo está sempre situado diferentemente, como também é confirmado pelo Bhagavad-gita, onde se diz que tudo descansa no Senhor Supremo, mas ainda assim Ele sempre é diferente de tudo. Segundo Madhvacharya, mesmo na hora da dissolução cósmica as entidades vivas e a energia material permanecem separadas do Senhor Supremo. Elas nunca se misturam conforme é advogado pelos impersonalistas.
Madhvacharya estava em mui grande oposição à doutrina de Shankaracharya. Praticamente os seguidores da madhvacharya-sampradaya estão simplesmente lutando contra a doutrina da filosofia mayavada propalada por Shankaracharya. Ele derrotou a doutrina de Shankaracharya e estabeleceu a doutrina da dualidade.
Além destas duas doutrinas acima-mencionadas de vishishtadvaitavada e suddha-dvaitavada, existem outras doutrinas advogadas pela vishnuswami-sampradaya e nimbarka-sampradaya. A vishnuswami-sampradaya mais tarde desenvolveu-se na baladeva-sampradaya. A doutrina deles se chama suddhavaitavada e a doutrina da nimbarka-sampradaya se chama dvaitadvaitavada.
De modo mui adequado, foi feito o ajuste de todas doutrinas: vishishtadvaitavada, suddha-dvaitavada, suddhadvaitavada, e dvaitadvaitavada pelo Senhor Chaitanya Mahaprabhu em Sua doutrina acinthya-bhedabheda-tattva. Nesta doutrina, o Senhor Chaitanya discutiu mui elaboradamente todo tipo de doutrinas antigas e novas sobre o assunto de compreender assuntos transcendentais, e a fim de minimizar as diferentes visões de diferentes filósofos, Ele adicionou uma concepção muito boa que se chama acintya.
Esta palavra é muito aplicável às doutrinas filosóficas da alma condicionada. Uma alma condicionada na verdade não consegue apurar a natureza da Verdade Absoluta simplesmente através da especulação, mas apenas através da autoridade do conhecimento védico. A palavra acintya se aplica em todas as doutrinas.
Sri Chaitanya Mahaprabhu não estava muito interessado que essas doutrinas compreendessem a Verdade Absoluta. Sua principal ocupação era distribuir para a massa geral do povo os princípios do Srimad-Bhagavatam, que é o comentário natural ao Vedanta-sutra.
Segundo o Srimad-Bhagavatam, toda especulação filosófica e princípios religiosos combinados juntos culminam na compreensão do amor por Deus. O homem não pode ficar satisfeito simplesmente através de sentimentos religiosos ou especulação filosófica mas, conforme o Srimad-Bhagavatam, quando nos elevamos à plataforma de prestar serviço amoroso à Suprema Personalidade de Deus sem qualquer motivo e sem ser impedidos por qualquer condição material, esse estágio de realização transcendental é o princípio mais elevado de compreensão espiritual, e só nesse estágio é que podemos ser plenamente satisfeitos.
Chaitanya Mahaprabhu Se interessava mais por transmitir para as pessoas este estado de vida sem muita preocupação com especulações filosóficas. O Senhor Sri Chaitanya Mahaprabhu nunca Se esforçou muito por apresentar uma tese desta doutrina num livro separado, porém mais tarde Sua sucessão discipular, especialmente dentre os seis Goswamis, Srila Jiva Goswami, apresentou seis teses, que combinadas se chamam Sat-sandarbha. Dos seis sandarbhas, aquele conhecido como Tattva-sandarbha é uma apresentação prática desta doutrina e explica o Vedanta-sutra estritamente de acordo com os princípios de acyntya-bhedabheda-tattva. Mais tarde, Sri Baladeva Vidyabhushana pegou esta doutrina e explicou o Vedanta-sutra rigorosamente de acordo com este princípio de acintya-bhedabheda-tattva.
Texto de A. C. Bhaktivedanta Swami PrabhupadaTraduzido por Indumukhi Dasi

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