domingo, 27 de janeiro de 2008

Encontrando o Néctar nos Nomes de Krsna



Os nomes de Krsna são o repositório de toda a felicidade e a maior riqueza. Se cantarmos apropriadamente, não teremos de experimentar misérias materiais, mas estaremos aptos a experimentar o que os materialistas poderiam erroneamente categorizar como miséria: o êxtase espiritual de intensa saudade de Krsna.

Uma vez que tal bem-aventurança vem do cantar apropriado, talvez nos perguntemos como podemos cantar com atenção e concentração mesmo que ainda não sejamos devotos puros de Krsna. Como podemos controlar a mente? Como podemos deixar de pensar nas outras um milhão de coisas além do nome de Krsna?

Cantar corretamente demanda prática, e o primeiro ponto é abordar a prática de forma positiva. Quando abordamos os santos nomes de forma negativa, frequentemente pensamos mais sobre o que não deveríamos estar fazendo do que o que deveríamos estar fazendo. Como diz o ditado “you can’t do a don’t” [Você não pode fazer um “não faça”]. Então, ao invés de pensar: “Agora eu tenho que controlar minha mente e não pensar em outras coisas”, podemos pensar: “Agora eu vou me concentrar nos nomes de Krsna, que são idênticos a Krsna. Por me concentrar nos nomes de Krsna, Krsna me dotará com inteligência plena, e eu irei amá-lO cada vez mais”.

Além da maneira positiva de pensar, há outras maneiras de manter-se focado nos nomes de Krsna. Nós frequentemente cantamos em duas situações: em kirtana, ou cantar em grupo, e em japa, ou cantar privado e sussurrante. Podemos abordar cada um de forma mais ou menos diferente.

Em kirtana, devemos dar nossa atenção aos santos nomes sem considerar a qualidade musical do kirtana. Eu costumava, por exemplo, ficar muito incomodado quando a pessoa cantando saía do tom, ou era um mau cantor, ou não sabia manter uma melodia. Às vezes parecia que eu estava completamente rodeado por tais pessoas. Eu me encontrava, muitas vezes, em lugares em que quase todos pareciam carentes de habilidades musicais. Então eu entendi que Krsna havia arranjado aquelas situações para que eu pudesse apreciar Seus nomes.

Dois Níveis de Relacionamento com o Kirtana

Ruci, o estágio de profundo gosto pelo santo nome, tem dois níveis. No primeiro, a pessoa tem um gosto por kirtana somente quando a pessoa que o lidera é um cantar perito e os instrumentos são todos tocados em harmonia por músicos qualificados. No segundo nível, a pessoa tem um gosto verdadeiro por kirtana, independente da perícia musical daqueles que acompanham e daquele que lidera o kirtana – ela fica satisfeita desde que o nome esteja sendo cantado por devotos que estejam seguindo estritamente o processo do serviço amoroso a Krsna. É dito que o guru de Prabhupada, Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura, colocaria, algumas vezes, o pior cantor entre os devotos para liderar o kirtana apenas para encorajar os devotos a alcançarem o nível superior.

Assim, realizei que, pela misericórdia de meu mestre espiritual, Srila Prabhupada, e de meu avô espiritual, Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura, eu estava sendo conduzido a um nível superior de apreciação aos santos nomes. Finalmente eu me rendi, e entendi que o acompanhamento musical era apenas o veículo pelo qual os santos nomes chegavam, e que eu não deveria estar apegado ao veículo. Eu devia estar apegado ao passageiro do veículo: Krsna na forma de Seus nomes. Então, com certa prática, tornei-me capaz de colocar meu foco nos santos nomes – Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare / Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare – ao invés de me preocupar com a habilidade musical daqueles executando o kirtana.

Depois que desenvolvi esta postura, passei a desfrutar de todo kirtana. Os santos nomes são incríveis. Devotos que verdadeiramente saboreiam os santos nomes sentem que jamais poderão ter o bastante deles. Como recita Srila Rupa Gosvami, o devoto irá orar por milhões de línguas e milhões de ouvidos para cantar e ouvir.

Meu antigo apego ao veículo era como alguém apegado ao prato ao invés da prasadam, o alimento espiritual, nele. Imagine uma pessoa que rejeita uma prasada saborosíssima porque ela foi servida em um prato de folha ao invés de um de prata. Isso é ilógico.

Quando alguém participa de um kirtana, a pessoa deve simplesmente ouvir o maha-mantra e pensar em seu significado: Estamos mendigando a Radha e Krsna para que nos situem a Seus pés de lótus, estamos implorando a Radha e Krsna que sejam misericordiosos conosco. Se eu medito em como estou implorando a Radha e Krsna para que me concedam compaixão e outras qualidades devocionais, então o kirtana se torna um bem-aventurado momento de oração – independente da qualidade do acompanhamento musical.

Após praticar ouvir kirtanas com essa mentalidade, encontro dificuldade para entender pessoas que fazem afirmações do tipo: “Aquele kirtana foi extático!” (indicando que alguns outros não foram), ou pessoas que pensam que têm que viajar centenas ou milhares de quilômetros para experimentar um “kirtana extático”. Kirtanas extáticos estão disponíveis a todos, em todo lugar e o tempo todo.

É claro que quando apresentamos a consciência de Krsna para outros é importante que o acompanhamento musical seja de primeira classe. Não deveríamos forçar a compreensão acima naqueles que não estão prontos para tal.

Japa com Foco

Para focar no santo nome durante a japa, sentar-se com a coluna ereta costuma ajudar. Acomodar-se em uma almofada e cruzar as pernas na postura conhecida como “lótus” também pode ajudar eventualmente. A pessoa pode, então, relaxar conscientemente cada músculo do corpo a fim de que a única tarefa seja prestar atenção nos santos nomes. Com uma mente tranqüila, a pessoa finalmente se foca no som dos nomes de Krsna.

É muito bom estar consciente de algum pedido específico a Radha e Krsna, como mencionado anteriormente na seção kirtana. O pedido a Radha e Krsna deve ser feito no humor de mendicância emocional. Quando cantamos, devemos sempre ter um sankalpa: um desejo ou propósito espiritual.

Então simplesmente deixe os santos nomes fluírem. Sem forçar. Sem lutar com a mente. Apenas o relaxante cantar dos nomes de Krsna. Quando se sentar para relaxar o corpo e cantar japa, diga à mente de forma positiva para se focar no som. Se você repetir isso por muitas vezes, a mente irá obedecer. Com o devido desejo e compreensão, nossa mente irá naturalmente se atrair pelo santo nome, e iremos nadar no oceano de néctar. Nada mais importará, e tempo e espaço deixarão de existir.

É importante ser estrito quanto a não usar o tempo da japa para alguma outra atividade. Para alguns devotos, o período da japa no templo é usado para fins sociais ou administrativos. Exceto em emergências, eu não interrompo a minha japa.

Nós não queremos que o tempo da nossa japa seja um mero momento de descontração social. Nós devemos considerar isso tão seriamente quanto alguém querer conversar conosco enquanto lideramos um kirtana. Certamente não pararíamos o kirtana a não ser que fosse uma emergência. Devemos cantar e ouvir como o Bhagavatam (2.3.10) recomenda, tivrena bhakti-yogena yajeta purusham param: devemos adorar o Senhor com grande intensidade.

O bom cantar pela manhã começa na noite anterior. O que fazemos logo antes de dormir à noite afeta nossa consciência não apenas enquanto descansamos, mas também no dia seguinte, especialmente durante a manhã. Os Vedas descrevem dois estágios no dormir – inconsciência e sonho – e eles envolvem diferentes atividades da mente. Enquanto sonhamos, por exemplo, processamos (o que recebemos no passado), predizemos (trabalhamos eventos com os quais possivelmente teremos de lidar no futuro) e descarregamos (jogamos fora informações desnecessárias ou indesejadas) . Tais atividades envolvem a mente subconsciente. Então, se nossos pensamentos estão absortos em algo antes de irmos dormir, por exemplo, processamos aqueles pensamentos durante a noite e isso afeta a nossa consciência quando acordamos pela manhã.
Alguns anos atrás, quando eu era adolescente, meu pai comprou para mim um carro de câmbio manual, que eu não sabia como dirigir. Toda tentativa que eu fiz foi mal-sucedida. Então eu estudei os movimentos e a teoria por detrás da troca de marchas do carro, meditei nisso, sonhei com isso e, na manhã seguinte, eu estava apto a usar qualquer carro de câmbio manual sem dificuldades.

Srila Prabhupada entendia bem esse princípio. Por isso ele advogava um programa devocional noturno, especialmente a leitura de seu livro Krsna: A Suprema Personalidade de Deus antes de a pessoa ir descansar à noite. Se você se absorve em krsna-katha (tópicos relativos a Krsna) antes de descansar à noite, durante a noite sua mente e cérebro irão processar krsna-katha, você irá acordar pensando em Krsna, e seu corpo sutil será purificado. Que maneira maravilhosa de se tornar consciente de Krsna!

Pode acontecer de que enquanto lemos krsna-katha durante a noite fiquemos tão empolgados com os passatempos do Senhor que fiquemos andando de um lado para o outro e não consigamos dormir. Isso, eu diria, pode ser uma ocupação arriscada! Então, sendo esse seu caso, você pode adotar um tipo de krsna-katha mais meditativo.

Cantando ao Acordar

Como devemos acordar pela manhã? Geralmente as pessoas acordam cambaleantes, mas isso é reduzido se você está ouvindo krsna-katha à noite. De qualquer forma, independente do estado em que acordemos, podemos imediatamente começar a cantar o maha-mantra em voz alta.

Eu canto enquanto faço minha higiene rotineira. Eu costumo aproveitar essa oportunidade para praticar novas melodias de kirtana. Cantar assim é às vezes tão agradável que tenho que me lembrar que tenho outras coisas para fazer de manhã além de cantar em minha casa para mim mesmo. Outra alternativa é ouvir uma aula ou kirtana de Srila Prabhupada. É importante que se escute uma aula ou kirtana somente de pessoas que estejam praticando serviço devocional. Devemos ser muito criteriosos nesse sentido. Por ouvir o cantar ou palestras de pessoas não estritas na prática da consciência de Krsna, a nossa consciência pode se tornar encoberta pelos modos da natureza.

O Padma Purana afirma:

avaishnava-mukhodgi rnam
putam hari-kathamrtam
shravanam naiva kartavyam
sarpocchishtam yatha payah

“Não se deve ouvir nada sobre Krsna de um não-Vaisnava. O leite tocado pelos lábios de uma serpente tem efeito venenoso; similarmente, palestras sobre Krsna [hari-kathamrta] dadas por um não-Vaisnava também são venenosas”.

Assim, as duas sugestões acima – o que fazer antes de dormir e o que fazer ao acordar – prepara a mente para cantar uma boa japa.

Se nos aproximarmos dos santos nomes, em kirtana e japa, com muito cuidado e atenção, logo entenderemos quão simples e sublime a vida espiritual pode ser.
p/ Bir Krsna Svami
Tradução por Bhagavan dasa (DvS)

sábado, 26 de janeiro de 2008

Kuruksetra – A Terra do Dharma


Guerra e atividades piedosas frequentemente caminharam juntas neste antigo campo do norte da Índia.

Kuruksetra, a cerca de centenas de quilômetros ao norte de Nova Delhi, é conhecido principalmente como o local onde a grande batalha do Mahabharata foi travada e onde Krsna falou o Bhagavad-gita. Mas muito antes desses eventos, Kuruksetra exercera um papel predominante na história e cultura da antiga Índia. Por milhares de anos, ali foi o eixo ao redor do qual a civilização Védica girou em sua grande glória. A importância religiosa de Kuruksetra é descrita em muitas escrituras, incluindo o Bhagavad-gita, o Mahabharata, e vários Upanisads e Puranas. As escrituras descrevem-no como um local de meditação e uma das moradas dos semideuses. A atmosfera de Kuruksetra continua dominada pelo canto de hinos Védicos, especialmente o Bhagavad-gita.

O primeiro verso do Gita se refere a Kuruksetra como dharma-ksetra, ou “o campo do dharma”, indicando que ele já era conhecido como um local sagrado. Hoje, pode-se encontrar muitos templos antigos e lagos sagrados em Kuruksetra, uma área de aproximadamente centenas de quilômetros quadrados entre os rios sagrados Sarasvati e Drsadvati, no estado de Haryana.

O Grande Rei Kuru

Kuruksetra, antigamente, era conhecido como Brahmaksetra, Brighuksetra, Aryavarta e Samanta Pancaka. Tornou-se conhecido posteriormente como Kuruksetra por causa do trabalho do rei Kuru.

O Mahabharata descreve como o rei Kuru, um proeminente ancestral dos Pandavas, fez daquela terra um grande centro de cultura espiritual. O rei Kuru foi até lá em uma quadriga de ouro e usou o ouro da quadriga para fazer um arado. Ele, então, pegou emprestado o touro do Senhor Siva e o búfalo de Yamaraja e começou a arar o solo. Quando Indra chegou e perguntou a Kuru o que ele fazia, Kuru respondeu que ele estava preparando a terra para plantar as oito virtudes religiosas: verdade, yoga, gentileza, pureza, caridade, perdão, austeridade e celibato.

Indra requisitou que o rei lhe pedisse alguma dádiva. Kuru pediu que aquela terra permanecesse eternamente um local de peregrinação, mesmo após sua partida, e que qualquer um que morresse ali fosse para o céu independentemente de seus pecados e virtudes. Indra riu ao ouvir tal pedido.

Intrépido, Kuru executou grandes penitências e continuou a arar. Gradualmente, Indra começou a reconsiderar seu pedido, mas os outros semideuses expressavam dúvida. Eles diziam que morte sem sacrifício não era digna de um espaço no céu. Finalmente, Kuru e Indra chegaram a um acordo: Indra aceitaria no céu qualquer um que morresse ali lutando ou executando penitência. Assim, Kuruksetra se tornou tanto um campo de batalha quanto uma terra piedosa.

A Batalha do Mahabharata

Quando os Pandavas clamaram de Dhrtarastra e de seus filhos, os Kauravas, a sua parte legítima do reino de Pandu, foi-lhes dada a floresta Khandava, localizada ao sul do reino de Kuru. Lá, eles construíram uma cidade magnífica chamada Indraprastha, localizada onde hoje é Delhi. Os Kauravas mantiveram Hastinapura, situada ao norte de Delhi, como sua capital.

Mais tarde, os Pandavas foram exiladas por treze anos após a derrota de Yudhisthira em um jogo de dados. Após o cumprimento do exílio, os Pandavas exigiram a devolução do reino que lhes cabia. Como representante dos Pandavas, o Senhor Krsna foi até Duryodhana, o Kaurava mais velho, e pediu humildemente por cinco vilas para os cinco Pandavas. Mas o orgulhoso Duryodhana se recusou a ceder qualquer terra. "Não darei a eles sequer a quantia de terra que cabe na cabeça de um alfinete", ele disse.

Naquele momento, a guerra se fez inevitável, e os Kauravas e os Pandavas decidiram lutar em Kuruksetra porque ali abundava água e lenha e era espaçoso e inabitado.

Os Pandavas ganharam a batalha de Kuruksetra, que durou apenas dezoito dias.

O Nascimento do Gita

A batalha de Kuruksetra começou no dia conhecido como Moksada Ekadasi. (Ekadasi é o décimo primeiro dia tanto da lua crescente quanto da lua minguante, e moksada significa "aquele que concede liberação"). Naquele dia, Krsna iluminou Arjuna com o conhecimento do Bhagavad-gita, liberando-o. Atualmente, todo ano neste dia - considerado o aniversário do Bhagavad-gita - festivais em homenagem ao Gita são realizados em Kuruksetra e em vários outros locais da Índia.

O grande festival de Jyotisar, o local onde o Gita foi falado, é organizado como um ofício do governo, com ministros e governadores presidindo o evento. Coincidentemente, é também a época da Maratona Anual da ISKCON de distribuição dos livros de Prabhupada, quando os devotos distribuem centenas e milhares de cópias do Bhagavad-gita Como Ele É de Srila Prabhupada por toda a Índia e ao redor do mundo.

Kuruksetra e o Rathayatra

Certa vez, quando Krsna Se preparava para ir a Kuruksetra no momento do eclipse solar, Ele convidou as gopis (vaqueirinhas) e outros residentes de Vrndavana para encontrarem- se com Ele em Kuruksetra. Quando Ele deixou Vrndavana em Sua mocidade, Ele prometera voltar muito em breve. Mas ele ficou longe por um longo período (cerca de cem anos), então, motivados por intenso amor espiritual, os residentes de Vrndavana sempre sentiam saudade transcendental e o extático desejo de vê-lO novamente.

Os residentes de Dvaraka (a cidade majestosa) chegaram a Kuruksetra em opulentas quadrigas; os residentes de Vrndavana (uma simples vila de vaqueiros), em carros de boi. Porque as famílias de Vrndavana e de Dvaraka eram relacionadas, uma reunião muito prazerosa aconteceu.

De todos os residentes de Vrndavana, a líder das gopis, Srimati Radharani, havia sentido as dores da separação de Krsna mais do que qualquer outro. Ela e as outras gopis estavam determinadas a levar Krsna de volta a Vrndavana. A reciprocidade amorosa entre Krsna e as gopis em Kukuksetra é o significado esotérico por trás do festival conhecido como Rathayatra. Assim, sempre que os devotos Hare Krsna realizam Rathayatras em qualquer cidade ao redor do mundo, eles estão proclamando as glórias eternas de Kuruksetra.
p/ Lokanath Svami
Tradução por Bhagavan dasa

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

A Essência da Felicidade



A busca por felicidade é natural, porque ser eternamente bem-aventurada é a posição constitucional da alma espiritual. Mas a nossa busca por felicidade no mundo físico externo é sempre frustrada; procuramos por toda a parte, nunca realizando o prazer permanente.

O cervo almiscareiro, um animal nativo da Ásia Central, dá-nos ilustração desse predicamento. O cervo almiscareiro é famoso pela essência produzida a partir de uma bolsa glandular sob a pele do abdômen do macho. Tal secreção marrom-avermelhada não é apenas muito buscada pelos seres humanos, que a usam como base para vários perfumes, mas, de acordo com a tradição Védica, o cervo almiscareiro, algumas vezes, enlouquece com a poderosa fragrância. Em sua loucura, ele corre loucamente por toda a parte, procurando a intensa fragrância por toda a parte, ou melhor, exceto dentro de si.

Você está prestes a ouvir mais um pronunciamento simplório sobre “felicidade interior”? Bom, sim e não. Sim, o devoto de Krsna lhe falará que, servindo Krsna, sente-se felicidade interior – felicidade independente das oscilantes dores e prazeres do corpo físico. Não, o pronunciamento deles não é simplório; é baseado em experiência, e em uma compreensão realizada de nossa identidade espiritual.

Toda entidade viva é uma alma espiritual – parte e parcela da Alma Suprema, Krsna – sendo naturalmente habilitada ao ilimitado prazer espiritual derivado da satisfação dos sentidos transcendentais de Krsna. O corpo físico temporário é apenas uma cobertura sobre a alma, assim como uma camisa ou casaco é apenas uma cobertura sobre o corpo. Mesmo em comparação com apenas uma gota da felicidade transcendental de se servir ao Senhor Krsna, o maior dos prazeres do mundo físico parece insignificante.

Nós apenas seguimos instintivamente a “essência” da felicidade, mas se tal essência nos conduz a gratificação de nossos sentidos, ao invés de servimos e comprazermos o Senhor Krsna, fomos enganados. Como o cervo almiscareiro, procuraremos por todo o mundo exterior em vão, nunca experimentando a felicidade interior.

p/ Satyaraja dasa

A misericórdia do Senhor é maior que a Sua lei


As leis que governam nossas vidas são materiais, metafísicas e espirituais. Quando nós agimos seguindo tais leis, há muita auspiciosidade, mas quando transgredimos qualquer tipo de lei, podem haver sérias conseqüências – especialmente no que tange a espiritualidade. Certamente, leis são necessárias para informar as pessoas e guiá-las com relação ao quanto elas são passíveis de prestar contas em seu status como seres humanos. No entanto, apesar do fato de haver uma lei, uma autoridade judicial pode eventualmente introduzir o fator misericórdia. Esse fator misericórdia não nega a lei, mas permite a uma pessoa escapar ou não ser condenada pela execução a rigor da lei. O fator misericórdia é uma constante no paradigma espiritual, especialmente em nossa era atual de "Kali Yuga", ou a era de desavenças e hipocrisia. Normalmente, há três categorias de pessoas que conseguem voltar ao Supremo. Uma dessas categorias é o "nitya-siddha": personalidades que são eternamente liberadas. Essas grandes almas nunca são condicionadas; elas escolhem entrar no mundo material vindas do mundo espiritual, disfarçadas de pessoas comuns. Sendo eternamente liberadas, e devido a isso extremamente compassivas, as "nitya-siddhas" estão em uma missão para recuperar as almas de volta ao Supremo. Quando terminam seu trabalho, elas podem voltar a seu lar no mundo espiritual, ou podem ir em outra missão para o Supremo. A segunda categoria de pessoas que estão indo para o mundo espiritual são os "sadhana-siddhas". Essas são pessoas as que se tornaram materialmente condicionadas, mas que gradualmente obtiveram pureza devido às suas sérias práticas espirituais. A terceira categoria de pessoas que pode retornar ao lar é conhecida como os "kripa-siddhas". São pessoas que receberam bênçãos e misericórdia especiais, ou do Senhor, ou de um dos agentes do Senhor. Em todas essas três categorias, é claro, o fator misericórdia está presente. Mas esse fator misericórdia é especialmente dominante no caso do "kripa-siddha". Neste caso, a misericórdia é muito mais proeminente que a regulação da lei. Nesta era de Kali, as pessoas são azaradas, brigonas e confusas, e estão propensas à vida pecaminosa e é muito necessária uma misericórdia especial. Nós, portanto, somos todos extremamente afortunados por, nesta era, a misericórdia do Senhor freqüentemente superar Sua lei. No Bhagavad-gita (9.30-31), nós vemos que mesmo que alguém tenha uma queda acidental, apesar dele ou dela ter desonrado totalmente um princípio espiritual, ele ou ela deve ser considerado santo(a), e merece o respeito de todos. Tal pessoa jamais deve continuar com seu comportamento errado, mas enquanto puder se retificar e se purificar, deve ser considerada na plataforma da santidade. O Senhor Supremo sabe que o devoto neófito pode aceitar como verdadeiros alguns testes e aliciamentos de Maya, e pode, portanto ser temporariamente pego com a guarda baixa. Mas, ainda que os hábitos ilícitos de um neófito sejam certamente objetos de repercussão, a misericórdia que o Senhor outorga irá certamente predominar sobre Sua lei. Em essência, nós somos todos semelhantes ao Senhor por sermos feitos à imagem de Deus, e sermos da mesma qualidade divina. Portanto, nós somos dotados de livre arbítrio e temos algum grau mínimo de independência. As leis do Senhor nunca interferem em nosso livre arbítrio. Contudo, por Sua graça, o Senhor freqüentemente Se expande e vai bem além de Sua lei para ajudar um devoto em dificuldade. Isso pode ser chamado de um caso de intervenção divina. Um exemplo clássico é o de Kala Krishnadas. Demonstrando a potência de Maya, esse devoto abandonou a associação do Senhor para buscar gratificação dos sentidos com um grupo de ciganos. Para salvar Kala Krishnadas, o Senhor interveio pessoalmente, literalmente arrastando Krishnadas para longe daquela comunidade pecaminosa. O resgate de Kala Krishnadas pelo Senhor é prova de que sua misericórdia é maior que Sua lei. Normalmente, pela lei espiritual, um monge renunciado não anseia por se associar com pessoas envolvidas em hábitos mundanos. Ainda assim, apesar do fato de estar na ordem renunciada, o Senhor Caitanya deu Sua misericórdia aos três reis, Patraparudra, Ramananda Roy e Pundarika. Apesar de essas três personalidades serem governantes na cultura material, eles também eram grandes devotos, repletos de amor pelo Senhor. Por causa disso, o Senhor pôs de lado toda noção de lei e etiqueta para receber o serviço amoroso e afetuoso de Seus devotos, e Ele avidamente retribuiu esse amor de acordo com o desejo deles. Quão maravilhoso é novamente ver que a misericórdia do Senhor é bem maior que sua lei. Vendo o quão degradada a era de Kali havia se tornado e continuaria a se tornar, os devotos puros Narada Muni e Advaita Acarya pediram ao Senhor que fizesse algo especial. Eles sugeriram que, ao invés de o Senhor enviar um representante dotado de poder para retificar as almas caídas, Ele deveria quebrar a lei espiritual e a etiqueta tradicionais, e descer Ele próprio para distribuir misericórdia especial, devido à severidade dos problemas de Kali. Aceitando seu conselho, Krishna desceu como o Senhor Caitanya Mahaprabhu e então organizou as coisas de tal maneira que todas as entidades vivas fossem expostas ao potente amor e misericórdia do Senhor, tendo ou não qualificação. O Senhor Caitanya deixou de lado a lei para salvar Gopinatha Pattanayaka, após Seu devoto fazer um apelo. O Senhor também converteu os terríveis pecadores Jagai e Madhai, que regularmente transgrediam todo o tipo de lei. Apesar daqueles irmãos pecaminosos ignorarem todo o tipo de lei material, espiritual e metafísica, Caitanya Mahaprabhu pôs de lado a lei do Karma e os liberou, dando a eles Sua mais elevada misericórdia sem causa. Mahaprabhu chegou a quebrar a etiqueta e deu sua misericórdia a um jovem e austero brahmana, um costureiro maometano, e até mesmo a um cão na casa de Srivasa Thakura. Quão afortunadas são as entidades vivas, devido à misericórdia do Senhor ser ainda maior que Suas leis. Apesar do brahmana caído Ajamila ter cometido tantos pecados contra pessoas inocentes, porque ele chamou o santo nome do Senhor inofensivamente no momento da morte, ele recebeu a liberação. Putana é outro exemplo de um demônio que veio para atacar Krishna, e mesmo assim foi avaliada por sua ação perturbadora e recebeu a liberação. Pela lei, Putana e todos os outros demônios que vieram para matar Krishna deveriam ser condenados a longos períodos nos planetas infernais, mas, apesar de sua intenção demoníaca, a misericórdia do Senhor foi muito maior que Sua lei. Jesus quebrou a etiqueta por lavar os pés de seus discípulos. O Senhor Krishna também lavou os pés de muitos devotos em um sacrifício Rajasurya. Krishna também lavou os pés de Sudama Vipra, e, em um ato extremo de humildade e quebra da ordem natural, o Senhor Supremo tornou-se conhecido como Parta Sarathi, quando dirigiu a quadriga de Arjuna na batalha de Kuruksetra. Todas essas leis espirituais ortodoxas foram postas de lado pelo Senhor para demonstrar um princípio mais importante: que Krishna irá com boa vontade fazer o que quer que seja necessário para proteger e favorecer Seus devotos puros – até mesmo tornar-se servo de Seus devotos. Como é maravilhoso que a misericórdia do Senhor seja maior que Sua lei. O mestre espiritual e qualquer um dos representantes puros do Senhor são eles mesmos "corretores" espirituais, ou intermediários. Freqüentemente essas almas compassivas imploram para que o Senhor estenda Sua misericórdia muito acima do limite de Suas leis. Nós encontramos exemplos disto na vida de Jesus. Jesus Cristo converteu a prostituta Maria Madalena e a transformou em uma serva de primeira classe do Senhor. Ele também defendeu os criminosos que morreram na cruz com ele, para que eles pudessem entrar com ele no paraíso. O profeta Maomé implorou para que o Senhor concedesse misericórdia especial e perdão para aqueles que estavam fazendo sexo com suas mães, e aqueles que estavam matando suas filhas recém-nascidas. O profeta chegou a argumentar com o Senhor em favor dos escravos e órfãos, para que eles também recebessem a instrução e misericórdia adequadas. O Senhor Buddha interveio para trazer misericórdia àqueles que se desviaram devido à sacrifícios doentios de animais . Ele chegou a por de lado algumas leis Védicas que estavam provocando confusão e abusos. Quão maravilhoso é ver como a misericórdia do Senhor e de Seus servos é muito maior que Sua lei. Normalmente, de acordo com a lei espiritual, assim que uma pessoa nasce ela está em dívida com todos seus ancestrais, os semideuses, o sol, a lua, e muitos outros superiores. Para cumprir com essas obrigações, há vários tipos de orações e rituais que uma pessoa deve realizar para apaziguar seus vários credores. Mas uma pessoa que toma refúgio no serviço devocional puro é aliviada de todas essas obrigações, e não fica mais endividada com tais superiores. Porque Bhakti (devoção) rega a raiz da trepadeira devocional e satisfaz o Senhor Supremo, a satisfação de todas as partes integrantes doSenhor é conquistada automaticamente. Bhakti é tão forte que chega a ser tão grande ou até maior que o Senhor! Isso é porque o Senhor permite o intercâmbio de relacionamentos amorosos puros para transcender todas as formalidades. O devoto em um relacionamento amoroso puro pode se conectar com o Supremo eaté mesmo capturá-Lo, pois Deus, sentado no coração desse devoto, realiza seu desejo de prestar serviço puro e amoroso a seu amado. Enquanto pensava com gratidão sobre a misericórdia sem causado Senhor, eu pensei no meu Guru e em tudo o que ele fez no passado para destruir as ilusões do meu falso ego. Então, bem no momento em que eu pensava em meu Guru, a sua voz irrompeu em meus pensamentos. "Esta, amado," disse meu mestre espiritual, "é a natureza do mundo espiritual. As leis são transcendidas porque na verdade não há violadores delas, não há barreiras para dar e receber amor, e porque a misericórdia é compartilhada e estendida até seu grau máximo em uma expressão contínua pelo Casal Divino." "Meu querido, apesar de às vezes parecer quase impossível fazer isso, domine os delírios do seu falso ego e continue honrando todas as leis espirituais. Dessa forma, você em breve será capaz de viver eternamente na terra sem leis, aonde o amor puro e a misericórdia são tudo o que conhecemos e com o que convivemos."Todas essas leis espirituais ortodoxas foram postas de lado pelo Senhor para demonstrar um princípio mais importante: que Krishna irá com boa vontade fazer o que quer que seja necessário para proteger e favorecer Seus devotos puros – até mesmo tornar-se servo de Seus devotos.
The Beggar III/ Bhakti Tirtha Swami

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

AS GLÓRIAS DE TULASI DEVI




O Senhor Shiva disse:
"Meu querido Narada Muni, por favor, ouça com muita atenção, pois agora eu relatarei as maravilhosas glórias de Tulasi Devi. Quem ouve as glórias de Tulasi Devi, elimina todas as suas reações pecaminosas acumuladas durante muitos nascimentos e mui rapidamente alcança os pés‑de‑lotus de Sri Radha Krishna. As folhas, flores, raizes, casca, galhos, tronco e a sombra de Tulasi Devi são todos espirituais”.
“Alguém cujo corpo morto é queimado numa fogueira, alimentada com madeira de Tulasi, alcançará o mundo espiritual, mesmo que seja o pior entre os pecadores, e quem acender esta fogueira, será libertado de todas suas reações pecaminosas. Quem, na hora da morte cantar, pronunciar, falar, o nome do Senhor Krishna, e estiver­ tocando na madeira de Tulasi Devi, alcançará o mundo espiritual”.
“Quando o corpo morto de alguma pessoa está sendo queimado, mesmo que se coloque apenas um pequeno pedaço de madeira de Tulasi neste fogo, então esta pessoa alcançará o mundo espiritual; pelo simples toque de Tulasi todas as outras madeiras se purificam. Quando os mensageiros do Senhor Vishhu vêem um fogo, no qual há madeira de Tulasi queimando, imediatamente eles chegam e levam essa pessoa, cujo corpo foi incinerado para o mundo espiritual. Os mensageiros de Yamaraja não virão a esse lugar, onde a madeira de Tulasi estiver na fogueira ou pira funerária que queima o corpo da pessoa, e esta pessoa vai para o mundo espiritual e a caminho, todos semideuses derramam flores nela; quando o Senhor Vishnu e a Senhor Shiva vêem tal pessoa a caminho do mundo espiritual, ficam muito felizes e a abençoam, e o Senhor Krishna aparece diante dela, tomando‑a pela mão, leva‑a para Sua própria morada”.
“Quem por ventura vai a um local, ande se queimou madeira de Tulasi, se tornará purificado de todas reações pecaminosas. ­O brahmana, que estiver realizando sacrifício de fogo e colocar entre as outras madeiras, madeira de Tulasi, obterá os resultados de um agni-hotra yajna para cada grão oferecido naquele fogo”.
“Quem oferece ao Senhor Krishna incenso, feito de madeira de Tulasi, obterá o resultado de cem sacrifícios de fogo e de dar cem vacas em caridade”.
“Quem cozinha uma oferenda para o Senhor Krishna num fogo, que contiver madeira de Tulasi, obterá o mesmo benefício de quem oferece em caridade uma colina de grãos do tamanho do Monte Meru, para cada grão daquela oferenda ao Senhor Krishna”.
“Quem acende uma lamparina a ser oferecida ao Senhor Krishna com pedaço de madeira de Tulasi, alcançará o mesmo benefício que alguém que oferece dez milhões de lamparinas ao Senhor Krishna. Não há ninguém mais querido ao Senhor Krishna do que tal pessoa”.
“Quem aplica a pasta da madeira de Tulasi na Deidade do Senhor Krishna com devoção, sempre viverá próximo ao Senhor Krishna”.
“Qualquer pessoa que passe a terra que fica ao redor de Tulasi Devi em seu corpo e adore a Deidade do Senhor Krishna, recebe os resultados de cem dias de adoração”.
“Quem oferece um manjari de Tulasi ao Senhor Krishna recebe o benefício de oferecer todas variedades de flores, após o que irá à morada do Senhor Krishna”.
“Quem vê ou chega perto da casa ou jardim onde existe uma planta Tulasi, se livra de todas as reações pecaminosas passadas, incluindo aquela por assassinar um brahmana”.
“0 Senhor Krishna certamente reside na casa, vila, ou floresta, onde Tulasi Devi está presente”.
“A casa onde Tulasi Devi está presente, nunca passa por penúria e devido a presença de Tulasi Devi, este local se torna mais puro do que todos locais sagrados”.
“Quem plantar Tulasi próximo ao templo do Senhor Krishna, alcançará a morada de Krishna”.
“Onde quer que o aroma de Tulasi Devi seja levado pelo vento, purifica a todo mundo que entrar em contato direto com ele”.
“Na casa em que a terra de Tulasi Devi é mantida, todos semideuses junto com o Senhor Krishna sempre residirão. Onde quer que a sombra de Tulasi Devi recaia, o local fica purificado e é o melhor local para se oferecer sacrifícios de fogo”.
-NOTA-
Só se deve usar madeira de Tulasi depois que Tulasi Devi secou por completo; nunca se deve fazer uso da madeira de Tulasi que não esteja completamente sêca.


MAIS GLORIFICAÇÕES A TULASI DEVI
SRISTIKHAND

Kartikeya perguntou:
-Meu querido pai (Senhor Shiva), que arvore ou planta é capaz de proporcionar amor por Deus?.
0 Senhor Shiva respondeu:
-Meu querido filho, de todas as arvores e plantas, Tulasi Devi é a melhor; Ela é toda auspiciosa, a realizadora de todos desejos, completamente pura, a mais querida do Senhor Krishna, e a melhor das devotas.
“Há muito tempo atrás, o Senhor Krishna, para o benefício de todas as almas condicionadas, trouxe Vrindadevi em Sua forma de planta (Tulasi) e a plantou neste mundo material. Tulasi é a essência de todas as atividades devocionais. Sem folhas de Tulasi, o Senhor Krishna não aceita flores; alimentos; pasta de sândalo, de fato, qualquer coisa sem folhas de Tulasi não é bem vista pelo Senhor Krishna”.
“Quem adora o Senhor Krishna diariamente com folhas de Tulasi obtém os resultados de todo tipo de austeridade, caridade e sacrifício de fogo. De fato, esta pessoa não tem outro dever a realizar e já realizou a essência de todas as escrituras”.
“Assim como o rio Ganges purifica todos que nele se banham, assim mesmo Tulasi Devi purifica os três mundos. Não é possível descrever todo o benefício de oferecer manjares de Tulasi (flores) ao Senhor Krishna. 0 Senhor Krishna junto com todos semideuses, vive onde quer que haja Tulasi Devi. Por essa razão deve‑se plantar Tulasi Devi no lar e oferecer adoração diariamente. Quem se senta perto de Tulasi Devi e canta ou recita orações obterá os resultados muito mais rápido”.
“Todas formas de fantasmas e demônios correm do lugar ande Tulasi Devi estiver plantada; e todos tipos de reações pecaminosas são destruídas quando se chega perto de Tulasi Devi. Quem fizer um jardim de Tulasi obtém os resultados de ter feito todos os tipos de caridades e de ter executado cem sacrifícios de fogo”.
“Quem puser na boca ou sobre a cabeça as folhas de Tulasi, depois de terem sido oferecidas ao Senhor Krishna, alcança a morada do Senhor Krishna. Na Kali‑yuga, quem adora; faz kirtan; lembra; planta ou mantém Tulasi, queima todos suas reações pecaminosas e alcança a morada do Senhor Krishna mui rapidamente”.
“Quem prega as glórias de Tulasi Devi e também pratica o que prega, se torna muito querido do Senhor Krishna. Quem adora Tulasi Devi já satisfez seu guru, os brahmanas, semideuses, e visitou todos lugares sagrados. Quem oferece uma folha de Tulasi ao Senhor Krishna se tornará um Vaisnava muito em breve. Qual a necessidade de se entender todas escrituras? se para aquele que ofereceu a madeira ou as folhas de Tulasi Devi ao Senhor Krishna, tal pessoa nunca vai precisar provar do leite do seio de uma mãe novamente (ou seja nunca mais precisará renascer). Quem tiver adorado o Senhor Krishna com as folhas de Tulasi Devi já libertou todos seus antepassados deste reino de nascimento e morte”.
“Meu querido Kartikeya, contei‑lhe muitas das glórias de Tulasi Devi. Se fosse descrever Suas glórias pela eternidade, ainda assim não conseguiria chegar ao final delas. Quem lembrar ou cantar a outro estas glorificações de Tulasi Devi nunca tomará nascimento novamente”.

SRI TULASI‑STAVA
SRISTIKHAND

Um certo Brahmana disse:
-Srila Vyasadeva, já o ouvimos, falar das glórias das folhas e flores de Tulasi Devi. Agora gostaríamos de ouvir o Tulasi stava (Oração).
Srila Vyasadeva respondeu:
-Anteriormente, um discípulo de Shatanand Muni aproximou‑se dele reverencialmente de mãos postas e indagou sobre a Tulasi stava.
O discípulo disse:
-Ó maior de todos devotos do Senhor Krishna, por gentileza relate esse Tulasi stava, que ouviste da boca do Senhor Brahma.
Shatanand respondeu:
-Basta tomar o nome de Tulasi Devi, que já agradamos ao Senhor Krishna e destruímos todas reações pecaminosas. Quem apenas ver Tulasi Devi recebe o beneficio de dar milhões de vacas em caridade e quando esta pessoa oferece adoração e orações a Tulasi Devi, então ela se torna digna de adoração nesta era de Kali‑yuga. Na Kali-yuga a pessoa que plantar uma árvore de Tulasi para o prazer do Senhor Krishna, mesmo se os mensageiros de Yamaraja estiverem irados com ela, não poderão fazer‑lhe nada, e ela não necessitará temer a morte personificada.

“Tulasi amrita‑janmasi, sada tvam Kesava‑priya Kesavartham cinomi tvam,varada bhava sobhane tvadang sambhavai aniyam, pujayami yatha Harim tatha kuru pavitrangi, kalou mala vinashini”

“Quem cantar este Mantra enquanto colher folhas de Tulasi e então as oferecer aos pés de lótur do Senhor Krishna, os resultados de tal oferenda serão aumentados milhões de vezes. Agora ouçam cuidadosamente a Tulasi Stava:

Tulasi Stava

01 - Munayah sidha‑gandharvah, patale nagaratsvayam prabhavam tava deveshi, gayanti sura‑sattama.

02 - Na te prabhavam jananti, devatah Keshavadrite gunanam parimananutu, kalpakotisha‑tairapi.

03 - Krishna‑anandat samudbhuta, Kshiroda‑mathanodyame uttamange pura yena, Tulasi‑Visnu na dhrita.

04 - Prapyaitani tvaya devi, Vishno‑rangani sarvashah, pavitrata tvaya prapta, Tulasimtvam namamyaham.

05 - Tvadanga‑sambhavaih patraj, puja‑yami yatha harim tatha kurushva me vighna, yato yami para gatim.

06 - Ropita gomati‑tire, svayam-Krishneana palita jagaddhitaya Tulasi, gopinam hita-hetave.

07 - Vrindavane vicharata, sevita Vishnuna svayam Gokulasya vivriddhyarth, kamsasya nidhanaya ca.

08 - Vashishtha vachanat purvam ramen sarayu‑tate rakshasanam vadharthaya,
ropita‑tvam jagat‑priye ropita‑tapaso vridhyai, Tulasi‑tvam namamyaham.

09 - Viyoge Raghavendra‑sya, dhyatva tvam janak atmaja ashokavana‑madhye tu, priyena saha‑sangata.

10 - Shankarartha pura devi, parvatya tvam himalaye ropita sevita siddhyai, Tulasi tvam‑namamyaham.

11 - Dharmaranye gayayam ca, sevita pitribhih svayam sovita tulasi punya, atmano hita‑michhata.

12 - Ropita Ramachandren sevita Laksmanena cha Sitaya palita bhaktya, Tulasi‑dandake vane.

13 - trailokya‑vyapini ganga, yatha shastre‑shu giyate tathaiva Tulasi devi drishyate sacharachare.

14 - Risyamuke ca, vasata kapirajen sevita Tulsi balinashaya, tarasangam‑hetave.

15 - Pranamya Tulsi‑devi, sagarottkramanam kritam krit‑karyah prahusthascha, Hanuman punaragataha.

16 - Tulasi grahanam kritva, vimukto yati patakaih athava munishardula, brahma‑hatyam‑vyapohati.

17 - Tulsi patra‑galitam, yastoyam‑sirasa vahet ganga‑snanam avapnoti, dasha‑dhenu phala‑pradam.

18 - prasid devi deveshi, prasid Hari vallabhe Ksirod‑mathanod bhute, Tulasi tvam namamyaham.

19 - Dvadasyam jagare ratrou, yah pathet Tulasi stavam, dvatrim‑shadaperadhans cha, ksamat tasya Keshavah.

“Quem adorar Tulasi no Dvadasi e cantar este Tulasi stava destrói todos 32 tipos de reações pecaminosas. O Senhor Krishna se torna muito satisfeito com tal pessoa”.
“Naquela casa em que este Tulasi stava for recitado frequentemente, o infortúnio nunca visitará, nem por acidente, e a deusa da Fortuna residirá ali certamente”.
“Quem recitar este Tulasi stava obterá devoção por Krishna e sua mente não se afastará dos pés de lótus Dele”.
“A pessoa que se mantiver acordada durante a noite do Dvadasi após adorar Tulasi Devi com este stava, obterá o benefício de visitar todos locais sagrados e sua mente nunca contemplará o desfrute separadamente do Senhor Krishna. Não só isso, mas tal devoto afortunado nunca se separará da associação dos Vaisnavas”.

ASTA‑NAMA‑STAVA
os oito nomes de Tulasi Devi

Vrindavani, Vrinda, Visvapujita, Pushpasara, Nandini, Krishna‑jivani, Visva‑pavani, Tulasi.

VRINDAVANA - Aquela que primeiro se manifestou em Vrindavan.
VRINDA – A deusa de todas plantas e árvores (apenas uma planta de Tulasi numa floresta, esta pode ser chamada de Vrindavan).
VISVAPUJITA - Aquela que todo o universo adora.
PUSHPASARA - A melhor de todas as flores,sem aqual Krishna nem olha as outras flores.
NANDINI - Aquela que ao ser vista concede ilimitado êxtase aos devotos.
KRISHNA ‑ JIVANI - A vida de Krishna.
VISVA ‑ PAVANI - Aquela que purifica os três mundos.
TULASI - A incomparável”.

“Qualquer pessoa que ao adorar Tulasi Devi cantar estes oito nomes, obterá os mesmos resultados de realizar um Asvamedha yajna. Quem no dia de lua cheia de Kartika (dia do aparecimento de Tulasi Devi) adorá-la com este Mantra, se libertará das amarras deste miserável mundo de nascimento e morte, e mui rapidamente alcançará Goloka Vrindavana. No dia de lua cheia de Kartika, o próprio Senhor Krishna adora Tulasi Devi com esse mantra.
Quem se lembrar desse mantra dentro em breve alcançará devoção pelos pés de lótus do Senhor Krishna”.


Tradução: Indumukhi Devi Dasi

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Louvando o Senhor


Quando falamos de yoga, referimo-nos ao processo pelo qual ligamos nossa consciência à Suprema Verdade Absoluta. Conforme o método específico adotado, vários praticantes dão a esse processo nomes diferentes. Quando no processo unitivo predominam as atividades fruitivas, ele chama-se karma-yoga; quando é predominantemente empírico, o processo chama-se jnana-yoga; e quando predomina uma relação devocional com o Senhor Supremo, chama-se bhakti-yoga. Bhakti-yoga, ou consciência de Krishna, é a perfeição última de todas as yogas. O ascetismo sem autoconhecimento é imperfeito. O conhecimento empírico sem rendição ao Senhor Supremo também é imperfeito. E trabalho fruitivo sem consciência de Krishna é perda de tempo. Portanto, a forma de execução de yoga de maior louvor mencionada aqui é a bhakti-yoga. BG 6.46 sig

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Apenas a verdadeira ocupação nos livrará do labirinto da existência material


Alguém que não é consciente de Krishna sujeita-se a desejos materiais enquanto contempla os objetos dos sentidos. Os sentidos precisam de verdadeira ocupação, e se não estiverem ocupados no serviço transcendental amoroso ao Senhor, eles decerto procurarão ocupar-se a serviço do materialismo. No mundo material, todos, incluíndo o Senhor Siva e o Senhor Brahma - sem mesmo precisar mencionar outros semideuses nos planetas celestiais - estão sujeitos à influência dos objetos dos sentidos, e o único método para sair deste labirinto da existência material é tornar-se consciente de Krishna.

BG 2.62 sig

domingo, 20 de janeiro de 2008

Os vários tipos de conhecimento


O "conhecimento" do homem comum sempre está no modo da escuridão ou ignorância porque na vida condicionada todos os seres vivos nascem no modo da ignorância. Aquele cujo conhecimento não é obtido das autoridades ou dos preceitos das escrituras tem um conhecimento que se limita ao corpo. Ele não está interessado em agir segundo as direções das escrituras. Para ele Deus é o dinheiro, e conhecimento significa satisfazer as necessidades corpóreas. Semelhante conhecimento não tem relação alguma com a Verdade Absoluta. É basicamente igual ao conhecimento dos animais comuns: ter conhecimento de que todos devem comer, dormir, defender-se e acasalar-se. Esse conhecimento é um produto do modo da escuridão. Em outras palavras, o conhecimento referente à alma espiritual que está situada além deste corpo chama-se conhecimento no modo da bondade; o conhecimento que por força da lógica mundana e da especulação mental produz muitas teorias e doutrinas é um produto do modo da paixão; e diz-se que está no modo da ignorância o conhecimento que se refere ao conforto físico.

BG 18.22 sig

sábado, 19 de janeiro de 2008

A energia Superior


A energia espiritual e superior de Krishna é transcendental e eterna. Ela está além de todas as mudanças existentes na natureza material, que é manifestada e aniquilada durante os dias e as noites de Brahma. Em qualidade, a energia superior de Krishna é inteiramente oposta à natureza material.

BG 8.20 sig

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

A Grande Fuga de Sanatana


Sanatana Gosvami afastou-se de seu posto de ministro no governo Muçulmano na Bengala do século XVI, tendo decidido dedicar sua vida à missão de Sri Caitanya Mahaprabhu. O Nawab, ou governador, aprisionou Sanatana, irado com sua resignação. Ouvimos, agora, como Sanatana conheceu o Senhor Caitanya em Varanasi (Uttar Pradesh) e contou sua fuga da prisão e sua jornada pela Bengala.

Sanatana Gosvami entrou na cidade de Varanasi no princípio da primavera de 1514. Tendo viajado por trilhas na floresta e estradas abandonadas pela Bengala e por Bihar, ele vestia roupas velhas e rasgadas. Seu longo cabelo, barba e bigode estavam bagunçados e empoeirados, e ele carregava uma cuia de esmolas em sua mão. Feliz ao ouvir que o Senhor Caitanya Mahaprabhu havia chegado de barco em Allahabad, Sanatana foi até a casa de Candrashekhara, onde o Senhor estava hospedado, e sentou-se junto à porta de entrada.

Sri Caitanya Mahaprabhu pôde entender que Sanatana estava do lado de fora.

“Candrashekhara” , Ele disse, “há um Vaisnava, um devoto Hare Krsna, à sua porta. Por favor, vá e convide-o a entrar”.

Candrashekhara foi lá fora para ver e, não vendo nenhum Vaisnava, voltou.

“Mas há alguma pessoa lá fora?”, o Senhor perguntou.

“Só um mendicante muçulmano”, Candrashekhara respondeu.

“Por favor, traga-o aqui”.

Voltando imediatamente à porta, Candrashekhara falou a Sanatana.

“Caro mendicante muçulmano”, ele disse, “tenha a bondade de entrar. O Senhor está lhe chamando”.

Satisfeito com esse convite, Sanatana entrou na casa, onde o Senhor Caitanya levantou-se prontamente para abraçá-lo, dar-lhe as boas-vindas e oferecer um acento ao Seu lado. O Senhor Caitanya é a Suprema Personalidade de Deus fazendo o papel de Seu próprio devoto. Em ambas as posições, como Senhor e como devoto, Ele estava ávido por dar as boas-vindas a Seu visitante Vaisnava. Apesar dos protestos de Sanatana, Ele glorificou a influência santa de Sanatana como superior até mesmo a lugares sagrados como Varanasi. O Senhor citou um verso do Srimad-Bhagavatam (1.13.10): “Santos como você são em si mesmos lugares de peregrinação. Por causa de sua pureza, eles são companhias constantes do Senhor, e, portanto, podem purificar até mesmo os locais de peregrinação”.

Poucas semanas atrás, Sri Caitanya Mahaprabhu havia se encontrado com o irmão de Sanatana, Rupa Gosvami, em Allahabad. O Senhor havia instruído Rupa acerca da evolução da alma, primeiramente através de espécies materiais de vida neste universo e, então, sua evolução depois de estar de volta ao céu espiritual. Pelos próximos dois meses em Varanasi, o Senhor Caitanya iria desenvolver esses e outros temas em Seus ensinamentos a Sanatana Gosvami. Ele descreveria como o Senhor Supremo Se expande para presidir individualmente todos os inumeráveis planetas espirituais e para criar e governar os universos materiais. Ele informaria Sanatana sobre a localização e dimensão dos planetas espirituais e sobre as atividades e identidade de seus habitantes com a mesma precisão que se pode descrever os continentes e nações desta terra. E Ele delinearia a rota direta do cosmos material temporário e escuro até aqueles destinos espirituais auto-refulgentes e livres de nascimentos e mortes com a mesma clareza e detalhes dos mais modernos mapas de estradas e guias de viagem atuais.

Apesar da exaltada e revolucionária natureza desses tópicos transcendentais, todavia, o Senhor Sri Caitanya Mahaprabhu estava curioso por ouvir sobre as recentes viagens e aventuras de Sanatana.

“Como você escapou da prisão?”, o Senhor ansiosamente perguntou, e Sanatana, com muita satisfação, contou sua história do começo ao fim.

Afortunado Carcereiro

Sanatana contou como, amarrado com correntes de ferro na prisão de Chika Mosjud, próxima a Ramakeli, Bengala, ele recebera uma bilhete de Rupa, seu irmão mais novo.
“Meu querido Sanatana”, Rupa Gosvami escrevera, “deixei uma quantia de dez mil moedas de ouro com um mercador local. Use aquele dinheiro para sair da prisão e venha encontrar o Senhor Sri Caitanya Mahaprabhu em Mathura e em Vrndavana”.
Para encorajar Sanatana ainda mais, Rupa incluiu em seu bilhete um belo e misterioso verso em sânscrito:
yadu-pateh kva gata mathura-puriraghu-pateh kva gatottara- koshalaiti vicintya kurusva manah sthiramna sad idam jagad ity avadharaya


“Para onde foi a cidade de Mathura conhecida como Yadupati? Para onde foi a província da Koshala do norte, Raghupati? Refletindo, a mente se torna estável, pensando: ‘Este universo não é eterno’.”
Yadupati é um nome do Senhor Krsna, e Raghupati é um nome do Senhor Ramacandra. Muito tempo atrás, Eles apareceram nesta terra e atuaram como seres humanos, exibindo Seus eternos passatempos na cidade de Mathura e na província de Koshala respectivamente. Agora, Eles haviam aparecido novamente como o Senhor Caitanya Mahaprabhu para libertarem os prisioneiros desta vida material neste universo temporário; e o Senhor Caitanya já estava em Seu caminho para Mathura, acompanhado por Rupa Gosvami.
Extasiado com o bilhete, Sanatana se dirigiu ao carcereiro muçulmano, um conhecido seu do tempo do governo, um homem simples com pouca educação ou instrução espiritual. Invocando as habilidades diplomáticas desenvolvidas durantes seus anos como primeiro ministro do Nawab, Sanatana começou a satisfazer o humilde guarda com bendizeres.
“Caro senhor”, Sanatana começou, “você é uma pessoa muito afortunada, um santo em vida, e um erudito versado no conhecimento do Corão e livros similares. Então, você deve saber que se você libera um prisioneiro, de acordo com os princípios de sua religião, você é abençoado pelo Senhor Supremo”.
Tocado pelas palavras agradáveis de seu colega de governo, o carcereiro não pôde negar que ele era, de fato, um erudito e santo. Ele ouvia com grande atenção enquanto Sanatana continuava, frisando a longa amizade entre eles, e pedindo que ele o libertasse como um favor pessoal.
“Anteriormente, eu fiz muito por você”, Sanatana disse. “Agora eu estou em dificuldade. Por favor, libertando-me, devolva a felicidade de minha vida”.
Sanatana adoçou a amizade entre eles com uma oferta de cinco mil moedas de ouro. Aceitando o ouro e liberando um prisioneiro inocente, Sanatana explicou a seu amigo carcereiro que ele acumularia tanto atividades piedosas quanto riquezas materiais. Ele teria o melhor dos dois mundos.
“Por favor, escute-me caro senhor”, o carcereiro disse ansioso. “Eu quero muito deixá-lo ir, porque você fez muito por mim quando trabalhávamos juntos para o governo. Mas eu temo o que Nawab fará quando souber que você está livre. Eu terei de explicar. O que eu direi?”.
Sanatana tinha uma história.
“Não há perigo”, ele assegurou a seu amigo. “O Nawab partiu para o sul para conquistar Orissa. Se ele voltar, diga a ele que Sanatana foi fazer suas necessidades próximo da margem do rio Ganges e, que quando ele viu o Ganges, pulou imediatamente dentro dele. Diga a ele: ‘Eu procurei por um longo tempo, mas não pude encontrar nenhum sinal dele. Ele pulou com suas algemas e afogou-se, levado pela correnteza’.”
“E não se preocupe”, Sanatana adicionou. “Ninguém irá me encontrar. Eu me tornarei um mendicante e irei para a cidade sagrada de Mecca”.
Assim, o carcereiro tinha uma desculpa para o Nawab, uma desculpa religiosa para sua própria consciência, e uma promessa de cinco mil moedas de ouro. Ele ainda estava ansioso e indeciso, quando Sanatana subiu sua oferta para sete mil moedas de ouro e lentamente as derramou do saco perante o guarda. Vendo a pilha de ouro reluzente crescer diante de seus olhos, o carcereiro finalmente aceitou. Naquela noite, ele quebrou as correntes que prendiam Sanatana e o deixou escapar pelo Ganges.
Jornada Perigosa
Embora ele tivesse ficado ainda com três mil moedas de ouro, e tivesse centenas de quilômetros para viajar da Bengala em direção a Mathura e Vrndavana, Sanatana deixou para trás todo o ouro e partiu a pé, observando o papel de um pedinte. O dinheiro comprara sua liberdade para servir o Senhor Caitanya, mas ele não tinha nenhum interesse em gastar o dinheiro para comprar uma viagem confortável ou algo do tipo. Como um prisioneiro fugitivo, bem como um homem famoso, Sanatana tinha de evitar ser notado. Usando estradas abandonadas e trilhas, ele se manteve afastado da rodovia oficial conhecida como “o caminho das muralhas” [way of the ramparts], que o Nawab havia fortificado contra invasões.
Um servo chamado Ishana acompanhou Sanantana, e, apesar das evidentes precauções de seu mestre, Ishana secretamente carregava oito moedas de ouro. Cruzando o que é hoje conhecido como a província de Bihar, Sanatana e Ishana chegaram a uma área montanhosa conhecida como Patada e pararam em um pequeno hotel, onde o ouro demonstrou-se quase fatal. O dono do hotel ficou sabendo das oito moedas através de um vidente perito e planejou roubar e matar seus dois hóspedes. Ele, então, demonstrou aparente respeito e preocupações com suas necessidades, fornecendo comida para que eles cozinhassem e prometendo guiá-los pelas montanhas.
Sanatana foi até o rio para se banhar e, uma vez que ele não se alimentava há dois dias, ele cozinhou e comeu sua refeição. Mas ele estava desconfiado. Como ministro de Nawab, ele conhecera muitos diplomatas e manipuladores. Ali estava um dono de hotel, um completo estranho, dando a ele tratamento real, embora ele e Ishana parecessem indigentes.
“Ishana”, Sanatana perguntou, “eu acho que você deve ter alguma coisa valiosa consigo”.
“Sim, eu tenho sete moedas de ouro”, Ishana admitiu, mostrando parcialmente sua riqueza.
Sanatana ficou irritado e começou a censurar seu servo.
“Por que você carrega esses comensais da morte?”
Pegando as sete moedas, Sanatana foi até o dono do hotel com as moedas na mão.
“Por favor, fique com essas sete moedas”, Sanatana pediu, “e nos ajude a cruzar as montanhas. Eu sou um preso político em fuga e não posso viajar pelo caminho das muralhas. Seria muito piedoso da sua parte aceitar esse dinheiro e me conduzir por entre as montanhas”.
A combinação de ouro e sentimentos religiosos mais uma vez relevou-se efetiva. O hoteleiro confessou saber que Ishana tinha oito moedas em seu bolso e que planejara matar a ambos.
Agora, recusando-se a aceitar as moedas por vergonha e embaraço, como pedido de desculpe, ele ofereceu conduzir Sanatana pelas montanhas gratuitamente.
“Não”, Sanatana respondeu. “Se você não aceitar essas moedas, outra pessoa me matará por elas. É melhor você me salvar desse perigo”.
O acordo tendo sido firmado, o hoteleiro contratou quatro seguranças, que escoltaram por toda a noite Sanatana e Ishana pelas montanhas através de uma trilha na floresta. Sanatana então mandou Ishana voltar para casa com a moeda de ouro que Ishana tentara esconder, e viajou sozinho, vestindo roubas maltrapilhas, carregando uma cuia de esmolas e deixando para trás as preocupações que lhe acompanhavam a cada passo.
O Encontro com Srikanta
Após muito caminhar, Sanatana chegou uma noite a uma pequena cidade chamada Hajipura e sentou-se em uma praça florida. Por coincidência, um cavalheiro chamado Srikanta, o esposo da irmã de Sanatana, estava em Hajipura a serviço do governo. O Nawab havia dado a Srikanta 300.000 moedas de ouro para comprar cavalos. Sentado em um assento elevado, fazendo seus negócios, Srikanta viu de relance Sanatana e, mais tarde, naquela noite, foi vê-lo. Os dois velhos amigos conversaram ao longo da noite, e Srikanta ouviu tudo sobre a prisão e fuga de Sanatana. Vendo Sanatana, o antigo primeiro ministro, naquela situação de pobreza, Srikanta ficou aflito e pegou-se pensando em como ajudá-lo. Dono de uma grande fortuna em ouro, certamente ele poderia ajudar o irmão de sua esposa a começar uma nova vida.
“Por que não fica aqui comigo por alguns dias”, Srikanta incitou Sanatana. “Você pode se livrar dessas roupas sujas e se vestir como um cavalheiro novamente”.
Em sua viagem para se encontrar com o Senhor Caitanya, Sanatana já havia superado um ambicioso carcerário e um hoteleiro assassino, além de evitar, a todo tempo, os soldados e agentes do Nawab. Agora, ali, um obstáculo ainda mais formidável se apresentava: um amigo querido e parente próximo oferecendo dinheiro. Sanatana agradeceu a Srikanta, mas recusou sua oferta.
“Eu não posso continuar mais aqui”, Sanatana disse. “Por favor, ajude-me a cruzar o Ganges para que eu possa partir daqui”.
Insistindo que Sanatana levasse ao menos um valioso cobertor de lã, Srikanta o ajudou a atravessar o Ganges e, com afeição sincera, contemplou-o indo embora.
Limpo como um Vaisnava
Sanatana deixara Srikanta em Hajipura poucos dias atrás. Agora, sentado ao lado do Senhor Sri Caitanya Mahaprabhu na casa de Candrashekhara, em Varanasi, ele sentia felicidade ilimitada. Após ouvir sobre as aventuras de Sanatana, o Senhor Caitanya, por sua vez, narrou Seu recente encontro com o irmão de Sanatana em Allahabad. Então, Ele pediu a Sanatana para se banhar e fazer a barba antes de tomarem prasadam, e pediu a Candrashekhara para providenciar roupas novas a Sanatana.
A aparência desmazelada de Sanatana era compreensível considerando as circunstâncias de sua viagem, mas o Senhor Caitanya queria que Seus seguidores se vestissem como cavalheiros. Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Svami Prabhupada, escrevendo no começo dos anos 70, explica: “Por causa de seu cabelo longo, bigode e barba, Sanatana Gosvami parecia um hippie. Como Sri Caitanya Mahaprabhu não gostou das características hippies que Sanatana Gosvami trazia, Ele pediu a Candrashekhara para barbeá-lo e deixá-lo com boa aparência. Se qualquer pessoa com cabelo grande e barba quiser entrar para o movimento da consciência de Krsna e viver conosco, ele deve se limpar de forma similar”.
Embora Candrashekhara tenha lhe oferecido trajes novos, Sanatana pediu um dhoti usado no lugar, então rasgou o dhoti ao meio para fazer dois dothis a partir daquele. Um brahmana maharastriyan, que mais tarde organizaria o encontro do Senhor Caitanya com os sannyasis de Varanasi, convidou Sanatana a fazer todas as suas refeições com ele. Novamente, Sanatana recusou educadamente, preferindo evitar refeições completas, e humildemente mendigar um pouco de comida de porta em porta. A renúncia de Sanatana foi algo extraordinário e não pode ser imitada como uma regra. Ele estava determinado a abandonar toda opulência material. Mesmo o novíssimo cobertor de lã de Srikanta tinha que ir embora. Sanatana foi até a beira do Ganges e persuadiu um surpreso mendigo Bengali a ficar com o cobertor de lã em troca de sua remendada colcha de mendigo.
Observando todas essas mudanças, e vendo, por fim, que até mesmo o valioso cobertor havia sido rejeitado, o Senhor Caitanya tornou-se ilimitadamente feliz e disse a Sanatana Gosvami: “O Senhor Krsna mui misericordiosamente anulou todo o seu apego a coisas materiais. Por que, então, Ele permitiria que você mantivesse consigo aquele valioso cobertor, seu último fragmento de apego material? Após eliminar uma doença, o bom médico não deixa nenhuma remanente dela”.
Nos dias que se seguiram, o Senhor Sri Caitanya Mahaprabhu, satisfeito com Sanatana Gosvami, começou a falar com ele sobre a verdadeira identidade, qualidades transcendentais e atividades eternas do Senhor Sri Krsna. Sanatana, livre de seu último vestígio de apego material, estava plenamente preparado a ouvir.

por Mathuresha Dasa

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Um mundo para cavalheiros


Neste mundo material, as pessoas recebem denominações ou classificações, mas, afinal de contas, este mundo não é um lugar onde se possa viver feliz. Afirma-se claramente que anityam asukham lokam: este mundo é temporário e cheio de misérias, e não serve para ser habitado por um cavalheiro sensato. A Suprema Personalidade de Deus declara que este mundo é temporário e cheio de misérias. Alguns filósofos, especialmente os mayavadis, dizem que este mundo é falso, mas através do Bhagavad-gita podemos compreender que o mundo não é falso; é temporário. Há uma diferença entre temporário e falso. Este mundo é temporário, mas existe outro mundo que é eterno. Este mundo é miserável, mas o outro mundo é eterno e bem-aventurado.

Ninguém deve ficar neste mundo temporário, que é cheio de misérias. Todos devem refugiar-se no âmago da Suprema Personalidade de Deus para poderem ser eternamente felizes. O serviço devocional ao Senhor Supremo é o único processo pelo qual se podem resolver todos os problemas de todas as classes de homens. Todos devem, portanto, adotar a consciência de Krishna e tornar sua vida perfeita.

Bhagavad-gita 9.33

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Passatempos Infantis do Senhor Caitanya




As atividades aparentemente comuns do Senhor Caitanya como uma criança são inteiramente transcendentais. Quem diria que uma criança, brincando, poderia abalar a estrutura do monismo e do panteísmo?

Um dia, pouco tempo depois que aprendera a andar, o Senhor Caitanya brincava com outras crianças pequenas da vizinhança enquanto Sua mãe, Srimat Sacidevi, trouxe-Lhe um prato cheio de arroz e doces. Após pedir para seu filho se sentar e comer, mãe Saci prosseguiu com seus deveres domésticos. Mas tão logo ela saiu de perto de seu filho, Ele começou a comer terra ao invés da comida carinhosamente preparada. Ao retornar, mãe Saci ficou muito surpresa vendo aquilo. “O que é isto!”, ela exclamou.

Esse foi um dos passatempos infantis do Senhor Caitanya quando Ele apareceu na Terra há quinhentos e poucos anos. Tal atividade, ouvida à primeira vez, dificilmente confirmaria a alguém que o Senhor Caitanya é a mesma Suprema Personalidade de Deus descrita na literatura Védica. O Bhagavad-gita afirma que, para estabelecer princípios religiosos universais, o Senhor Supremo regularmente aparece dentro da criação material agindo no papel de um ser humano. Assim, embora Ele seja o mais velho de todos, Ele exibe diversos passatempos infantis maravilhosos.

Mas o que há de tão incomum ou divino em comer terra? Toda criança de um ano tende a pensar que tudo o que é visível é também comestível. O que há de diferente no ato de comer terra do Senhor Caitanya? E como isso ajuda a estabelecer princípios religiosos universais? Voltemos, então, à cena da infância do Senhor para descobrirmos.

Quando requisitado por mãe Saci para explicar Seu comportamento, o Senhor respondeu de uma maneira filosófica surpreendente. “Por que você está irada?”, Ele disse. “Você Me deu terra, então, como posso ser culpado de alguma coisa? Arroz e doces, ou qualquer coisa comestível, não passam de uma transformação da terra. Você Me deu terra – e Eu comi terra. Por que a objeção?”. O Senhor Caitanya argumentou que, uma vez que toda comida vem originalmente da terra, ela não é nada senão a transformação da terra. Então, comer doces ou comer terra; qual é a diferença?

A resposta infantil do Senhor Caitanya parodia a filosofia monista defendida pelos filósofos Mayavadis, que afirmam que a única realidade é a existência espiritual não-diferenciada, eterna e todo-penetrante, ou Brahman. Como traz o slogan Mayavada: “É tudo um”. Em outras palavras, apesar da aparência, eu e você não somos indivíduos distintos, senão que somos unos em todos os aspectos com o Brahman impessoal. Ou, para sermos mais claros, cada um de nós é Deus – se pudermos nos dar conta disso. E este universo material – com toda a sua variedade – é, eles dizem, falso, uma ilusão.

Comendo terra, o Senhor Caitanya conduzia a filosofia do “é tudo um” para sua conclusão lógica. “Terra é ilusão, e doces são ilusão”, Ele respondia. “Assim, qual a diferença entre comer terra e comer doces?”.

Mãe Saci não era nenhum pandita, e, mesmo assim, sua resposta dura ao Senhor Caitanya foi suficiente para fazer em pedaços o subterfúgio dos eruditos Mayavadas. “Quem Lhe ensinou tal filosofia que justifica comer terra suja?”, ela perguntou. “Se tudo é um, porque as pessoas não comem terra, mas sim os grãos alimentícios produzidos a partir da terra?”.

Mão Saci, então, mostrou a impraticabilidade da filosofia Mayavada e expôs a visão de um Vaisnava (Vaisnava é um devoto do Senhor Visnu, ou Krsna). “Meu querido garoto”, ela disse, “se comemos terra transformada em grãos, nosso corpo é nutrido, e se torna forte. Mas se comemos terra em seu estado cru, o corpo se torna doente ao invés de saudável, e acaba sendo destruído”.

“Em um pote de barro, que é uma transformação da terra, eu posso trazer água com muita facilidade. Mas se eu derramasse água diretamente em um monte de terra, o monte absorveria a água, e meu esforço seria inútil”.

Diferente dos Mayavadis, os Vaisnavas, como mãe Saci explicou, apresentam uma realização da verdade espiritual totalmente prática e lógica. Eles também aceitam que tudo é um, mas apenas no sentido de que tudo é energia da Suprema Personalidade de Deus. Este mundo material, sendo Sua energia inferior, é una com Ele. Mas as variedades dentro dessa energia, embora temporárias, não são ilusórias. E quanto a nós, somos manifestações individuais eternas da energia espiritual superior do Senhor. Portanto, somos unos com Deus em qualidade. Mas argumentar, como fazem os Mayavadis, que somos Deus em plenitude seria simplificar de forma muito grosseira.

O Vaisnava sabe que as variedades materiais têm valor prático no serviço devocional à Pessoa Suprema. Com um pote de barro, podemos trazer água para lavar o templo, a igreja ou mesquita do Senhor (ou, no caso de mãe Saci, para banhar o Senhor diretamente). E, com arroz e outros alimentos, podemos preparar variados pratos, oferecê-los ao Senhor, e usar os remanentes da oferenda para nutrir nossos corpos e fortalecê-los para nos ocuparmos na ilimitada variedade de atividades devocionais puras.

Os Mayavadis, por outro lado, consideram o serviço devocional como ocupação dos ignorantes. “Por que servir a Deus?”, eles dizem. “Você é Deus”. Para eles, água, terra, comida, nossos corpos físicos, e todas as outras manifestações materiais são ilusórias e, portanto, destituídas de valor prático. Como vêm todas as formas e personalidades como ilusórias, eles consideram até mesmo o Senhor Supremo como ilusório. Tudo é ilusão, eles clamam, menos a filosofia idiota deles.

Nessa simples atividade infantil de comer terra – e defender tal comer – o Senhor Caitanya parodiou, e permitiu a Sua mãe derrotar, a doutrina filosófica do monismo, que representa uma séria ameaça a todas as fés religiosas que aspiram a uma relação amorosa com Deus. A filosofia Mayavada, Caitanya explicaria posteriormente, é pior do que o ateísmo, porque ela nega, com as vestes de ensinamento espiritual, a Suprema Personalidade de Deus e o valor eterno da devoção a Ele.

Todos os passatempos da infância do Senhor Caitanya são de semelhante profundidade. Já um pouco maior, Ele iria às margens do Ganges e implicaria com algumas jovens garotas que se reuniam ali. De acordo com o costume Védico, garotas entre dez e doze anos adoram o Senhor Shiva, orando para que tenham um bom esposo no futuro. O Senhor Shiva é o poderoso semideus encarregado da dissolução final do universo e é, também, um pacífico devoto da Personalidade de Deus, o Senhor Krsna. As jovens à beira do Ganges, então, oravam para que o Senhor Siva lhes desse um marido que fosse, como ele, tanto pacífico quanto poderoso.

O Senhor Caitanya sentaria com as jovens e interromperia a adoração delas, arrebatando para Si as guirlandas de flores, a pasta de sândalo, as frutas e os doces que estavam sendo oferecidos ao Senhor Shiva. “Adorem a Mim”, Ele exigiu, “e Eu lhes darei bons maridos e outros benefícios. O Senhor Shiva e sua esposa, a deusa Durga, são Meus servos subalternos”.

Com Seu comportamento jovial, o Senhor caitanya levanta um ponto importante. Há uma má compreensão por parte de alguns estudantes de religiões orientais que pensam que a tradição Védica é politeísta e que, portanto, os seguidores do movimento para a consciência de Krsna adoram vários deuses. Mas isso não é factual. Segundo a literatura Védica, todos são servos da Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Krsna. Dentro do universo, alguns dos servos mais elevados do Senhor receberam poder para se encarregarem da administração universal, e tais poderosas entidades vivas são conhecidas como semideuses. O Senhor Shiva, como já mencionamos, tem o encargo de destruir; o Senhor Brahma conduz a criação, e milhões de outros semideuses presidem os demais setores universais, como a luz solar, a água, o fogo, o vento e a chuva. Os semideuses são todos grandes devotos do Senhor, trabalhando sob Sua supervisão. Eles são controladores, assim como nós somos em certo grau, mas eles não são iguais ao controlador supremo.

No Bhagavad-gita, o Senhor Krsna afirma que aqueles que adoram os semideuses perderam a inteligência. Embora seja factual que os semideuses podem conceder benefícios materiais para seus adoradores – o Senhor Shiva, por exemplo, pode ser adorado em troca de um bom esposo – tais benefícios devem ser, em primeira instância, sancionados pelo próprio Krsna. Então, por que não adorar Krsna diretamente? Essa é a decisão inteligente a se tomar. É a isso que a literatura Védica nos incentiva a fazer, e é isso que o Senhor Supremo está pessoalmente pedindo, não apenas das jovens garotas à beira do Ganges, mas de todos nós.

Todas as entidades vivas, incluindo os semideuses, são partes e parcelas de Krsna, e, portanto, é nossa posição constitucional servir e adorá-lo. Assim o fazendo, gradualmente nos aproximamos da vida eterna e bem-aventurada na morada transcendental de Krsna. Tal benefício é um benefício ansiado até mesmo pelos semideuses, benefício este que eles não podem conceder a seus adoradores.

Em comparação com os semideuses, que controlam aspectos importantes da manifestação cósmica, os seres humanos são insignificantes e impotentes, e, assim, em certo sentido, é natural o homem adorar os semideuses. Adoramos mesmo personalidades poderosas e opulentas deste planeta, então, por que não os semideuses? Todavia, em comparação com o Senhor Krsna, mesmo grandes semideuses como o Senhor Shiva são insignificantes, uma vez que o poder deles é derivado do poder de Krsna. Se você tem apenas um dólar, mil dólares parece muito dinheiro, mas, para um multimilionário, mil dólares é apenas um trocado. Similarmente, em comparação com o Senhor Krsna, os semideuses – para não dizer dos homens poderosos deste mundo – são apenas um trocadinho.

Certo, sim, os seguidores do movimento para a consciência de Krsna acreditam nos semideuses; e oferecem a eles o devido respeito. De fato, eles oferecem respeito a todas as entidades vivas, vendo-as todas como servos do Senhor Krsna. Mas eles adoram e amam unicamente a Pessoa Suprema, seguindo Sua instrução do Bhagavad-gita de abandonarem todas as variedades de adoração e simplesmente se renderem a Ele.

Assim como no Seu passatempo de comer terra, o Senhor Caitanya, implicando com as jovens, estabeleceu um princípio religioso que se aplica a todos que desejam comprazer o Senhor Supremo e desenvolver uma relação amorosa com Ele. O Senhor Caitanya não favorece uma religião em detrimento de outra; ao contrário, Ele ensinou a eterna ciência não-sectária da realização de Deus. Da mesma forma que o estudo de ciências ordinárias é aberto para qualquer pessoa, independente de sua nacionalidade ou credo, da mesma forma, a ciência da consciência de Krsna ensinada pelo Senhor Caitanya e Seus seguidores é aberta a todos. E funciona para todos. Dois mais dois é igual a quatro, não importa sua proveniência geográfica, filosófica ou religiosa.

O Senhor Caitanya não é, portanto, uma figura sectária. Ele é, como indicam as literaturas Védicas, a Suprema Personalidade de Deus cumprindo o papel de Seu próprio devoto para nos ensinar amor por Deus. Ele é como a professora do primário, que, para instruir os novos alunos, senta-se com eles e finge estar aprendendo a escrever as letras do alfabeto.

Talvez a maneira mais fácil de entender a natureza não-sectária dos ensinamentos do Senhor Caitanya seja examinar Seu ensinamento primário, que traz que a maneira mais efetiva de se adorar a Deus nesta era de disputas e desavenças é cantando Seus santos nomes. O Senhor Caitanya cantou especialmente o mantra Hare Krsna, mas Ele ensinou que todos os nomes do Senhor mencionados nas grandes escrituras do mundo terão o mesmo efeito purificante e libertador no recitador sincero. Quem levantaria objeção contra tal instrução sublime e não-sectária? Pessoas de qualquer fé religiosa, mesmo enquanto executam suas atividades domésticas e empresariais, podem tornar suas vidas humanas perfeitas por cantarem constante e devocionalmente os nomes de Deus com os quais estejam familiarizadas.

Como uma criança, o Senhor Caitanya ensinou esse princípio-base para Sua família e vizinhos, antes mesmo de poder andar ou engatinhar. Como todas as crianças, Ele chorava e precisava de atenção constante. A atenção que o Senhor exigia, no entanto, era um tanto incomum. Não importando o que Sua mãe e as outras mulheres da vizinhança fizessem para aquietar Seu choro, Ele continuava chorando – até ouvir o cantar dos nomes de Krsna. Tão logo as mulheres cantavam, Ele ficava quietinho e olhava pra elas com Seus belos olhos, agora tranqüilos. Com o tempo, entendo o que o bebê dourado queria, as mulheres constantemente cantavam e batiam palma, fazendo da casa do Senhor, e de toda a vizinha, o espaço de um constante festival de música transcendental. Como os vizinhos do Senhor Caitanya, podemos todos aderir ao cantar dos santos nomes de Deus e, assim, recebermos o olhar misericordioso do Senhor sob nós.

por Mathuresha Dasa

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Milagre de Krishna



Um idoso mendicante, sem nenhum conhecimento do local aonde chegaria, luta incansavelmente para cumprir a ordem de seu guru. Ele tenta estabelecer o movimento da consciência de Krsna na Índia e no exterior; ele pede por ajuda para executar sua missão, mas não recebe praticamente nenhuma, nem mesmo de seus irmãos espirituais. Mas Prabhupada, como ele mesmo disse uma vez, “não é um homem que se desaponta”. Ele seguiu em frente como um guerreiro, considerando pequenas indicações como grandes oportunidades. Ele está preparado para gastar toda a sua energia para Krsna – está pronto para lutar como Arjuna, até o último suspiro.

De alguma forma, ele fez isso na América. Ele caminhou pelas nevadas ruas de Nova Iorque e andou de ônibus apenas para ver onde daria. Ele diz a um homem em um banco de praça: “Há templos e livros, eles existem, eles estão aqui, mas o tempo nos separa deles”.

Finalmente, ele atrai um pequeno grupo de jovens e, para o espanto deles, ele forma a Sociedade Internacional para a Consciência de Krsna. E logo seu pequeno grupo cresce e se torna um movimento de influência global.

Mais tarde, ele escreveria, “Quando eu estava sozinho em Nova Iorque, eu pensava, ‘Quem irá me ouvir nesta cidade horrível e pecaminosa? Mas tudo bem, eu vou ficar um pouco mais. Ao menos eu posso distribuir alguns de meus livros. Já é alguma coisa’. Mas Krsna, o tempo todo, estava preparando algo que eu não podia ver, e Ele me trouxe vocês, um por um – moças e moços americanos –, para serem treinados no serviço ao Senhor Caitanya Mahaprabhu. Agora eu posso ver que isso é um milagre. De outra forma, em sua cidade de Nova Iorque, um único homem idoso, com apenas poucos livros para serem vendidos para um público desinteressado – como ele sobreviveria? Ou pior, como ele poderia introduzir um movimento consciente de Krsna para salvar a humanidade? Foi um milagre de Krsna. Hoje posso ver que se trata de um milagre”.
por Rohininandana Dasa