sábado, 26 de janeiro de 2008

Kuruksetra – A Terra do Dharma


Guerra e atividades piedosas frequentemente caminharam juntas neste antigo campo do norte da Índia.

Kuruksetra, a cerca de centenas de quilômetros ao norte de Nova Delhi, é conhecido principalmente como o local onde a grande batalha do Mahabharata foi travada e onde Krsna falou o Bhagavad-gita. Mas muito antes desses eventos, Kuruksetra exercera um papel predominante na história e cultura da antiga Índia. Por milhares de anos, ali foi o eixo ao redor do qual a civilização Védica girou em sua grande glória. A importância religiosa de Kuruksetra é descrita em muitas escrituras, incluindo o Bhagavad-gita, o Mahabharata, e vários Upanisads e Puranas. As escrituras descrevem-no como um local de meditação e uma das moradas dos semideuses. A atmosfera de Kuruksetra continua dominada pelo canto de hinos Védicos, especialmente o Bhagavad-gita.

O primeiro verso do Gita se refere a Kuruksetra como dharma-ksetra, ou “o campo do dharma”, indicando que ele já era conhecido como um local sagrado. Hoje, pode-se encontrar muitos templos antigos e lagos sagrados em Kuruksetra, uma área de aproximadamente centenas de quilômetros quadrados entre os rios sagrados Sarasvati e Drsadvati, no estado de Haryana.

O Grande Rei Kuru

Kuruksetra, antigamente, era conhecido como Brahmaksetra, Brighuksetra, Aryavarta e Samanta Pancaka. Tornou-se conhecido posteriormente como Kuruksetra por causa do trabalho do rei Kuru.

O Mahabharata descreve como o rei Kuru, um proeminente ancestral dos Pandavas, fez daquela terra um grande centro de cultura espiritual. O rei Kuru foi até lá em uma quadriga de ouro e usou o ouro da quadriga para fazer um arado. Ele, então, pegou emprestado o touro do Senhor Siva e o búfalo de Yamaraja e começou a arar o solo. Quando Indra chegou e perguntou a Kuru o que ele fazia, Kuru respondeu que ele estava preparando a terra para plantar as oito virtudes religiosas: verdade, yoga, gentileza, pureza, caridade, perdão, austeridade e celibato.

Indra requisitou que o rei lhe pedisse alguma dádiva. Kuru pediu que aquela terra permanecesse eternamente um local de peregrinação, mesmo após sua partida, e que qualquer um que morresse ali fosse para o céu independentemente de seus pecados e virtudes. Indra riu ao ouvir tal pedido.

Intrépido, Kuru executou grandes penitências e continuou a arar. Gradualmente, Indra começou a reconsiderar seu pedido, mas os outros semideuses expressavam dúvida. Eles diziam que morte sem sacrifício não era digna de um espaço no céu. Finalmente, Kuru e Indra chegaram a um acordo: Indra aceitaria no céu qualquer um que morresse ali lutando ou executando penitência. Assim, Kuruksetra se tornou tanto um campo de batalha quanto uma terra piedosa.

A Batalha do Mahabharata

Quando os Pandavas clamaram de Dhrtarastra e de seus filhos, os Kauravas, a sua parte legítima do reino de Pandu, foi-lhes dada a floresta Khandava, localizada ao sul do reino de Kuru. Lá, eles construíram uma cidade magnífica chamada Indraprastha, localizada onde hoje é Delhi. Os Kauravas mantiveram Hastinapura, situada ao norte de Delhi, como sua capital.

Mais tarde, os Pandavas foram exiladas por treze anos após a derrota de Yudhisthira em um jogo de dados. Após o cumprimento do exílio, os Pandavas exigiram a devolução do reino que lhes cabia. Como representante dos Pandavas, o Senhor Krsna foi até Duryodhana, o Kaurava mais velho, e pediu humildemente por cinco vilas para os cinco Pandavas. Mas o orgulhoso Duryodhana se recusou a ceder qualquer terra. "Não darei a eles sequer a quantia de terra que cabe na cabeça de um alfinete", ele disse.

Naquele momento, a guerra se fez inevitável, e os Kauravas e os Pandavas decidiram lutar em Kuruksetra porque ali abundava água e lenha e era espaçoso e inabitado.

Os Pandavas ganharam a batalha de Kuruksetra, que durou apenas dezoito dias.

O Nascimento do Gita

A batalha de Kuruksetra começou no dia conhecido como Moksada Ekadasi. (Ekadasi é o décimo primeiro dia tanto da lua crescente quanto da lua minguante, e moksada significa "aquele que concede liberação"). Naquele dia, Krsna iluminou Arjuna com o conhecimento do Bhagavad-gita, liberando-o. Atualmente, todo ano neste dia - considerado o aniversário do Bhagavad-gita - festivais em homenagem ao Gita são realizados em Kuruksetra e em vários outros locais da Índia.

O grande festival de Jyotisar, o local onde o Gita foi falado, é organizado como um ofício do governo, com ministros e governadores presidindo o evento. Coincidentemente, é também a época da Maratona Anual da ISKCON de distribuição dos livros de Prabhupada, quando os devotos distribuem centenas e milhares de cópias do Bhagavad-gita Como Ele É de Srila Prabhupada por toda a Índia e ao redor do mundo.

Kuruksetra e o Rathayatra

Certa vez, quando Krsna Se preparava para ir a Kuruksetra no momento do eclipse solar, Ele convidou as gopis (vaqueirinhas) e outros residentes de Vrndavana para encontrarem- se com Ele em Kuruksetra. Quando Ele deixou Vrndavana em Sua mocidade, Ele prometera voltar muito em breve. Mas ele ficou longe por um longo período (cerca de cem anos), então, motivados por intenso amor espiritual, os residentes de Vrndavana sempre sentiam saudade transcendental e o extático desejo de vê-lO novamente.

Os residentes de Dvaraka (a cidade majestosa) chegaram a Kuruksetra em opulentas quadrigas; os residentes de Vrndavana (uma simples vila de vaqueiros), em carros de boi. Porque as famílias de Vrndavana e de Dvaraka eram relacionadas, uma reunião muito prazerosa aconteceu.

De todos os residentes de Vrndavana, a líder das gopis, Srimati Radharani, havia sentido as dores da separação de Krsna mais do que qualquer outro. Ela e as outras gopis estavam determinadas a levar Krsna de volta a Vrndavana. A reciprocidade amorosa entre Krsna e as gopis em Kukuksetra é o significado esotérico por trás do festival conhecido como Rathayatra. Assim, sempre que os devotos Hare Krsna realizam Rathayatras em qualquer cidade ao redor do mundo, eles estão proclamando as glórias eternas de Kuruksetra.
p/ Lokanath Svami
Tradução por Bhagavan dasa

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