terça-feira, 27 de novembro de 2007

A Apreciação de Srila Prabhupada a Ramanujacarya (2)


Verdades Eternas
Todos os acaryas Vaisnavas concordam nesse ponto, 35
35 “Não há, portanto, diferentes conclusões entre os acaryas Vaisnavas no que diz respeito ao Senhor e aos devotos. O Senhor Caitanya estabelece que a entidade vida (jiva) é eternamente o servo do Senhor e que ele é simultaneamente uno e diferente do Senhor. Esse tattva do Senhor Caitanya é compartilhado por todas as quatro sampradayas da escola Vaisnava (todos aceitam o serviço ao Senhor como eterno, mesmo após a salvação), e não há acarya Vaisnava autorizado que pense que ele e o Senhor são idênticos”. [VedaBase: Srimad-Bhagavatam 2.4.21]
, e Sri Ramanujacarya lhes deu uma forte fundamentação escritural e lógica. Srila Prabhupada apreciou esse feito de erudição; enquanto que considerou os ensinamentos de Adi Sankaracarya como “necessários em determinado momento, mas não um fato permanente 36
36 VedaBase: ESC 20: O Objetivo do Estudo do Vedanta
“. Ele tratou os ensinamentos de Sri Ramanujacarya como verdades eternas a serem minuciosamente estudadas 37
37 VedaBase: Conversation with Indian Guests – 12 de abril de 1975, Hyderabad.
: “Um Vaisnava deve estudar os comentários ao Vedanta-sutra escritos pelos acaryas das quatro sampradayas – Sri Ramanujacarya, Madhvacarya, Visnu Svami e Nimbarka – porque esses comentários se baseiam na filosofia de que o Senhor é o mestre e todas as entidades vivas são Seus servos eternos. Uma pessoa interessada em estudar a filosofia Vedanta, apropriadamente, deve estudar esses comentários, especialmente se essa pessoa for um Vaisnava. Esses comentários são sempre muito apreciados pelos Vaisnavas”.
A apreciação de Srila Prabhupada a Sri Ramanujacarya era também fundamentada em bases pragmáticas. A Madhva-Gaudiya- sampradaya afirma ser o Srimad-Bhagavatam o comentário perfeito ao Vedanta Sutra e aos Upanisads. Assim, não haveria necessidade do estudo de outros comentários. 38
38 Até onde nos diz respeito, Madhva-Gaudiya Sampradaya, nossos acaryas aceitam o Srimad-Bhagavatam como o comentário perfeito ao Brahma-sutra. Bhashyam brahma-sutranam vedartha-paribrimhi tam. Esse Srimad-Bhagavatam é o verdadeiro bhashya do Brahma-sutra [...] O Srimad-Bhagavatam também é escrito por Vyasadeva, e Vyasadeva é o autor original do Brahma-sutra. Então, tendo o autor comentado sua própria obra, não haveria necessidade de outro comentário. Esse é o siddhanta Gaudiya, o siddhanta Gaudiya-Vaisnava” . [VedaBase: Bhagavad-gita 13.8-12 – 30 de setembro de 1973, Bombaim].
Todavia, Srila Prabhupada não era como vários sadhus ou babajis que ficam satisfeitos com sua iluminação pessoal. Ele era um missionário que entendia que um sucesso duradouro dependeria da obtenção de credibilidade para o seu movimento. Considere a seguinte referência de Srila Prabhupada a um famoso acontecimento histórico 39
39 Agradeço a Sua Santidade Vedavyasapriya Maharaja por chamar minha atenção para essa história.
: “Mas, algumas vezes, em Jaipur, eram lançados desafios, ‘A Gaudiya-sampradaya não tem um comentário ao Vedanta-sutra’. Então, procurou-se Visvanatha Cakravarti Thakura [para que ele escrevesse o comentário Gaudiya] ... porque ele era um grande erudito, um erudito já de idade, que vivia naquela época em Vrndavana ... Ele já era idoso; então ele autorizou Baladeva Vidyabhushana, ‘faça o comentário’. Não havia nenhuma necessidade, mas as pessoas estavam exigindo: ‘onde está seu comentário ao Vedanta-sutra?’. Então, Baladeva Vidyabhusana, com a ordem de Govindaji de Jaipur, escreveu o comentário ao Brahma-sutra. Seu nome é Govinda-bhashya. Assim, a Gaudiya-Brahma- sampradaya passou a também ter seu comentário ao Brahma-sutra. Foi necessário”. [Carta – 30 de setembro de 1973, Bombaim] 40
40 Comentários ao Bhagavad-gita 13.8-12
As principais autoridades de Jaipur eram os Ramanandis (um desdobramento da sampradaya Sri Vaisnava no norte da Índia) 41
41 A relação entre os Ramanandis e a sampradaya Sri Vaisnava é complexa, ou até mesmo ambígua. Alguns relatos escritos dos Ramanandis traçam uma conexão entre a sampradaya Sri Vaisnava e a Sri Ramananda, embora alguns Ramanandis posteriores (embora continuem prezando Sri Ramanujacarya) afirmam serem de uma tradição espiritual independente. No tempo de Baladeva Vidyabhusana, tal divisão dentro dos Ramanandis era, provavelmente, institucionalizada.
Para uma discussão detalhada sobre esse assunto: WILLIAM, R. Pinch. Of saints and simple people, Peasants and Monks in British India. Oxford University Press, Nova Delhi.
, e Sri Baladeva (começo do século dezoito) percebeu a importância estratégica de ter a aprovação deles. O brilhante comentário de Sri Baladeva foi tão estimado pelos examinadores Ramanandis que lhe presentearam com o título de Vidyabhusana: “adornado com sabedoria”. Eles até quiseram tornar-se seus discípulos; mas Sri Baladeva Vidyabhushana recusou. Ele aclamou a sampradaya de Ramanujacarya como a pioneira em dasya-bhakti (servidão amorosa), e considerou inapropriado que o Ramanandis abandonassem tal herança gloriosa. 42
42 Esses eventos são narrados no site iskcon.com: About Sri Baladeva Vidyabhusana.
Ortodoxia da ISKCON
Srila Prabhupada dedicou sua primeira grande obra – seu comentário ao Bhagavad-gita 43
43 Veja a dedicação na edição de 1972 da MacMillan
- a Sri Baladeva Vidyabhushana. Srila Prabhupada, assim, também estabelecia a autoridade da Madhva-Gaudiya- sampradaya (agora no ocidente), atestando que sua Sociedade Internacional para a Consciência de Krsna (ISKCON) não se tratava de um novo culto, mas de um movimento ortodoxo. Srila Prabhupada também demonstrou exemplar humildade insistindo que não estava tendo superar os grandiosos mestres do passado, mas queria apenas trazer a tona seus ensinamentos:
Dr. Patel: Senhor, eu li seu comentário ao Bhagavad-gita e o de Ramanujacarya. Eles são similares.
Prabhupada: Sim. Dr. Patel: Eu acho que você tirou o seu dali… (risos) Prabhupada: Como eu poderia… Dr. Patel: Estou brincando. Prabhupada: Não, não. Nosso processo é pegar dos acaryas. Nós não estamos criando nada. Nós não somos patifes e tolos que criam coisas. Nós apenas pegamos os remanentes dos acarya e explicamos de forma que as pessoas modernas possam entender... É isso que fazemos.
Dr. Patel: São idênticos. Prabhupada: Sim.… Se são idênticos, sou bem-sucedido. [3 de novembro de 1975, Bombaim] 44
44 VedaBase: Morning Walk – 3 de novembro de 1975, Bombaim.
Vide também: “Nosso movimento é aprovado por todos os grandes acaryas da Índia. Ramanujacarya, Madhvacarya, o Senhor Caitanya, e muitos outros”. [VedaBase: What Is a Guru?]
Vide também VedaBase, Madhya 25.26; e VedaBase, Srimad-Bhagavatam 1.2.34 – 13 de novembro de 1972, Vrndavana.
Similaridades e Diferenças
Não restam dúvidas que existem algumas diferenças entre as sampradayas Sri Vaisnava e a Madhva-Gaudiya. Sri Vaisnavas acreditam que Sriman Narayana é a Pessoa Suprema e a origem de todas as encarnações; Madhva-Gaudiyas defendem que Sri Krsna é o Supremo, e que Sriman Narayana e os demais são suas encarnações. 45
45 Vide Sri Brahma-samhita 5.39. Considere também:
“Essa afirmação do Srimad-Bhagavatam (1.3.28) nega definitivamente o conceito de que Sri Krsna é um avatara de Visnu ou Narayana. O Senhor Sri Krsna é a original Personalidade de Deus, a suprema causa de todas as causas. Esse verso indica claramente que as encarnações da Personalidade de Deus, tais como Sri Rama, Nrsimha e Varaha são todas, indubitavelmente, pertencentes ao grupo de Visnu, mas todas Elas são ou porções plenárias ou porções de porções plenárias da original Personalidade de Deus, o Senhor Sri Krsna” [VedaBase: Caitanya-caritamrta , Adi-lila 2.67]
Portanto, Madhva Gaudiyas (a) preferem adoram Radha-Krsna a Sriman Narayana, 46
46 Comentário ao Srimad-Bhagavatam 7.9.18 – 25 de fevereiro de 1976, Mayapur.
(b) consideram Goloka Vrndavana, e não Vaikuntha, como o planeta mais elevado 47
47 Vide Sri Brahma-samhita 5.43. Considere também:
Yasodanandana: Nas outras sampradayas Vaisnavas, como a Madhva-sampradaya e a Ramanuja-sampradaya , eles não entendem que Krsna tem Seu próprio planeta, Goloka Vrndavana. Eles pensam que existe apenas Vaikuntha e nada mais.
Prabhupada: O conhecimento deles é imperfeito. No Brahma-samhita está declarado: goloka-namni nija-dhamni tale cha tasya [Bs. 5.43].
, e (c) consideram certos humores devocionais acessíveis apenas através de sua sucessão discipular 48
48 Tamala Krsna: Só para pegar o ponto de Maharaja Acyutananda, parece, então, que os Ramanujis e os Madhvites não aceitam Caitanya Mahaprabhu como a Suprema Personalidade de Deus. Então, como eles podem...
Prabhupada: Então eles não podem entender as rasas superiores [VedaBase: Conversation with Devotees – 31 de março de 1975, Mayapur.
. Há também interessantes episódios com “discussões” entre Sri Vaisnavas e Vaisnavas da Madhva-Gaudiya. Todavia, Srila Prabhupada participava de tais diálogos com grande sensibilidade e respeito mútuo. 49
49 Destaque para a conversão de Venkata Bhatta por Caitanya Mahaprabhu; vide Sri Caitanya-caritamrta , Madhya-lila, capítulo 9.
Sem comprometer sua fidelidade aos princípios peculiares à Madhva-Gaudiya- sampradaya, ele sempre frisava a unidade:
“Todas trazem a mesma conclusão. Os acaryas Vaisnavas, assim como nosso Ramanujacarya, Madhvacarya e Nimbarka, e [...] Visnusvami. Eles são todos do mesmo movimento”. (Carta datada de 19 de fevereiro de 1976, Mayapur)
“Não há diferença. Isso é Vaisnavismo. Todos os Vaisnavas entendem que Visnu é o Supremo. Às vezes acontecem coisas como entender Krsna como uma encarnação de Visnu, e às vezes entender Visnu como uma encarnação de Krsna. Isso são sampradayas... Mas seja como Krsna, seja como Visnu, Ele é o Supremo, isso é aceito por todas”. (DataBase: Discussion. 6 de maio de 1975, Perth)
“Na sampradaya Vaisnava, alguns devotos adoram Radha-Krsna, e outros adoram Sita-Rama e Laksmi Narayana. Alguns também adoram Rukmini-Krsna. Todos esses casais são o mesmo casal, e todos os devotos são Vaisnavas. Se se canta Hare Krsna ou Hare Rama, isso não é importante. A adoração aos semideus, todavia, não é recomendada”. (Ensinamentos do Senhor Kapila, verso 44)
“No verso 154 [Caitanya-caritamrta, Madya-lila, capítulo 9], Sri Caitanya Mahaprabhu deixou isso de forma bem clara: ishvaratve bheda manile haya aparadha. ‘É ofensivo fazer distinção entre as formas do Senhor”. (Caitanya-caritamrt a, Madya-lila, 9.155, significado) .
Tomando uma visão panorâmica, fica claro que o respeito de Srila Prabhupada por Sri Ramanujacarya era intelectual, afetuoso e profundo. Srila Prabhupada, em suas aulas e significados autorizados, citou Sri Ramanujacarya centenas de vezes. Aqui estão alguns exemplos: quando explicando termos-chaves como sanatana dharma 50
50 VedaBase: Bhagavad-gita, Introdução
, bhakti-vedanta 51
51 VedaBase: Narada Bhakti Sutra 29
, e asura 52
52 VedaBase: Bhagavad-gita 7.1 – 14 de fevereiro de 1972, Madras; VedaBase: Sri Caitanya-caritamrta , Madhya-lila 20.353-354 – 26 de dezembro de 1966, Nova Iorque.
, ou o conceito único do Pancha-tattva da Madhva-Gaudiya- sampradaya 53
53 VedaBase: Caitanya-caritamrta , Adi-lila, Introdução
; definindo vida humana como a busca pela verdade Absolua, 54
54 VedaBase: Jacques Maritain
ou fornecendo uma perspectiva correta para o varnashrama- dharma 55
55 VedaBase: Srimad-Bhagavatam 5.19.19
; explicando como essa criação é real e una com Deus, e ao mesmo tempo subordinada a Ele 56
56: Ensinamentos do Senhor Caitanya, 20: O Objetivo do Estudo do Vedanta e Adi-lila 7.122
e Sua eterna propriedade 57
57 VedaBase: Srimad-Bhagavatam 11.12.20
; grifando que a pluralidade de almas é um fato eterno 58
58 VedaBase: Bhagavad-gita 2.8-12 — 27 de novembro de 1968, Los Angeles.
; enfatizando a natureza real e transcendental da personalidade, forma e passatempos do Senhor 59
59 VedaBase: Caitanya-caritamrta , Adi-lila 7.110 e Stotra-ratna 12, VedaBase: Bg 7.24
; embasando a relevância singular do conhecimento escritural 60
60 VedaBase: Caitanya-caritamrta , Madhya-lila 6.135
; falando sobre a meticulosa citação de textos Vedânticos 61
61 “Você vê o comentário de Ramanujacarya ao Bhagavad-gita. Nada mudou. Mas, em cada shloka, ele traz evidências dos Vedas, dos Upanisad. Um acarya nunca muda”. [VedaBase: Interview with Professors O’Connell, Motilal e Shivaram – 18 de junho de 1976, Toronto].
Vide também VedaBase: Room Conversation – 19 de janeiro de 1976, Mayapur; VedaBase: Interview with Professors O’Connell, Motilal and Shivaram — 18 de junho de 1976, Toronto; VedaBase: Evening Darshana, 6 de julho de 1976, Washington, D.F.
; reconhecendo grandes autoridades do Vedanta 62
62 VedaBase: Caitanya-caritamrta , Adi-lila 10.105
; dando exemplo de habilidades polêmicas 63
63 “Dentre os Vaisnavas, ele foi o maior acarya, Ramanujacarya. .. Ainda hoje, no sul da Índia, os Mayavadis e os Ramanujas têm encontros para discussões, e os Mayavadis são sempre derrotados”. [VedaBase: Morning Walk —20 de novembro de 1975, Bombaim. Vide também VedaBase: Krsna, a Suprema Personalidade de Deus 88: A Liberação do Senhor Shiva; VedaBase: Carta a Atreya Rsi — 26 de janeiro de 1972, Nairobi]
; proclamando que, em última instância, todas as escrituras glorificam a Pessoa Suprema 64
64 VedaBase: Srimad-Bhagavatam 10.82.29-30
; exaltando a natureza doce do serviço devocional 65
65 VedaBase: Caitanya-caritamrta , Madhya-lila 8.57
; enfatizando que o serviço a Deus continua após a liberação 66
66 VedaBase: Srimad-Bhagavatam 6.10.11
; ilustrando o poder transformador da castidade feminina 67
67 VedaBase: Bhagavad-gita 1.40 — 28 de julho de 1973, Londres
; afirmando haver completa aversão pelo prazer material após se provar bem-aventuranç a espiritual 68
68 VedaBase: Bhagavad-gita 16.10 — 6 de fevereiro de 1975, Havaí; VedaBase: Srimad-Bhagavatam 1.5.12-13 — 11 de junho de 1969, New Vrndaban.
; indicando o caráter imaculado da moral Vaisnava 69
69 VedaBase: Srimad-Bhagavatam 7.9.52 — 7 de abril de 1976, Vrndavana
, a necessidade de vairagya 70
70 VedaBase: Srimad-Bhagavatam 5.5.1-2 — 7 de setembro de 1973, Stockholm
ou a audácia necessária no serviço devocional 71
71 VedaBase: Srimad-Bhagavatam 1.2.5 — 16 de outubro de 1972, Vrndavana
; justificando a transcendência ao sistema de castas 72
72 VedaBase: Bhagavad-gita 2.26 — 30 de novembro de 1972, Hyderabad; VedaBase: Srimad-Bhagavatam 4.8.54
; exemplificando a distribuição liberal dos santos nomes como ápice da compaixão 73
73 VedaBase: Bhagavad-gita 6.25-29 —18 de fevereiro1969, Los Angeles; VedaBase: Bhagavad-gita 18.67-69 — 9 de dezembro de 1972, Ahmedabad; VedaBase: Srimad-Bhagavatam 4.22.11; VedaBase: Madhya 7.130; VedaBase: Path of Perfection 5: Determination and Steadiness in Yoga; VedaBase: Srimad-Bhagavatam 1.2.11 — 26 de abril de 1974, Tirupati; VedaBase: Room Conversation With John Lennon, Yoko Ono, and George Harrison — 11 de setembro de 1969, Londres, em Tittenhurst; VedaBase: Carta a Satsvarupa — 14 de novembro de 1968, Los Angeles.
; justificando a necessidade de templos 74
74 VedaBase: Srimad-Bhagavatam 7.15.21; VedaBase: Bhagavad-gita 13.15 — 9 de outubro de 1973, Bombaim; VedaBase: Srimad-Bhagavatam 3.26.4 — 16 de dezembro de 1974, Bombaim.
; glorificando o poder da pregação 75
75 VedaBase: Srimad-Bhagavatam 4.28.30
ou exaltando proezas espirituais 76
76 VedaBase: Srimad-Bhagavatam 4.21.33
. Mesmo quando explicava a seus discípulos como proceder com a tradução de seu querido Srimad-Bhagavatam 77
77 “Viraraghavacarya [um acarya Sri Vaisnava], Sanatana Gosvami, Visvanatha Cakravarti. Nós estamos apenas tentando explicar suas idéias. Nós somos muito pequenos”. [VedaBase: Room Conversation About 10th Canto – 16 de outubro de 1977, Vrndavana].
, mesmo nesse mais íntimo serviço, Srila Prabhupada considera Sri Ramanujacarya um valioso aliado. É raro encontrar, em qualquer era ou lugar, tal magnanimidade em um grande erudito.
Com escrupulosa etiqueta, Srila Prabhupada sempre reconheceu a contribuição de outras sampradayas, seja em nível filosófico, social, pessoal ou institucional. Mesmo enquanto líder sem concorrentes de um movimento mundial, ele permaneceu humilde e sempre atento às qualidades dos outros. Sua vida foi exemplar. Isso não se baseia apenas em sua pureza de coração, mas também no seu reconhecimento de si mesmo como um embaixador. Srila Prabhupada via a si mesmo como o candelabro que serviria de suporte para Sri Ramanujacarya, Madhvacarya, Sri Caitanya Mahaprabhu, e outros archotes espirituais. Ele não deixaria, e não deixou, nenhum de seus seguidores ou ilustres predecessores ficarem apagados.
Uma Comparação Salutar
Em seu significado ao Caitanya Caritamrta, Adi-lila 7.128, Srila Prabhupada escreve: “Os argumentos de Sankara, que são os dentes da filosofia Mayavadi, são sempre quebrados pelos argumentos dos filósofos Vaisnavas, como os de Ramanujacarya. Sripada Ramanujacarya e Madhvacarya quebram os dentes dos filósofos Mayavadis, que podem, portanto, ser chamados de Vidantis, ‘desdentados’”.
Há muito, muito tempo atrás, o que era o berço da cultura Védica se tornou a morada do ateísmo. As pessoas não acreditavam mais em Deus, na alma imortal, ou nos Vedas. Adi Sankaracarya formulou, então, a filosofia Advaita com o objetivo de deter essa degradação. A filosofia Advaita cumpriu bem sua função, e as pessoas estava de volta no caminho Vedântico: havia, novamente, um Ser Espiritual Supremo e Transcendental, a alma era imortal, e os Vedas e Upanisads ganharam novamente autoridade.
Todavia, o gênio acabou se tornando maior que a lâmpada. O comentário de Adi Sankaracarya a neti neti, tat tvam asi e aham brahmasmi se tornou os três dentes do gênio, agora conhecido como Mayavada. Ao invés de ser o precursor do teísmo devocional, a filosofia Mayavada se tornou seu inimigo.
Sri Ramanujacarya, com a maça de seu Sri-bhashya, quebrou os três dentes da filosofia Mayavada e proclamou a era de ouro do Vaisnavismo. Aqueles que vieram após Sri Ramanujacarya, como Madhvacarya, Nimbarka Svami, Vallabhacarya e Sri Caitanya Mahaprabhu, distribuíram a devoção ao longo daquela terra.
A filosofia Mayavada caíra, mas não morrera. Por séculos ela ficou caída, lambendo as próprias feridas. Gradualmente, seus dentes renasceram mais afiados do que nunca, agora, com o suporte de diversas doutrinas não encontradas nos trabalhos originais de Adi Sankaracarya. Com o advento do colonialismo e do transporte moderno, o mundo estava se tornando uma vila global. A filosofia Mayavada viu alguma esperança nos pastos frescos, nas vilas virgens. Trazendo à vida uma tropa de gurus freelancers, a filosofia Mayavada se apresentou mundialmente como o Vedanta.
Assim, quando a filosofia Mayavada estava encontrando grande prazer: nasce um homem – um homem tão destemido quanto gentil. Armado com as obras de grandes acaryas Vaisnavas, ele perseguiu a filosofia Mayavada e provou ser ela uma grande farsa. Primeiro a América, então a Europa, África, Rússia, Austrália – em todos os lugares as pessoas foram levadas de volta ao Supremo. Talvez lhe tenha sido especialmente gratificante, junto com a ascensão mundial do Vaisnavismo, os indianos reencontrem suas próprias raízes devocionais. Por fim, ele voltou para sua amada Vrndavana, adorado por devotos de Krsna de todas as raças, cores, idades e berços – uma verdadeira Nação Unida.
O que Sri Ramanujacarya deu início no começo do milênio, Srila Prabhupada concretizou em seu final. Sri Ramanujacarya derrotou a filosofia Mayavada na Índia; Srila Prabhupada a derrotou no mundo inteiro. Sri Ramanujacarya contou com um batalhão de incansáveis Vaisnavas; Srila Prabhupada começou sozinho, sem a ajuda sequer de seus irmãos espirituais. Sri Ramanujacarya cantou bem alto os santos nomes da torre de um templo; Srila Prabhupada cantou nos subúrbios de Nova Iorque. Sri Ramanujacarya pregou para aqueles que acreditavam no athato brahma-jijnasa (Vedanta-sutra 1.1.1) 78
78 Vedanta-sutra 1.1.1
: insatisfeito com a religiosidade ritualística, pregou a busca pela espiritualidade genuína; Srila Prabhupada pregou para todos – mesmo vagabundos, drogados e mulherengos – athato brahma-jijnasa: vocês já experimentaram de tudo, agora experimentem Krsna. Sri Ramanujacarya deixou bem claro que o propósito de sua filosofia era desenvolver devoção pelo Senhor; Srila Prabhupada era a própria personificação de Bhakti e do Vedanta 79
79 O título “Bhaktivedanta” foi dado a Srila Prabhupada no ano de 1947 pela Gaudiya Vaisnava Society.
. Sri Ramanujacarya construiu uma fundação na qual todos os Vaisnavas podem se apoiar; Srila Prabhupada construiu uma sociedade na qual todos podem viver.

p/ Dr. A.D. Srirangapriya Ramanujadasan
Tradução por Bhagavan dasa (DvS)

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

A Apreciação de Srila Prabhupada a Ramanujacarya


“Encontramos excelente abrigo nos pés de lótus de Sri Ramanujacarya porque seus pés de lótus são a mais poderosa fortaleza no combate à filosofia Mayavadi”. (Carta de Srila Prabhupada datada de 22 de novembro de 1974)
Srila Prabhupada é o pioneiro e o mais proeminente entre os atuais representantes da Madhava-Gaudiya Vaisnava Sampradaya (escola). Sri Ramanujacarya (1017-1137) era integrante da Sri Vaisnava Sampradaya. Por que, então, Srila Prabhupada reverencia Sri Ramanujacarya? Ademais, na atual Era das Desavenças, o que a atitude de Srila Prabhupada perante Sri Ramanujacarya nos ensina acerca de união e etiqueta?
Primeiramente, embora Srila Prabhupada não fosse um teólogo pós-modernista, que ensinou “tudo dará no mesmo”, ele não era sectarista. Ele afirmou que Deus é a Pessoa Suprema e que nós somos seus servos eternos. Ele apreciava tal sentimento fosse ele expresso no Judaísmo, no Cristianismo, no Islamismo ou mesmo em termos existenciais. 1
1 “O processo empreendido na busca talvez seja diferente de acordo com o país ou com o clima, mas se a meta última é Deus, então esse processo é aceito como religião. Na religião cristã, eles estão buscando por Deus sob as diretrizes de Jesus Cristo, que disse: ‘Ame a Deus’. Ele mesmo se apresentava como filho de Deus. Muhammadan, Maomé, também se apresentava como servo de Deus. Assim, todos são aceitos”. [VedaBase: Srimad-Bhagavatam 6.1.40 – Surat, 22 de dezembro de 1970]
Vide também VedaBase: Room Conversation with devotees about Twelfth Canto Kali-yuga e Conversation with Guests – 15 de junho de 1974, Paris; VedaBase: Soren Aabye Kierkegaard.
Daí ele naturalmente apreciar as diferentes religiões dentro do prisma de sua própria tradição Védica.
Dentro da gama de crenças conhecida como Hinduísmo, todavia, Srila Prabhupada teceu uma distinção fundamental entre o posicionamento Mayavada e o Vaisnava.

2 “Há, portanto, duas sampradayas: a sampradaya Mayavadi e a sampradaya Vaisnava”. [VedaBase: Srimad-Bhagavatam 3.25.4 – 4 de novembro de 1974, Bombaim].
“Sri Caitanya Mahaprabhu então disse: mayavadi bhashya sunile haya sarva nasa. Mayavadi bhasya se refere ao comentário de Sankara ao Brahma-sutra, o Shariraka-bhashya. Se você ouvir o Shariraka-bhasya você será amaldiçoado, e viverá uma vida sem Deus. Por isso, tal comentário foi proibido por Caitanya Mahaprabhu. Todas as sampradayas Vaisnavas – Ramanuja Sampradaya, Madhvacarya Sampradaya, todas – discordam do comentário Sariraka-bhasya de Sankaracarya ao Brahma-sutra” . [VedaBase: Bhagavad-gita 13.8-12 – 30 de setembro de 1973, Bombaim]
Vide também: VedaBase: Spiritual Master and Disciple: The Qualifications and Characteristics of the Spiritual Master.
VedaBase: Srimad-Bhagavatam 5.5.2 — 11 de abril de 1975, Hyderabad.
VedaBase: Answers to a Questionnaire from Bhavan’s Journal — 28 de junho de 1976, Vrindavana.
VedaBase: A Perfeição da Renúncia 3.2.
VedaBase: Lecture on Science of Krishna — Hyderabad, April 14, 1975
VedaBase: Room Conversation With John Lennon, Yoko Ono, and George Harrison —11 de setembro de 1969, Londres, em Tittenhurst.
Mayavada é o nome popularmente atribuído à filosofia Advaita (monismo absoluto) de Adi Sankaracarya (788-820), e Mayavadis se refere a seus seguidores.
A Filosofia de Adi Sankaracarya
Enquanto Srila Prabhupada era altamente crítico à filosofia Mayavada 3
3 “Caitanya Mahaprabhu diz que a filosofia de Buddha é indubitavelmente ateísmo, mas a filosofia de Sankara é um ateísmo muito perigoso, pois ele aceita o Vedanta e prega o ateísmo. Ele de alguma forma aceita... Usando o Vedanta, ele prega o ateísmo. Por isso eles [os mayavadis] são mais perigosos”. [VedaBase: Sri Caitanya Caritamrta, Adi-lila 7.109-114 – 20 de fevereiro de 1967, São Francisco]. (Caitanya Mahaprabhu é aceito pela Madhva-Gaudiya Vaisnava-sampradaya como o próprio Deus em Sua encarnação mais perfeita e completa).
Para uma elaboração acerca do posicionamento de Srila Prabhupada, vide: VedaBase: Ensinamentos do Senhor Caitanya, Capítulo 25.
Ele reconhecia os significativos méritos da missão de Adi Sankaracarya. A Índia Medieval se sujeitou à influência do Budismo; e a fé no Ser Supremo, na alma imortal, e nos Vedas, Upanisads e no Bhagavad-gita tornou-se fraca. Felizmente, Adi Sankaracarya reviveu a fé popular nestes conceitos. Infelizmente, sua filosofia minou os fundamentos do teísmo devocional.
A filosofia de Adi Shankaracarya priorizava três frases dos Upanisads: neti neti (Candogya Upanisad 1.6.1), tat tvam asi (Candogya Upanisad 6.8.7), e aham brahmasmi (Brihadaranyaka Upanisad 1.4.10). Sua interpretação dessas frases é encontrada em seu Sariraka-bhasya.
De acordo com ele, neti neti (“não isso, não isso”) significa que o universo físico, a pluralidade de almas individuais, bem como um Deus pessoal, são ilusórios. A realidade última é destituída de atributos e características (nirguna ou nirvishesha Brahman) 4
4 Adi Sankaracarya cita os seguintes versos para fundamentar sua afirmação: Mukunda Upanisad 1.1.6, Brhadaranyaka Upanisad 3.8.8, Svetasvatara Upanisad 4.11 e 4.19.
Todas as representações de Deus com personalidade, forma e passatempos (saguna Brahman ou isvara), embora essenciais para a fé de neófitos, são, em última instância, ilusões a serem transcendidas. 5
5 Esta é a teoria de duas vias de Adi Sankaracarya de um Brahman superior (nirguna) e um inferior (saguna), baseada em sua interpretação do verso 3.2.11 do Vedanta-sutra: na sthanato’pi parasya ubhayalingam sarvatra hi. Adi Shankaracharya relega todas as referências escriturais a saguna Brahman a um status inferior [Vide comentários de Adi Sankaracarya aos: Brihadaranyaka Upanishad 2.3.1; Katha Upanishad 3.15; Vedanta-sutra 2.1.27, Vedanta-sutra 2.11.14-20, Vedanta-sutra 3.2.14; Chandogya Upanishad 8.1.5, Chandogya Upanishad 8.3.2; Svetasvatara Upanishad 4.10, Svetasvatara Upanishad 6.11 e 6.16; Taittiriya Brahmana 2.8.9]. De acordo com Adi Sankaracarya, ajnana ou avidya projetam sobre o nirguna Brahman o (irreal) mundo das aparências, por exemplo:
(a) Nirguna Brahman + avidya = Um Deus pessoal (saguna Brahman ou isvara), a pluralidade de almas e o universo físico.
(b) Um Deus pessoal, a pluralidade de almas, o universo físico = uma ilusão para ser transcendida [Vide comentário de Adi Sankaracarya ao Chandogya Upanisad 6.1.4].
Uma vez que avidya e ajnana são sinônimos de maya (poder ilusório), a teoria de Adi Sankaracarya tornou-se conhecida, posteriormente, como “Mayavada”.
Adi Sankaracarya também cita o Chandogya Upanisad 6.2.1: sad eva saumya, idam agra asid, ekam eva advitiyam: “No começo (antes do universo se manifestar) havia o Ser sozinho, um único, sem outro”. Adi Sankaracarya afirma que isso prova por fim que apenas o Brahman sem forma e atributos (nirguna) é real. Tudo o mais (inclusive o saguna Brahman) não teriam existência real.
Sri Ramanujacarya refuta a teoria de duas vias de Adi Sankaracarya afirmando que a interpretação do verso sthanato’pi parasya ubhayalingam sarvatra hi dada por Sankaracarya para fundamentar sua teoria não tem suporte das escrituras. Ademais, a palavra ubhayalingam deveria ser aceita em seu sentido literal de que o Brahman tem dois conjuntos de características: (i) ser livre do mal e da imperfeição (nirdoshatva) e (ii) possuir inumeráveis qualidades auspiciosas (kalyanagunatmakatv a). Sri Ramanujacarya cita o paradigmático verso 8.1.5 do Chandogya Upanisad, no qual o Brahman é claramente descrito como livre do mal (apahatapapma), da aflição (vishoka), etc., e como sendo possuidor de atributos de personalidade tais como ser aquele “cujos desejos são auto-satisfeitos” e aquele “cujos desejos sempre se realizam”. (satyakama, satyasamkalpa) .
Em relação a sad eva saumya, idam agra asid, ekam eva advitiyam, Sri Ramanujacarya aceita o significado literal. No começo, só havia o Brahman; ele criou a partir de si mesmo este universo (real), pois não havia nada mais que ele pudesse ter usado. Isso é confirmado pelo Taittiriya Brahmana (2.8.9.6):
kimsvid vanam ka u sa vriksha assetyato dyava-prithivi nishtatakshunmanishino manasa pricchataitatyad adhyatishthad bhuvanani dharayan
brahma vanam brahma sa vriksha asityato dyava-prithivi nishtatakshunmanishino manasa prabravimi vo brahmadhyatishthad bhuvanani dharayan
Assim, para Sri Ramanujacarya, advitiyam, ou “sozinho”, significa que o Brahman era tanto o criador quanto a substância a partir da qual esse universo nasceu. Ele constrói sua posição tendo por fundamento inúmeras escrituras, como:
Vedanta-sutra, 1.4.23: prakritis ca pratijna drishtanta anuparodhat
Vedanta-sutra 1.4.26: atmakriten parinamat
Vedanta-sutra 1.4.27: yonis ca hi giyate
Mundaka Upanishad 1.1.7:
yathorna-nabhin srijate grihnate cayatha prithivyam oshadhayan sambhavantiyatha satan purushat kesha-lomanitathaksharat sambhavatiha vishvam
Doravante, longe de ser um ser impessoal, a linha seguinte do verso advitiyam atribui ao Brahman o ato de “pensar e decidir” se tornar vários – uma indicação clara de personalidade: tad aikshata bahusyam prajayeyeti.
As almas “individuais” são, em última instância, idênticas a esse Brahman não diferenciado, daí tat tvam asi “Tu és isso” 6
6 Adi Sankaracarya busca embasamento em vakyanvayadhikarana (Vedanta-sutra 1.4.19.22) e em amsadhikarana (Vedanta-sutra 2.3.43-53).
e aham brahmasmi (“Eu sou Brahman”)
A Antítese de Sri Ramanujacarya
Sri Ramanujacarya estudou a filosofia Advaita e então compilou um imenso e meticuloso trabalho contra essa. 7
7 É importante frisar que Sri Ramanujacarya ataca a doutrina Advaita de Sri Sankaracarya e não todo o seu trabalho literário ou missão, menos ainda sua pessoa. Há aspectos do trabalho de Adi Sankaracarya, fora da doutrina Advaita – como stotras devocionais e estabelecimento de majestosos centros de adoração – que são respeitados e apreciados por todos os Vaisnavas.
De fato, sua postura em sua última grande obra, Bhaja Govindam, revela que ele nunca quis que sua filosofia Advaita/Mayavada fosse vista de forma isolada, nem que fosse priorizada na vida de seus seguidores. Adi Sankaracarya informa a seus seguidores que filosofia e especulação mental são, por fim, inúteis sem devoção verdadeira pela Pessoa Suprema. Por exemplo:
bhaja govindam bhaja govindambhaja govindam mudha-matesamprapte sannihite kalena hi na hi rakshati dukrin-karane
“Adore Govinda, adore Govinda, adore Govinda, ó tolos! Regras gramaticais (e polêmicas subseqüentes) não salvaram vocês no instante da morte”.
Srila Prabhupada se referia a Adi Sankaracarya como um “personalista disfarçado” que pregou o impersonalismo Mayavada meramente para o cumprimento de uma meta parcial:
“Sankaracarya é a encarnação do Senhor Sankara, o Senhor Siva. O Senhor Siva é Vaisnavanam yatha sambhuh, o melhor dos Vaisnavas. Assim, os devotos sabem que Sankaracarya era, em seu coração, um Vaisnava, mas ele teve de pregar como um Avaisnava porque ele tinha que livrar a Índia do Budismo. Essa era sua missão”. [VedaBase: Srimad-Bhagavatam 6.2.16 – 19 de setembro de 1975, Vrndavana].
Vide também: VedaBase: Consciência de Krsna: Culto Hindu ou Cultura Divina? Ciência da Auto-realizaçã o; VedaBase: Seguir os Passos das Pessoas Santas, Néctar da Devoção; VedaBase: Carta a Damodar.
Seu Sri-bhashya, um comentário à mesma obra comentada por Adi Sankaracarya, estabelece os fundamentos do Vaisnavismo.
Quanto a neti neti, Sri Ramanujacarya aponta que Adi Sankaracarya interpretou o texto desconsiderando seu contexto. A passagem do Chandogya Upanisad descreve primeiramente o universo, a pluralidade das almas, o Ser Supremo com atributos como glória, beleza e ternura. Aí vem a frase neti neti. Mas a história não encontra seu fim aí. A passagem continua e atribui mais qualidades ao Ser Supremo: na hy-etasmad iti, nety-anyat param asti (“Não há ninguém superior ou maior do que o Brahman supramencionado” ), e descreve o Brahman como satyasya satyam (“o mais real dos reais”). 8
8 Vide Brihadaranyaka Upanisad 2.3.1-6: dve vava brahmano rupe murtam chaivamurtam ca tasya haitasya purushasya rupam yatha maharajanam vaso yatha pandv-avikam yathendragopo yathagny-archir yatha pundarikam yatha sakrid vidyutam sakrid vidyutaiva ha va asya srir bhavati ya evam veda athata adesho neti neti. na hy etasmad iti. nety anyat param asti. atha namadheyam satyasya satyam iti. prana vai satyam tesham eva satyam.
Considerando todo o contexto, Sri Ramanujacarya afirmou que neti neti não fundamenta o conceito de nirvishesha ou nirguna Brahman de Sankaracarya; senão que neti neti significa que o Ser Supremo não é equivalente à descrição que lhe foi dada, mas é, sim, muito mais do que isso: Suas glórias não podem ser adequadamente descritas. 9
9 Considere o Kena Upanisad 1.5: yad vachanabhyuditam yena vag abhyudyate tad eva brahma tad viddhi nedam yad idam upasate.
Quando a literatura védica descreve o Brahman como nirguna, sua intenção não é negar os atributos do Brahman, mas, insistir que sua forma é transcendental e destituída das imperfeições encontradas nas coisas materiais. 10
10 Na cosmologia Vedântica, a criação material (prakrti) é caracterizada por três modos (gunas). O Brahman é nir-guna no sentido de estar acima desses três modos.
Não há nada nem ninguém igual, superior ou maior do que ele. Ele é possuidor de personalidade
11 Vide Vedanta-sutra 1.1.5: ikshateh na ashabdam. Sri Ramanujacarya frisa que desejo e escolha claramente implicam um ser pessoal e não uma força impessoal.
12 Vide comentário de Sri Ramanujacarya ao Vedanta-sutra 1.1.21: parasyaiva brahmanan [...] divyarupamapi svabhavikam asti
, e atributos divinos 13
13 Vedanta-sutra 1.1.21: antan tad dharmopadeshat, e sua passagem correspondente no Chandogya Upanishad 1.6.6.
; é a morada de todas as excelências 14
14 Vedanta-sutra 1.2.2: vivakshita-gunopapa ttes ca, juntamente com Chandogya Upanishad 3.14.1
, tais como bem-aventuranç a 15
15 Vedanta-sutra 1.1.13, anandamayo abhyasat
, imortalidade, poder criativo 16
16 Vedanta-sutra 1.1.1: janmadyasya yatah
, onisciência 17
17 Vide comentário de Sri Ramanujacharya ao Vedanta-sutra 1.2.23, também Brihadaranyaka Upanishad 3.8.8
, conhecimento eterno e infinito 18
18 Satyam jnanam anantam brahma, Taittiriya Upanishad 1.2.2
, desejo infalível e auto-satisfaçã o 19
19 Satyasamkalpa, anadarah. Vide Chandogya Upanishad 1.4.1
; ele é refulgente, macio como lã e tem olhos de lótus 20
20 Brihadaranyaka Upanishad 2.3.6.
. Não importa o quanto se esforce para glorificar esse saguna Brahman, o glorificador não conseguirá descrevê-lo apropriadamente e terá, por fim, de assumir: neti neti! 21
21 A lógica aplicada por Ramanujacarya para refutar a interpretação monisto-impersonali sta de Adi Sankaracarya de neti neti pode ser aplicada a todos os outros textos e argumentos similares apresentados por Adi Sankaracarya.
Quanto a tat tvam asi, Sri Ramanujacarya argumenta que Adi Sankaracarya foi muito precipitado em afirmar absoluta igualdade entre a alma e o Brahman. Sri Ramanujacarya cita vários textos que distinguem a alma e Deus. 22
22 Alguns dos mais significativos:
(a) Vedanta-sutra 1.2.11: guham pravishtau atmanau hi tad darshanat, e seu equivalente no Katha Upanishad 1.3.1:
ritam pibantau sukritasya lokeguham pravishtau parame parardhechaya-tapau brahma-vido vadantipancagnayo ye cra trinaciketah
(b) Vedanta-sutra, 1.3.7: sthity-adanabhyam ca, e sua passagem correspondente no Mundaka Upanishad 3.1.1:
dva suparna sayuja sakhayasamanam vriksham parishasvajate tayor anyan pippalam svady attianasnann anyo ’bhichakashiti
(c) Vedanta-sutra, 1.1.16, 17: na itara anupapatten, bheda vyapadesachcha
(d) Vedanta-sutra, 1.1.21: bheda vyapadesachcha anyan
(e) Vedanta-sutra, 1.2.3: anupapatteshtu na shariran
(f) Vedanta-sutra, 1.2.22: viseshana bheda vyapadeshabhyam ca na itarau
(g) Vedanta-sutra, 1.3.4, 5: pranabhrichcha, bhedavyapadeshahcch a
(h) Vedanta-sutra, 1.3.18: itara paramarsat sa iti cenna asambhavat
Ademais, o terceiro adhyaya explica como a jiva atma, a fim de obter a liberação, deve meditar no Paramatma, o que reafirma a distinção entre ambos. Vide também Mundaka Upanisad (3.1.2):
samane vrikshe purusho nimagno’nisaya sochati muhyamanan ejushtam yada pashyaty anyam isamasya mahimanam iti vita-shokah
A identidade trazida por tat tvam asi deve respeitar essa distinção fundamental. A alma é diferente de Deus e, ao mesmo tempo, una com Deus como sua parte. Toda a criação vem de Deus – janmadyasya yatah (Vedanta-sutra 1.1.2) –, que a sustenta através de sua onipresença. O Vedanta-sutra 1.2.18 é decisivo: antaryamyadhidaiva – (adhiloka) – adishu tad-dharma-vyapades ha. “O governador interno dos deuses, (dos universos) e de todos os demais seres, como mencionado na passagem do Upanisad, é Brahman, porque as qualidades se sujeitam a Ele”. 23
23 A passagem do Brihadaranyaka Upanisad 3.7.18 correspondente afirma: yan prithivyam tishthan prithivya antaro yam pritivi na veda yasya prithivi shariram yan prithivim antaro yam ayaty esha ta atmantaryamy amritah
Assim como a alma individual reside no corpo sem ser conhecida pelo corpo (que é mantido pela alma e existe para o interesse da alma), da mesma forma Deus reside na alma (e em tudo o mais) como Paramatma, ou antaryami. 24
24 Essa é a estrutura “corpo-alma” de Sri Ramanujacarya. O universo inanimado e as almas animadas são o corpo de Deus, de acordo com a definição de “corpo” dada em: yasya chetanasya yaddravyam sarvatmana svarthe niyantum dharayitum ca sakyam taccheshataika svarupam ca, tat tasya shariram (Sri Bhashya 2.3.18).
Deus é o centro da vida da alma, e a razão para a sua existência. A alma é eternamente relacionada a Deus como sua parte, ou amsha. Assim como os raios solares são unos com o sol e dependentes dele, igualmente a alma é dependente de Deus para sua existência. 25
25 Vedanta-sutra 2.3.43: amsho nana vyapadeshat anyatha cha ’pi dasakitavaditvam adhiyata eke
Daí o conceito parcial de identidade: tat (Deus) tvam (tu, a alma individual) asi (és)
Quanto a aham brahmasmi, Sri Ramanujacarya concorda com Adi Sankaracarya que, ao obter a liberação, a atma manifesta sua natureza essencial como una com o Ser Supremo. 26
26 Vedanta-sutra 4.4.1: sampadyavirbhavan svena shabdat; e Vedanta-sutra 4.4.4: avibhagena drishtatvat
A alma deve se identificar com Deus, não com a matéria. Mas, novamente, Adi Sankaracarya clama a igualdade absoluta violando inúmeros versos dos Upanisads. Sri Ramanujacarya, respeitando tanto a identidade quanto a diferença, explica que, no estado de vida liberada, a alma manifesta as qualidade de Brahman, tais como ser livre do nascimento, morte, impureza, ignorância e dor, e experimentar uma bem-aventuranç a sem paralelo. Neste estado de completa absorção em Deus, e dotada de visão espiritual, a alma percebe Deus em toda a parte 27
27 Vide Brihadaranyaka Upanishad, 2.4.9-16, especialmente: yatra hi dvaitam iva bhavati tad itara itaram pasyati tad itara itaram jighrati tad itara itaram rasayate tad itara itaram abhivadati tad itara itaram srinoti tad itara itaram manute tad itara itaram sprisati tad itara itaram vijanati yatra tv asya sarvam atmaivabhut tat tena kam pashyet tat tena kam jighret tat kena kam rasayet tat kena kam abhivadet tat kena kam shrinuyat tat kena kam manvita tata tena kam shprishet tat tena kam vijaniyat
, e todos os nomes e pronomes (aham, etc.) são percebidos como referente a Deus. 28
28 Vide comentário de Sri Ramanujacarya ao Vedanta-sutra a partir de 1.1.30: shastra-drishtya tupadesho vamadevavat, e também seu comentário ao verso 1.3.7; também Vedanta-sutra 1.4.28: etena sarve vyakhyata vyakhyatah.
Todo traço de ahamkara (eu) e mamakara (meu) deixa de existir, e passas-se a experimentar somente Deus. Daí: aham brahmasmi.
A alma, enquanto compartilha da bem-aventuranç a de Deus, permanece subordinada a ele. 29
29 Vide comentário de Sri Ramanujacarya ao Vedanta-sutra 4.4.21: bhoga-matra- samya-lingach cha
Deus é infinitamente onipresente (vibhu), e a alma é eternamente diminuta (anu) 30
30 Vide Svetasvatara Upanishad:
balagra-shata- bhagasyashatadha kalpitasya chabhago jivan sa vijneyahsa chanantyaya kalpate
; Deus cria inumeráveis universos, e a alma não. 31
31 Vide comentário de Sri Ramanujacarya ao Vedanta-sutra 4.1.17: jagad-vyapara- varjam prakaranat asannihitatvachcha
É significativo que Adi Sankaracarya clame que a alma em seu estado liberado imerja no Brahman e se torne absolutamente usa a ele. Todavia, Sri Ramanujacarya enfatiza que, mesmo em seu estado liberado, a alma mantém-se distinta e como um servo amoroso de Deus. O Vedanta-sutra 4.4.9 não diz que a alma não tenha mais senhor, senão que diz que ela não tem mais outro senhor: ata eva cha ananyadhipatih. A alma liberada se ocupa unicamente no serviço eterno a Deus. 32
32 A transformação da alma, de escrava do karma e dos desejos egoístas para serva exclusiva de Deus, é o tema da bela canção de Ramanujacarya: Sharanagati gadya.
O próprio Senhor é o caminho para se obter tal estado bem-aventurado; ele mesmo é a ponte para a imortalidade: amritasya esha setuh. 33
33 Mundaka Upanisad 2.2.5, citado por Sri Ramanujacarya em seu comentário ao verso 1.3.1 do Vedanta-sutra.
A salvação não pode ser obtida através do esforço pessoal, senão que depende da misericórdia sem causa de Deus.
nayam atma pravacanena labhyona medhaya na bahudha shrutenayam evaisha vrinute tena labhyastasyaisha atma vivrinute tanum svam
“Essa Identidade Suprema não pode ser obtida pela razão, intelecto ou estudo de diversos textos. Ademais, sua obtenção só é possível para aqueles que ele escolhe”. (Katha Upanisad 1.2.23) . 34
34 Considere também Katha Upanisad (1.2.20): anor aniyan mahato mahiyan atmasya jantor nihito guhayam tam akratun pasyati vita-shoko dhatun prasadan mahimanam atmanah
Em suma:
1. Deus é a Pessoa Suprema, aquele que possui inumeráveis atributos, formas e passatempos divinos. A alma individual e o universo material são reais, e expressões de sua glória.
2. A salvação é uma dádiva de Deus.
3. Livre do mundo material, a alma realiza sua verdadeira natureza espiritual como bem-aventurada serva de Deus.
(continua)
NT: Manteve-se o uso ou não uso de maiúsculas nos pronomes referentes ao Senhor Supremo do original em inglês.

p/ Dr. A.D. Srirangapriya Ramanujadasan
Tradução por Bhagavan dasa

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Sob a direção do Senhor


"A teoria de que as explosões das bombas atômicas modernas podem aniquilar o mundo é imaginação infantil. Em primeiro lugar, a energia atômica não é poderosa o bastante para destruir o mundo. E em segundo lugar, tudo isso depende, em última análise, da vontade suprema do Senhor Supremo, porque sem Sua vontade ou sanção nada pode ser construído ou destruído. Também é tolice pensar que as leis naturais são fundamentalmente poderosas. A lei da natureza material funciona sob a direção do Senhor, como se confirma no Bhagavad-gita. Ali o Senhor diz que as leis naturais atuam sob Sua supervisão. O mundo pode ser destruído somente pela vontade do Senhor, e não pelos caprichos de políticos mesquinhos".

Srimad Bhagavatam 1.7.32 sig

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Quando o Conhecimento é Ignorância



sa paryagach chukram akayam avranam

asnaviram shuddham apapa-viddham

kavir manishi paribhuh svayambhur

yathatathyato ’rthan vyadadhach chashvatibhyah samabhyah


“Essa pessoa deve realmente conhecer o maior de todos, que é não corporificado, é onisciente, irrepreensível, sem veias, puro e não contaminado, o filósofo auto-suficiente que desde tempos imemoriais vem satisfazendo o desejo de todos”.


andham tamah pravishanti

ye ’vidyam upasate

tato bhuya iva te tamo

ya u vidyayam ratah


“Aqueles que se ocupam no cultivo de atividades ignorantes entrarão na mais escura região da ignorância. Pior ainda são aqueles que se ocupam no cultivo do pseudoconhecimento”.

(Sri Isopanisad, Mantra 8 e 9)


Krsna não é corporificado. Não há diferença entre Seu corpo e Sua alma. Ele não troca Seu corpo, porque Ele não tem um corpo material. E porque Ele não troca Seu corpo, Ele se lembra de tudo. Nós trocamos nosso corpo; por isso não conseguimos lembrar o que aconteceu em nossa última vida.
Mesmo quando dormimos nós esquecemos nosso corpo e o ambiente em que estamos. Enquanto dorme e sonha, você está em um mundo de sonhos. Você nem se lembra que você tem esse corpo. Todas as noites nós experimentamos isso. Eu não sou o corpo. O corpo se torna cansado e então dorme ou fica inativo. Mas – com meu verdadeiro eu – eu trabalho, sonho, vou a algum lugar, vôo, crio um outro reino, outro corpo, outro contexto. Nós experimentamos isso todas as noites. Isso não é difícil de entender.
Similarmente, em cada vida, criamos um contexto diferente. Nesta vida eu posso achar que sou um indiano. Você pode achar que é um americano. Na próxima vida podemos ser algo diferente. Talvez eu não seja nem americano nem indiano em minha próxima vida. E se eu me tornar americano, talvez eu não seja um homem. Talvez eu seja uma vaca ou um touro. Então eu serei enviado para o abatedouro. Entende?
E isso continua. Esse é o problema. Mudamos de corpo o tempo todo. Isso é algo muito sério. Nós temos que levar nossa vida muito a sério, devemos refletir: “Eu venho mudando de corpo vida após vida. Eu não tenho uma posição fixa. Eu não sei em qual das 8.400.000 espécies de vida eu serei colocado. Portanto eu devo buscar uma solução”.
Krsna traz a solução: yad gatva na nivartante tad dhama parama mama. “Se alguém, de uma maneira ou de outra, através da consciência de Krsna, vem até Mim, ele não precisa nascer novamente em um corpo material”. [Bhagavad-gita 15.6] Ele obtém um corpo similar ao de Krsna, sac-cid-ananda-vigrahah: um corpo espiritual constituído de eternidade, conhecimento e bem-aventurança.
Devemos praticar a consciência de Krsna com grande seriedade, sem nenhum desvio. Não devemos ser negligentes, achando que isso é algum tipo de moda ou algo imposto. Não. Isso se trata da atividade mais importante de todas. A vida humana tem por objetivo unicamente desenvolver a consciência de Krsna. Não temos nenhum outro dever. Mas, infelizmente, criamos tantos compromissos que esquecemos da consciência de Krsna. Isso se chama maya. Estamos esquecendo o nosso verdadeiro dever e interesse.
Os líderes cegos estão conduzindo as pessoas para o inferno com suas patifarias. Os líderes estão acorrentados pelas severas leis e regulações da natureza material, mas mesmo assim se tornaram líderes. E as pessoas estão sendo desencaminhas. Isso se chama maya.
De uma maneira ou de outra você entrou em contato com Krsna. Então agarre-O com toda a sua força e determinação. Se você se apegar com grande determinação aos pés de lótus de Krsna, então maya não poderá fazer mal a você.
Dois Tipos de Educação
Há dois tipos de educação: educação material e educação espiritual, brahma-vidya e jada-vidya. Jada-vidya significa educação material. Jada significa “aquilo que não pode se mover”, ou matéria. O espírito pode se mover. Nosso corpo é uma combinação de espírito e matéria. Enquanto o espírito está nele, o corpo se move, da mesma forma que a jaqueta e a calça se movem enquanto o homem está as vestindo. Parece que a jaqueta e a calça estão se movendo, mas quem está realmente se movendo é a entidade viva, e a cobertura, as vestimentas, acompanham seu movimento parecendo se moverem. Similarmente, este corpo está se movimentando porque a alma espiritual está se movimentando.
Se um carro se move, isso quer dizer que o motorista está fazendo com que ele se mova. Pessoas tolas talvez pensem que o carro está se movendo sozinho. Mas, mesmo com todos os arranjos mecânicos, ele não pode se mover.
Devido ao tipo de educação que é hoje fornecida, as pessoas pensam que a natureza material está funcionando de forma independente, movimentando-se e manifestando tantas coisas maravilhosas por si só. As ondas se movem, mas elas não se movem de forma independente. O ar está movendo as ondas. Mas o ar também não se movimenta de forma independente. Dessa forma, se você voltar, voltar e voltar, você descobrirá que Krsna é a causa de todas as causas. Isto é filosofia: buscar a causa primeira.
Aqui é dito, andham tamah pravishanti ye avidyam upasate. Aqueles atraídos pelos movimentos externos estão adorando avidya, ignorância. Isso não irá ajudá-los. Há instituições muito muito grandes dedicadas ao estudo tecnológico – como o motor de um carro pode se mover, como um avião pode se mover. Eles estão manufaturando muitos maquinários. Mas não há instituições de ensino que estudem como o movedor, a alma espiritual, move-se. Essa carência de educação se chama avidya, ignorância. O verdadeiro movedor não está sendo estudado, mas o movimento externo está sendo estudado.
Quando palestrei no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, eu perguntei, “Onde está a tecnologia para estudar o movedor?”, mas eles não tinham tal suporte tecnológico. Eles não foram capazes de me responder satisfatoriamente. Isso é avidya.
A Escuridão da Ignorância
Aqui, no Isopanisad, é dito que andham tamah pravishanti ye avidyam upasate. Aqueles ocupados unicamente no avanço e educação materiais têm como resultado a mais escura região da existência, andham tamah. É algo muito alarmante o fato de no presente momento não existir nenhum arranjo em nenhum país, ao redor de todo o mundo, no sentido de distribuir educação espiritual para as pessoas. Essa situação está conduzindo a sociedade humana para a mais escura região da ignorância. É isso o que está acontecendo. Em seu país, seu país rico, vocês têm um bom sistema de ensino, com muitas universidades, mas que tipo de homens vocês estão produzindo? Os estudantes estão se tornando hippies. Por quê? Os líderes deveriam pensar sobre isso. “O que estamos produzindo apesar de tantas instituições de ensino?”.
Os líderes estão adorando avidya, ignorância. Isso não é conhecimento. Bhaktivinoda Thakura tem uma excelente canção: jada-vidya jato, mayara vaibhava. Jada-vidya significa educação material. Bhaktivinoda Thakura diz que tal educação é uma expansão de maya. Tomara bhajane badha: Quanto mais avançamos em educação material, mais difícil se torna entender Deus. E por fim nós declararíamos: “Deus está morto. Eu sou Deus. Você é Deus” – tudo patifaria.
Essa idéia é expressa aqui: andham tamah. Andham significa escuridão. Há dois tipos de escuridão: ignorância, e ausência de luz solar ou outra luz. Os materialistas estão certamente indo em direção à escuridão. Mas há uma outra classe de pessoas – os assim-chamados filósofos, especuladores mentais, religiosistas e pretensos yogis – que se perdem ainda mais na escuridão porque têm a postura de desafiarem Krsna. Eles posam como se cultivassem conhecimento espiritual, mas, porque não têm informação sobre Krsna, sobre Deus, seus estudos são ainda mais perigosos, pois desviam as pessoas. Com o seu assim-chamado sistema de yoga, por exemplo, eles estão desviando as pessoas pregando: “Medite e você entenderá que você é Deus”. Por se meditar, alguém se torna Deus! [risos]. Dá para acreditar?
Krsna nunca meditou. Ele nunca teve nenhuma oportunidade para meditar, porque desde o começo Kamsa estava preparado para matá-lO. Ele foi, então, levado por Seu pai para a casa de Nanda e Yashoda. Lá, como um bebê de três anos de idade, enquanto dormia, a demônia Putana O atacou. Krsna nunca teve a oportunidade de meditar para se tornar Deus. Ele é Deus desde o começo, desde sempre. Esse é Deus. Deus é Deus, e cachorro é cachorro. Essa é a lei da individualidade.
“Fique parado e em completo silêncio e você se tornará Deus”. Isso não faz nenhum sentido. Como eu posso me tornar mudo? Há alguma possibilidade de uma pessoa se tornar completamente silenciosa? Não. Isso não existe. “Torne-se sem desejos”. Como eu posso me tornar um ser sem desejos?
Atividades Purificadas
Essas idéias são mentiras sofisticadas. Não podemos deixar de desejar. Não podemos nos tornar mudos. Mas nossos desejos, nossas atividades, devem ser purificados. Isso é verdadeiro conhecimento. Nós devemos desejar servir Krsna, e nada mais. Isso é a purificação do desejo. Não ter desejos é algo que não existe.
Como posso existir sem desejos? Como posse ser mudo? Isso não é possível. Eu não posso ficar em silêncio sequer por um segundo. Portanto, nossas atividades têm de ser dedicadas, devotadas, ao serviço a Krsna. Isto é conhecimento verdadeiro: “Como uma entidade viva, eu tenho tudo isso – atividades, desejos, a propensão a amar. Tudo está aqui. Mas estou usando tudo isso de maneira errada”. Não sabemos como usar tudo isso. Isso é avidya, ignorância.
Este Isopanisad nos ensina que devemos ser muito cuidadosos. Nós não estamos dizendo que vocês não devam avançar em termos de educação material. Vocês devem progredir, mas, ao mesmo tempo, vocês devem se tornar cada vez mais conscientes de Krsna. Essa é a nossa política. Nós não dizemos que vocês não possam manufaturar carros e máquinas. Mas dizemos, “Certo, vocês manufaturaram essa máquina. Usem-na agora a serviço de Krsna”. Essa é a nossa proposta. Nós não dizemos para que parem com tudo. Nós não dizemos que vocês não podem ter nenhum tipo de vida sexual. Mas dizemos, “Sim, tenham vida sexual – para Krsna. Criem filhos conscientes de Krsna. Para tal propósito, vocês podem fazer sexo uma centena de vezes”. Mas não criem gatos e cachorros. Essa é a nossa proposta.
Educação é algo necessário, mas se a educação é desvirtuada, ela é muito muito perigosa. Esse é o significado deste verso. A pseudoeducação não tem nenhum valor.
Muito obrigado. Hare Krsna.

p/ Sua Divina Graça A. C. Bhaktivedanta Svami Prabhupada
Tradução por Bhagavan dasa

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Ciência Espiritual



Existe uma necesidade na vida humana de um conhecimento superior autorizado que transcenda as matérias grosseira e sutil. Sem este saber, somos levados à ignorância ou à especulação mental. O conhecimento espiritual não se constitui de tolice caprichosa e sem sentido. Ele é a realidade mais importante e prática da vida. Se vc nãos abe quem ou o que é, ou onde você está, como poderá agir apropriadamente? É impossível. Podemos argumentar que para termos uma vida bem sucedida necessariamente precisamos obter conhecimento espiritual de uma fonte genuína, caso contrário estaremos essencialmente limitando nossa existência ao campo meramente material, corporal, exatamente como fazem os animais.
p/ Giridhari Das

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Apreço pelos Escritos Sagrados



É moda na sociedade secular moderna tratar a literatura sagrada como o entretenimento mitológico de pessoas menos desenvolvidas intelectualmente. As escolas ensinam que com nossos atuais avanços, como a física, a medicina, a psicologia, a democracia e assim por diante, as escrituras religiosas têm pouca utilidade fora do campo artístico-literário. Aqueles que aceitam as escrituras de forma literal são tachados com termos pejorativos, como “fundamentalistas”, por exemplo. Talvez seja chique roubar algumas idéias das escrituras Védicas, como yoga, meditação e cantar de mantras, mas viver de acordo com as leis escriturais é visto como algo simplista e fora de moda.
Para se conseguir benefícios espirituais do processo do cantar dos nomes de Krsna, todavia, é preciso ter reverência por Krsna em todas as Suas formas, incluindo Sua forma como as escrituras. Krsna apareceu na Terra, em Sua forma original, há cerca de cinco mil anos. Após retornar à Sua morada eterna, Sua “encarnação literária”, Vyasadeva, compilou o néctar das escrituras Védicas na forma do Srimad-Bhagavatam. Srila Prabhupada escreveu que ler essa escritura é como ver Krsna pessoalmente, sem nenhuma diferença. Porque as palavras do Bhagavatam descrevem Krsna, elas são espiritualmente idênticas a Ele. Se blasfemamos o Bhagavatam, outros livros Védicos, ou alguma literatura de acordo com a versão Védica, ofendemos o santo nome, o que dificulta em muito o nosso processo do cantar.
A que se refere “literatura Védica”? Diferente dos acadêmicos modernos, Srila Prabhupada não usava o termo Védico para denotar apenas um período particular da história da Índia. Tendo como referência os mestres espirituais anteriores de sua linha e lançando mão de sua razão, ele usou o termo para se referir a todos os tradicionais livros sagrados da Índia. E “literatura de acordo com a versão Védica” se refere a qualquer livro que, como fazem os Vedas, direcionem-nos para nossa relação com Deus.
Evitamos essa ofensa contra o santo nome de Krsna se aceitamos o conceito de escritura revelada de maneira geral, reverenciamos as escrituras autênticas de outras tradições diferentes da nossa, respeitamos mas evitamos escrituras que ensinem práticas religiosas válidas todavia inferiores, e se rejeitamos pseudo-escrituras que se opõem ao amor por Deus como meta última.
Também evitamos essa ofensa ao adorarmos Krsna com nossa inteligência através de cuidadoso estudo e aplicação da literatura sagrada. Tal estudo nos dota tanto com o entusiasmo por servir Krsna quanto com as direções para tal. Encontramos a verdadeira felicidade ao explorarmos cada detalhe que lemos das escrituras Védicas. E com o uso de nossa razão, aceitamos a consistência, veracidade e aplicabilidade dos escritos por eles mesmos e também pelo exemplo de almas liberadas.
Uma Cultura para a Iluminação
Uma razão para as pessoas rejeitarem o conceito de escritos sagrados é porque a palavra escritura lhes evoca sociedades que proibiam o riso durante o sabá ou que declaravam que o processo para a perfeição era um sistema de procedimentos ritualísticos intrincados que poucos poderiam fazer parte e ainda menos poderiam entender. As escrituras também trazem histórias fantásticas de milagres e acontecimentos sobrenaturais que a ciência moderna afirma há muito tê-los desmentido. E, além do mais, não são as escrituras produto de pessoas imperfeitas?
A verdade é que, quando corretamente entendidas e aplicadas, as escrituras genuínas agem como um guia e manual de instruções para a vida humana e o cosmo. Elas são o manual de fábrica da máquina da criação material. Das escrituras, casadas com a tradição oral, aprendemos sobre métodos de elevação espiritual, como o cantar do santo nome. Das escrituras aprendemos sobre a vida de santos e sábios do passado e sobre as encarnações de Krsna. De fato, as histórias das escrituras, sejam transmitidas pela escrita ou pela tradição oral, são a base para a transmissão e estabelecimento de uma cultura que tenha por fim a iluminação.
Entendendo o Fantástico
Certamente, diversas histórias dos escritos sagrados parecem fantásticas para nosso mundo científico. Mas muitas das maravilhas tecnológicas atuais também pareceriam fantásticas e ficcionais há algumas décadas. Não é, portanto, implausível que sociedades antigas tenham tido habilidades e perícias técnicas que não são disponíveis hoje. É virtualmente impossível, por exemplo, recriar a arquitetura milenar do Peru usando qualquer recurso moderno de que dispomos. A idéia de que a tecnologia sempre progrediu, e que não possa jamais ter existido uma superior à atual, talvez seja incorreta. Mesmo os estudos recentes de história indicam que muito do conhecimento que existia na Grécia se perdeu na Europa da Idade Média e foi gradualmente restabelecido. É lógico e racional, então, assumir que aquilo que é comum hoje, como televisão e internet, talvez se perca e seja esquecido no futuro, para ser restabelecido apenas mais tarde.
Vale adicionar que, mesmo hoje, há muitas fortes evidências empíricas para a existência do sobrenatural. Mas porque a atual ciência não pode explicar as evidências, elas são omitidas.
Os Vedas – com suas informações acerca do espírito e da matéria sutil – provêem uma visão de mundo que faz o aparentemente-impossível ser facilmente aceito como verdade. Uma vez que você entenda que o espírito, ou a vida, por exemplo, é independente da matéria, é muito fácil acreditar que entidades vivas possam viver em qualquer lugar do universo e fazer todo o tipo de coisas incríveis.
Níveis de Instrução
Uma queixa válida acerca das escrituras por parte de pessoas espiritualmente inclinadas é que elas se focam muito em rituais e ganhos materiais. Krsna valida esse sentimento quando Ele diz a Seu amigo Arjuna que aqueles que praticaram yoga em vidas passadas estão acima da maior parte dos ritos escriturais. A dura verdade, todavia, é que poucas pessoas estão interessadas em genuína realização espiritual. Portanto, Krsna e Seus grandes devotos dão instruções e exemplos nas escrituras para todo o tipo de pessoas. Há diferentes escrituras para várias classes de pessoas com diversas inclinações e desejos. Daí ter vários níveis e tipos de instrução no mesmo cânone escritural.
O Senhor, ou Seu representando ou filho, talvez ensine verdades eternas em nível mais baixo ou de alguma maneira enevoada a depender do tempo, local ou circunstância. Escrituras nascidas de tais ensinamentos talvez ensinem menos do que o puro e desmotivado amor devocional pelo Senhor, mas elas têm sua função de gradualmente conduzir as pessoas ao pináculo da realização espiritual. Sabendo que a perfeição é, de forma geral, obtida após muitas vidas, uma pessoa absorta no cantar do mantra da verdade absoluta ajuda e encoraja cada pessoa em diferentes níveis.
Escrituras autorizadas vêm, por excelência, diretamente de Deus ou de almas livres das imperfeições e egoísmos das pessoas comuns. A verdade inadulterada pode fluir através de uma pessoa conectada com Deus e livre dos desejos egoístas da mesma forma que se pode ver o céu azul lá fora através de uma janela limpa.
Nosso Dever de Discriminar
Ainda, não se deve simplesmente aceitar qualquer escrito como sagrado simplesmente porque ele o diz ser. Parte da ofensa de blasfemar as escrituras é aceitar uma filosofia contrária ao serviço devocional à forma pessoal do Senhor. Também, se um sistema “religioso” afirma que outros livros e métodos genuínos são pecaminosos, esse deve ser evitado por sua mentalidade simplória e sectarista. Devemos rejeitar também qualquer sistema ou filosofia que negue a alma, a Personalidade de Deus, ou a meta da vida como o sucesso no processo de obtenção do amor puro por Ele. Portanto, cantar Hare Krsna enquanto se mantém uma postura monista – pensando que a verdade última é apenas energia e luz – é parte dessa ofensa ao santo nome.
Um devoto de Krsna deve depender unicamente das tradições que estudam e promovem bhakti – devoção amorosa à personalidade de Krsna. Oferecendo respeitos à distância, deve-se evitar escrituras que promovam poderes místicos, trabalhos caridosos com recompensas celestiais, ou salvação fora de bhakti, para não dizer de formas inferiores de adoração que visam poderes obtidos através da negociação com seres demoníacos e fantasmagóricos.
O Harinama Cintamani de Srila Bhaktivinoda Thakura enumera nove princípios essenciais de krsna-bhakti. Podemos identificar as escrituras de bhakti como aquelas que promovem estes nove princípios:
(1) Há um único Senhor Supremo, Krsna. (2) Ele é aquele que possui todas as energias. (3) Krsna é a fonte dos relacionamentos transcendentais e está situado em Sua morada espiritual, onde Ele compraz todas as entidades vivas. (4) As entidades vivas são partículas do Senhor, ilimitadas em número, infinitesimais em tamanho, e conscientes. (5) Algumas entidades vivas estão condicionadas a universos materiais desde tempos imemoriais, tendo sido atraídas por prazeres ilusórios. (6) Algumas entidades vivas são eternamente liberadas e se ocupam em adorar Krsna; elas residem com Ele como Seus associados no mundo espiritual e se relacionam amorosamente com Ele. (7) Krsna existe com Suas energias – material, espiritual, e as entidades vivas – em um estado de igualdade e diferença simultâneas, permeando tudo e, ao mesmo tempo, existindo à parte. (8) Há nove processos que caracterizam o processo pelo qual a entidade viva realiza Krsna: ouvir sobre Krsna, cantar, lembrar, servir, adorar, orar, agir como um servo, ser amigo do Senhor, e se render completamente. (9) A meta última de uma entidade via é bhakti – amor desmotivado por Krsna, que Krsna desperta em uma alma devido a Sua misericórdia.
Se uma pessoa aceita a mais pura das escrituras, rejeita as várias tradições mundanas que se vendem sagradas, e respeita as escrituras genuínas que estão em um nível inferior; ainda assim, é preciso estudar com muito cuidado essa escritura. Mesmo uma tradição eterna de escritos imaculados, ou de revelação oral de mesma natureza, pode ser distorcida através de interpretações inventadas e más aplicações. Para mostrarmos respeito para com as escrituras, devemos entendê-las através do significado mais claro e direto possível, estudando a vida dos devotos anteriores que seguiram a cabo suas instruções como verdadeiros devotos puros de Krsna. Devemos, também, abordar as escrituras através da direção de um guru, que nos dará instruções específicas quanto ao que há de mais relevante para a nossa atual condição. Interpretações ou aplicações equivocadas podem ser mais perigosas do que a negação completa das escrituras. Um lobo em pele de cordeiro é muito mais perigoso do que um lobo aparente.
Nós Precisamos das Escrituras
Com tantas considerações e complicações em relação às escrituras, não seria melhor simplesmente cantar Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare / Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare, e esquecer de vez as escrituras? É verdade que simplesmente por se cantar pode-se alcançar a perfeição; mas para tanto, é precisa que o cantar seja sem ofensas, o que exige uma atitude reverencial perante as escrituras sagradas genuínas.
E quanto prazer e consolo podemos obter das escrituras! Podemos nos tornar muito felizes e confiantes lendo o Bhagavad-gita, as palavras diretas de Krsna. E também podemos encontrar semelhantes benefícios em trabalhos de escritores contemporâneos – devotos que tomam os princípios trazidos por Krsna e os colocam dentro da vida familiar moderna, por exemplo.
Claro que consolo e deleite não são os únicos motivos para lermos os escritos sagrados. Nós precisamos das escrituras. Na busca pela verdade sem as escrituras, não temos outra escolha senão nos basearmos em nossas próprias faculdades sensoriais e mental e na de outros com as mesma limitações que nós. Isso pode nos dar apenas conhecimento parcial e relativo. Nossos sentidos são imperfeitos, mesmo com o suporte de sofisticados instrumento. Cometemos erros devido a maus hábitos, falta de atenção ou por preconceitos inconscientes. Temos a tendência a enganar os outros e a nós mesmos. E quando identificamos o corpo como o eu, vivemos uma grande ilusão. Portanto, as verdades axiomáticas – o ponto de partida para conclusões lógico-sensoriais – devem partir de uma fonte livre de defeitos se quisermos basear nossas ações em um conhecimento infalível.
Quando nossa base de conhecimento vem da verdade absoluta, o cantar do santo nome de Krsna rapidamente nos conduz a Ele. Ouvir das escrituras sobre a beleza, a forma e as incríveis atividades de Krsna no mundo espiritual irá nos inspirar a cantar com o intenso desejo de obter Seu serviço amoroso. Satisfeito com nosso desejo, Krsna irá nos purificar com Sua misericórdia resplandecente como sol, e nosso progresso se fará nítido.

por Urmila Devi Dasi
Tradução por Bhagavan dasa (DvS)

terça-feira, 13 de novembro de 2007

13/11/07 Comemoração do desaparecimento de Srila Prabhupada



O dia do desaparecimento do mestre espiritual também é comemorado. Pois, sendo ele um devoto exemplar e querido por Krsna, a Suprema Personalidade de Deus, sua volta a sua forma eternamente espiritual é gloriosa e plena de felicidade. Srila Prabhupada é também chamado de patita-pavana, o salvador dos caídos, pois dedicou toda sua vida a iluminar a humanidade, propagando o conhecimento mais elevado, o conhecimento acerca de Krsna, a Suprema Personalidade de Deus, e sendo o fundador e grande eixo da ISKCON. Ele nos mostrou como sermos pessoas elevadas espiritualmente, e por isso é chamado de acarya, aquele que ensina pelo exemplo. Ele praticou o serviço amoroso a Deus, ensinou às entidades vivas a como voltar ao lar, voltar ao Supremo, e deu enorme satisfação a seu mestre espiritual, Bhaktisiddhanta Sarasvati Takura ao difundir, como nenhum outro já fez, este conhecimento no Ocidente.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Obrigada Srila Prabhupada !


Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedhanta Swami Prabhupada apareceu neste mundo no ano de 1896, em Calcutá, Índia. Ele encontrou pela primeira vez com seu mestre espiritual, Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Goswami, em Calcutá, no ano de 1922, e tornou-se seu discípulo, iniciado em caráter formal, onze anos mais tarde (1933), em Allahabad.

A Sociedade Gaudiya Vaishnava honrou-o em 1947 com o título "Bhaktivedhanta". Em 1950, aos 54 anos, Srila Prabhupada retirou-se da vida de casado, adotando a ordem vanaprastha (retirada) da vida a fim de dedicar mais tempo a seus estudos e escritos. Aceitou sannyasa, ordem renunciada da vida, em 1959.

Em 1965 foi para o ocidente cumprir a missão do seu mestre espiritual: pregar em língua inglesa. Em julho de 1966, ele fundou a Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna. Até o seu desaparecimento, em 14 de novembro de 1977, ele fez constantes viagens, escreveu prolificamente, fez vários discípulos, abriu muitos templos, etc. Suas obras constituem uma verdadeira biblioteca de filosofia, religião, literatura e cultura védica.

domingo, 11 de novembro de 2007

sábado, 10 de novembro de 2007

Dia 10 de Novembro Govardhana Puja


Verso 1
Quem não se refugiará na colina de Govardhana, a melhor das montanhas, o amigo de Gokula, o charmoso abelhão que por sete dias repousou sobre as mãos de lótus do Senhor Krsna e protegeu Vraja da boca de crocodilo de Indra, que trazia uma tempestade terrível?

Verso 2
Que piedosa personalidade não se refugiará na colina de Govardhana, cujo cume é o local onde Krsna, o senhor das vacas surabhis, se diverte, e que traz próxima de si o bem-aventurado Govinda-kunda, onde uma vaca surabhi, juntamente com o humilde Indra, banharam o Senhor Krsna com as águas celestiais do Ganges e, secretamente, coroaram-nO o rei das vacas surabhis?

Verso 3
Que piedosa personalidade não se refugiará na colina de Govardhana, que é glorificada pelos grandes santos, e que é cercada pelos lagos Sri-kunda, Brahma-kunda, Hara-kunda, Apsarah-kunda, Priyaka-kunda e Sri-dana-kunda, que são repletos de felicidade e de amor puro, e são mais queridos a Krsna do que, até mesmo, o Ganges celestial e uma hoste de outros locais sagrados?

Verso 4
Quem não se refugiará na colina de Govardhana, que é tão formosa com suas vacas, cervos, pássaros e árvores, e é o local onde os lagos Jyotsnamoksana- kunda, Malya-kunda, Hara-kunda, Sumanah-kunda, Gauri-kunda, Balaridhvaja- kunda, Gandharva-kunda, onde vários outros lagos, diversos rios que correm montanha a baixo, diversos locais favoráveis para passatempos amorosos ou de amizade, e onde o próprio Senhor Hari, todos, manifestam-se com todo o esplendor?

Verso 5
Quem não se refugiará na colina de Govardhana? Aquele que com muito cuidado e devoção se curva perante o lago conhecido como Shyama-kunda e carrega um pouco deste consigo, que é milhões de vezes mais grandioso que o Ganges, e que nasceu dos pés de lótus do Senhor Krsna, torna-se mais querido por Krsna do que o semideus Shiva. Da mesma forma, aquele que carrega um pouco do Radha-kunda consigo obtém a completa graça do Senhor Krsna e se torna o mais querido e glorioso devoto.

Verso 6
Quem não se refugiará na colina de Govardhana, onde o casal divino desfruta de Seus passatempos, e onde corre o Manasa-ganga? No Manasa-ganga, o barqueiro Madhava transporta docemente a bela Radha em seu barco, e quando Ela, assustada por uma grande tempestade ora a Ele para que pare com aquele mau tempo, Ele ora a Ela para que satisfaça Seus desejos amorosos.

Verso 7
Ah... Que piedosa personalidade não se refugiará na sublime colina de Govardhana, o belo e transcendental local da dança da Rasa, onde Sri Radha, que tem o braço do Senhor Krsna jocosamente aboiado sobre Seu pescoço, acompanhada por Suas belas amigas, que são todas adoradas por centenas de deusas da fortuna, dança a primaveril Rasa-lila?

Verso 8
Quem não se refugiará na Colina de Govardhana, onde, sempre sorrindo devido às palavras brincalhonas de Seus amigos, perpetuamente feridos pelas flechas lançadas pelo canto de seus cruéis e sorridentes olhos, e rindo das sempre novas discussões e intrigas iniciadas por Dana-keli, o jovem casal divino exibe tantos passatempos transcendentais?

Verso 9
Quem não se refugiará na elegante e auspiciosa Colina de Govardhana, onde, acompanhado de Sridama e outros amigos, brincando com Sankarshana, e atenciosamente cuidando dos bezerros, o Senhor Krsna alegremente canta lá lá lá, e onde o Senhor Krsna desfruta de passatempos amorosos com Radha no local da dança da rasa e depois se recolhem para alguma caverna reservada?

Verso 10
Quem não se refugiará em Govardhana, a mais opulenta de todas as montanhas? Pelo povo de Vraja, o Senhor Mukunda deixou de lado Yamuna, a filha do deus do sol, diversas outras colinas sagradas, a floresta de Vrndavana, que satisfaz todos os desejos, e adorou respeitosamente a colina de Govardhana.

Verso 11
Pela misericórdia da Colina de Govardhana, esses dez belos versos acerca das glórias da Colina de Govardhana, que garantem residência na Colina de Govardhana, nasceram dos lábios de um velho homem cego. O prazer da Colina de Govardhana, que é minha vida e alma, e que é uma opulenta mina de ouro de virtudes transcendentais, é o fruto maduro que anseio escrevendo esses versos.
Raghunatha Dasa Gosvami
Tradução por Bhagavan dasa

sexta-feira, 9 de novembro de 2007



"Krishna fez os arranjos para que os vaqueiros adorassem Govardhana com a parafernália reunida para o sacrifício a Indra. Ele então assumiu uma enorme e extraordinária forma transcendental e devorou toda a comida e outras oferendas presenteadas a Govardhana. Enquanto fazia isso, Ele proclamou à comunidade dos vaqueiros que, embora eles tivessem adorado Indra por tanto tempo, este jamais aparecera em pessoa, ao passo que a própria Govardhana acabara de se manifestar diante de seus olhos e comera suas oferendas de alimento. Portanto, agora todos deviam oferecer reverências à Colina de Govardhana. Então o Senhor Krishna juntou-Se aos vaqueiros para oferecer revevrências a Sua própria forma recém-assumida" (Srimad Bhagavatam 10.24).
Quando tudo se completou, Krishna assumiu uma enorme forma transcendental de declarou aos habitantes de Vrindávana que Ele próprio era a Colina de Govardhana, a fim de convencer os devotos de que a Colina de Govardhana e Krishna são idênticos. Então Krishna começou a comer toda a comida oferecida lá. A identidade de Krishna como a Colina de Govardhana ainda é honrada, e eminentes devotos apanham pedras da Colina de Govardhanae as adoram tal qual adoram a Deidade de Krishna nos templos.
Os devotos, por isso, recolhem pedrinhas ou seixos da Colina de Govardhana e adoram-nas em casa, porque esta adoração é equivalmente à adoração da Deidade" (Srimad Bhagavatam, sig, 10.24.35).

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Viver num lugar santo



"As águas do Ganges estão sempre transportando o sabor da tulasi oferecida aos pés de lótus de Sri Krishna, e como tal as águas do Ganges correm sempre, a espalhar as glórias do Senhor Krishna. Para onde quer que as águas do Ganges corram, tudo será santificado, tanto externa quanto internamente."Suta Goswami

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Como servir ao Senhor Supremo?



"O Senhor diz que o serviço aos Seus servos é superior a Seu serviço pessoal. O serviço ao devoto é mais valioso que o serviço ao Senhor. Deve-se, portanto, escolher um servo fidedigno do Senhor que esteja constantemente ocupado em Seu serviço, aceitar tal servo como mestre espiritual e ocupar-se em seu serviço. Esse mestre espiritual é o meio transparente pelo qual podemos visualizar o Senhor, que está além da concepção dos sentidos materiais. Pelo serviço ao mestre espiritual fidedigno, o Senhor consente revelar-Se na proporção do serviço prestado. A utilização da energia humana no serviço ao Senhor é o caminho progressivo da salvação. Toda criação cósmica torna-se de imediato idêntica ao Senhor tão logo seja prestado serviço em relação ao Senhor, sob a orientação de um mestre espiritual genuíno. O mestre espiritual experiente conhece a arte de utilizar tudo para glorificar o Senhor, e portanto, sob sua orientação, o mundo inteiro pode converter-se na morada espiritual, pela divina graça do servo do Senhor."
Srila Prabhupada
Srimad Bhagavatam 1.5.23 sig.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Estímulo para o amor extático


" As qualidades transcendentais de Krishna, Suas atividades incomuns, Suas feições sorridentes, Seu vestuário, Suas guirlandas, Sua flauta, Sua corneta feita de chifre de búfalo, os guisos que Ele usa nas pernas, Seu búzio, Suas pegadas, o local onde executa Seus passatempos (como, por exemplo, Vrindávana), Sua planta favorita (tulasi), Seu devoto e as ocasiões periódicas propícias para se lembrar d´Ele - estas são algumas coisas que dão estímulo para o amor extático por Krishna. Uma dessas ocasiões que é propícia para se lembrar de Krishna é o Ekadasi, que acontece duas vezes por mês: no décimo primeiro dia depois da lua no quarto-minguante e no décimo primeiro dia depois da lua no quarto- crescente. Nesse dia (Ekadasi), todos os devotos ficam em jejum por toda a noite e cantam as glórias do Senhor continuamente".
Néctar da Devoção cap. 26

domingo, 4 de novembro de 2007



" Minha querida Radharani de rosto de lua, todo o Teu corpo parece estar muito satisfeito, contudo há vestígios de lágrimas em Teus olhos. Estás falando com hesitação e além do mais tens o peito ofegante. Por todos estes sinais, posso compreender que deves ter ouvido o sopro da flauta de Krishna, e o resultado disto é que agora Teu coração está derretendo." Padyavali

sábado, 3 de novembro de 2007

Rasa-graha



"Todos os homens em todas as partes tentam obter maior quantidade de gozo dos sentidos, através de vários esforços. Alguns homens ocupam-se sofregamente no comércio, indústria, desenvolvimento econômico, supremacia política e demais atividades. Outros ocupam-se em trabalho fruitivo para tornarem-se felizes na próxima vida, através do alcance dos planetas superiores" SB 1.5.18 sig

"Um devoto puro do Senhor perde automaticamente o interesse pelo encanto da existência material porque ele é rasa-graha, ou aquele que saboreou a doçura dos pés de lótus do Senhor Krishna.
O serviço devocional puro é tão saboroso espiritualmente que um devoto perde automaticamente interesse pelo desfrute material. Este é o sinal da perfeição no serviço devocional progressivo. Um devoto puro lembra-se continuamente dos pés de lótus do Senhor Sri Krishna e não O esquece nem por um instante, nem mesmo em troca de toda a opulência dos três mundos". SB 1.5.19 sig

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Dia do Aparecimento do Radha Kunda


O Radha Kunda é conhecido como o Prema Svarupa líquido de Sri Radha, ou seja, a forma líquida do amor mais elevado à Krsna.

"O Radha Kunda é a jóia mais elevada de todos os lila-sthanas (lugares de passatempos) .O Radha Kunda é o lugar da mais elevada perfeição,pois somente no Radha Kunda, Radha Krsna desfrutam das melosidades mais extáticas de madhurya-rasa, com Suas amigas gopis mais queridas e íntimas. Por esta razão, o Radha Kunda é o supremo lugar,mais puro e mais santo,não só neste universo material,mas também no céu espiritual."

"O aparecimento do Radha Kunda, assemelha- se aos aparecimentos de Sri Krsna e Srimati Radharani. As três formas do Senhor apareceram em astami (oitavo dia da lua).
Assim como Krsna apareceu a meia-noite,o Radha Kunda, sendo uma manifestação de Srimati Radharani, apareceu no mês de Kartika,que Srimati Radharani preside, na qualidade de Deidade regente. Kartika é denominado o mês de Srimati Radharani. Portanto é apropriado que o Radha Kunda tenha aparecido no Seu mês".

No Radha-kundastami ( dia do aparecimento do Radha Kunda, também chamado Bahulastami), Srimati Radharani reciproca com os devotos, abraçando-os amorosamente e banhando-os com o néctar líquido de Seu prema, em madhurya rasa.

p/ Praladesh das

quinta-feira, 1 de novembro de 2007



´´ Ouça-Me , ouça-Me Nityananda ! Ouça-Me Haridasa ! Simplesmente disseminem Minha ordem por todo canto.Vão de casa em casa e peçam aos residentes : FALEM SOBRE KRISHNA, ADOREM KRISHNA E ENSINEM SOBRE KRISHNA ``