sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A dor que nos leva a entender quem somos

Muitas vezes demoramos em compreender algo que está bem na frente de nosso nariz. Realmente a poeira que encobre nosso coração é muito densa nesse mundo e nessa Era, tal como o sábio Sri Krishna Caitanya Mahaprabhu afirma em seus escritos chamados Sri Sikshastakam.
O maior sofrimento de uma pessoa vem do fato de ela não entender na prática o que significa ser um Dasa (servo) de Deus. Krishna diz no Bhagavad-gita, “Eu sou o desfrutador de todos os sacrifícios”, mas ainda assim, procuramos sempre estar satisfeitos com tudo e nos sentimos extremamente frustrados quando nos encontramos em situações desagradáveis.
Embora tudo seja tão claro e até, por que não dizer, palpável, somos tão mesquinhos que não conseguimos entender o que devemos fazer. Continuamos assim, a busca desenfreada pela “nossa” satisfação pessoal, num mundo todo errado e de uma forma toda errada. A vida é muito simples, o amor a Deus é muito simples, somos seres simples por natureza e não queremos aceitar essa simplicidade porque pode parecer muito pequeno diante da grandiosidade da qual pensamos e acreditamos ser.
Os momentos de aflição, dor, frustração e decepção, são aqueles que mais nos proporcionam chances reais de crescimento humano. Crescimento humano aqui deve ser entendido como crescimento espiritual, mental e intelectual. Confesso que ao escrever esse pequeno tratado, me encontrava numa situação de muita frustração e prestes a entrar numa desagradável depressão, porém, por uma misericórdia do Guru e de Jagannatha, pude transpor isso para o papel, para tentar ajudar alguém, e porque não, para me desalojar de tal situação ajudando a mim mesmo.
O fato de acharmos que devemos ser notados e que todo mundo deve estar sempre preparado a nos dar atenção, é uma grande armadilha de Maya. Facilmente somos levados a abandonar nossos valores, nossa vida, nossos amores, nossa religião, nossa realidade e abraçar algo inexistente, o vazio, estar sujeitos ao que o destino quiser. Mas o problema é que esse destino tende a ser cruel, inauspicioso e confuso.
Sem dúvida é difícil assumir essa posição de “alma pequena”, de servo, de reconhecer que não somos os controladores de tudo. Dói ver que não podemos controlar. Imediatamente a sensação é de que tudo irá desandar como um carro que está em alta velocidade e você não consegue dirigi-lo, tudo pode acontecer. Mas através da dor e das situações desagradáveis podemos ter a única possibilidade de crescimento, geralmente por nos encontrarmos em tal situação de sensibilidade necessária para compreender certas regras da vida humana. Mas o falso-ego é tão grande! Como lidar com esse ego falso, com esse “eu” que não sou? Pois se acaso chegarmos a uma situação de evolução intelectual e espiritual de podermos adquirir naturalmente essa sensibilidade natural, poderemos simplesmente nos situar em felicidade constante, em bem-aventurança, em auto-satisfação, pois compreenderemos as coisas sem que para isso necessitemos passar por uma situação desagradável, e mesmo se essa vier, a ultrapassaremos com grande facilidade e equanimidade.
Krishna, a Suprema Personalidade de Deus, é o Controlador Supremo, como se diz no Brahma-samhita 5.1, e a compreensão que o objetivo último é a satisfação d´Ele, ajuda nesse processo de aceitação de nossa posição subordinada. É claro, para os “libertários”, pseudo-anarquistas e revolucionários de plantão, isso soa como um belo absurdo neurótico. Mas onde está a felicidade deles? No sexo irrestrito? No acúmulo de bens materiais? Família? Muitos amigos que pensam como você? No decorrer de uma vida “sem destino”? Na idéia ilusória de que “não seguimos nenhuma ordem nem lei”? Isso é liberdade? Como se pode pensar que se tem alguma liberdade quando nem se sabe o que acontecerá amanhã? Essa suposta liberdade vem da prisão a que nos sujeitam à natureza material, presos no mundo material, sujeitos, quer queiram quer não, á doença, velhice, morte, decepções, frustrações, tristezas constantes. Mas se alguém disser que a vida vale á pena assim, dessa forma mesmo, com essas causas “naturais”, que assim é mais interessante e divertido, então porque essas mesmas pessoas reclamam tanto? Sofrem tanto nessas situações, sem saber o que fazer ou como tudo aconteceu? Porque não são absolutamente equânimes diante da tristeza ou da felicidade como Krishna afirma no Bhagavad-gita que um sábio deve ser, sempre equânime diante dessas tribulações da vida, que vem e vão como as estações do verão e inverno e que surgem unicamente da percepção sensorial? Onde está a liberdade ou o controle? Cadê a felicidade? Krishna diz que sem paz não há felicidade, e isso é fato.
A questão aqui é: será que somos uma dessas pessoas acima citadas? Será? Ou não queremos ver? O que você acha? Ou pensa que acha?
Numa situação de sempre pensarmos que somos os reis, os controladores, é que podemos tirar conclusões e chegar a veredictos, como se nossa vida fosse um eterno tribunal e nós próprios os verdadeiros e autorizados juizes supremos. Mas não somos.
Krishna é o juiz e nós os réus culpados que estamos nessa prisão material pagando pelo erro de termos desejado ser os senhores de tudo, sendo que jamais o seremos. Deixamos de lado a vida de eterna sabedoria, bem-aventurança e felicidade num local lindo, perfeito e ideal, o Supremo real e eterno, para pousarmos num mundo avesso a tudo que nosso ser deseja realmente, por isso a confusão. Só podemos assumir verdadeira felicidade quando reconhecermos e humildemente aceitarmos nossa verdadeira posição, de servos do Senhor Supremo. Por satisfazê-lO, podemos estar satisfeito naturalmente.
A ternura verdadeira vem daquele que tudo provem, não daquele que provem o passageiro, o ilusório, o inacabado e sem-destino.
Por Gourasundar das

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