segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Sri Sri Siksastaka (verso3)

Composição de Sua Onipotência Sri Krsna Caitanya Mahaprabhu
Significados de Sua Divina Graça Bhaktisiddhanta Sarasvati
Verso3
trnad api sunicena
taror api sahisnuna
amanina manadena
kirtaniyah sada hari

O santo nome do Senhor deve ser cantado em um estado de espírito humilde, considerando-se inferior à palha na rua; deve-se ser mais tolerante do que uma árvore, destituído de todo sentido de falso prestígio, e deve-se estar pronto para oferecer todo o respeito aos outros. Em tal estado de espírito, o santo nome do Senhor pode ser cantado constantemente.

A entidade viva é, por constituição, serva eterna do Senhor Krsna. Seu dharma eterno, portanto, é cantar os santos nomes do Senhor Supremo, quer enquanto em trânsito pelo mundo material quer residindo no mundo espiritual. O cantar do santo nome é tanto o meio para a obtenção (upaya) como o objeto a ser obtido (upeya). Não há nada melhor para o benefício e sucesso da humanidade além do cantar do santo nome, o qual invoca toda sorte de auspiciosidade tanto para quem o canta quanto para os demais. Sri Caitanya Mahaprabhu, em virtude de Sua compaixão para com as entidades vivas, compôs este verso a fim de descrever às jivas como elas podem cantar o santo nome evitando as plataformas de nama-aparadha e namabhasa.

Aquele cujo coração não é inclinado ao serviço a Krsna, mas antes ao intoxicante desfrute material, é completamente incapaz de perceber seu verdadeiro tamanho infinitesimal. Por natureza, alguém que se empenha em ser o desfrutador não pode compreender verdadeiramente a realidade de sua insignificância; e tampouco pode ser tolerante. O desfrutador dos sentidos materiais é completamente incapaz de renunciar seu falso ego e seu falso prestígio, e não possui qualquer inclinação a demonstrar respeito por outros materialistas similares, senão que eles sempre se invejam mutuamente. Por outro lado, o Vaisnava que se extasia com o nome do Senhor é mais humilde até mesmo do que uma folha de grama, e mais tolerante do que uma árvore; enquanto mantém uma postura indiferente – ou até mesmo avessa – ao prestígio voltado a ele, está sempre ansioso por mostrar respeito a outros. Neste mundo material, ninguém além de tal alma elevada é digno e capaz de cantar o santo nome constantemente.

Quando essas almas imaculadas glorificam e adoram o guru e outros Vaisnavas, elas o fazem inspiradas por sua propensão inata de exaltar outros (manada). E quando afetuosamente aconselham discípulos e sadhakas a cantarem, elas o fazem os encorajando com palavras de apreciação, o que expressa sua inata qualidade de amanina –ausência de desejo por respeito ou louvor em troca.

O devoto puro compreende que essas palavras glorificativas e apreciadoras não se tratam de alguma espécie de bajulação barata, senão que reconhece suas qualidades espirituais; quando algum tolo, entretanto, equivocadamente as considera como mundanas, o devoto tolera seus comentários insultuosos e assim transparece sua qualidade da clemência. Essa é a sua natureza. O Vaisnava perfeito, aquele que canta sem ofensas, considera a si mesmo inferior à palha na rua, a qual é por todos pisoteada. Um verdadeiro santo jamais se considera um Vaisnava ou clama ser guru. Ele se considera discípulo do mundo inteiro, bem como a alma mais caída e insignificante de todas. Reconhecendo todo átomo e entidade viva infinitesimal como residência do Senhor Krsna, ele jamais considera algo ou alguém como inferior a ele. O devoto absorto no cantar do santo nome jamais deseja algo deste mundo, tampouco requer algo a alguém. E se alguém demonstra malícia contra ele ou o violenta, tal devoto nem retalha nem adota uma postura vingativa; ao contrário, ele ora pelo bem-estar de seu atormentador.

O Devoto Puro é Fiel ao Seu Guru

O devoto que canta o santo nome adornado com as qualidades acima mencionadas jamais rejeita o processo devocional recebido de seu guru com o intento de adotar métodos novos e divergentes. Ele jamais inventa versos para cantar no lugar do maha-mantra, senão que permanece sempre sob a guia do guru, prega as glórias do santo nome, escreve livros baseados no serviço devocional e se ocupa em bhajana e kirtana do nome de Hari –tudo em rigorosa adesão às instruções do guru. Ocupando-se nestas atividades, não há transgressão da humildade Vaisnava, pois o devoto sempre se considera baixo e caído. Ele jamais tenta enganar outros por meio de uma falsa exibição de humildade visando obter riquezas ou adoração barata –tal categoria de humildade não é de valia alguma. O maha-bhagavata, em companhia do constante cantar, não vê este mundo material como algo a ser explorado para o seu ganho pessoal, mas o vê como uma parafernália multiforme propícia para o serviço a Krsna e a Seus devotos. Em outras palavras, ele vê tudo neste mundo como relacionado a Krsna. Muito embora se torne perito no cantar do maha-mantra, ele nunca cogita abandonar tal prática obtida de seu guru, tampouco tem ele interesse em propagar novas teorias e opiniões.

O maha-bhagavata entende que se considerar o guru de um Vaisnava é contrário ao princípio da humildade. A grande verdade é que aqueles que não atentam seriamente às instruções do Senhor Caitanya neste Siksastaka, esquecidos de sua identidade espiritual, estão buscando avidamente por prestígio e ganho material a fim de satisfazerem seus sentidos. Aquele que está ávido pela obtenção do prestígio da posição social de Vaisnava ou guru jamais pode cantar o santo
nome, pois se trata de um ofensor. E mesmo se um discípulo sincero e fiel ouve o santo nome de tal ofensor – apesar de sua sinceridade e fidelidade –ele não é digno do ouvir e cantar do santo nome puro.
Tradução: Bhagavan dasa

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