Um professor inovador, um estudante erudito e o mestre da argumentação. O Senhor Caitanya exibiu a vida ideal.
Navadvipa dhama, a terra sagrada dos passatempos do Senhor Caitanya, está situada a aproximadamente 95 quilômetros a noroeste de Calcutá. Ali, a medida que a foz em delta do Ganges começa a se formar, os diferentes afluentes do rio circundam uma área de 50 quilômetros quadrados e a divide em nove ilhas. Navadvipa significa “nove ilhas”. Ali, a Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Caitanya, residiu pelos primeiros vinte e quatro anos de Seu aparecimento neste mundo.
Navadvipa é tradicionalmente conhecida como um centro de educação formal. Antigamente, muitos sanscritólogos eruditos se reuniriam em Navadvipa para discutirem a literatura Védica, e, porque esses eruditos também eram grandes devotos da Suprema Personalidade de Deus, os tópicos que eles discutiam seriam sempre centrados nas instruções do Senhor Krsna no Bhagavad-gita ou em Suas atividades registradas no Srimad-Bhagavatam. Hoje, a cidade de Navadvipa mantém sua tradição de educação formal e devoção a Krsna, e muitos versados devotos do Senhor Caitanya residem neste local de peregrinação onde o Senhor apresentou Seus passatempos estudantis.
De acordo com o sistema social Védico, é responsabilidade dos brahmanas, ou intelectuais, guiar a sociedade tanto espiritual quanto intelectualmente. Os deveres de um brahmana são estudar a literatura Védica, ensinar a literatura Védica, adorar a Deidade, ocupar outros na adoração à Deidade, aceitar caridade e dar caridade. O Senhor Caitanya nasceu em uma família brahmínica, e, em tenra idade, aceitou o primeiro dever de um brahmana de estudar a literatura Védica. O profundo estudo do Senhor foi a principal atividade de Sua juventude. Srila Vrndavana dasa Thakura, que escreveu o Caitanya-bhagavata, uma biografia do Senhor Caitanya, chega até mesmo a devotar seis capítulos a descrever os passatempos do Senhor como um jovem estudante.
As regras gramaticais e as definições da língua sânscrita são extremamente intricadas, e se sugere que se estude esse ponto por doze anos antes de progredir para tópicos mais avançados. A gramática sânscrita é considerada o portão de entrada para os estudos, porque, uma vez que ela é dominada, todas as escrituras Védicas e outras literaturas sânscritas se tornam facilmente compreensíveis. Mas o Senhor Caitanya aprendia essas regras imediatamente, após ouvi-las uma única vez. Porque Ele logo começou a ganhar muitas competições gramaticais entre os estudantes, o título pandita, que significa “uma pessoa muito erudita”, foi atribuído ao Senhor, que passou a ser conhecido como Nimai Pandita. À medida que Sua reputação de estudioso erudito crescia, Ele começou a atrair estudantes que queriam estudar sânscrito sob Sua direção. O Senhor, então, começou a cumprir a segunda obrigação brahmínica, a de ensinar, muito embora Ele tivesse apenas onze anos de idade.
O Senhor Caitanya frequentemente Se sentaria às margens do Ganges discutindo tópicos literários com Seus estudantes. Uma noite, um grande erudito chamado Keshava kashmiri se encontrou com o Senhor Caitanya ali. Keshava Kashmiri, que pertencia a uma família brahmínica muito respeitada da Kashimira, estava viajando por diferentes centros de estudo por toda a Índia debatendo as literaturas Védicas sânscritas com os estudantes. A arte de se debater na língua sânscrita é extremamente rigorosa. Todos os temas devem ser examinados em termos de cinco categorias, incluindo fidelidade ao propósito do texto original, lógica, exemplos dados em termos de vários fatos, compreensão do tema – de maneira clara ou não –, e embasamento a partir de citação das escrituras autorizadas. Como um homem de vasta erudição, Keshava Kashmiri era o campeão invicto neste tipo de debate. Assim, ele carregava o título de Digvijayi, que significa “aquele que conquistou a todos em todas as direções”. O debatedor campeão havia agora vindo até Navadvipa com a esperança de aumentar sua reputação derrotando os estudiosos dali.
Naquela época, os debates não eram meros exercícios acadêmicos, senão que o perdedor era obrigado a se tornar discípulo do vencedor. Esse fato assustou os estudantes de Navadvipa. Eles tinham o plano de fazerem uma disputa entre o Senhor Caitanya e Keshava Kashmiri. Eles consideraram que, se o Senhor fosse derrotado, eles teriam outra chance de debater com o erudito, pois, afinal, o Senhor Caitanya era apenas um garoto. Mas se o Senhor derrotasse o erudito, a posição deles seria ainda mais gloriosa pelo fato de um mero garoto de sua comunidade acadêmica ter derrotado o campeão invicto.
Keshava Kashmiri sabia da reputação do Senhor Caitanya como um erudito sanscritólogo, mas, estando muito orgulhoso de sua brilhante carreira pessoal, ele se considerou muito superior ao Senhor. Assim, quando eles se encontraram nas margens do rio Ganges, Keshava Kashmiri falou asperamente com o Senhor. Com muita perícia, ele criticou o Senhor Caitanya insinuando que o “malabarismo gramatical” que o Senhor ensinava a Seus estudantes não exigia muita destreza. O Senhor Caitanya, que age de diferentes maneiras para o benefício das almas condicionadas, respondeu ao erudito de forma a aumentar seu prestígio artificial. O Senhor Se apresentou em uma posição subordinada e pediu ao erudito para ele demonstrar sua perícia poética compondo versos em glorificação ao Ganges.
Keshava Kashmiri era devoto da deusa da sabedoria, Sarasvati, e, sendo favorecido por ela, era bastante confiante de suas habilidades intelectuais. Ao pedido do Senhor Caitanya, ele imediatamente compôs cem versos glorificando o Ganges e eloqüentemente os recitou diante do Senhor Caitanya e Seus alunos.
Após ouvirem a convincente apresentação de Keshava Kashmiri, o Senhor Caitanya falou de forma a refrear o orgulho que Ele havia previamente incentivado. Glorificando de forma sarcástica o poeta, o Senhor, que havia memorizado todos os cem versos, repetiu o sexagésimo quarto verso e pediu para Keshava Kashmiri explicá-lo. O erudito, embora espantado pelo Senhor Caitanya ter memorizado um dos versos rapidamente citados, explicou o significado do verso. O Senhor Caitanya então lhe pediu para explicar os pontos positivos e as falhas do verso.
O orgulhoso poeta ficou nervoso. “Você é apenas um estudante ordinário de gramática”, ele disse. “O que Você sabe sobre adornamentos literários? Você não pode analisar esse poema, pois Você não sabe nada sobre isso”. O Senhor Caitanya novamente Se submeteu humildemente a Keshava Kashmiri e respondeu: “Certamente Eu não estudei a arte de adornar composições literárias, mas Eu ouvi sobre isso dos círculos mais elevados, e posso, portanto, analisar esse verso e apontar muitas falhas e muitos pontos positivos nele. Permita-me dizê-los, e, por favor, escute-Me sem se irritar”.
O Senhor Caitanya explicou então cinco ornatos literários e cinco falhas no verso. O Senhor analisou as falhas no verso em termos de composição imprópria, significados contraditórios e redundância. Ele em seguida glorificou o verso por seus ornatos de aliteração, analogia e significado. O Senhor concluiu: “Eu discuti apenas as cinco faltas grosseiras e cinco ornatos literários deste verso, mas, se o considerarmos em seus detalhes, encontraremos ilimitadas falhas. A explanação do Senhor Caitanya havia sido tão completa, mesmo Ele tendo ouvido o verso apenas uma única vez, que Keshava Kashmiri ficou assombrado. Quando ele tentou replicar os comentários do Senhor, ele não foi capaz de encontrar palavras para se expressar. A confiança dele em sua inteligência foi aniquilada. Seu orgulho deu lugar à insegurança.
Keshava Kashmiri havia se tornado muito orgulhoso, considerando-se invencível devido ao seu vasto conhecimento, mas seu orgulho só serviu para confundi-lo. A posição verdadeira da entidade viva é de dependência do Senhor Supremo. No Bhagavad-gita, a Suprema Personalidade de Deus explica que todo conhecimento, lembrança e esquecimento vem dEle. O orgulho de Keshava Kashmiri o fez ignorante dessa verdade, mas o Senhor Caitanya demonstrou grande misericórdia para com ele contendo seu orgulho e lhe dando dessa maneira a oportunidade de obter conhecimento transcendental.
Voltando para casa, Keshava Kashmiri adorou Sarasvati, a deusa da sabedoria, desejando saber qual ofensa havia cometido a ela para ser derrotado por um jovem garoto. Aquela noite, mãe Sarasvati apareceu para o erudito em um sonho e lhe revelou que o Senhor Caitanya era a própria Suprema Personalidade de Deus. Keshava Kashmiri pôde então entender sua posição como servo eterno do Senhor. Na manhã seguinte, Keshava Kashmiri foi ver o Senhor Caitanya e imediatamente se rendeu a Ele. O Senhor, assim, concedeu Sua misericórdia ao erudito, liberando-o do orgulho que lhe fazia cativo à vida material. Daí em diante, Keshava Kashmiri abandonou a ocupação de vencer campeonatos e se tornou um grande devoto do Senhor.
Após este incidente, o Senhor Caitanya foi aclamado como o mais importante erudito de toda Navadvipa. De fato, ele começou a debater e a derrotar todos os tipos de estudiosos dos discursos das escrituras Védicas. Mas, por causa de Seu comportamento gentil, nenhum deles ficava infeliz.
Aos dezesseis anos de idade, o Senhor dirigia Sua própria escola. Em concordância com Sua missão como a encarnação desta era, o Senhor ensinava gramática sânscrita através da Consciência de Krsna. Ele explicava as regras e definições em relação com Krsna, induzindo dessa forma Seus estudantes a cantarem os santos nomes de Deus. O propósito do Senhor era que Seus estudantes e todos nós realizássemos que não há nada em nossa experiência senão Krsna.
Durante este período, Srila Isvara Puri visitou Navadvipa. Isvara Puri era o mais querido discípulo do grande sannyasi seguidor de Srila Madhvacarya, Srila Madhavendra Puri. O Senhor Caitanya se aproximou de Isvara Puri neste tempo e ouviu a recitação de seu livro Krsna-lilamrta. Posteriormente, enquanto em Gaya, o Senhor novamente Se encontrou com Isvara Puri, e, aceitando-o como Seu mestre espiritual, foi iniciado por ele.
Apesar da reputação do Senhor Caitanya como um acadêmico erudito, Isvara Puri o repreendeu. “Você é um tolo”, ele disse. “Você não é qualificado para estudar a filosofia Vedanta, por isso Você deve sempre cantar os santos nomes de Krsna, simplesmente cante os nomes de Krsna. Nesta era de Kali, não há outro princípio religioso além do cantar do santo nome, que é a essência de todos os hinos Védicos”. Recebendo esta ordem de Seu mestre espiritual, o Senhor Caitanya imediatamente exibiu sintomas de êxtase de amor por Deus.
Isvara Puri atuando como mestre espiritual do Senhor Caitanya e o Senhor Caitanya atuando como o discípulo ideal nos instruem que é unicamente através da iniciação apropriada que é possível para as almas condicionadas amarem a Deus. No Bhagavad-gita, a Suprema Personalidade Deus nos instrui a nos aproximarmos de um mestre espiritual autêntico se sinceramente desejamos conhecimento transcendental e amor por Deus. O segredo do sucesso na vida espiritual está neste sistema de sucessão discipular. A pessoa pode ser um grande erudito ou um tolo iletrado, mas, seguindo o Senhor Caitanya e recebendo instrução de um mestre espiritual autêntico, todos podem obter esse amor por Deus que o movimento de sankirtana do Senhor está distribuindo.
Todas as glórias ao Senhor Caitanya Mahaprabhu! Todas as glórias a Srila Prabhupada!
Biógrafos do Senhor Caitanya dividiram Sua vida em três períodos. O período que consiste em Seus primeiros vinte e quatro anos, durante os quais o Senhor Caitanya residiu em Navadvipa, perfazem os passatempos de Seu nascimento, infância, juventude e casamento. Esse período de vinte e quatro anos é conhecido como adi-lila.
Ao término de Seus vinte e quatro anos, o Senhor Caitanya entrou na ordem renunciada, sannyasa. Durante esse período de Sua vida, madhya-lila, ou passatempos intermediários, o Senhor viajou continuamente por seis anos. Partindo de Sua sede principal em Jagannatha Puri, na Orissa, Ele fez peregrinações ao Sul da Índia, à Bengala e a Vrndavana.
Pelos últimos dezoito anos de Sua vida, o Senhor Caitanya permaneceu fixo em Jagannatha Puri, onde exibiu Sua antya-lila, ou passatempos finais. Ali, na companhia de Seus associados íntimos, Ele pessoalmente desfrutou do amor por Deus cantando o mantra Hare Krsna e dançando em êxtase.
Navadvipa dhama, a terra sagrada dos passatempos do Senhor Caitanya, está situada a aproximadamente 95 quilômetros a noroeste de Calcutá. Ali, a medida que a foz em delta do Ganges começa a se formar, os diferentes afluentes do rio circundam uma área de 50 quilômetros quadrados e a divide em nove ilhas. Navadvipa significa “nove ilhas”. Ali, a Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Caitanya, residiu pelos primeiros vinte e quatro anos de Seu aparecimento neste mundo.
Navadvipa é tradicionalmente conhecida como um centro de educação formal. Antigamente, muitos sanscritólogos eruditos se reuniriam em Navadvipa para discutirem a literatura Védica, e, porque esses eruditos também eram grandes devotos da Suprema Personalidade de Deus, os tópicos que eles discutiam seriam sempre centrados nas instruções do Senhor Krsna no Bhagavad-gita ou em Suas atividades registradas no Srimad-Bhagavatam. Hoje, a cidade de Navadvipa mantém sua tradição de educação formal e devoção a Krsna, e muitos versados devotos do Senhor Caitanya residem neste local de peregrinação onde o Senhor apresentou Seus passatempos estudantis.
De acordo com o sistema social Védico, é responsabilidade dos brahmanas, ou intelectuais, guiar a sociedade tanto espiritual quanto intelectualmente. Os deveres de um brahmana são estudar a literatura Védica, ensinar a literatura Védica, adorar a Deidade, ocupar outros na adoração à Deidade, aceitar caridade e dar caridade. O Senhor Caitanya nasceu em uma família brahmínica, e, em tenra idade, aceitou o primeiro dever de um brahmana de estudar a literatura Védica. O profundo estudo do Senhor foi a principal atividade de Sua juventude. Srila Vrndavana dasa Thakura, que escreveu o Caitanya-bhagavata, uma biografia do Senhor Caitanya, chega até mesmo a devotar seis capítulos a descrever os passatempos do Senhor como um jovem estudante.
As regras gramaticais e as definições da língua sânscrita são extremamente intricadas, e se sugere que se estude esse ponto por doze anos antes de progredir para tópicos mais avançados. A gramática sânscrita é considerada o portão de entrada para os estudos, porque, uma vez que ela é dominada, todas as escrituras Védicas e outras literaturas sânscritas se tornam facilmente compreensíveis. Mas o Senhor Caitanya aprendia essas regras imediatamente, após ouvi-las uma única vez. Porque Ele logo começou a ganhar muitas competições gramaticais entre os estudantes, o título pandita, que significa “uma pessoa muito erudita”, foi atribuído ao Senhor, que passou a ser conhecido como Nimai Pandita. À medida que Sua reputação de estudioso erudito crescia, Ele começou a atrair estudantes que queriam estudar sânscrito sob Sua direção. O Senhor, então, começou a cumprir a segunda obrigação brahmínica, a de ensinar, muito embora Ele tivesse apenas onze anos de idade.
O Senhor Caitanya frequentemente Se sentaria às margens do Ganges discutindo tópicos literários com Seus estudantes. Uma noite, um grande erudito chamado Keshava kashmiri se encontrou com o Senhor Caitanya ali. Keshava Kashmiri, que pertencia a uma família brahmínica muito respeitada da Kashimira, estava viajando por diferentes centros de estudo por toda a Índia debatendo as literaturas Védicas sânscritas com os estudantes. A arte de se debater na língua sânscrita é extremamente rigorosa. Todos os temas devem ser examinados em termos de cinco categorias, incluindo fidelidade ao propósito do texto original, lógica, exemplos dados em termos de vários fatos, compreensão do tema – de maneira clara ou não –, e embasamento a partir de citação das escrituras autorizadas. Como um homem de vasta erudição, Keshava Kashmiri era o campeão invicto neste tipo de debate. Assim, ele carregava o título de Digvijayi, que significa “aquele que conquistou a todos em todas as direções”. O debatedor campeão havia agora vindo até Navadvipa com a esperança de aumentar sua reputação derrotando os estudiosos dali.
Naquela época, os debates não eram meros exercícios acadêmicos, senão que o perdedor era obrigado a se tornar discípulo do vencedor. Esse fato assustou os estudantes de Navadvipa. Eles tinham o plano de fazerem uma disputa entre o Senhor Caitanya e Keshava Kashmiri. Eles consideraram que, se o Senhor fosse derrotado, eles teriam outra chance de debater com o erudito, pois, afinal, o Senhor Caitanya era apenas um garoto. Mas se o Senhor derrotasse o erudito, a posição deles seria ainda mais gloriosa pelo fato de um mero garoto de sua comunidade acadêmica ter derrotado o campeão invicto.
Keshava Kashmiri sabia da reputação do Senhor Caitanya como um erudito sanscritólogo, mas, estando muito orgulhoso de sua brilhante carreira pessoal, ele se considerou muito superior ao Senhor. Assim, quando eles se encontraram nas margens do rio Ganges, Keshava Kashmiri falou asperamente com o Senhor. Com muita perícia, ele criticou o Senhor Caitanya insinuando que o “malabarismo gramatical” que o Senhor ensinava a Seus estudantes não exigia muita destreza. O Senhor Caitanya, que age de diferentes maneiras para o benefício das almas condicionadas, respondeu ao erudito de forma a aumentar seu prestígio artificial. O Senhor Se apresentou em uma posição subordinada e pediu ao erudito para ele demonstrar sua perícia poética compondo versos em glorificação ao Ganges.
Keshava Kashmiri era devoto da deusa da sabedoria, Sarasvati, e, sendo favorecido por ela, era bastante confiante de suas habilidades intelectuais. Ao pedido do Senhor Caitanya, ele imediatamente compôs cem versos glorificando o Ganges e eloqüentemente os recitou diante do Senhor Caitanya e Seus alunos.
Após ouvirem a convincente apresentação de Keshava Kashmiri, o Senhor Caitanya falou de forma a refrear o orgulho que Ele havia previamente incentivado. Glorificando de forma sarcástica o poeta, o Senhor, que havia memorizado todos os cem versos, repetiu o sexagésimo quarto verso e pediu para Keshava Kashmiri explicá-lo. O erudito, embora espantado pelo Senhor Caitanya ter memorizado um dos versos rapidamente citados, explicou o significado do verso. O Senhor Caitanya então lhe pediu para explicar os pontos positivos e as falhas do verso.
O orgulhoso poeta ficou nervoso. “Você é apenas um estudante ordinário de gramática”, ele disse. “O que Você sabe sobre adornamentos literários? Você não pode analisar esse poema, pois Você não sabe nada sobre isso”. O Senhor Caitanya novamente Se submeteu humildemente a Keshava Kashmiri e respondeu: “Certamente Eu não estudei a arte de adornar composições literárias, mas Eu ouvi sobre isso dos círculos mais elevados, e posso, portanto, analisar esse verso e apontar muitas falhas e muitos pontos positivos nele. Permita-me dizê-los, e, por favor, escute-Me sem se irritar”.
O Senhor Caitanya explicou então cinco ornatos literários e cinco falhas no verso. O Senhor analisou as falhas no verso em termos de composição imprópria, significados contraditórios e redundância. Ele em seguida glorificou o verso por seus ornatos de aliteração, analogia e significado. O Senhor concluiu: “Eu discuti apenas as cinco faltas grosseiras e cinco ornatos literários deste verso, mas, se o considerarmos em seus detalhes, encontraremos ilimitadas falhas. A explanação do Senhor Caitanya havia sido tão completa, mesmo Ele tendo ouvido o verso apenas uma única vez, que Keshava Kashmiri ficou assombrado. Quando ele tentou replicar os comentários do Senhor, ele não foi capaz de encontrar palavras para se expressar. A confiança dele em sua inteligência foi aniquilada. Seu orgulho deu lugar à insegurança.
Keshava Kashmiri havia se tornado muito orgulhoso, considerando-se invencível devido ao seu vasto conhecimento, mas seu orgulho só serviu para confundi-lo. A posição verdadeira da entidade viva é de dependência do Senhor Supremo. No Bhagavad-gita, a Suprema Personalidade de Deus explica que todo conhecimento, lembrança e esquecimento vem dEle. O orgulho de Keshava Kashmiri o fez ignorante dessa verdade, mas o Senhor Caitanya demonstrou grande misericórdia para com ele contendo seu orgulho e lhe dando dessa maneira a oportunidade de obter conhecimento transcendental.
Voltando para casa, Keshava Kashmiri adorou Sarasvati, a deusa da sabedoria, desejando saber qual ofensa havia cometido a ela para ser derrotado por um jovem garoto. Aquela noite, mãe Sarasvati apareceu para o erudito em um sonho e lhe revelou que o Senhor Caitanya era a própria Suprema Personalidade de Deus. Keshava Kashmiri pôde então entender sua posição como servo eterno do Senhor. Na manhã seguinte, Keshava Kashmiri foi ver o Senhor Caitanya e imediatamente se rendeu a Ele. O Senhor, assim, concedeu Sua misericórdia ao erudito, liberando-o do orgulho que lhe fazia cativo à vida material. Daí em diante, Keshava Kashmiri abandonou a ocupação de vencer campeonatos e se tornou um grande devoto do Senhor.
Após este incidente, o Senhor Caitanya foi aclamado como o mais importante erudito de toda Navadvipa. De fato, ele começou a debater e a derrotar todos os tipos de estudiosos dos discursos das escrituras Védicas. Mas, por causa de Seu comportamento gentil, nenhum deles ficava infeliz.
Aos dezesseis anos de idade, o Senhor dirigia Sua própria escola. Em concordância com Sua missão como a encarnação desta era, o Senhor ensinava gramática sânscrita através da Consciência de Krsna. Ele explicava as regras e definições em relação com Krsna, induzindo dessa forma Seus estudantes a cantarem os santos nomes de Deus. O propósito do Senhor era que Seus estudantes e todos nós realizássemos que não há nada em nossa experiência senão Krsna.
Durante este período, Srila Isvara Puri visitou Navadvipa. Isvara Puri era o mais querido discípulo do grande sannyasi seguidor de Srila Madhvacarya, Srila Madhavendra Puri. O Senhor Caitanya se aproximou de Isvara Puri neste tempo e ouviu a recitação de seu livro Krsna-lilamrta. Posteriormente, enquanto em Gaya, o Senhor novamente Se encontrou com Isvara Puri, e, aceitando-o como Seu mestre espiritual, foi iniciado por ele.
Apesar da reputação do Senhor Caitanya como um acadêmico erudito, Isvara Puri o repreendeu. “Você é um tolo”, ele disse. “Você não é qualificado para estudar a filosofia Vedanta, por isso Você deve sempre cantar os santos nomes de Krsna, simplesmente cante os nomes de Krsna. Nesta era de Kali, não há outro princípio religioso além do cantar do santo nome, que é a essência de todos os hinos Védicos”. Recebendo esta ordem de Seu mestre espiritual, o Senhor Caitanya imediatamente exibiu sintomas de êxtase de amor por Deus.
Isvara Puri atuando como mestre espiritual do Senhor Caitanya e o Senhor Caitanya atuando como o discípulo ideal nos instruem que é unicamente através da iniciação apropriada que é possível para as almas condicionadas amarem a Deus. No Bhagavad-gita, a Suprema Personalidade Deus nos instrui a nos aproximarmos de um mestre espiritual autêntico se sinceramente desejamos conhecimento transcendental e amor por Deus. O segredo do sucesso na vida espiritual está neste sistema de sucessão discipular. A pessoa pode ser um grande erudito ou um tolo iletrado, mas, seguindo o Senhor Caitanya e recebendo instrução de um mestre espiritual autêntico, todos podem obter esse amor por Deus que o movimento de sankirtana do Senhor está distribuindo.
Todas as glórias ao Senhor Caitanya Mahaprabhu! Todas as glórias a Srila Prabhupada!
Biógrafos do Senhor Caitanya dividiram Sua vida em três períodos. O período que consiste em Seus primeiros vinte e quatro anos, durante os quais o Senhor Caitanya residiu em Navadvipa, perfazem os passatempos de Seu nascimento, infância, juventude e casamento. Esse período de vinte e quatro anos é conhecido como adi-lila.
Ao término de Seus vinte e quatro anos, o Senhor Caitanya entrou na ordem renunciada, sannyasa. Durante esse período de Sua vida, madhya-lila, ou passatempos intermediários, o Senhor viajou continuamente por seis anos. Partindo de Sua sede principal em Jagannatha Puri, na Orissa, Ele fez peregrinações ao Sul da Índia, à Bengala e a Vrndavana.
Pelos últimos dezoito anos de Sua vida, o Senhor Caitanya permaneceu fixo em Jagannatha Puri, onde exibiu Sua antya-lila, ou passatempos finais. Ali, na companhia de Seus associados íntimos, Ele pessoalmente desfrutou do amor por Deus cantando o mantra Hare Krsna e dançando em êxtase.
Por Sesa Dasa
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