terça-feira, 29 de julho de 2008


Faz somente quinhentos anos, o Senhor Caitanya Mahaprabhu, um grande santo e místico, profetizou que o mantra Hare Krishna seria executado em todos os povoados e aldeias do mundo. Em uma época em que o homem ocidental estava dirigindo seu espírito explorador para estudos sobre o universo físico e a circunavegação do globo, na Índia, Sri Caitanya estava inaugurando e dirigindo uma revolução canalizada para o eu interno do indivíduo. Seu movimento inundou o subcontinente, conquistou milhões de seguidores, e influenciou profundamente o futuro do pensamento filosófico e religioso tanto da Índia como do Ocidente. No seguinte discurso apresentado em novembro de 1969 no Conway Hall de Londres, Srila Prabhupada descreve a divina aparição de Sri Caitanya.
Sri Caitanya Mahaprabhu, o avatara dourado, apareceu na Índia há aproximadamente quinhentos anos. Na Índia é costume chamar um astrólogo quando nasce uma criança. Quando o Senhor Krishna, a Suprema Personalidade de Deus, apareceu há cinco mil anos atrás, Seu pai mandou chamar Gargamuni, e este disse: “Esta criança encarnou-Se anteriormente em três cores: branco, vermelho e dourado, e agora Ele aparece em cor negra.” Nas escrituras descreve-se que a cor de Krishna é negra, assim como a cor de uma nuvem. Entende-se que o Senhor Caitanya é Krishna que aparece com tez dourada.
Há muitas evidências na literatura védica de que Caitanya Mahaprabhu é uma encarnação de Krishna, e isto é confirmado por eruditos e devotos. No Srimad-Bhagavatam confirma-se que a encarnação de Krishna, ou Deus, nesta era atual, Kali-yuga, estará sempre ocupada em descrever Krishna. Ele é Krishna, mas, como um devoto de Krishna, Ele Se descreve. E nesta era a cor de Seu corpo não será negra. Isto significa que poderia ser branca, vermelha ou amarela porque essas quatro cores – branco, vermelho, amarelo e negro – são as cores assumidas pelas encarnações para as diferentes eras. Portanto, uma vez que as cores vermelha, branca e negra já haviam sido assumidas por encarnações anteriores, a cor restante, dourada, é assumida por Caitanya Mahaprabhu. Sua tez não é negra, mas Ele é Krishna.
Outra característica deste avatara é que Ele está sempre acompanhado por Seus associados. No quadro de Caitanya Mahaprabhu encontrá-lO-emos acompanhado por muitos devotos cantando. Sempre que Deus Se encarna Ele tem duas missões, como se afirma no Bhagavad-gita. Ali Krishna diz: “Sempre que Eu apareço, Minha missão é salvar os devotos piedosos e aniquilar os demônios.” Quando Krishna apareceu, Ele teve que matar muitos demônios. Se virmos um quadro de Visnu, perceberemos que Ele tem um búzio, uma flor de lótus, maça e disco. Estes dois últimos artigos destinam-se a matar demônios. Dentro deste mundo há duas classes de homens – os demônios e os devotos. Os devotos chamam-se semideuses; eles são quase como Deus porque têm qualidades divinas. Aqueles que são devotos são chamados pessoas divinas, e aqueles que são não-devotos, ateístas, são chamados demônios. De modo que Krishna, ou Deus, vem com duas missões: dar proteção aos devotos e destruir os demônios. Nesta era, a missão de Caitanya Mahaprabu também é essa: salvar os devotos e aniquilar os não devotos, os demônios. Mas nesta era Ele tem uma arma diferente. Essa arma não é uma maça, nem disco, nem qualquer arma mortal – Sua arma é o movimento sankirtana. Ele matou a mentalidade demoníaca das pessoas introduzindo o movimento sankirtana. Esta é a importância específica do Senhor Caitanya. Nesta era, as pessoas já estão se matando. Elas têm descoberto armas atômicas com as quais se matam, de modo que não há necessidade de que Deus venha matá-las. Porém, Ele apareceu para matar a mentalidade demoníaca delas. Isto é possível através deste movimento para a consciência de Krishna.
Portanto, no Srimad-Bhagavatam se diz que esta é a encarnação de Deus para esta era. E quem O adora? O processo é muito simples. Simplesmente mantenha um quadro do Senhor Caitanya com Seus associados. O Senhor Caitanya está no meio, acompanhado por Seus associados principais – Nityananda, Advaita, Gadadhara e Srivasa. Tem-se simplesmente que manter este quadro. Podemos mantê-lo em qualquer parte. Não é que seja preciso as pessoas virem até nós para ver este quadro. Qualquer um pode ter seu quadro em casa, cantar este mantra Hare Krishna e desse modo adorar o Senhor Caitanya. É este o simples método. Mas quem entenderá este simples método? Aqueles que têm inteligência. Sem muito incômodo, alguém que simplesmente mantenha um quadro de Sri Caitanya Mahaprabhu em casa e cante Hare Krishna, compreenderá Deus. Qualquer um pode adotar este simples método. Não é dispendioso, é isento de impostos, e não é necessário construir igreja ou templo. Qualquer um, em qualquer parte, pode sentar-se na rua ou debaixo de uma árvore, cantar o mantra Hare Krishna e adorar Deus. Portanto, está é uma grande oportunidade. Por exemplo, no comércio ou na política, às vezes encontramos uma grande oportunidade. Aqueles que são políticos inteligentes aproveitam essas boas oportunidades e fazem sucesso imediatamente. De modo semelhante, nesta era, aqueles que têm inteligência suficiente adotam este movimento sankirtana, e avançam rapidamente.
O Senhor Caitanya é chamado “o avatara dourado.” Avatara significa “descer, advir.” Assim como alguém pode descer do quinto andar ou do centésimo andar de um prédio, da mesma forma um avatara desce dos planetas espirituais no céu espiritual. O céu que vemos a olho nu ou com um telescópio é apenas o céu material. Mas, além deste há outro céu, que não podemos ver com nossos olhos ou com instrumentos. Esta informação encontra-se no Bhagavad-gita; não é imaginação. Krishna diz que além do céu material existe outro céu, o céu espiritual.
Temos de aceitar as palavras de Krishna tais como elas são. Por exemplo, ensinamos às crianças que além da Inglaterra há outros lugares chamados Alemanha e Índia, e as crianças têm de aprender esse assunto através da versão do professor, porque esses lugares estão além de sua esfera. Analogamente, além deste céu material existe outro céu. Não podemos esperar encontrá-lo, assim como uma criança não pode esperar achar a Alemanha ou a Índia. Isso não é possível. Se quisermos obter conhecimento, teremos de aceitar uma autoridade. De modo semelhante, se quisermos conhecer o que está além do mundo material, teremos de aceitar a autoridade védica, senão não haverá possibilidade de conhecer esse assunto. Isso está além do conhecimento material. Não podemos ir nem sequer aos planetas distantes deste universo, e o que dizer de ir além deste universo? Faz-se a estimativa de que, para ir ao planeta mais elevado deste universo, com máquinas modernas, seria preciso viajar durante quarenta mil anos luz. Não podemos nem sequer viajar dentro deste céu material. Nossa vida e nossos meios são tão limitados que não podemos ter conhecimento apropriado nem sequer deste mundo material.
No Bhagavad-gita, quando Arjuna perguntou a Krishna, “podeis, por favor explicar as dimensões dentro das quais Vossas energias funcionam?”, o Senhor Supremo deu-lhe muitos exemplos, e por fim disse, “Meu caro Arjuna, que poderei explicar sobre Minhas energias? Na verdade, não é possível que tu entendas. Porém, podes apenas imaginar a expansão de Minhas energias: este mundo material, que consiste em milhões de universos, é manifestação de apenas uma quarta parte de Minha criação.” Não podemos nem sequer avaliar a posição de um só universo, e há milhões de universos. Depois, além disso está o céu espiritual, e existem milhões de planetas espirituais. Toda esta informação é dada pela literatura védica. Se aceitamos a literatura védica, podemos adquirir este conhecimento. Se não a aceitamos, não há outra alternativa. Essa é a nossa escolha. Portanto, segundo a civilização, sempre que um acarya fala ele imediatamente cita referências da literatura védica. Então outras pessoas aceitá-la-ão: “Sim, isto é correto.” Em uma corte judicial o advogado cita referências de julgamentos passados da corte, e se o caso é justo, o juiz aceita. Analogamente, se alguém pode dar evidências dos Vedas, sua posição é compreendida como real.
O avatara para esta era, Senhor Caitanya, é descrito na literatura védica. Não podemos aceitar qualquer um como avatara a não ser que seus sintomas sejam descritos nas escrituras. Não aceitamos caprichosamente o Senhor Caitanya como avatara, na base da votação. Hoje em dia tornou-se moda qualquer homem vir e dizer que é Deus ou encarnação de Deus; e há alguns tolos e patifes que o aceitarão: “Oh! ele é Deus!” Não aceitamos um avatara assim. Baseamo-nos nas evidências dos Vedas. È preciso que os sintomas do avatara coincidam com as descrições dos Vedas. Aí então o aceitamos; de outro modo, não. Para cada avatara há uma descrição nos Vedas: Ele aparecerá em tal e tal lugar, com tal e tal forma, e agirá assim. Essa é a natureza das evidências védicas.
No Srimad-Bhagavatam, há uma lista dos avataras, a qual menciona o nome do Senhor Buddha. Este Srimad-Bhagavatam foi escrito há cinco mil anos, e menciona diferentes nomes para tempos futuros. Ele diz que no futuro o Senhor apareceria como o Senhor Buddha, o nome de sua mãe seria Anjana, e ele apareceria em Gaya. Assim é que Buddha apareceu há dois mil e seiscentos anos, e o Srimad-Bhagavatam, que foi escrito há cinco mil anos, mencionou que ele apareceria no futuro. De modo semelhante, faz-se menção do Senhor Caitanya, e do mesmo modo o último avatara desta Kali-yuga é mencionado no Bhagavatam. Menciona-se que a última encarnação desta era é Kalki. Ele aparecerá como o filho de um brahmana cujo nome é Visnu-yasa, em um local chamado Sambhala. Há um local na Índia com esse nome, de modo que talvez seja lá que o Senhor aparecerá.
Assim, um avatara tem seus sintomas confirmados pelas descrições encontradas nos Upanisads, Srimad-Bhagavatam, Mahabharata e outros textos védicos. Baseados na autoridade da literatura védica e no comentário de grandes e resolutos gosvamis como Jiva Gosvami, que foi o maior erudito e filósofo do mundo, podemos aceitar o Senhor Caitanya como uma encarnação de Krishna.
Por que o Senhor Caitanya apareceu? No Bhagavad-gita o Senhor Krishna diz, “Abandona todas as outras ocupações e simplesmente ocupa-te em Meu serviço, Hei de proteger-te de todos os resultados de ações pecaminosas.” Neste mundo material, na vida condicionada, simplesmente criamos reações pecaminosas. Isso é tudo. E por causa das reações pecaminosas, recebemos este corpo. Se nossas reações pecaminosas cessassem, não precisaríamos aceitar um corpo material; obteríamos um corpo espiritual.
Que é um corpo espiritual? O corpo espiritual é um corpo livre de morte, nascimento, doença e velhice. É um corpo eterno, pleno de conhecimento e bem-aventuranç a. Diferentes corpos são criados por diferentes desejos. Enquanto tivermos desejos de diferentes tipos de desfrute, teremos de aceitar diferentes tipos de corpos materiais. Krishna, Deus, é tão bondoso que nos concede tudo o que quisermos. Se quisermos um corpo de tigre, com força e dentes de tigre para poder capturar animais e sugar sangue fresco, então Krishna dar-nos-á esta oportunidade. Se quisermos o corpo de uma pessoa santa, um devoto ocupado apenas no serviço ao Senhor, Ele dar-nos-á este corpo. Isso é afirmado no Bhagavad-gita.
Se uma pessoa ocupada em yoga, o processo de auto-realizaçã o, de alguma forma não consegue completar o processo, ela recebe outra oportunidade; Ela nasce em família de um brahmana puro ou de um homem rico. Se alguém tem a fortuna de nascer em tal família, ela obtém todas as facilidades para compreender a importância da auto-realizaçã o. Já desde o começo da vida, nossos filhos conscientes de Krishna estão tendo a oportunidade de aprender a cantar e a dançar, de modo que, ao crescerem, não mudarão, mas, ao invés, automaticamente farão progresso. Eles são muito afortunados. Quer nasça na América ou na Europa, a criança avançará se seu pai e sua mãe forem devotos. Ela terá esta oportunidade. Se uma criança nasce em família de devotos, isto significa que em sua vida passada ela já havia aceitado o processo de yoga, mas, de algum modo, não pôde completá-lo. Portanto, a criança recebe outra oportunidade de avançar mais sob os cuidados de um bom pai e uma boa mãe para que possa continuar avançando. Dessa maneira, assim que completamos nosso desenvolvimento de consciência de Deus, não precisamos mais nascer neste mundo material, senão que regressamos ao mundo espiritual.Krishna diz no Bhagavad-gita: “Meu caro Arjuna, se alguém compreende Meu aparecimento, desaparecimento e atividades, simplesmente por causa desta compreensão ele recebe a oportunidade de nascer no mundo espiritual após abandonar este corpo.” Temos que abandonar este corpo – hoje, amanhã ou talvez depois de amanhã. É compulsório. Mas uma pessoa que tenha compreendido Krishna não terá que aceitar outro corpo material. Ela irá diretamente ao mundo espiritual e nascerá em um dos planetas espirituais. Então Krishna diz que tão logo obtenhamos este corpo atual – não importa que seja da Índia, ou da lua, ou do sol, ou de Brahmaloka, ou de qualquer parte deste mundo material – devemos entender que isto se deve a nossas atividades pecaminosas. Há gradações de atividades pecaminosas, de modo que, conforme o grau de pecaminosidade, toma-se um corpo material determinado. Portanto, nosso problema verdadeiro não é como comer, dormir, acasalar-se e defender-se – nosso problema mesmo é como obter um corpo que não seja material, mas sim espiritual. Esta é a solução final para todos os problemas. Assim Krishna garante que se alguém se render a Ele, se alguém se tornar plenamente consciente de Krishna, então Ele protege-lo-a de todas as reações à vida pecaminosa.
Esta certeza foi dada por Krishna no Bhagavad-gita, mas havia muitos tolos que não puderam compreender Krishna. No Bhagavad-gita eles são descritos como mudhas. Mudha significa “patife,” e Krishna diz no Gita, “Eles não sabem o que Eu sou realmente.” De maneiras que muitas pessoas mal entenderam Krishna. Embora Krishna nos desse esta mensagem no Bhagavad-gita para que pudéssemos compreendê-lO, muitas pessoas perderam a oportunidade. Por isso Krishna, por Sua compaixão, veio novamente, como um devoto, e nos mostrou como render-nos a Krishna. O próprio Krishna veio ensinar-nos a rendição. Sua última instrução no Bhagavad-gita é a rendição, mas as pessoas – mudhas, patifes – diziam, “Por que deveria eu me render?” Portanto, embora Caitanya Mahaprabhu seja o próprio Krishna, dessa vez Ele nos ensina praticamente a como executar a missão do Bhagavad-gita. Isso é tudo. Caitanya Mahaprabhu não está ensinando nada de extraordinário; nada mais que o processo de render-se à Suprema Personalidade de Deus, que já fora ensinado no Bhagavad-gita. Não há outro ensinamento, mas o mesmo ensinamento é apresentado de diferentes maneiras para que diferentes tipos de pessoas o adotem e aproveitem a oportunidade para se aproximarem de Deus.Caitanya Mahaprabhu nos dá a oportunidade de chegar a Deus diretamente. Quando Rupa Gosvami, o principal discípulo do Senhor Caitanya, viu o Senhor Caitanya pela primeira vez, ele era ministro no governo da Bengala, mas queria juntar-se ao movimento de Caitanya Mahaprabhu. Então ele abandonou sua posição como ministro, e, após juntar-se ao movimento de Caitanya, ao render-se, ele Lhe ofereceu uma bela oração. Esta oração diz:
namo maha-vadanyayakrishna-prema- pradaya tekrishnaya Krishna-caitanya-namne gaura-tvise namah“Meu caro Senhor, sois a mais magnânima de todas as encarnações.” Por que? Krishna-prema- pradya te: “Estais diretamente dando amor a Deus. Não tendes outro objetivo. Vosso processo é tão maravilhoso que uma pessoa pode imediatamente aprender a amar a Deus. Por isso, sois a mais magnânima de todas as encarnações. Não é possível que alguma personalidade, exceto o próprio Krishna, conceda esta bênção; é por isso que digo que Vós sois Krishna.” Krishnaya krishna-caitanya- namne: “Vós sois Krishna, mas assumistes o nome de Krishna Caitanya. Rendo-me a Vós.”
Então é este o processo. Caitanya Mahaprabhu é o próprio Krishna, e está ensinando a como desenvolver amor por Deus através de um método muito simples. Ele diz simplesmente para cantar Hare Krishna.harer nama harer namaharer namaiva kevalamkalau nasty eva nasty evanasty eva gatir anyatha“Nessa era, simplesmente prossiga cantando o mantra Hare Krishna. Não há outra alternativa.” Como as pessoas estão embaraçadas com tantos métodos de realização, elas não podem adotar os verdadeiros processos ritualísticos de meditação ou yoga; isto não é possível. Por isso, o Senhor Caitanya diz que se alguém aceitar este processo de cantar, imediatamente poderá alcançar a plataforma da realização.O processo de cantar oferecido pelo Senhor Caitanya para atingir amor a Deus é chamado sankirtana. Sankirtana é uma palavra sânscrita. Sam significa samyak—“completo.” E kirtana significa “glorificar” ou “descrever.” Assim, descrição completa significa glorificação completa do Supremo, ou o Completo Todo Supremo. Não é que alguém possa descrever qualquer coisa ou glorificar qualquer coisa e isso será kirtana. Do ponto de vista gramatical isso pode ser kirtana, mas, segundo o sistema védico, kirtana significa descrever a autoridade suprema, a Verdade Absoluta, a Suprema Personalidade de Deus. Isso se chama kirtana.
Este serviço devocional começa com o método de sravana. Sravana significa “ouvir,” e kirtana significa “descrever.” Alguém deve descrever, e outrem deve ouvir. Ou a mesma pessoa pode fazer ambas as coisas, descrever e ouvir. Ela não precisa da ajuda de ninguém. Quando cantamos Hare Krishna, cantamos e ouvimos. Isto é completo. Este é um método completo. Mas o que é este cantar e ouvir? Deve-se cantar e ouvir sobre Visnu, Krishna. E não sobre qualquer coisa. Sravanam kirtanam visnoh: podemos compreender Visnu, a onipenetrante Verdade Absoluta, a Suprema Personalidade de Deus, pelo método de ouvir.
Temos que ouvir; se alguém simplesmente ouve, este é o começo. Não é necessário ter alguma educação ou desenvolvimento de conhecimento material. A criança, por exemplo: Assim que ela ouve, imediatamente pode responder e dançar. Assim, por natureza, Deus nos deu estes ótimos instrumentos— ouvidos—para que possamos ouvir. Mas devemos ouvir da fonte correta. Isso é afirmado no Srimad-Bhagavatam. Deve-se ouvir daqueles que são devotados à Suprema Personalidade de Deus. Eles são chamados satam. Se ouvimos da fonte certa, de uma alma realizada, isto surtirá efeito. E essas palavras de Deus, ou Krishna, são muito saborosas. Se uma pessoa for inteligente o bastante, ouvirá o que fala a alma realizada. Então brevemente ela se libertará dos enredamentos materiais.Esta vida humana destina-se ao avanço no caminho da liberação. Isto se chama apavarga, libertação do enredamento. Estamos todos enredados. O fato de termos aceitado este corpo material significa que já estamos enredados. Mas não devemos progredir no processo de enredamento. Este processo chama-se karma. Enquanto a mente estiver absorta em karma, teremos que aceitar um corpo material. No momento da morte, nossa mente poderá estar pensando: “Oh! não pude completar este trabalho. Oh! estou morrendo! Tenho que fazer isso! Tenho que fazer aquilo!” Isto significa que Krishna dar-nos-a outra oportunidade de fazê-lo, e desse modo teremos que aceitar outro corpo. Ele dar-nos-a a oportunidade: “Está bem. Você não pode fazê-lo. Agora faça-o. Tome este corpo.” Por isso o Srimad-Bhagavatam diz: “Esses patifes embriagaram- se loucamente; por causa da embriaguez estão fazendo algo que não deveriam ter feito.” Que estão fazendo? Maharaja Dhrtarastra é um ótimo exemplo disso. Maharaja Dhrtarastra estava astutamente planejando matar os Pandavas a fim de favorecer seus próprios filhos. Então Krishna mandou Seu tio, Akrura, aconselhá-lo a não fazer aquilo. Dhrtarastra compreendeu os conselhos de Akrura, mas disse: “Meu caro Akrura, o que estás dizendo é totalmente correto, mas não entra em meu coração; portanto não posso mudar minha política. Tenho que seguir esta política e deixar acontecer o que tiver que acontecer.”
Assim, quando os homens querem satisfazer seus sentidos, eles ficam loucos, e nesta loucura são capazes de fazer qualquer coisa. Por exemplo, há muitos casos na vida material em que alguém enlouqueceu por algo e por causa disso chegou a cometer assassinato: não conseguiu se conter. De forma semelhante, estamos acostumados ao gozo dos sentidos. Estamos loucos, e por isso nossas mentes estão completamente absortas em karma. Isto é muito triste porque nosso corpo, embora temporário, é o reservatório de todos os infortúnios e misérias; ele está sempre nos dando trabalho. Esses assuntos devem ser estudados. Não devemos ser loucos. A vida humana não foi feita para isso. O defeito da civilização atual é que as pessoas andam loucas atrás de gozo dos sentidos. Isso é tudo. Elas não conhecem o real valor da vida, e por isso estão negligenciando a forma mais valiosa da vida, esta forma humana.
Quando este corpo se acaba não há garantia de que tipo de corpo se obterá a seguir. Suponha que em minha próxima vida eu por acaso obtenha o corpo de uma árvore. Por milhares de anos terei que ficar parado, de pé. Mas as pessoas não são muito sérias. Elas chegam mesmo a dizer: “Que é isso? Mesmo que eu tenha que ficar de pé, me esquecerei disso.” As espécies inferiores de vida estão situadas no esquecimento. Se uma árvore não estivesse no esquecimento ser-lhe-ia impossível viver. Suponha que nos dissessem: “fique aí de pé durante três dias!” Como não estamos no esquecimento, ficaríamos loucos com isso. Assim, pela lei da natureza, todas essas espécies inferiores de vida estão no esquecimento. A consciência delas não é desenvolvida. Uma árvore tem vida, mas mesmo que alguém a corte, por sua consciência não ser desenvolvida, ela não reage. De forma que devemos ser muito cuidadosos em utilizar esta forma humana de vida apropriadamente. O movimento para a consciência de Krishna destina-se àqueles que desejam alcançar a perfeição na vida. Não se trata de farsa ou exploração, mas infelizmente as pessoas estão acostumadas a ser trapaceadas. Há um verso de um poeta indiano: “se alguém falar coisas sensatas, as pessoas brigarão com ele: “Oh! que disparate estás a falar.’ Mas, se ele as trapacear, elas ficarão muito contentes.” Se um trapaceiro diz: “Faça isso, dê-me uma gratificação e dentro de seis meses você tornar-se-a Deus,” eles concordarão: “Sim, tome aí sua gratificação, que dentro de seis meses tornar-me-ei Deus.” Não. Esses processos enganosos não resolverão nosso problema. Se alguém quiser realmente solucionar os problemas da vida nesta era, então terá que aceitar este processo de kirtana. É este o processo recomendado.
harer nama harer namaharer namaiva kevalamkalau nasty eva nasty evanasty eva gatir anyathaNesta era, Kali-Yuga, não se pode executar nenhum processo de auto-realizaçã o ou perfeição da vida, exceto o processo de kirtana. Kirtana é essencial nesta era.
Em todos os textos védicos confirma-se que devemos meditar na Suprema Verdade Absoluta, Visnu, e não em algo mais. Mas há diferentes processos de meditação recomendados para diferentes eras. O processo de meditação da yoga mística era possível em Satya-yuga, quando os homens viviam por muitos milhares de anos. Atualmente as pessoas não acreditam nisso, mas em uma era anterior havia pessoas que viviam cem mil anos. Essa era chamava-se Satya-yuga, e a meditação da yoga mística era possível naquele tempo. Nessa era, o grande yogi Valmiki Muni meditou durante sessenta mil anos. Portanto este é um processo que requer um período prolongado, não sendo possível executá-lo nesta era. Se alguém deseja fazer uma farsa, isso é outra coisa. Mas aquele que quer realmente praticar tal meditação levará um tempo extremamente prolongado para aperfeiçoar-se. Na era seguinte, Treta-yuga, o processo de realização consistia em executar os vários sacrifícios ritualísticos recomendado nos Vedas. Na era seguinte, Dvapara yuga, o processo era a adoração no templo. Na era atual, o mesmo resultado pode ser atingido através do processo de hari-kirtana, glorificação de Hari, Krishna, a Suprema Personalidade de Deus.
Nenhum outro kirtana é recomendado. Este hari-kirtana foi iniciado há quinhentos anos na Bengala pelo Senhor Caitanya. Na Bengala, há competição entre os Vaisnavas e os saktas. Os saktas introduziram certo tipo de kirtana chamado kali-kirtana. Porém, nas escrituras védicas, não se recomenda kali-kirtana. Kirtana significa hari-kirtana. Ninguém pode dizer: “Ah! O senhor é vaisnava. O senhor pode executar hari-kirtana. Eu executarei siva-kirtana ou devi-kirtana ou ganesa-kirtana.” Não. As escrituras védicas não autorizam nenhum kirtana além do hari-kirtana. Kirtana significa hari-kirtana, a glorificação de Krishna.
De modo que este processo de hari-kirtana é muito simples: Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare/ Hare Rãma, Hare Rãma, Rãma Rãma, Hare Hare. Na realidade, são apenas três palavras: Hare, Krishna e Rãma. Mas elas são tão bem dispostas para o canto que todos podem pegar o mantra e cantar Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare. Desde que começamos este movimento nos países ocidentais, europeus, americanos, africanos, egípcios e japoneses estão cantando. Não há dificuldade. Eles estão cantando com muita alegria, e estão obtendo os resultados. Qual seria a dificuldade? Estamos distribuindo este canto sem cobrar nada, e ele é muito simples. Simplesmente por cantar, podemos ter auto-realizaçã o, realização de Deus, e, quando há realização de Deus, a realização da natureza também está incluída. Por exemplo, se alguém aprende um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove e zero, então já estudou toda a matemática, porque matemática significa simplesmente mudar esses dez algarismos de lugar. Isso é tudo. De modo semelhante, se simplesmente estudarmos Krishna, então todo o nosso conhecimento será perfeito. E Krishna é facilmente compreendido simplesmente por se cantar este mantra, Hare Krishna. Por que, então, não aproveitar esta oportunidade?
Aproveite esta oportunidade que está sendo oferecida à sociedade humana. É algo muito antigo e científico. Não se trata de uma invenção que perdurará apenas três ou quatro anos. Não. No Bhagavad-gita o próprio Krishna diz: “Esta filosofia é inexaurível e indestrutível. Jamais se perde nem se destrói.” Pode ser que por algum tempo fique coberta, mas nunca é destruída. Por isso ela é chamada avyayam. Vyaya significa “exaustão.” Por exemplo, pode ser que alguém tenha cem dólares, mas, se os for gastando, um após o outro, chegará um dia a ter zero dólar. Isso é vyaya, exaurível. Mas a consciência de Krishna não é assim. Se você cultivar este conhecimento da consciência de Krishna, ele aumentará. Isso é atestado pelo Senhor Caitanya Mahaprabhu. Anandambudhi- vardanam. Ananda significa “prazer”, “bem-aventuranç a transcendental,” e ambudhi significa “oceano.” No mundo material, vemos que o oceano não aumenta. Mas, se alguém cultivar consciência de Krishna, sua bem-aventuranç a transcendental aumentará. Anandambudhi- vardhanam. E eu devo sempre lembrar a todos que o processo é muito simples. Qualquer um pode cantar, em qualquer parte, sem pagar impostos nem perder nada, mas o lucro é muito grande.
Sri Caitanya Mahaprabhu explica este movimento kirtana em Seu Siksastaka. Siksa significa “instrução,” e astaka significa “oito.” Ele nos deu oito versos para nos ajudar a compreender este movimento para a consciência de Krishna, e agora vou explicar a primeira dessas instruções. O Senhor diz: ceto-darpana- marjanam: deve-se purificar o coração. Tenho explicado isso várias vezes, mas a repetição dessa explicação nunca se torna monótona. É assim como o cantar de Hare Krishna: nunca se torna cansativo. Nossos estudantes podem cantar o mantra Hare Krishna vinte e quatro horas por dia, que nunca ficarão cansados. Eles continuarão a dançar e a cantar. E qualquer um pode experimentar isso; por não ser algo material, uma pessoa jamais se cansará de cantar Hare Krishna. No mundo material, se alguém canta algo, qualquer nome de sua predileção, três, quatro ou dez vezes, ficará cansado disso. Isso é um fato. Mas, porque Hare Krishna não é material, aquele que cantar este mantra jamais se cansará dele. Quanto mais cantar, mais seu coração se purificará da sujeira material e mais os problemas de sua vida dentro deste mundo material serão resolvidos.
Qual é o problema de nossas vidas? Isso nós não sabemos. A educação moderna não dá nenhum esclarecimento sobre o verdadeiro problema da vida, que é indicado no Bhagavad-gita. Aqueles que são educados e estão avançando em conhecimento devem saber qual é o problema da vida. Este problema é declarado no Bhagavad-gita: devemos sempre considerar as inconveniências do nascimento, da morte, da velhice e da doença. Infelizmente ninguém presta atenção a esses problemas. Quando um homem está doente ele pensa: “Tudo bem. Deixe-me ir ao médico. Ele me receitará algum remédio e eu ficarei bom.” Mas ele não medita seriamente sobre o problema. “Eu não queria ficar doente. Por que existe doença? Acaso não é possível tornar-se livre de doenças?” Ele nunca pensa assim. Isto porque sua inteligência é de nível muito baixo, tal qual a de um animal. O animal sofre, mas não tem consciência disso. Se um animal é trazido para o matadouro e vê que o animal à sua frente está sendo morto, ele ainda assim permanece ali, alegremente comendo capim. Isso é vida animal. Ele não sabe que vai ser o próximo a ser sacrificado. Eu tive a oportunidade de ver isso. Em um templo de Kali vi uma cabra parada, prestes a ser sacrificada, enquanto outra cabra alegremente comia capim.
De forma semelhante, Maharaja Yudhisthira foi indagado por Yamaraja: “Qual é a coisa mais admirável que há neste mundo? Poderias explicar-me isso?” Então Maharaja Yudhisthira respondeu: “sim. A coisa mais admirável é que a cada momento alguém pode ver que seus amigos, seus pais e seus parentes estão morrendo, mas ainda assim ele pensa, ‘Eu viverei para sempre.’” Ele nunca pensa que morrerá, assim como um animal nunca pensa que no próximo momento poderá ser sacrificado. Ele se satisfaz com o capim, isso é tudo. Ele se satisfaz com o gozo dos sentidos. Ele não sabe que também vai morrer.Meu pai morreu, minha mãe morreu, ele morreu, ela morreu. De modo que eu também terei de morrer. Então o que acontece após a morte? Eu não sei. Este é o problema. As pessoas não levam este problema a sério, mas o Bhagavad-gita indica que isto é educação verdadeira. Educação verdadeira é indagar por que, apesar de não querermos morrer, a morte vem. Isto é educação verdadeira. Não queremos nos tornar velhos. Por que a velhice nos ataca? Temos muitos problemas, mas esta é a essência de todos eles.
A fim de solucionar este problema, o Senhor Caitanya Mahaprabhu prescreve o cantar de Hare Krishna. Tão logo nosso coração se purifique através do cantar deste mantra Hare Krishna, o fogo ardente de nossa problemática existência material se extingue. Como ele se extingue? Quando purificamos nosso coração compreenderemos que não pertencemos a este mundo material. Porque as pessoas estão se identificando com este mundo material, elas estão pensando: “eu sou indiano, eu sou inglês, eu sou isso, eu sou aquilo.” Mas aquele que cantar o mantra Hare Krishna compreenderá que não é este corpo material. “Eu não pertenço a este corpo material nem a este mundo material. Sou alma espiritual, parte integrante do Supremo. Estou eternamente relacionado com Ele, e nada tenho a ver com o mundo material.” Isso se chama liberação, conhecimento. Se eu nada tenho a ver com este mundo material, então estou liberado. E este conhecimento chama-se brahma-bhuta.
Uma pessoa com esta compreensão não tem dever a cumprir. Porque agora estamos identificando nossa existência com este mundo material, temos muitos deveres. O Srimad-Bhagavatam diz que enquanto não houver auto-realizaçã o, teremos muitos deveres e dívidas. Temos dívidas para com os semideuses. Os semideuses não são apenas personagens fictícias. Eles são reais. Há semideuses controlando o sol, a lua e o ar. Assim como há diretores dos departamentos governamentais, da mesma forma para o departamento de calefação existe o deus do sol, para o departamento de circulação do ar existe Varuna, e, de modo semelhante, existem outros semideuses setoriais. Nos Vedas eles são descritos como deidades controladoras, de maneiras que não podemos negligenciá-los. Além disso, existem grandes sábios e filósofos que nos dão conhecimento, e nós temos dívidas para com eles. Assim, tão logo nasçamos estamos em dívida com tantas entidades vivas, mas é impossível liquidar todas essas dívidas. Portanto, a literatura védica recomenda que nos refugiemos aos pés de lótus de Krishna. E Krishna diz: “Se alguém se refugia em Mim não tem que se refugiar em ninguém mais.”
Portanto, aqueles que são devotos conscientes de Krishna refugiam-se em Krishna, e o começo do processo é ouvir e cantar. Sravanam kirtanam visnoh. Então, nosso apelo fervoroso e humilde a todos é que, por favor, aceitem este canto. Este movimento da consciência de Krishna foi introduzido pelo Senhor Caitanya há quinhentos anos na Bengala, e agora em toda Índia e especialmente na Bengala há milhões de seguidores de Caitanya Mahaprabhu. Agora este movimento está começando nos países ocidentais, por isso tentem entendê-lo seriamente. Não criticamos nenhuma outra religião. Não considerem que o façamos. Não temos nenhum interesse em criticar qualquer outro processo de religião. A consciência de Krishna está dando às pessoas a mais sublime religião—o amor a Deus. Isso é tudo. Estamos ensinando o amor a Deus. Todos já estão amando, mas esse amor está sendo mal empregado. Amamos este rapaz, ou esta moça, ou este país, ou aquela sociedade, ou mesmo os cães e os gatos, mas não estamos satisfeitos. Por isso devemos depositar nosso amor em Deus. Se depositarmos nosso amor em Deus seremos felizes.Não pensem que este movimento para a consciência de Krishna é um novo tipo de religião. Qual é a religião que não reconhece Deus? Podemos chamar Deus de “Alá” ou “Krishna” ou algo mais, mas qual é a religião que não reconhece Deus? Estamos ensinando que as pessoas devem simplesmente tentar amar a Deus. Sentimo-nos atraídos por tantas coisas, mas se nosso amor for depositado em Deus, ai então seremos felizes. Não é preciso aprender a amar ninguém mais; tudo o mais estará automaticamente incluído. Apenas tentem amar a Deus. Não tentem amar apenas a árvores, ou plantas, ou insetos. Isso jamais será satisfatório. Aprendam a amar a Deus. Esta é a missão de Caitanya Mahaprabhu; esta é a nossa missão.

Srila Prabhupada

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