segunda-feira, 21 de julho de 2008




Ao situar o movimento da consciência de Krishna dentro de um contexto histórico-cultural conveniente, muita gente identifica o movimento com o hinduísmo. Mas isso é um erro. Srila Prabhupada nega por completo a relação com o panteísmo, o politeísmo e a consciência de casta que impera no hinduísmo moderno. Se bem que, a filosofia da consciência de Krishna e o hinduísmo moderno, compartilhem de uma raiz histórica comum – a antiga cultura védica da Índia – o hinduísmo, juntamente com as outras “grandes religiões”, se converteu em uma instituição sectária, enquanto que a filosofia da consciência de Krishna é universal, e transcende as relativas designações sectárias.Faz-se idéia errada do movimento para a consciência de Krishna ao representá-lo como religião hindu. Entretanto, a consciência de Krishna não é alguma forma de fé ou religião que procure destruir qualquer outra fé ou religião. Pelo contrário, é um movimento cultural essencial para toda a sociedade humana e não se considera nenhuma fé sectária particular. Este movimento cultural destina-se especialmente a educar as pessoas como elas devem amar a Deus.
Às vezes, os indianos, tanto fora quanto dentro da Índia, pensam que estamos pregando a religião hindu, mas na verdade não é isso. Ninguém encontrará a palavra “hindu” no Bhagavad-gita. Na realidade, essa palavra “hindu” não existe em nenhuma parte da literatura védica. Esta palavra foi introduzida pelos muçulmanos provenientes das províncias próximas da Índia, como o Afeganistão, o Baluchistão e a Pérsia. Existe um rio chamado Sindhu que faz fronteira com as províncias situadas ao noroeste da Índia, e, uma vez que os muçulmanos daquela região não conseguiam pronunciar corretamente a palavra Sindhu, eles chamavam o rio de “Hindu” e os habitantes desta região de “hindus”. Na Índia, segundo o idioma védico, os europeus são chamados mlecchas ou yavanas. De modo similar, “hindu” é um nome dado aos indianos pelos muçulmanos.
A verdadeira cultura da Índia é descrita no Bhagavad-gita, onde se afirma que de acordo com as diferentes qualidades ou modos da natureza existem diferentes classes de homens, que geralmente são classificados dentro de quatro ordens sociais e quatro ordens espirituais. Esse sistema de divisão social e espiritual é conhecido como varnasrama-dharma. Os quatro varnas, ou ordens sociais, são brahmana, ksatriya, vaisya e sudra. Os quatro asramas, ou ordens espirituais, são brahmacarya, grhastha, vanaprastha e sannyasa. O sistema varnasrama é descrito nas escrituras védicas conhecidas como os Puranas. O objetivo desta instituição da cultura védica é educar todos os homens no avanço do conhecimento de Krishna, ou Deus. Nisto consiste todo o programa védico.
Ao conversar com o grande devoto Ramananda Raya, o Senhor Caitanya perguntou-lhe: “Qual é o princípio básico da vida humana?” Ramananda Raya respondeu que a civilização humana começa com a aceitação do varnasrama-dharma. Antes de se chegar ao padrão de varnasrama-dharma, não se pode falar de civilização humana. Portanto, o movimento da consciência de Krishna está tentando estabelecer este sistema correto de civilização humana, que é conhecido como consciência de Krishna, ou daiva-varnasrama – cultura divina.
Atualmente na Índia, o sistema varnasrama está sendo entendido de um modo pervertido, e assim um homem nascido na família de um brahmana (a ordem social superior) exige que o aceitem como um brahmana. Mas esta exigência não é aceita pelo sastra (escritura). Nosso antepassado pode ter sido um brahmana segundo a gotra, ou a ordem hereditária da família, mas o verdadeiro varnasrama-dharma baseia-se na qualidade concreta que tenhamos obtido, independentemente de nascimento ou hereditariedade. Portanto, não estamos pregando o atual sistema dos hindus, especialmente daqueles que estão sob a influência de Sankaracarya, pois Sankaracarya ensinou que a Verdade Absoluta é impessoal, negando, desse modo, indiretamente a existência de Deus.
A missão de Sankaracarya foi especial: ele apareceu para restabelecer a influência védica após a influência do budismo. Porque o budismo foi patrocinado pelo Imperador Asoka, há 2.600 anos atrás a religião budista tinha penetrado praticamente em toda a Índia. Segundo a literatura védica, Buddha é uma encarnação de Krishna dotada de poder especial que apareceu com um propósito especial. Seu sistema de pensamento, ou fé, foi largamente aceito, porém, Buddha rejeitou a autoridade dos Vedas. Enquanto o Budismo se espalhava, a cultura védica sofreu interrupção tanto na Índia quanto em outros lugares. Portanto, já que o único objetivo de Sankaracarya era acabar com o sistema filosófico de Buddha, ele introduziu o sistema chamado Mayavada.
Estritamente falando, a filosofia Mayavada é ateísta, pois é um processo no qual se imagina que Deus existe. Este sistema Mayavada de filosofia tem existido desde tempos imemoriais. O atual sistema indiano de religião ou cultura baseia-se na filosofia Mayavada de Sankaracarya, que se coaduna com a filosofia budista. Segundo a filosofia Mayavada, na verdade Deus não existe, ou, se Deus existe, Ele é impessoal e onipenetrante, e pode, portanto, ser imaginado sob qualquer forma. Esta conclusão não está de acordo com a literatura védica. Esta literatura menciona muitos semideuses, que são adorados para diferentes objetivos, mas em todos os casos o Senhor Supremo, a Personalidade de Deus, Visnu, é aceito como o controlador supremo. Esta é a verdadeira cultura védica.
A filosofia da consciência de Krishna não nega a existência de Deus e dos semideuses, ao passo que a filosofia Mayavada nega ambas, afirmando que nem os semideuses, nem Deus existem. Para os Mayavadis, em última análise tudo é nada. Eles dizem que se pode imaginar qualquer autoridade – seja Visnu, seja Durga, seja o Senhor Siva, seja o deus do sol – porque estes são os semideuses geralmente adorados na sociedade. Mas, de fato, a filosofia Mayavada não aceita a existência de nenhum deles. Os Mayavadis dizem que, como não podemos concentrar a mente no Brahman impessoal, podemos entretanto imaginar qualquer uma dessas formas. Este é um sistema novo, chamado pancopasana. Foi introduzido por Sankaracarya, mas o Bhagavad-gita não ensina doutrinas dessa espécie, que, portanto não são autorizadas.O Bhagavad-gita aceita a existência dos semideuses. Os semideuses são descritos nos Vedas, e não se pode negar sua existência. Mas não devemos compreendê-los nem adorá-los de acordo com o método de Sankaracarya. A adoração a semideuses é rejeitada no Bhagavad-gita. O Gita [7.20] afirma claramente:kamais tais tair hrta-jnanahprapadyante ’ nya-devatahtam tam niyamam asthayaprakrtya niyatah svaya“Aqueles cujas mentes são corrompidas por desejos materiais rendem-se aos semideuses e seguem as regras e regulações particulares de adoração, conforme a própria natureza deles.” Isto também é explicado mais detalhadamente no Bhagavad-gita [7.23]:antavat tu phalam tesamtad bhavaty alpa-medhasamdevan deva-yajo yantimad-bhakta yanti mam api“Homens de pouca inteligência adoram os semideuses, e colhem frutos limitados e temporários. Aqueles que adoram os semideuses vão para os planetas dos semideuses, mas Meus devotos alcançam Minha morada suprema”. As recompensas dadas pelos semideuses são temporárias porque qualquer vantagem material está necessariamente relacionada com o corpo temporário. Qualquer que seja a vantagem material obtida, seja mediante os modernos métodos científicos, seja mediante a obtenção de bênção dos semideus. Srila Prabhupada!

Nenhum comentário: