segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Krsna é Nosso Senhor ou Nosso Servo?


Definindo "Pecado"

O que, exatamente, devemos entender por “pecado”? E existe diferença entre pecado deliberado e pecado acidental?

Algumas definições dadas por Srila Prabhupada são “quebrar as leis da natureza”, “envolver-se exageradamente na complexidade da natureza material” e fazer algo que “nos conduza para longe do Senhor Supremo”. Uma vez que entendemos que nossa natureza é essencialmente prestar serviço amoroso a Krsna, qualquer outra coisa, ou qualquer coisa oposta, é pecado. Pecado não é exatamente algo ruim que Deus não quer que você faça porque Ele é um ditador cruel, mas é algo que causa miséria por ser contra a natureza do eu.

A natureza do corpo humano, por exemplo, é de digerir materiais orgânicos, especialmente frutas, grãos, vegetais e semelhantes. Se escolhemos comer plástico, fazemos algo contra a natureza ou “lei” do corpo, e teremos, portanto, que sofrer. De forma similar, qualquer coisa que pensemos, falemos ou façamos, que não nutra nosso amor por Krsna, é espiritualmente indigesta e nos trará a dor do envolvimento material, que é a doença da alma.

Uma pessoa cuja consciência esteja em desarmonia com Krsna talvez não saiba, todavia, o que é de acordo com a realidade espiritual e o que não é: por isso as escrituras autorizadas listam as atividades condenáveis que requerem expiação. Tais atos – do corpo, da mente ou da fala – são pecados.

Sem outra possibilidade, aquele que não alcançou o pináculo da pureza vive em um estado intermediário entre vida pecaminosa e vida pura. Enquanto nos esforçamos pela obtenção da pureza, retemos ainda diversas impressões mentais de pecados e a forte tendência de usar nosso corpo, mente e palavras de maneiras que nos afastam de Krsna. Srila Visvanatha Cakravarti Thakura escreve em seu Madhurya Kadambini: “Percebendo que o desfrute material lhe separa de Krsna e tira sua constância no serviço devocional, o devoto decide renunciar seus vícios e toma refúgio no santo nome. Mas, por diversas vezes, o esforço para a renúncia termina no desfrute do que se está buscando renunciar”.

Esforçando-se por Melhorar

Essa luta contra nossa tendência de nos afastarmos de Krsna não é grande problema se continuamente aceitarmos o desafio de melhorarmos.

Krsna explica: “Tendo despertado interesse por assuntos referentes a Mim, Meu devoto toma desgosto por todas as atividades materiais, sabendo bem que a gratificação dos sentidos conduz a misérias. Ainda assim, embora tente, ele não é capaz de abandonar seus desejos materiais e às vezes se ocupa na miserável gratificação sensorial. Mas, tendo se arrependido de tais atividades, ele deve simplesmente adorar-Me com amor, fé e firme devoção” (Srimad-Bhagavatam 11.20.27-28) .

Srila Prabhupada escreve: “Um homem que tem fé firme nos eternos preceitos do Senhor, mesmo que seja incapaz de executar tais ordens, liberta-se do cativeiro da lei do karma. Ao ingressar na consciência de Krsna, talvez ele não cumpra na íntegra os preceitos do Senhor, mas, porque não se deixa abater por tal limitação e trabalha sinceramente sem se preocupar com derrota ou fracasso, certamente será promovido à fase da pura consciência de Krsna” (Bhagavad-gita Como Ele É 3.31, Significado) .

Pequenos pecados que cometemos enquanto nos esforçamos por melhorar são considerados acidentais. Por nos arrependermos, podemos queimar a reação de tais pecados. Mas se pecamos pensando que ordinárias penitências religiosas ou atividades transcendentais, como o cantar dos santos nomes, vão nos livrar da reação, então, ao invés de ser reduzida, a reação será ainda maior.

Se uma pessoa aceita externamente a aparência de uma pessoa religiosa, ou pessoa santa, enquanto continua secretamente fazendo atividades materialistas para o prazer dos sentidos, tal comportamento também se enquadra na ofensa de se cometer atividades pecaminosas apoiando-se na força do cantar. Há ainda outros aspectos mais sutis. Podemos, por exemplo, pensar: “Eu sou um devoto de Krsna e Lhe dou prazer de várias maneiras. Se eu fizer só essa pequena coisa errada, certamente Ele vai deixar passar”.

Buscando por Ajuda

Para que o nosso cantar seja pleno, portanto, devemos abandonar definitivamente nossa tendência a trapacear. Não devemos deixar que tal tendência sequer coloque a unha do dedão de seu pé para dentro de nossa mente. Se depararmos conosco planejando usar Krsna e Seu nome como cobertura para nossos objetivos ardilosos, devemos pedir com muita força pela proteção de Krsna. Nossos gurus – tanto aquele que nos iniciou no cantar quanto aqueles que nos dão instruções espirituais relevantes – são nossos guardiões, e também podem afugentar os ladrões do pecado e da trapaça se nós recorrermos com muita humildade e determinação a eles.

Um remédio para todos os tipos de obstáculo é a companhia próxima e regular de devotos puros de Krsna. Seus exemplos e ensinamentos ajudam-nos a reconhecer nossas dificuldades e a desejar nos tornarmos livres delas.

Naturalmente, nós não queremos apenas nos livrar do desejo de usar o cantar para nos livrarmos do sofrimento de atividades pecaminosas, mas queremos nos livrar de toda a nossa tendência a executar atividades pecaminosas.

Apenas uma vida plenamente em harmonia com a verdade de nossa natureza espiritual irá nos dar a satisfação que estamos sempre buscando. E apenas uma vida pura irá preparar o solo do jardim no qual as flores e frutas do amor por Deus irão nascer.

Nós jamais cometeremos atividades pecaminosas se formos indiferentes ao ilusório desfrute material. Parte de tal indiferença vem naturalmente se temos o prazer superior do serviço a Krsna. E, ao mesmo tempo, devemos estudar a verdadeira natureza da vida material a partir das escrituras e das pessoas santas. A raiz do pecado é a ignorância, ou o ato de ignorar a verdade óbvia de que certas atividades nos distanciam de Krsna. O resultado das atividades pecaminosas são o nascimento, a morte, a velhice e as doenças. Uma pessoa jamais encontrará satisfação nos prazeres do corpo e da mente enquanto separada de Krsna, e, mesmo coisas que pareçam satisfatórias por algum tempo, logo de esvairão, sendo temporárias por natureza. Por que desfrutar do que é temporário e superficial? Tal desfrute é a verdadeira natureza do pecado.

A Proteção de Krsna

Krsna promete: “É Minha promessa proteger todo aquele que, ao menos uma vez, renda-se a Mim dizendo com grande sinceridade, ‘Meu querido Senhor, a partir deste dia, sou Seu’. Eu torno tal pessoal destemida de imediato, e ela vive eternamente segura” (Ramayana, Yuddha-khanda 18.33). De que Krsna protege tal pessoa rendida? Krsna diz: “Simplesmente renda-se a Mim. Eu o libertarei de todas as reações pecaminosas. Não tema” (Bhagavad-gita 18.66). Essas reações pecaminosas incluem o próprio desejo – e o desejo em potencial – de pecar.

E como nos rendemos? Nós aceitamos tudo o que for favorável para nossa vida espiritual e rejeitamos tudo aquilo que for desfavorável. Aprendemos das escrituras, dos gurus e das pessoas santas o que é favorável e o que não é favorável. Percebemos que, por fim, apenas Krsna é nosso protetor e mantenedor, e, portanto, para sermos felizes, temos de tornar Seus desejos os nosso. E não importa quais sejam nossas qualificações e conquistas, nós damos os créditos a Krsna, permanecendo sempre humildes.

Essa postura de rendição irá rapidamente dar cabo de nossa tendência a pecar e a utilizar erradamente o santo nome para o fim de nos livrarmos de nossas premeditadas ações pecaminosas. Essa postura permitirá que a beleza e o poder do nome brotem com todo o esplendor em nossos corações.
por Urmila Devi Dasi (ACBSP)
Tradução por Bhagavan dasa (DvS)

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