domingo, 21 de dezembro de 2008

Sri Sri Siksastaka (verso 7)

Composição de Sua Onipotência Sri Krsna Caitanya Mahaprabhu
Significados de Sua Divina Graça Bhaktisiddhanta Sarasvati

Verso 7

yugayitam nimesena
caksusa pravrsayitam
sunyayitam jagat sarvam
govinda-virahena me

Ó Govinda, sentindo Tua separação, estou considerando um instante como um grande milênio. Lágrimas fluem de meus olhos como torrentes de chuva, e sinto que o mundo está vazio com Tua ausência.

“Ó Govinda, em Sua ausência, todo este universo me parece vazio. De meus olhos, chovem lágrimas como chovem as nuvens de monção, e um instante (nimesa) me parece durar um milênio (yuga)”.

Este é um excelente exemplo de vipralambha-rasa, ou humor de separação. Para os jata-rati-bhaktas, é absolutamente essencial que busquem pela experiência de vipralambha-rasa e não se importem com sambhoga, ou encontro com o Senhor. Este sétimo sloka foi falado com o propósito de apresentar esse ponto.

O sentimento de separação que é experimentado nos relacionamentos materiais é simplesmente repleto de aflição; o sentimento de separação no plano transcendental (aprakrta vipralambha-rasa), contudo, resulta em imenso êxtase (paramananda), muito embora externamente pareça tratar-se de um sofrimento muito intenso e penoso. Em relação à separação experienciada pelo Vaisnava, diz-se o seguinte [no Caitanya Bhagavata, Madhya 9.240]:

yata dekha vaisnavera vyavahara duhkha
niscaya janiha sei parananda sukha

“Conquanto os sentimentos de separação experienciados por um Vaisnava aparentemente se assemelhem ao sofrimento ordinário, deve-se entender que, para o Vaisnava, tais sentimentos não são nada além de bem-aventurança transcendental”.

Vipralambha sempre fomenta sambhoga. De fato há sambhoga em prema-vaicitra, a variedade amorosa dentro de vipralambha-rasa, mas somente externamente, pois, embora a pessoa esteja diretamente na presença do Senhor (sambhoga), ela sente intensa separação (vipralambha) devido ao medo de se separar do Senhor. Vipralambha é marcada pela incessante e intensa lembrança do Senhor Krsna e de Seus passatempos, não havendo nenhuma possibilidade de esquecimento do Senhor nem mesmo por um ínfimo instante. Este é o estágio culminante de todo o bhajana.

A licenciosa exibição de sambhoga-rasa feita pelo grupo conhecido como gaura-nagari, o qual não se constitui de seguidores sinceros do Senhor Krsna, é produto de hipocrisia; tal exibição só faz criar obstáculos no caminho à devoção pura. Os sambhogavadis, aqueles que aspiram por sambhoga, não buscam nada senão o auto-engrandecimento e a autogratificação, sendo, por conseguinte, destituídos de devoção pura a Krsna.

Se os gaura-nagaris entendessem o significado do sloka citado a seguir, eles não se deixariam ser aferroados pelo desfrute de seus sentidos; no caso específicos deles, sob o falso pretexto de apresentarem o Senhor Caitanya como um buscador de prazer, ou nagari. O verso [do Caitanya-Caritamrta, Adi-lila 4.165] é o seguinte:

atmendriya-priti-vancha-tare bali kama
krsnendriya-priti-iccha dhare prema nama

“O desejo de gratificar os próprios sentidos é kama (luxúria), mas o desejo de satisfazer os sentidos do Senhor Krsna é prema (amor)”.

Abandonando todas as concepções equivocadas, a pessoa deve realizar bhajana sob a orientação dos Vaisnavas.

O significado esotérico dos passatempos do Senhor Caitanya é que, embora o Senhor Krsna tenha aceitado os sentimentos de um devoto, Ele está sempre situado no humor de vipralambha. A jiva é um devoto; para ela desfrutar completamente de sambhoga-rasa e dar completa expressão a tal, ela tem que se refugiar em vipralambha, o humor de amor em separação. A fim de propagar e demonstrar essa verdade, o Senhor Krsna manifestou Sua forma eterna como o Senhor Caitanya (Gaura-svarupa), que é a personificação de vipralambha-rasa. Os devotos devem, portanto, rejeitar qualquer idéia relativa a empenhos focados em sambhoga-rasa, visto que semelhantes empenhos jamais poderão ser bem-sucedidos.
Tradução: Bhagavan dasa

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