domingo, 5 de outubro de 2008


O Senhor Jagannatha talvez pareça estranho aos olhos dos ocidentais, mas Ele é a “vida e alma” do povo do de Orissa. Embora eu tenha ido ao festival de Ratha-yatra várias vezes durante minha juventude, foi quando eu encontrei com os devotos da ISKCON que minha devoção pelo Senhor Jagannatha se tornou mais intensa. Agora, o Senhor Jagannatha é adorado em vários templos da ISKCON por todo o mundo, e eu, já mais maduro, posso percebê-Lo como a pessoa mais misericordiosa e encantadora, que releva as ofensas de Seus devotos e os atrai dia após dia, ao longo do caminho do serviço devocional. Jagannatha significa “Senhor do universo”. Vários livros Védicos mencionam que o Senhor Jagannatha é Krishna. Baladeva é seu irmão, e Subhadra Sua irmã. Embora Krishna seja absoluto e transcendental a natureza material, para aceitar o serviço amoroso de Seus devotos, Ele aparece perante nós como a deidade no templo feita de pedra, metal, madeira, ou pintura. Jagannatha é uma forma de Krishna manifestada em madeira. Porque o Senhor Jagannatha não se parece com Krishna, as pessoas talvez especulem: “Como Ele pode ser Krishna?”. Os vedas contam a história por trás da estranha forma de Jagannatha.

O advento Transcendental do Senhor Jagannatha.

O Skanda Purana relata os esforços do rei Indradyumna para encontrar uma deidade de Krishna após sonhar com uma bela deidade azul chamada Nila Madhava. O nome descreve a cor de safira da deidade: Nila significa azul, e Madhava é um dos nomes de Krishna. O rei Indradyumna enviou mensageiros em todas as direções para encontrar Nila Madhava, e um brahmana de nome Vidyapati retornou com sucesso. Ele descobriu que em Vishavavasu, uma fazenda de criação de porcos (savara), numa remota vila tribal, estava-se adorando secretamente a Nila Madhava.
Quando Vidyapati retornou ao local com o rei indradyumna, entretanto, Nila Madhava não estava mais ali. O rei Indradyumna cercou toda a vila com seus soldados e prendeu o chefe Vishavavasu, ao que uma voz vinda do céu proclamou: “Deixe os criadores de porcos em paz e construa um grande templo para Mim no topo da colina Nila, lá você Me verá não como Nila Madhava, mas em uma forma de madeira Nim”. Nila Madhava prometeu aparecer como madeira (Daru), e por isso Ele é chamado de Daru-Brahma (“madeira-espiritual” ). Indradyumna esperou à beira do mar, até que o Senhor apareceu como uma gigante tora de madeira boiando para as margens da praia.
Disfarçado como um senhor de idade, Visvakarma, o arquiteto dos semideuses, apareceu para esculpir as deidades sob a condição de que só o faria se pudesse ficar por vinte e um dias sem ser perturbado durante seu serviço. O rei Indradyumna consentiu, e o artista trabalhou com as portas fechadas. Antes do período estipulado se esgotar, todavia, o barulho característico do esculpir, havia parado, e a intensa curiosidade do rei Indradyumna levou-o a abrir a porta. Visvakarma havia desaparecido. Na sala, as deidades de Jagannatha, Baladeva e Subhadra pereciam como se fossem inacabadas – sem mãos sem pés – e Indradyumna ficou extremamente perturbado pensando que havia ofendido o Senhor.
Naquela noite, o Senhor Jagannatha falou ao rei durante um sonho e o tranqüilizou explicando que Ele estava se revelando naquela forma por Seu próprio desejo inconcebível, a fim de mostrar ao mundo que Ele pode aceitar oferendas mesmo sem mãos, e se mover sem pés. O Senhor Jagannatha disse ao rei: “Certamente minhas mãos e pés são o ornamento de todos os ornamentos, mas para sua satisfação, você pode Me dar mãos e pés de ouro e prata de tempos em tempos”. Os devotos hoje adoram a mesma forma “inacabada” de Jagannatha, Baladeva e Subhadra em Puri e em outros templos por todo mundo. Essas formas fazem parte de Seus passatempos eternos.

Transformados pelas narrações de Rohini.

O Utkala-kanda (Utkala é um sinônimo tradicional para a palavra Orissa) do Skanda Purana revela outro relato em relação ao aparecimento de Krishna como Jagannatha. Certa vez, durante um eclipse solar, Krishna, Balarama, Subhadra e outros residentes de Dvaraka foram se banhar em um lago sagrado em Kurukshetra. Sabendo que Krishna estaria presente no local de peregrinação, Srimati Radharani, os pais de Krishna Nanda e Yashoda, e outros residentes de Vrindavana, que estavam queimando no fogo da separação do Senhor, foram até lá para se encontrarem com Ele. Dentro de uma das várias tendas que os peregrinos haviam montado em Kurukshetra, Rohini, a mãe do Senhor Balarama, narrou os passatempos de Krishna em Vrindavana para as rainhas de Dvaraka e outros que estavam presentes. É dito que os habitantes de Dvaraka estão no humor de opulência (aishvarya), e que eles adoram a Krishna como o Senhor Supremo. Mas os residentes de Vridavana estão no humor de doçura (madhurya), e tem uma relação confidencial com Krishna que ultrapassa a idéia de contemplação e reverencia por ser baseada em amizade e amor. As histórias contadas por Rohini eram extremamente confidenciais, então ela colocou Subhadra de guarda na porta, para que ninguém ouvisse por acaso.
Krishna e Balarama foram também até a porta e ficaram cada de um lado de Subhadra. Enquanto ouviam as narrações de Rohini sobre os passatempos íntimos de Krishna em Vridavana, Krishna e Balarama se tornaram extáticos, e seus sentimentos internos se manifestaram externamente. Seus olhos tornaram-se dilatados, Suas cabeças se comprimiram junto ao corpo e Seus membros encolheram-se. Vendo estas transformações em Krishna e Balarama, Subhadra também entrou em êxtase e assumiu uma forma similar. Assim, por ouvirem acerca dos passatempos de Krishna em Vrindavana, Krishna e Balarama com Subhadra no meio, exibiram suas formas extáticas de Jagannatha, Baladeva e Subhadra.

O êxtase Máximo do Senhor

De acordo com o Skanda Purana, o jyesta-purnima, o dia de lua cheia do mês jyesta (maio/junho) , é aniversário do Senhor Jagannatha. Jagannatha é Krishna, mas o aniversario de Krishna é o Janmasthami, no mês de Bhadra (agosto/setembro) . Esta aparente contradição e solucionada se entendermos que o jyesta-purnima é quando o Senhor Krishna aparece na forma de Jagannatha com olhos dilatados e membros encolhidos. Essa forma é conhecida como Mahabhava-prakasha, a forma extática de Krishna. Mahabhava significa “o êxtase máximo”, e prakasha significa “manifestação”, assim o Senhor Jagannatha é literalmente a forma do Senhor Supremo Krishna em êxtase.
Há um poema de nome mahabhava-prakasha, escrito por um poeta de Orissa conhecido como Kanai Khuntia, que descreve o significado confidencial por trás da forma de Jagannatha: Ele é a corporificação do sentimento de saudades de Krishna manifestado pelos residentes de Vrindavana, especialmente de Sri Radha e das Gopis. As escrituras explicam que o intenso êxtase espiritual, particularmente neste humor de separação da pessoa amada, produz transformações corpo. Uma vez que Krishna não é diferente de Seu corpo, Seus sentimentos mais internos manifestaram- se externamente, e Ele assumiu a forma de Jagannatha.
O êxtase de mahabhava é comparado a um oceano. No passatempo com o rei Indradyumna, um gigantesco tronco boiava no oceano. Similarmente, as formas de Jagannatha, Baladeva e Subhadra bóiam no oceano de mahabhava.
Quando o sábio Narada Muni viu Krishna Transformado em Jagannatha, ele orou para que o Senhor aparecesse naquela forma novamente. Embora o Senhor não tenha nenhuma obrigação para com ninguém, Ele recíproca Seus devotos satisfazendo seus desejos. No Garga Samhita (1.27.4) Krishna Afirma: “Eu sou plenamente completo – todas as epopéias estão em Mim. E mesmo assim, Eu Me rendo aos desejos de Meu devoto e apareço em qualquer forma que ele queira”. Assim, da mesma forma que Krishna aparece como Nila Madhava para satisfazer Vishvavasu, Ele aparece sob a forma da deidade de Jagannatha e reside em Jagannatha Puri para satisfazer o desejo de Narada Muni. Esta forma especial de Krishna também é conhecida como Patita Pavana, o salvador dos caídos, e todo aquele que tem Sua audiência com a devida consciência é presenteado com a liberação espiritual.

Jagannatha como o Krishna de Vrindavana

Embora Jagannatha seja habitualmente identificado como o Krishna de Dvaraka, no humor de opulência Sua real (e confidencial) identidade é como o Krishna de Vrindavana, o querido de Radharani. O Jagannatha Chaitanyam afirma: “Radha permanece no coração do Senhor Jagannatha, e Krishna no coração de Radha”. Krishna é famoso por Seus relacionamentos, especialmente com os residentes de Vrindavana, e os devotos às vezes se referem ao Senhor Jagannatha nesse humor. Jagannatha é considerado o consorte de Radharani, que se associa com Krishna unicamente em Seu humor de Vrindavana. O êxtase resultante do amor de Krishna por Radharani é a causa de Sua Transformação na forma de Jagannatha. Um poeta de Orissa, Vanamali, canta: “Ó Jagannatha, amado filho adotivo de Yasodadevi, Sua Radha é como o pássaro chataka que bebe apenas as puras gotas da chuva, e Você chove com muita graça”.
Em Vrindavana, Krishna assume a graciosa forma com três curvas corporais (tribanga-lalita) e usa uma pena de pavão e toca Sua flauta. O Jagannathastakam (verso 2) identifica Jagannatha em tal humor:”Em Sua mão esquerda, o Senhor Jagannatha segura uma flauta. Em Sua cabeça Ele usa uma pena de pavão e em Seus quadris Ele usa um fino tecido de seda amarela. Pelo canto de Seus olhos, Ele olha de relance Seus amáveis devotos e sempre se revela através de Seus passatempos em Sua divina morada Vrindavana. Que este Senhor Jagannatha seja o objeto de minha visão”.
A devota e poetiza Madhavi-devi (Caitanya Lila), irmã de Ramananda Raya escreve em uma de suas canções: ”Os tenros e doces versos do Sri Gita-govinda, trazendo o nome de Radha, se entrelaçam com as khanduas (peças de roupas usadas por Jagannatha todas as noites), que o Senhor Jagannatha mantém bem próximas de Seus ombros”.
O Chaitanya-Chaitanya explica que Krishna vem como Caitanya a fim de entender os sentimentos de Radharani. Durante o Rathayatra, Ele dança em êxtase perante o Senhor Jagannatha para chamar Sua atenção. Em resposta, Jagannatha o consola: ”Eu nunca esqueci nenhuma gopi ou gopa, muito menos Você, Srimati Radhika. Como poderia Eu esquecê-La?”.
No Brihad-bhagavatamri ta (2.5.212 a 214), Narada Muni revela a Gopa-kumara:”Eternamente querida a Sri Krishnadeva, tanto quanto Sua bela Mathura-dhama , é aquela Purushottama- kisetra. Lá, o Senhor não só exibe Sua opulência suprema, mas também encanta Seus devotos agindo como uma pessoa comum deste mundo. E se você não ficar plenamente satisfeito após chegar lá e vê-Lo, então ao menos fique lá por algum tempo para conseguir sua meta desejada. È claro que sua meta última é amor puro pelos pés de lótus de Krishna, a vida e alma das divinas gopis – amor que segue o humor da própria Vrajabhumi do Senhor - Você não está procurando por outra coisa”. Amor por Jagannatha é Krishna-prema amor por Krishna, que é nossa meta última. Krishna se tornou acessível a todos em Sua forma de Jagannatha.
Uma vez que o Senhor Jagannatha não é outro senão Krishna, Sua morada é idêntica a Vrindavana, onde Krishna executa Seus passatempos infantis. Jagannatha Puri – Também conhecida como Purushottama- kisetra, Sri Kishetra e Nilacala (o local da montanha azul) – contêm todos os passatempos (lilas) de Krishna em Vrindavana, embora possam porventura estar escondidos dos olhos materiais. O vaishnava-tantra afirma: ”Qualquer lila de Krishna que se manifeste em Gokula, Mathura ou Dvaraka, são encontradas em Nilacala, Sri Kishetra”. Através de apropriada visão espiritual – olhos untados por amor a Deus, Krishna-prema – a pessoa pode ver todos os passatempos de Krishna ali manifestos.
Jagannatha não é ninguém senão a manifestação extática de Krishna que apareceu em Sua forma mais misericordiosa para ajudar-nos a voltar para casa, voltar ao Supremo. Por isso Srila Prabhupada introduziu o Ratha-yatra do Senhor Jagannatha em várias cidades por todo mundo, exatamente para retirar as almas condicionadas de enredamento de maya (ilusão). Tiremos todos, então, o máximo benefício de tal evento.

Por Narada Rishi Dasa.

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