terça-feira, 27 de maio de 2008

Aparecimento do Senhor Jagannatha



Há muitos milhares de anos atrás, em Bharatavarsa, o rei Indradyumna, da dinastia Surya Vamsa, governava a província de Utkal, atualmente Orissa. Seu grande desejo era realizar alguma obra maravilhosa que superasse o que outros homens haviam feito.
Como era um devoto de Vishnu, foi inspirado pelo senhor a que construísse o maior templo do mundo. Mas para construir este templo, Primeiro, pensou o rei, devo ter a deidade mais bela deste planeta. Mas, onde consegui-la?
Nesta noite, o rei teve um sonho revelador. Viu uma colina muito bonita, rodeada de bosques muito verdes, flores e arbustos. Uma voz disse-lhe que a colina chamava-se Nilacala e que possuía uma caverna, dentro da qual se encontrava a Deidade de Nilamadhava, uma forma do senhor Krishna de cor azul. Quando acordou o rei pensou em sair imediatamente à procura da Deidade, mas nem ele, tampouco nenhum de seus conselheiros sabiam onde ficava Nilacala. Após instruir seus mensageiros, os enviou a procura da colina. Um deles era um jovem de aspecto muito nobre, cujo nome era Vidyapati, o qual estava determinado a encontrar a colina.
Depois de muitos dias de buscas inúteis, e através de várias florestas, sua comida e água haviam acabado, e ao procurar uma aldeia onde reabastecesse suas provisões, ele se perdeu. Seu cavalo estava exausto. Assim, ele desmontou e prosseguiu caminhando durante vários dias. Finalmente, cansado e faminto ele sentou-se embaixo de uma árvore. Pouco depois ouviu um som de cascavel e alguém cantando. Ele pensou estar delirando quando viu aparecer um menino vaqueiro e muitas vacas.
Ao notar o estado de Vidyapati, o menino ordenhou uma das vacas e deu-lhe leite fresco para beber, com o qual Vidyapati se revigorou. O menino perguntou-lhe o que fazia um jovem de aparência palaciana naquele lugar e Vidyapati explicou-lhe sua missão e perguntou se o menino conhecia a colina Nilacala. O vaqueirinho disse-lhe que conhecia a colina, mas que não podia dizer-lhe onde estava que deveria procurá-la pessoalmente com fé e sinceridade, que assim a encontraria.
Vidyapati viu que o menino desapareceu e se deu conta que o Senhor manifestou-se para ajudá-lo. Continuando seu caminho chegou a um rio, onde várias jovens pegavam água; elas se assustaram ao vê-lo, mas como notaram que ele não tinha más intenções, uma delas aproximou-se: seu nome era Lalita, filha de Visvavasu, chefe de uma aldeia tribal situada a pouca distância. Ela o apresentou ao seu pai, que o recebeu como a um convidado. Devido a seu pressentimento Vidyapati não mencionou sua missão; passou muitos dias neste lugar recuperando- se e gostou tanto da hospitalidade desse povo que desejou ficar e viver ali. Lalita, com sua beleza e atenções roubou-lhe o coração, e depois de algum, tempo casaram-se. Vidyapati notou algo estranho no comportamento do seu sogro: a cada amanhecer Visvavasu saia para algum lugar fora da aldeia e voltava ao anoitecer. Isto o intrigou e ele perguntou a Lalita se sabia algo sobre o comportamento de seu pai. Lalita disse que não podia dizer-lhe nada porque seu pai se zangaria com ela, e que, por outro lado, não era nada importante que o preocupasse. Vidyapati disse-lhe, que não era bom haver segredos entre esposo e esposa. Então, Lalita contou-lhe que seu pai ia à caverna de uma colina para adorar o Senhor Nilamadhava, uma deidade que apenas ele sabia onde estava.
No dia seguinte, Vidyapati pediu a Visvavasu que lhe mostrasse sua deidade, e obteve uma resposta negativa. Visvavasu queria manter segredo da existência da deidade e, para isso, apenas ele deveria conhecer onde Ela se encontrava.
Finalmente, diante dos apelos de sua filha, Visvavasu aceitou levar Vidyapati à colina, mas com uma condição: ele cobriria seus olhos até a caverna, pois assim Vidyapati não saberia como chegar por seus próprios meios. Vidyapati concordou.
Nessa noite, Vidyapati foi à cozinha e pegou um punhado de sementes de mostarda, pôs em uma bolsa e escondeu dentro de suas roupas. Pela manhã, puseram-se a caminho, Visvavasu na frente e Vidyapati vendado atrás. À medida que avançavam ia deixando cair às sementes de mostarda no chão. Embora se sentisse muito triste em enganar o sogro, sabia que tinha um dever a cumprir com o rei. Quando chegaram à colina, Visvavasu conduziu Vidyapati à caverna e descobriu seus olhos. Então, diante dele, apareceu a mais bela forma que ele jamais havia visto: o todo atrativo Krishna, com Seu rosto de lótus sorrindo bondosamente, Sua maravilhosa cor azul, Sua forma sempre jovem estava ali. Realmente era a deidade digna para o templo que o rei queria construir. Enquanto estava assim encantado olhando o Senhor, Visvavasu voltou a cobrir seus olhos. Isto desgostou o jovem, o qual protestou pedindo-lhe que o deixasse olhar um pouco mais, mas Visvavasu disse que esta era a sua caverna, sua deidade e que ele deveria estar agradecido por haver podido vê-la uma vez. Visyavasu foi conduzido novamente com seus olhos cobertos de volta à aldeia. Ele então esperou a estação das chuvas pacientemente e alguns dias depois que estas chegaram, saiu procurando as plantas de mostarda que haviam brotado das sementes que ele espalhou.
Uma vez encontradas as primeiras, foi fácil seguir o caminho marcado por elas. Assim, chegou até a colina e sua caverna. Entrou na caverna e ali estava o Senhor! Agora podia olhá-la o quanto quisesse: ninguém o impediria. Havendo encontrado o que o rei tinha lhe encomendado, Vidyapati decidiu partir. Voltou à aldeia e pediu autorização a Visvavasu para voltar ao seu reino junto com Lalita. Visvavasu concordou e deu-lhe suas bênçãos.
Uma vez no palácio, Vidyapati relatou o sucedido ao rei Indradyumna, o qual, com grande êxtase, organizou rapidamente uma caravana, protegida por um grande exército e partiu para pegar a deidade de Nilamadhava.
Encabeçando a caravana ia Vidyapati, atrás, em um grande elefante ia o rei acompanhado de sua esposa Gundicha.
O rei comentou com sua esposa, que tiraria a deidade do egoísta Visvavasu e que Ela seria só sua dali em diante.
Gundicha ficou desgostosa ao escutar a bobagem do rei e o repreendeu, dizendo-lhe que o Senhor pertence a todos os Seus devotos e que Sua aparição na forma da deidade é para beneficiar a todas as entidades vivas e que ninguém pode dizer-se o dono do Senhor. Mas o dano já estava feito. O Senhor Nilamadhava não gostou do comportamento do rei e nesse mesmo momento um vento muito forte começou a levantar-se na colina de Nilacala, convertendo- se em um furacão de areia e terra que fortemente se abateu sobre a colina. Depois de um momento o vento parou. Nilacala já não existia, nem os bosques. Apenas o deserto se via agora ali. O Senhor se escondera dos olhos dos homens.
Quando, dias depois Yndradyumna chegou, só encontrou um deserto. Vidyapati estava desorientado, e não entendia o que havia acontecido. Nesse momento os guardas viram um homem escondendo-se atrás de umas poucas árvores que ficaram. O homem foi preso e conduzido até o rei. Vidyapati se deu conta que era seu sogro, Visvavasu e contou ao rei. O rei interrogou acerca do paradeiro da deidade e Visvavasu contou-lhe como a tempestade havia coberto toda a colina de Nilacala. Mas o rei não acreditou na estória e o manteve preso pensando que tudo isso era um plano para esconder Nilamadhava. Yndradyumna estava frustrado e devido a sua tristeza lágrimas rolavam de seus olhos.
Nessa noite o rei teve um sonho onde o Senhor apareceu e disse-lhe que suas lágrimas haviam-no comovido! O Senhor disse: “Eu não posso aparecer mais como Nilamadhava, esta Minha forma deixou o mundo para sempre, mas, aparecerei na forma de um Daru (tronco de madeira) flutuando no mar. Vá à praia amanha e Eu aparecerei”.
Na manha seguinte o rei foi com seus homens à praia e começaram a procurar. Depois de uma intensa busca, um grupo de guerreiros viu um grande tronco de árvore flutuando perto da beira-mar. Os sacerdotes a analisaram e viram que possuía os quatro símbolos de Vishhnu desenvolvidos naturalmente. Logo trataram de tirá-la da água com um elefante, mas o tronco de madeira nem se moveu. O rei mandou que todos os elefantes, cavalos e homens presentes o retirassem, mas tampouco conseguiram. Yndradyumna se deu conta que o Senhor havia colocado um novo obstáculo em seu caminho. Começou a orar à Vishnu e pouco depois uma voz o fez saber que deveria libertar Visvavasu, o qual era um devoto muito querido do Senhor e que junto com ele poderiam mover o tronco de árvore para tirá-la do mar.
O rei foi imediatamente libertar Visvavasu. Logo após fazê-lo o rei ofereceu suas reverências e implorou seu perdão por todas as ofensas cometidas. Continuando o rei lhe contou tudo sobre a manifestação do Senhor como um Daru. Ambos foram ao mar, entraram e muito facilmente e sem ajuda de ninguém levantaram o Daru e o retiraram. Com o consentimento de Visvavasu, Yndradyumna começou a fazer arranjos para colocar o Daru no templo, da maneira como o haviam encontrado.
Entretanto Gundica, a esposa do rei, propôs mandar talhar uma Murti de Nilamadhava no Daru. O rei gostou da idéia e convocou os melhores artistas do planeta para que fizessem à obra, mas eles não conseguiram fazer nem uma marca na madeira. Suas ferramentas se quebravam. Assim, um novo obstáculo apareceu. Quando o rei estava conversando com Gundica sobre o que fazer, um ancião apareceu diante deles dizendo que podia fazê-lo.
Yndradyumna entendeu que esta pessoa devia ser Visvakarma, o arquiteto dos planetas celestiais, que havia se disfarçado para passar despercebido. O rei começou a explicar-lhe o que queria, mas o ancião disse que lhe talharia uma Murti de acordo com o seu gosto, e que necessitava de uma residência por quinze dias para trabalhar sem ser perturbado. Ninguém deveria ousar abrir a porta neste período, pois se o fizesse, ele desapareceria deixando o trabalho incompleto. O rei concordou e o Daru foi colocado em um quarto onde o ancião se trancou.
Depois de dez dias, Gundicha começou a alarmar-se, pois já não se escutava nada. Ela disse ao rei que talvez o homem houvesse morrido de fome ou sede, e que seria melhor abrir a porta. Apesar das advertências feitas por Visvakarma, também o rei começou a duvidar se não havia acontecido algo anormal dentro do quarto. Então decidiram entrar e ver por si mesmo.
Quando a porta se abriu, não encontraram o ancião e sobre a mesa de trabalho apenas viam-se três formas muito estranhas talhadas na madeira. Eles pensaram que ao quebrarem sua promessa, Visvakarma havia ido embora deixando assim sua obra incompleta.
O rei caiu em um estado de profunda tristeza, enquanto Gundica culpava-se do que havia acontecido. Ambos estavam chorando, quando nesse momento apareceu Narada Muni. Depois de ser adorado apropriadamente, Narada informou-lhes que estava regressando de Vaikunta e que o Senhor Vishnu lhe havia pedido que informasse que era Seu desejo aparecer naquelas formas neste planeta, tal como estava sobre a mesa de trabalho de Visvakarma. As formas de Jagannatha (o Senhor Krishna) e as de Baladeva e Subadra (Suas expansões com Seu irmão e irmã).
Isto causou muita felicidade ao rei o qual decidiu começar imediatamente a construção do templo mais belo e opulento da face da terra. Milhares de artistas e operários utilizando suas energias ao máximo trabalharam durante meses.
O gigantesco templo foi tomando forma, enquanto isso o rei reuniu milhares de vacas em um curral próximo ao templo em construção, com a finalidade de doá-las aos brahmanas, aos pobres e aos operários no dia em que o templo estivesse pronto.
Por fim templo ficou pronto; como havia prometido o rei deu as vacas. Quando estas saíram do curral onde haviam permanecido durante tanto tempo viram que havia se formado um profundo poço devido às pegadas das vacas. Uma corrente subterrânea surgiu criando-se assim um lago de águas claras e doces. Rapidamente este se povoou de pássaros, peixes e tartarugas. Narada o batizou de “Lago Yndradyumna”. Narada estava tão feliz de ver o templo terminado que propôs ao rei irem juntos convidar o senhor Brahma para vir á terra para que esse visse o templo. O rei concordou e despediu-se de Gundica. Ela sentiu-se mal, pois compreendeu que não varia mais a seu esposo; Yndradyumna porém não se deu conta do que ela queria dizer e despediu-se como se regressasse logo.
Ao chegar a Brahmaloka, o senhor Brahma estava meditando, assim tiveram que esperar algumas horas. Quando Brahma terminou sua meditação e abriu seus olhos, Narada lhe ofereceu respeitosas reverências e o convidou a visitar o templo de Vishnu tão bonito e opulento que Yndradyumna havia construído. O senhor Brahma concordou e pediu-lhes que fossem na frente para fazer os preparativos.
Eles passaram apenas um dia em Brahmaloka, o planeta mais elevado do universo, mas isso na terra significa que milhares de dinastias haviam surgido e desaparecido. Diferentes reis haviam governado Utkal enquanto Yndradyumna visitava Brahmaloka por um dia.
Um deles, chamado Gala Madhava, encontrava-se um dia percorrendo a costa a cavalo, enquanto pensavam na grande dinastia que, segundo a história havia existido neste lugar, a milhares de anos atrás. Nesse momento seu cavalo tropeçou e ambos caíram no chão. O rei procurou a causa da queda do cavalo e viu algo parecido com a ponta da torre de um templo enterrado na areia. Curioso com o achado ordenou a escavação e logo viu surgir entre as areias um fabuloso templo: o templo que Yndradyumna havia construído! Depois de muitas gerações, o templo havia sido abandonado e coberto pela areia. O rei não sabia quem o havia construído, nem a história da deidade, mas ele estava satisfeito por sua descoberta e decidiu restaurá-lo e instalou suas deidades nele.
Um tempo depois Narada e Yndradyumna desceram a terra, Yndradyumna notou que as coisas estavam diferentes, isto não era o que ele havia deixado antes de acontecido, explicou ao rei que devido à sua alegria por ver o templo terminado e desejando convidar ao senhor Brahma para que o visse, não havia levado em conta as diferenças de tempo. Ele pediu que o rei o perdoasse. O rei estava desesperado. Sua esposa Gundica, seus filhos, seu reinado! Tudo perdido!
Narada o consolou, pregando-lhe sobre a transcendência e lhe aconselhou que dedicasse sua vida ao templo como sacerdote. O rei aceitou os conselhos e ambos dirigiram-se ao templo. Quando entraram viram Gala Madhava adorando suas deidades, ele perguntou-lhes como ousavam entrar tão ruidosamente e interromper a cerimônia. Indradyumna apresentou-se e reclamou a posse do templo, sendo respaldado por Narada, mais Gala Madhava pensava que eles eram loucos: “Um rei que governou a milhares de anos atrás e ainda assim estava vivo?”
Ele pediu provas a Yndradyumna de que o templo lhe pertencia. Eles saíram do templo enquanto falavam e chegaram à frente do lago. Yndradyumna disse-lhe que todas as pessoas que ele conhecera, haviam desaparecido há muitos anos atrás. Quem provaria sua identidade?
Neste momento uma grande tartaruga saiu do lago e começou a falar. Ela disse que se eles estivessem dispostos a acreditar em uma velha tartaruga, ela seria a prova que Yndradyumna precisava. Seu nome era Akupar e recordava-se de Yndradyumna como o rei que construiu o templo e completou lembrando-lhes que a tartaruga possuía uma grande memória.
No mesmo momento o senhor Brahma se fez presente confirmando assim o que havia sido dito pela tartaruga. Gala Madhava se desculpou com Yndradyumna, o qual imediatamente entrou no templo a procura das deidades de madeira, que permaneciam esquecidas em um canto do templo.
Depois, Yndradyumna preparou a instalação das três Murtis. O senhor Brahma pessoalmente realizou o Pranapratistha Puja (a cerimônia de instalação), logo ao terminar, disse a Yndradyumna que lhe pedisse um desejo. Yndradyumna pediu que depois que ele abandonasse o corpo ninguém reclamasse a posse do templo, senão que pertenceria a toda a humanidade. Brahma gostou do seu pedido e deu a deidade o nome de Jagannatha Swami “O Senhor do universo” e também abençoou ao rei com a fama imperecível.
Yndradyumna é lembrado em Orissa até esta data. Aqueles que o ajudaram em seu serviço tampouco são esquecidos. As memórias de Gundica Devi, Vidyapati, Lalita e Visvavasu, continuam no magnífico festival de carros do Senhor Jagannatha, o Ratha Yatra, que todos os anos se realizam em Puri.


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