quarta-feira, 19 de setembro de 2007

O Encantador Humor de Srimati Radharani


Uma oferenda a Srimati Radharani

Srimat Radharani, a mui amorosa contraparte feminina do Supremo, é a pessoa, em toda a existência e parte, que melhor sabe como expressar amor por Krsna. Ela é o supremo reservatório de amor por Krsna, e, como tal, Ela é conhecida como a categoria asraya. Mais além, é Ela quem, como uma mãe, ocupa-nos em serviço devocional.
Krsna, o objeto de Amor de Radha, aparece uma vez a cada dia de Brahma para exibir e desfrutar de Seus passatempos. Ao fim de tais passatempos, todavia, Krsna se deparou com três desejos não satisfeitos, e realizar tais íntimos desejos é razão primordial para que Ele retornasse como Sri Caitanya Mahaprabhu.
Srimati Radhika é a única munificente causa de Krsna não conseguir satisfazer todos os seus desejos. Dessa forma, Vrishabhanu- nandini [Radharani] dá a Ele o maior presente de todos... E a todas nós, Suas incontáveis jivas.
A fim de melhor entendermos tais desejos, lembremo-nos que bem-aventurado êxtase transcendental é chamado bhava. Quando bhava se torna condensado, é chamado de mahabhava. Srimati Radhrani é o mais alto e concentrado êxtase da bem-aventurança em pessoa.
Krsna, é claro, também está desfrutando de bem-aventurança. Ele desfruta da bem aventurança de ser o objeto de amor dEla. Todavia, Ele se dá conta que a morada do amor, Srimati Radharani, a categoria asraya, está desfrutando de uma bem aventurança dez milhões de vezes maior do que a dEle! Radharani estava sentindo mais prazer transcendental em Sua companhia do que Ele podia entender, e então Ele decidiu, Ele mesmo, experimentar tais emoções bem-aventuradas. Todavia, para Krsna, desfrutar da posição de Srimati Radharani, era impossível, porque aquela posição era totalmente desconhecida por Ele. Krsna é o homem transcendental, a contraparte masculina do Supremo. Radharani é a mulher transcendental, a contraparte feminina de Deus. Como resultado, Krsna não poderia satisfazer Seu desejo a não ser que Ele mesmo assumisse a posição da categoria asraya. Assim, a fim de experimentar os bem-aventurados sentimentos de Srimati Radharni, e sentir o prazer da categoria asraya, o Senhor Krsna apareceu como Sri Caitanya Mahaprabhu.
Desde então há uma constante competição entre Srimati Radharani e o Senhor Krsna para ver quem consegue aumentar mais a intensidade do amor que cada um sente pelo outro.
Ela aumenta, Ele aumenta, Ela aumenta... não há fim para isso. Nenhum deles quer ser derrotado quanto a amar mais intensamente. Similarmente, a beleza do Senhor Krsna aumenta quando Ele vê a beleza das vaqueirinhas. De forma concomitante, quando mais as vaqueirinhas vêem a beleza do Senhor Krsna, mais a beleza delas aumenta. Assim acontece a competição entre Eles, na qual nenhuma das partes conhece derrota.
Agora Krsna se torna curioso. Ele pode entender esta competição amorosa do seu ponto de vista, mas Ele não entende o que está acontecendo na mente de Srimati Radharani. Ele passa a desejar entender o que acontece do outro lado desta competição amorosa, e deseja entender essa troca amorosa do ponto de vista de Radha. Ele se torna muito curioso quanto às atividades mentais de Srimat Radharani e à atitude dEla neste amor sempre crescente.
Agora, para o Senhor Krsna, as atitudes mentais de Srimat Radharani não são algo tão difícil de se estudar, porque as atividades mentais dEla estão passeando lá fora vestidas com diferentes saris. Srimati Radharani expande Sua atitude mental como Suas amigas íntimas, as gopis, as quais concentram todas as suas atividades nos passatempos de Krsna. Como expansões da forma pessoa de Radhika, elas são agentes para que se possa reciprocar diferentes sentimentos amorosos nos passatempos de Krsna.
Dessa forma, Srimati Radharani e Suas leais servas decidiram ajudar Krsna fundando uma escola para Ele na beira do Radha Kunda. Radha é a reitora de tal escola sem parentesco, enquanto Lalita e Visaka são as diretoras. É com a ajuda delas que o único aluno, Krsna, irá estudar com todas as sakhis que são as personificadas expansões das atividades mentais de Srimati Radhika.
Quando o curso é finalizado, é a hora de Krsna fazer Seu exame final, que é aplicado por Srimati Lalita Devi. Krsna passa no exame com sucesso.
Todavia, Lalita Lhe informa que tal sistemático estudo acadêmico não é o bastante. Se Ele realmente quiser apreciar plenamente as atividades mentais de Radha, experiências práticas serão necessárias.
Novamente, tal experiência não é possível a não ser que Ele definitivamente aceite a posição da categoria asraya. A atração de Radharani por Krsna é sublime, e para experimentar tal atração e para compreender Sua própria doçura, Ele teria de pessoalmente aceitar a mentalidade de Radharani. Consequentemente, a fim de apreciar por completo as atividades mentais de Srimati Radhika, Ele aparece como Sri Caitanya Mahaprabhu.
Krsna é a personificação da beleza conjugal. Em certo momento, em Dvaraka, Ele vê Sua beleza refletida em uma fonte de cristal, ao que Ele diz, “Minha mente, atônita vendo tamanha beleza, impetuosamente deseja desfrutar dela da mesma forma que Srimati Radharani o faz”. A beleza do Senhor Krsna atrai o próprio Krsna. Todavia, por não poder desfrutar de Sua beleza plenamente, Sua mente cai em profunda lamentação.
Assim, para gozar de Sua beleza como faz Radharani, Ele aceita a posição da categoria asraya, aceitando as emoções e desejos corpóreos de Srimati Radharani, e aparece como Sri Caitanya Mahaprabhu.
Desse modo, a causa primária para a vinda de Krsna como Sri Caitanya Mahaprabhu é provar os três humores de Srimati Radhika, os quais só Ela podia provar. Ele, então, pegou emprestado o humor interno e beleza dEla, e se tornou tadatma com Ela. Tornando-se tadatma com Radhika, Ele se esquece ser Krsna, e pode desfrutar como Ela.
Alguns detalhes correlatos aparecem em uma nectária história contada por Sua Santidade Gour Govinda Svami. Esta história revela a origem do último verso do Sri Siksastaka.
Um dia, Srimati Radharani havia decorado belamente o kunja com a ajuda de Suas servas. Com grande antecedência, elas estão esperando pela chegada de Krsna no horário marcado para o encontro. Todavia, Krsna não aparece. Elas esperam e esperam, mas Krsna não aparece. Radha está começando a entrar em Seu humor emburrada, e também começa a chorar, e então uma mensageira [dyuti] é enviada para achá-lO. Pelo caminho, a dyuti encontra com uma serva de Candravali que com muito desfrute reporta estar Krsna no seu kunja e não no de Radharani. Quando a dyuti retorna, ela leva a Lalita e a Visaka a notícia, as quais por sua vez levam a notícia até Srimati Radharani. Nesse momento, o humor de ficar emburrada de Radharani atinge seu ápice, e Ela proíbe Krsna de entrar em Seu kunja. E Ela chora, chora, chora.
Radharani diz, “Eu não quero que Krsna venha. Não deixem Ele entrar no Meu kunja. A entrada dEle está proibida!”.
Quando Krsna finalmente chegou, algum tempo depois, Lalita e Visaka estavam de guarda na entrada e O pararam. Elas impediram Sua entrada e com palavras ásperas Lhe disseram para “dar o fora dali”. Ele suplicou permissão para entrar, mas sem sucesso. Visakha, que é mais dura que Lalita, foi especialmente severa com Ele neste momento. Ele teve de dar meia volta e ir embora.
Krsna foi, então, para a beira do Yamuna. Melancólico e desapontado, Krsna não sabia o que fazer. Ele havia ido para o kunja de Candravali unicamente para aumentar o humor de emburrada de Radharani que Lhe dava tanto prazer. Ele queria a oportunidade de ter a associação dEla naquele Seu mal humor ímpar, mas Seu plano saiu pela culatra. E agora? O que fazer, o que fazer?
Nesse meio tempo, Vrndadevi [Tulasi] fica sabendo da difícil situação de Krsna, então ela trás para Ele um solução.
Ela diz a Ele que Ele deve mudar completamente Sua aparência, aceitar a posição de um mendicante Sannyasi, e cantar uma canção especial. Ela disse que Ele deveria raspar Sua cabeça, se livrar daquelas vestes de vaqueirinho e vestir roupas de Sannyasi; deveria parar de curvar Seu corpo em três partes, abandonar Sua flauta e pena de pavão e aprender a canção que Ela Lhe ensinaria... E assim, talvez, haveria alguma esperança.
Quando Vrnda disse isso, imediatamente aquela forma apareceu ali. Krsna tomou aquela forma de Sannyasi descrita, com a cabeça raspada e com compleição de ouro derretido. Nada de pena de pavão, flauta, ou corpo curvado em três pontos. Ele apareceu de repente ali, como um Sannyasi. Vrnda então ensinou a Ele a cantar uma bela canção em glorificação a Radha, cuja última linha dizia que “hoje Kana, Krsna, está indo de porta em porta mendigando por radha-prema, radha-prema, radha-prema”.
Então, cantando, Krsna voltou ao kunja, e Lalita e Visaka ficaram muito alegres por verem tão bem-aventurado Sannyasi e por ouvirem sua belíssima canção.
Quando elas perguntaram a Ele o que queria, o Sannyasi respondeu, “Eu não tenho nada, Eu sou um mendicante. Eu vim aqui para ter radha-prema, radha-prema. Eu sou um prema-bhikhari. Eu mendigo
prema.
Então Visakha levou o Sannyasi para dentro do kunja. Ela pediu a Ele, “O Senhor poderia, por favor, cantar novamente aquela canção que o Senhor estava cantando?”.
Krsna, assim, cantou aquela canção em glorificação a Radha. “Hoje Kana é um bhikari. Ele é um mendicante indo de porta em porta mendigando radha-prema”.
Quando Radharani ouviu essa linha, Ela respondeu:
aslisya va pada-ratam pinastu mamadarsanan marma-hatam karotu vayatha
tatha va vidadhatu lampatomat-prana- nathas tu sa eva naparah
Sua resposta à canção de Krsna é o que conhecemos como o verso final do Siksastaka. É a expressão de um sentimento muito profundo de Srimati Radhika.
Logo em seguida, o Sannyasi teve a audiência de Radhika, e vendo Radha, a forma tri-bhanga-lalita de Krsna imediatamente voltou. A forma de Sannyasi desaparecera.
Visaka ficou absolutamente abismada. Ela disse: “O que é isto? Primeiramente eu vi Você como um Sannyasi, mas agora O vejo como Syamasundara, o jovem vaqueiro. Eu vi Você semelhante a um boneco de ouro, com todo o Seu corpo coberto por um desejo dourado. E agora vejo Você segurando uma flauta junto a Sua boca, com Seus olhos de lótus movendo-se sem parar devido a variados êxtases”.
Bem mais tarde, na Caitanya Lila, Visaka aparece como Ramananda Ray. Em dado momento, o Senhor Caitanya exibe a Ramananda Ray Sua forma como Syamasundara, e o que acontece? Ramananda desmaia. Por quê? Como Visaka, Ele viu a metamorfose de um Sannyasi dourado para a forma de Sri Syamasundara, e, novamente, Ele vê a mesma transição! Ele desmaia.
Radharani estava chorando, e depois que o Sannyasi se revelou como sendo Krsna, Visakha afirmou: “Um dia, Você terá de chorar como Ela”. E esse dia chegou em Gambhira, quando, como Sri Caitanya Mahaprabh, o Sannyasi dourado, Ele chorou. Não só isso, mas Visaka [Ramananda] e Lalita [Svarupa Damorada] estavam lá para ajudá-lO a entender como chorar – exatamente como chorara Srimat Radhika.
Com o intuito de estudar Radharani, Krsna viveu o papel dEla e tentou entender a Si mesmo. Este é o segredo do nascimento do Senhor Caitanya.
Conclui-se assim, que o a razão interna primordial para Krsna vir como Gaura é entender as glórias do amor de Radha por Ele.
A segunda razão para sua vinda, é trazer com Ele um presente inigualável para este mundo. É um presente muito especial que é muito bem explicado no famoso verso que segue:
anarpita-carim cirat karunayavatirnah kalausamarpayitum unnatojjvala- rasam sva bhakti-sriyamharih purata-sundara- dyuti-kadamba sandipitahsada hrdaya-kandare sphuratu vah saci-nandanah - Caitanya-caritamrta Adi-lila 1.4
“Que aquele Senhor, conhecido como o filho de Srimati Sacidevi, esteja transcendentalmente situado na parte mais íntima de seu coração. Resplandecente como a refulgência de ouro derretido, Ele apareceu na era de Kali por Sua misericórdia sem causa para nos dar o que nenhum outro avatara jamais ofereceu – serviço a Srimati Radhika como Sua serva confidencial” .
Este verso é o mangalam caranam para todo o Sri Caitanya Caritamrta, e tudo o mais que há escrito livro é para explicar esse verso.
Srimati Radhika tem um humor muito extático: “Eu quero Me tornar serva daquela pessoa que pode satisfazer Krsna ao máximo. Eu Me tornarei sua serva”. Essa doçura é o encantador humor de Radharani.
O humor de Radhika tomou várias formas – Rupa Manjari, Rati Manjari, Labanga Manjari, Kasturi Manjari. O encantador humor de Radhika tornou-se várias vaqueirinhas. Todavia, essas particulares servas de Radhika têm apenas um humor: que é Radhika em pessoa quem deve se encontrar com Krsna, porque é Ela quem pode dar prazer pleno a Ele, mais que qualquer outra. É ela quem elas querem servir. Essa propensão é chamada unnatojjvala rasam sva-bhakti-sriyam – o encanto do humor de Radharani, ou então conhecido como manjari-bhava.
Quando Krsna se torna influenciado pela compaixão e misericórdia do coração de Radha, nasce nEle o desejo de distribuir a todas as jivas o mais elevado humor de amor por Deus que pode ser dado, que é o serviço no humor das manjaris.
O desejo de dar ao mundo este presente inigualável é a segunda razão interna para Sua vinda como Sri Gaurasundara. A primeira razão interna é para experimentar o humor de Radha, e a segunda é distribuir o serviço neste humor. Em outras palavras, Ele vem para experimentar a bhava de Radha, e para dar a beleza de Radha.
O brilho de unnata-ujjvala- rasa é sem paralelo, e todos os misericordiosos acaryas de nossa Gaudiya sampradaya vieram a este mundo para ensinar-nos este encantador humor de serviço das servas de Srimati Radharani.

Por Anantacarya dasa (ACBSP)
Tradução por Bhagavan dasa (DvS)

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