Como sua finalidade principal, a literatura védica transmite conhecimento sobre auto-realização e, portanto, sobre como liberar-se (moksa) do sofrimento. Em geral, os estudiosos concordam em que a meta do pensamento indiano é atingir a verdade, “cujo reconhecimento leva à liberdade” . Todo sistema indiano busca a verdade, não como acadêmica, `conhecimento para o seu próprio bem´, mas para aprender a verdade que fará todos os homens livres”. Com efeito, o pensamento indiano luta não para a informação, mas para a transformação. O Bhagavad-gita descreve o conhecimento como “aceitar a Verdade Absoluta”. No entanto, se as pessoas acham que estão progredindo no caminho da felicidade material, não procurarão se transformar. Daí, outra percepção importante- janma-mrtyu-jara-vyadhi-duhkha-dosanudarsanam: “ compreender os malefícios do nascimento, da morte, da velhice e da doença.” (BG 13.9) Sem se comprometer, a literatura védica declara que, a despeito da aparente alegria, vida material significa sofrimento. O conhecimento védico visa a liberar deste sofrimento o indagador sincero.
Segundo o Bhagavad-gita (8.16): “Do planeta mais elevado do mundo material, indo até o mais baixo, todos são lugares de misérias onde ocorrem repetidos nascimentos e mortes.” Além das repetidas misérias de nascimento, velhice, doença e morte, os textos védicos outros três grupos de misérias: aquela causada pelo próprio corpo, por outras entidades vivas e pelos distúrbios naturais (como um forte resfriado, o calor, inundação, terremoto ou seca). Os preceptores védicos argumentam que, mesmo não existindo estas últimas misérias, ninguém poderia encontrar a felicidade no mundo material – as forças do tempo e a morte obrigam todos a abandonar sua posição.
Ao ouvir esta devastadora análise da vida no mundo material, Albert Schweiter chamou a filosofia védica “uma negação do mundo e da vida.” Outros afirmam que os Vedas ensinam pessimismo e resignação fatalista. Mas, quando analisamos os Vedas com maior profundidade, podemos observar que eles ensinam exatamente o contrário; eles defendem que a finalidade da vida humana não é resignar-se a um mundo temporário e miserável, mas, esforçar-se para obter felicidade permanente. Para aqueles que seguem a fórmula védica, a vida significa uma oportunidade para se conseguir vitória sobre a morte. Na concepção védica, rejeita a vida precisamente aquele que identifica o corpo ilusório como sendo o eu e considera que o mundo temporário é tudo que existe. Tal pessoa perde a oportunidade proporcionada ao ser humano - a oportunidade de indagar a respeito do Supremo.
O primeiro verso do vedanta-sutra (athato brahma-jijnasa) é tanto uma declaração quanto um convite a todos: “ Agora, portanto, indaguemos sobre a Verdade Absoluta” . Os Vedas instam que as pessoas procurem a trilha da liberação.
Os Vedas descrevem a liberação como uma prerrogativa especial concedida aos seres humanos e não às espécies inferiores. Por esta razão o corpo humano é comparado a um barco no qual pode-se atravessar o oceano da transmigração. Um bom instrutor védico, que tenha aprendido os Vedas, é como brisas favoráveis. Se uma pessoa não atravessa o oceano para conseguir liberação eterna não é considerada inteligente, pois a filosofia védica nega a importância de qualquer conhecimento que não conduza ao término do sofrimento. O Garga Upanisad adverte: “ É um homem miserável aquele que, embora em um corpo humano, não soluciona os problemas da vida e deixa o mundo assim como o deixa um cão ou um gato, não compreendendo a ciência da auto-realização.”
Introdução à Filosofia Védica
Satsvarupa Dasa Goswami
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